Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 51
Conversas


Notas iniciais do capítulo

Meninas, muito obrigada pelos comentários. Eles me deixaram tão feliz e me empolgaram tanto a escrever. Recebi também mais uma recomendação e agradeço especialmente a anne costa por ter recomendado a história. Valeu mesmo. ;)
Nesse capítulo teremos mais uma etapa para ajeitar as coisas espero que gostem e que comentem muito ;)



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“-Você não vai voltar pra cá?- Edgar

– Vou ... vou. Mas não hoje. Vamos aos poucos?- Laura

Lado a Lado


Por Laura



Eu saí apressada daquela casa. De certa forma, eu estava fugindo. E até me sentia uma covarde por isso. Mas não queria brigar, não depois daquela noite maravilhosa que passara com Edgar, que só de me lembrar, fazia as minhas pernas tremerem e aquela felicidade e satisfação voltarem.


Peguei um coche e pedi que me levasse pra casa. Só que mudei de ideia. Decidi que ainda não era hora de voltar. Eu queria pensar em tudo que tinha acontecido. Pedi que andasse sem rumo, que o condutor escolhesse o caminho.

E enquanto estava passando pela rua do Ouvidor, resolvi descer. Havia muito tempo que não andava a lazer por aquela rua. As últimas vezes que tinha passado por ela foram todas pra ir ao Alheira. E nem tive tempo de reparar direito em suas mudanças.

A verdade é que eu evitava andar por ali. Por causa das fofocas, por saber que eu era indesejada pela sociedade, e que havia grandes possibilidade de receber olhares hostis de antigos conhecidos, e até de gente que não conhecia.

Só que depois de tudo que aconteceu no baile na noite anterior... Um evento em que eu esperava tantos confrontos e aborrecimentos. E acabou sendo cheio de amor e felicidade... Eu ganhei mais coragem... Uma coragem de enfrentar todos, manter a minha cabeça erguida pra valer, não me esconder mais. Na verdade, não todos, pois havia uma exceção. O único que eu não conseguia enfrentar ainda era Edgar.

Aquela rua me lembrava uma época boa. Quantos passeios Edgar e eu fizemos por ela. Éramos amigos, apaixonados, cheio de planos, e críticas aos costumes, dispostos a mudar o mundo, certos que seríamos felizes pra sempre

Pensava no que tinha acontecido, nos momentos bons e ruins, a nossa separação, minha volta, nossas brigas, escândalo do Pasquim, o apoio de Edgar e a noite anterior... Ahh, o baile, a nossa reaproximação... foi tudo mágico.

E agora Edgar queria a nossa família vivendo sob o mesmo teto. Eu também queria … eu queria muito dormir e acordar todos dias com ele, me sentir amada em todos os momentos como na noite anterior, queria dar uma família normal e feliz aos nossos filhos. Queria que eles pudessem andar na rua sem sofrer com fofocas.

Mas as coisas não eram tão simples. Havia muitos problemas, e eles não podiam ser apagados, ou resolvidos simplesmente por que eu e Edgar confessamos o que sentíamos, e passamos uma noite maravilhosa juntos.

Não era só uma noite. Dizia respeito as nossas vidas inteiras. Eu não podia me jogar de cabeça como na noite anterior.

Eu tinha que agir com calma, pensar, colocar tudo em perspectiva, e já fazia isso enquanto andava por aquelas calçadas. Só que meus pensamentos foram interrompidos quando esbarrei em certos familiares:

– Laura … filha – disse minha mãe de uma maneira relativamente cordial, e eu fiquei até assustada com esse modo

– Baronesa – respondi com desconfiança

– Laura.. - cumprimentou tia Carlota

– Tia... - respondi

– Carlota, você não disse que tinha que encontrar com Alice? - a baronesa falou e eu sabia que aquela era uma desculpa para sermos deixadas sozinhas

– È claro. Com licença – Tia Carlota saiu, elas tinham esse modo de se compreender por indiretas

– Filha, eu soube que você colocou a cabeça no lugar e reatou com Edgar.

– Como? - perguntei surpresa

– Ouvi que reataram ontem no baile... Houve até uns comentários mais maldosos sobre o modo que se portaram... Mas o que importa é essa conversa que vocês reataram, e já começam a duvidar do Pasquim- ela disse contente, eu tinha que ter imaginado isso, o que aconteceu comigo e Edgar no baile ia trazer alguma repercussão, e no caso até que não foi ruim, mas me incomodava pensar que essa mudança de comportamento da minha mãe se devia a essa melhora na minha imagem, sendo que nos momentos difíceis ela me renegou

– Eu e Edgar não reatamos – falei firme

– Mas estão dizendo que vocês dançaram, se beijaram e até saíram juntos de lá, é mentira?

– Mãe, é complicado. Não interfira na minha vida.

