Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 46
A volta de Lauro


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada, pessoal. Valeu pelo feedback, e por tantos comentários. Realmente me animou mesmo me ajudando tanto a escrever. Minha dedicatória especial vai para Lane, que recomendou a história, valeu, eu fiquei tão feliz.
Quanto a esse capítulo espero que gostem e que comentem, ainda não chegou num evento muito esperado, mas estamos perto. Obrigada mesmo gente, e continuem comentando.



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“- Não sabia que era tão ciumenta – Edgar

– Quem, eu? Não. Eu não. Ciúmes é uma coisa tão século XIX, não acha? - Laura

– Não, eu morro de ciúmes de você- Edgar

– Mas isso é por que é retrógrado, Edgar. Antiquado – Laura

Em Lado a Lado


Por Laura


Eu estava muito feliz com o aparecimento de Lauro. Depois de tantas coisas ruins acontecendo comigo, do escândalo. Parecia que o Universo me dava uma reparação. Eu tinha muitas saudades do meu amigo. E foi tão bom revê-lo.

Ele estava um pouco diferente. Continuava esbanjando simpatia. Só que estava mais bem vestido, o cabelo mais bem arrumado, e tinha algo em seu olhar, uma satisfação, uma coisa coisa diferente... Sentia que ele havia feito as pazes com o passado.

Edgar se portou de maneira estranha comigo e com ele. Ele estava sendo maravilhoso nos últimos tempos. Me apoiando de verdade como um companheiro. Podia se dizer que eu e ele nunca estivemos tão próximos desde que voltara.

Só que no tempo em que esteve comigo e Lauro, parecia aborrecido, fechado! Será que ele... Ele não tinha motivos pra isso A gente já não era um casal. Já tinha até pedido o divórcio. Tudo bem que nos últimos tempos, com o seu companheirismo, eu cheguei a pensar se essa era a única saída.

E tinha outros motivos... Já que Lauro era o apenas meu amigo, e eu não me interessava por ele nesse sentido e nem ele por mim, sendo apaixonado por Isabel. Edgar deve ter percebido os olhares dele pra Isabel. Não podia não perceber.

Mas eu tirei um pouco dessa preocupação da minha mente. Pois também queria saber o que tinha acontecido com Lauro. Depois que Edgar já havia ido embora (foi mais cedo do que o costume) e as crianças dormido (felizes com a volta do tio Lauro), eu, Lauro e Isabel estávamos na cozinha. Ela ainda me parecia chateada com ele e fingia arrumá-la, mas na verdade prestava atenção na nossa conversa:

– Lauro me conta tudo! Me fala sobre essa mudança de visual, sobre a sua viagem. Encontrou com o seu pai? - perguntei curiosa

– Sim... Eu encontrei com o Senhor Abelardo Camargo – ele disse sorrindo – E até … - ele me estendeu um documento, e apontou para um pedaço dele onde li Lauro de Assis Camargo

– Agora não é apenas Lauro de Assis, ganhou mais um apelido?- perguntei feliz, já imaginando o que tinha acontecido

– É, xará. O Senhor Abelardo me reconheceu. Isso também explica as minhas vestes. Meu nome foi colocado no testamento, e até venho recebendo uma mesada. Na verdade, eu vim ao Rio pra ver vocês... Mas ele me pediu pra resolver uns negócios também. Já sou um representante da família.

– Fico tão contente em saber – disse sincera – Agora me conte em detalhes...

Ele começou a narrar os acontecimentos: ao chegar na fazenda em que nascera, descobriu que dos 4 irmãos que tinha ao deixá-la, apenas um, o mais velho, Samuel, que possuía quase a mesma idade de Lauro, crescera com ele, sendo o seu único amigo na família, havia sobrevivido.

Tinha acontecido uma epidemia de varíola no lugar. E a esposa do pai de Lauro, duas irmãs, e um irmão morreram. Só sobreviveu o patriarca da família. Sendo que Samuel na época estava estudando na capital.

Após isso, Abelardo Camargo ficou extremamente abalado. O filho voltou da capital e passou ajudá-lo nos negócios. E ele começou a pensar na sua vida, nos seus arrependimentos.

Dentre eles, estava ter expulsado a mãe e Lauro da fazenda, quando esse tinha 10 anos. Ele os mandara embora sem lhes prover nenhum apoio devido a imposição da esposa que descobrira a traição do marido.

De certa forma, ele pensou que a morte de tantos ente-queridos era um castigo de Deus depois de suas ações mesquinhas, principalmente essa referente a Lauro.

Quando Lauro reapareceu na fazenda, seu Abelardo se mostrou bem arrependido com o filho, tentou se aproximar dele. O reconheceu e com o tempo, Lauro passou a ter um bom convívio com o pai e de certa forma, fez as pazes com esse e o passado.

O irmão e ele continuaram mantendo uma ótima relação, e assim ele decidiu vir ao Rio. Sendo que eu suspeitava que o principal motivo da sua vinda seria Isabel, apesar dele não ter afirmado isso.

Era um história impressionante e eu estava tão feliz por meu amigo. Sendo que também acabei contando o que tinha acontecido desde que nos separamos no interior de São Paulo.

Ele ficou muito preocupado com a nossa situação. E eu sabia que seria de grande ajuda. Tanto que fiz um convite a ele:

– Lauro, fique aqui... como um hóspede.

– Xará, não sei se ficaria bem... Isso pode comprometer mais ainda a reputação de vocês- eu suspeitava que o motivo do seu acanhamento era outro, Isabel

– Que isso... Não tem jeito de piorar mais a nossa reputação. Sei que você vai nos ajudar... E bem … nós temos um quarto vazio. Vem, Lauro. - falei um pouco manhosa

– Esse também é o meu desejo, Lauro. Você pode nos ajudar com crianças, elas estão com tantas saudades de você - Isabel intercedeu, e apesar de seu jeito meio distante, eu imaginei que não era só as crianças que estavam com saudades dele.

– Está bem... Diga ao povo que eu fico – ele falou brincalhão

E nos dias seguintes, Lauro nos ajudou bastante com as crianças. Apesar do visual diferente, e alguns compromissos de negócios, ele parecia o mesmo, o mesmo jeito brincalhão, amigo e prestativo de sempre.

As crianças se animaram bastante, o que acalentava o meu coração. Cecília até começava a falar de fazer apresentações com o Tio Lauro. E os meninos comentavam de participar. Isso me dava uma ideia de que a rotina voltava ao normal.

Lauro tentava reconquistar Isabel, mas ela dava pouca abertura a ele e mesmo não sendo exatamente rude, mostrava um pouco do sua raiva por ele não ter vindo com a gente.

Já eu e Isabel estávamos empenhadas em fazer de “O amor e o tempo” uma peça. O texto estava bem adiantado, e nós até já fazíamos ensaios com a companhia. De certa forma, eu me esforçava em fazer Diva e Frederico assumirem um tom mais romântico como Lara e Eduardo. Os dois eram um pouco exagerados, o que ajudava bastante nas cenas de humor... só que nas de romance, eu não queria o exagero, e sim naturalidade e sentimento. Eu queria vislumbrar pelo menos uma similaridade comigo e Edgar nos bons tempos.

Edgar continuava vistando as crianças com uma boa frequência. Mas eu percebia que ele voltava a agir com frieza e aborrecimento em algumas situações. Ele não chegava a ser mal-educado, mas ele me parecia mais seco com Lauro. Eu entendera que ele não gostava dele, e mais ainda do fato de Lauro ser nosso hóspede.

Mas esperava que com o tempo, ele ao menos se acostumasse. Lauro era um excelente amigo que me ajudou muito nos últimos anos, e Edgar não podia querer que nos afastássemos dele. Ainda mais nesse momento, e eu sabendo o quanto ele era bom, o quanto se importava conosco. Edgar acabaria percebendo isso.

Assim eu até acabei falando de Edgar com Lauro, e sua declaração me surpreendeu:

– Eu gosto do Edgar, Xará.