– Laura... eu não me importo que seja só pra disfarçar. Já fico feliz que vocês resolveram fazer alguma coisa pra acabar com as fofocas. E foi uma bela ideia ser no Baile do Tavares de Melo. A sociedade estava lá em peso, se eu soubesse o que pretendiam, também teria ido- ela continuou alegre, a baronesa não mudava mesmo, se importava tanto com as aparências, e achava que as coisas se resolveriam com essa facilidade

– A senhora não tem jeito. Me dá licença, que eu preciso ir pra casa – falei tentando partir, mas ela me impediu

– Filha e os meus netos? Quando poderei vê-los? - ela perguntou de maneira delicada e sentida

– Acha que depois de tudo que me disse, as coisas se resolvem assim?

– Laura, acredite que eu te amo. Mas não posso compactuar com o que você fez. O que fiz naquele dia foi muito doloroso pra mim, mas eu tinha que fazer. - essa era a sua forma de pedir desculpas

– Você não tinha que fazer... Podia ter me apoiado assim o meu pai, o Edgar e meus amigos.

– Laura... eu não nunca passei a mão na sua cabeça! Isso não faz bem!

– Na minha não, mas do … - ia falar de Albertinho, mas desisti, preferi não aprofundar o assunto, a minha mãe era daquelas que achavam que filhos homens deveriam ter um tratamento diferente das mulheres – deixa pra lá!

– E os meus netos? - eu não respondi – Laura... são meus netos, quero vê-los... fico imaginando como Pedrinho está... Como a Cecília é, seu pai disse que ela é sapeca como você era e tem o cabelo parecido com o meu... Eu gostaria tanto de vê-los - ela parecia sincera

– Tá bom, eu vou pensar... Quando decidir, falo com o papai.

– E Neto? Também gostaria de vê-lo- ela estava receosa

– Neto é filho de Isabel, fale com ela! Mas a senhora sabe que do modo que infernizou a vida dela antes... Vai ser difícil revê-lo.

Depois desse encontro com minha mãe, resolvi voltar pra casa... Sem querer, acabei arrumando mais coisas pra incomodar a minha mente. Não podia me ater a isso. E deixei para pensar depois.

Naquele momento, eu ainda tentava entender o que tinha acontecido entre Edgar e eu, e o que isso representaria pro futuro. Não estava preparada para intervenções indiscretas sobre essa questão.

Ao chegar em casa, me deparei com uma surpresa. Algo que fez virar minha mente mais ainda para tais questões urgentes. Edgar e Lauro conversavam como bons amigos, até riam na sala. Era um baita contraste em relação ao comportamento antigo de Edgar.

Constatei que Lauro e Isabel tinham razão. Antes ele devia estar mesmo com ciúmes, e de certa forma, isso até me envaideceu um pouco:

– Laura, eu gostaria de falar com você – Edgar foi direto mas seu tom não era ruim

– Acho que essa é a minha deixa – falou Lauro prestes a se levantar

– Não, Lauro. Acho melhor eu e Edgar conversamos no escritório – imaginava o que viria a seguir e não queria que fôssemos interrompidos, ou muito menos que as criança nos ouvissem

Ao entrarmos no escritório, Edgar sorriu como se quisesse desanuviar o clima. Eu estava nervosa. E isso me fez sentir melhor.

Eu entendia que Edgar nos queria de volta ansiosamente, depois da nossa última noite, sabia o quanto ele viveu e sofreu com a solidão e expectativa nos últimos anos, mas não achava que fazer tudo com pressa resolveria, na verdade, pensava que colocaria a perder. Pois eu, ele e as crianças não estávamos preparados:

– Eu já pensei sobre a gente … Agora gostaria de conversar. - ele começou

– Pensou rápido – brinquei apesar de sentir um aperto em meu coração

– È... Eu já sabia o que quero fazer... eu ...

– Edgar... eu não posso voltar agora.

– Laura … - o interrompi

– Deixa eu falar... quero explicar.

– Tá bom – ele parecia atento

– Eu te amo, Edgar. Tudo o que disse e aconteceu ontem e hoje foi de verdade. Senti tanta falta de você desde que parti... E eu gostaria muito de vivenciar o nosso amor todos os dias e em todos os momentos e sentidos. Gostaria que as crianças crescessem numa família normal, unida e feliz... Mas só nesse ano, Pedrinho e Cecília já passaram por tantas coisas. A morte de D. Amália, a mudança de cidade, casa e escola. A convivência com você. O escândalo no pasquim. A expulsão de Pedrinho na escola. As fofocas... Se eu tivesse a certeza que voltar a viver com você fosse algo definitivo, que iríamos ter uma convivência pacífica, e duradoura. Eu não pensaria duas vezes. Mas eu não tenho. E eu não posso proporcionar esse vai e vem a elas, nem a mim.

– Mas Laura você só pensa nas alternativas ruins... Você mesma disse que quer viver comigo!

– Acho que tenho motivos pra pensar assim... Antes nós tivemos temporadas boas em que achávamos que daria certo, mas depois tudo despencou. E assim nós afetamos o nosso filho que tinha apenas 2 anos... se com 2 anos ele já foi afetado, imagina agora aos 7? E Cecília que nunca viveu nesse ambiente? O que isso poderia causar nela... Não quero que ela perca a sua inocência, não tão jovem... Não quero que ela cresça cheia de mágoas- estava emocionada

– Mas a situação mudou. Aquilo não vai se repetir – ele disse um pouco alterado

– Mudou mesmo? Ou estamos numa daquelas temporadas boas? Eu quero fazer com calma pra ver qual das duas é... Eu não posso tolerar nossos filhos nos verem em brigas. Eu não posso admitir mais as intromissões da Catarina. Se ela aparecer aqui, eu posso expulsá-la com toda segurança... Mas lá, será que poderia? Ou teria que aguentar a sua presença, e me sentir humilhada até mesmo na frente das crianças?

– É claro que pode! - ele afirmou

– Posso mesmo? E se ela estiver com a Melissa? Edgar, a Catarina é escorregadia, eu não tinha autoridade para expulsá-la naquela época. Agora seria diferente?- falei firme e e vi que ele tinha dúvidas – Eu sei que você pensava no bem da Melissa... na sua filha. Mas a Catarina é muito perigosa. Não pode relevar, ou agir de forma branda com ela, pois nesse caso ela monta na gente, e eu não posso deixá-la fazer isso. Não mais.

– Laura, eu e a Catarina não temos nada. Não precisa se incomodar, ela não vai ...

– Eu sei, acredito que não tem ou teve algo com ela nesses anos. Senão não teria saído com você ontem. Essa não é a questão. E sim o fato dela ainda ter poder pra interferir nas nossas vidas, e até mesmo o medo daquele tempo em que você ficava sempre ausente … talvez ele volte. Pelo o que eu sei a Melissa anda bem de saúde, não é? Olha não estou desejando nada, pelo contrário, mas e se isso mudar?

– Laura... nós teremos problemas, eu sei. Todos casais tem problemas. Mas dessa vez, vai ser diferente... Vamos resolver juntos.

– Eu espero, Edgar. E quero acreditar nisso. Mas ainda não confio, tenho muito medo que numa situação mais complicada você acabe jogando nas minhas costas o que sofreu, e que eu faça o mesmo. E assim... Tudo acabe desmoronando novamente, e dessa vez pra sempre. Eu não aguentaria... ainda mais com as crianças nessa idade, sabendo que ficará em suas memórias pra sempre. Por isso, quero ir com calma... a gente só começou... Vamos devagar... tentar construir essa base de forma sólida pra que não seja tão fácil botá-la abaixo novamente. Assim... vou me sentir segura, assim nós voltaremos a morar juntos. Entende, não é um não... Nós vamos voltar, mas agora não.

– Se é assim ...Vamos devagar então...- Edgar não parecia satisfeito, mas concordava – Eu não queria isso, mas vou aceitar... Prefiro ir devagar do que ficar longe de você – ele falou intenso

A tensão que eu sentia diminuiu após essa declaração. Me aproximei dele:

– Que bom, pois eu não quero perder você – declarei acariciando a sua barba

Nos beijamos com paixão. Ainda não voltaríamos a morar juntos. Mas já dávamos os primeiros passos para resolver as coisas. E um grande peso estava sendo tirado dos nossos ombros. Eu voltava a acreditar que era possível ser feliz de verdade, ser feliz ao lado de Edgar, e dos nossos filhos.

Interrompemos o beijo para recuperar o ar que nos faltava. E falei:

– Eu não quero que as crianças saibam ainda. Não quero confundir a cabeça delas. Quero explicar direito quando chegar o momento. Tá bom?

– Com uma condição. - ele disse sorrateiro

– Uma condição? - perguntei medrosa

– Esquece aquela história de divórcio – ele respondeu firme

– Esqueço. Já esqueci – sorri – Vou falar com meu advogado pra acabar com o processo.

Ele me parecia feliz e eu também estava. Assim voltamos a nos beijar, e ficamos mais um tempinho namorando, brincando e conversando sobre assuntos mais agradáveis no escritório.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que também não houve nada tão bombante, mas era necessário e penso que no próximo capítulo terão coisas interessantes. kkk.
Então o que acharam? Gostaram da conversa com a baronesa? E a com Edgar? Acha que nosso casal conseguirá?
Espero que tenham gostado e que comentem muito muito para me empolgar a escrever o próximo. Até ;)