– Como que você gosta dele? Ele é frio com você – falei

– Eu gosto dele pois quando ele olha para mim, diferente de muitos brancos que se acham superiores, ele me vê como um igual. Na verdade, ele me ver como tão igual, que até me encara como um rival … - ele riu- Ele age assim comigo, Xará. Pois ele tem ciúmes de você.

– Lauro, você não está falando sério... Acha mesmo que o Edgar tem ciúmes... Ele não tem motivos para ter ciúmes. Eu e você ...

– Ciúmes não é uma coisa muito racional. Até entendo a visão dele. De repente, um homem que a mulher e os filhos dele gostam aparece, um homem que os conhece há anos... Ele se sentiu um pouco de lado. Se sentiu confrontado. Não concorda comigo, Isabel? Não acha que o Edgar está com ciúmes?- ele finalizou se dirigindo a Isabel que aproximava, ela ficou um pouco surpresa com a pergunta, mas respondeu

– Concordo. Na verdade, nem sei por que Laura e Edgar ainda não voltaram. Dá um jeito nisso, amiga.

– Quem ver vocês dois juntos, percebe o óbvio... percebe o quanto se amam- Lauro sorriu

– Meu Deus, isso é um complô! - ri

– Sim- Isabel e Lauro responderam em sintonia.

– Não é tão simples. Há muitos problemas envolvidos, as crianças, não quero …

– Laura, quem sabe uma boa conversa resolveria.... Vocês têm essa mania de não conversar- falou Isabel

– Mas ele tem andado frio, Isabel. Como conversar?- perguntei

– Já falei, ele está com ciúmes – Lauro continuou

– Ahhh... Vamos mudar de assunto...- queria falar sobre qualquer outra coisa, eles já estavam me deixando nervosa.

– Tá bom. Que tal o baile... Vamos ao baile, Laura? Ele será daqui uns dias...

– Isso de novo, Isabel ? Se nós duas aparecermos nesse baile é capaz de sermos expulsas.

– Quero ver nos expulsar então. Não tenho medo dessa sociedade hipócrita. Está na hora de enfrentá-la. Eu vou se você for – ela disse decidida

– Mas, Isabel... Seríamos o assunto da noite... Tenho medo por você e pelas crianças- insisti

– Eu e as crianças estamos bem e continuaremos bem – ela disse decidida

– E você mesma disse, Xará. Não há como piorar mais a reputação de vocês. Mas que baile é esse?- Lauro completou

– È um baile beneficente feito pelo Senador Tavares de Melo...E vocês dois, hein, é outro complô? Por que não vão os dois juntos?- provoquei

– Nós dois? - Isabel falou constrangida olhando para Lauro que também tinha se acanhado

– Sim, o convite é pra você e um acompanhante, Isabel. Lauro pode ser seu acompanhante. - falei

– Se o problema é a falta de convite, tá resolvido. Eu tenho um convite como filho e representante de Abelardo Camargo - ele sorria

– Você está brincando. Não?- perguntei

– Não, quando soube que vinha pra cá, Samuel me deu o convite que meu pai recebeu. Ele achou que eu poderia querer ir a festa! Então, vamos os 3?- respondeu Lauro

– Vamos, amiga. Tá com medo dessa sociedade que acredita em mentiras e fofocas? Vamos mostrar a eles que não temos medo! Que não precisamos nos esconder...- ela estava animada

– Já que sou minoria... Eu vou – sorri, realmente já havia acabado o tempo de viver escondida, eu não tinha medo, e iria enfrentar aquilo.



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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Gostaram da história do Lauro? Os ciúmes? E essa coisa do baile? Imagino que talvez não tenho acontecido o mais desejado... Mas esse capítulo era necessário, e eu não imaginei outra atitude inicial do Edgar em relação ao ciúmes. Mas já vou adiantando, o próximo será narrado por ele, e as coisas já melhorarão um pouco, pois eu realmente pretendo desembaraçar esse novelo. Assim, gente não desanime, estamos muito perto. E comentem, comentar me ajuda a escrever fazendo essa fase passar mais rápido.