Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 29
O presente e o passado


Notas iniciais do capítulo

Meninas muito obrigada pelos comentários, eles me deixaram feliz. E me estimularam a escrever.
Olha, hoje eu demorei um pouco mais para postar, mas é que que meu dia foi mais atribulado, aliás essa semana deve ser mais corrida para mim, então já adianto que não sei se conseguirei postar um capítulo todo dia, vou tentar, mas não posso garantir.
Vou deixar esse capítulo para vocês, espero que gostem. E que comentem muito para me estimular a escrever...



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“Porque aquele Edgar que eu conhecia, eu não me lembro mais, e de você, eu não vou me esquecer nunca”

Laura em Lado a Lado

Por Laura

– Cecília, Cecília!- Eu gritava por minha filha- Cecília, você vai acabar sem comer bolo.

Era o aniversário de 7 anos de Pedrinho. Cecília havia se escondido, eu sabia. Detestava essa brincadeira. Pois chegava um momento, que eu começava a me preocupar de verdade. E esse momento já havia chegado:

– Cecília Assunção Vieira aparece, ou vou ficar com raiva- disse autoritária.

– Búuu!- escutei atrás de mim.

Me virei, e a vi. Comecei a bronca:

– Eu já falei. Não gosto dessa brincadeira. Deixa a mamãe preocupada!

– Ahh, mamãe, desculpa. Eu não queria te preocupar.- Ela fez uma carinha de arrependida, e já me amoleceu.

– Você merece um castigo- falei tentando me manter dura. - Não pode preocupar a mamãe assim!

– Mas os meninos falaram que ia ser supimpa.

Me virei para os meninos, eles riam e se afastavam tentando se livrar de mim. Mas haviam sido pegos em flagrante:

– Afonso Neto! Pedro! Cecília! Não quero mais saber disso. Só não vão ficar de castigo por causa da festa. Mas da próxima vez, vão se ver comigo!

Eu falei brava, e eles ficaram acanhados. Era melhor assim. Não queria mais aquele tipo de jogo. Mas também não queria tristeza em um dia de festa e relevei. Assim o resto do dia ocorreu tranquilo.

Era muito bom vê-los brincando. Eles eram tão unidos, sempre juntos e protegendo um ao outro.

Neto era bem parecido com Isabel. Os cabelos crespos e escuros, os olhos, e os traços remetiam muito a ela.

Já Pedrinho e Cecília me lembravam muito o pai. Os cabelos de Pedrinho eram castanhos, mas o resto era como se estivesse vendo o Edgar. Os de Cecília eram loiros, mas diferente dos de Edgar eram cacheados, e considerando isso e o tom, até me lembravam os cachos da minha mãe. Mas também com olhos verdes, e em feições, ela era a cara do pai.

Como crianças do interior, os meninos adoravam andar a cavalo, subir em árvores, nadar no rio, soltar pipa, correr e brincar na rua. Eles cresciam livres.

Até mesmo Cecília que era menina. Entrava nessas brincadeiras. Como estava sempre junto dos garotos. Na maioria das vezes, ela brincava de coisas ditas mais masculinas. E também era bem sapeca e moleque.

Não era muito de brincar com bonecas. Dona Amália até lhe presenteava com algumas. Mas ela junto dos garotos as abriam fazendo “cirurgias”, também fazia trancinhas nelas, cortando os cabelos, até mesmo bigode com tinta.

Ela preferia brincadeiras mais agitadas como pular corda, pega-pega, porta-bandeira, amarelinha e soltar pipa. Normalmente com os meninos.

Uma das poucas coisas que a distinguia de um garoto, era que ela adorava vestidos, quanto mais rodado melhor. E também o seu longo cabelo, não gostava de cortar, mesmo quando estava precisando muito.

Ela, Pedrinho e Neto também viviam fazendo caçadas como eles chamavam, na verdade eles capturavam bichos como insetos e sapos, os examinavam com uma lupa, depois os soltavam. Eles eram cientistas, exploradores.

Aliás, Pedrinho era o cientista mais animado da turma. Ele até lia sobre procedimentos médicos e comandava as cirurgias das bonecas de Cecília. Em casa também gostava de coisas como quebra-cabeças e jogos de dama.

Neto na maioria das vezes acompanhava Pedrinho em suas brincadeiras, mas o que ele mais gostava era chutar uma bola de meia, jogar uma espécie de futebol, e as vezes até fazia isso dentro de casa, o que deixava D. Amália e Isabel doidas.

Além das brincadeiras agitadas na rua, dentro de casa, Cecília também gostava de recitar poemas simples e cantar músicas acompanhadas por Lauro no piano. Às vezes, os meninos também se juntavam a ela nessas performances. Era emocionante para mim, dona Amália e Isabel vê-los se apresentando.

Os garotos já estavam na escola. Sabiam ler e escrever. Mesmo Cecília sendo muito nova, à medida que eles iam aprendendo, acabaram ensinando-a também. Assim ela já estava praticamente alfabetizada e junto dos meninos, já lia alguns livros infantis, e até mesmo de poesias simples.

As crianças me pareciam felizes e estavam bem. Mas isso não me impedia de sentir culpa, ou até mesmo preocupação por elas crescerem longe do pai. E por Edgar não vê-las crescendo, e nem saber da existência da nossa filha. Lauro ajudava muito nesse sentido, mas ele não era o pai delas.

Sempre procurava falar do pai com eles, e falar bem. Pedrinho não perguntava muito sobre ele, mas Cecília estava na fase de não me poupar de perguntas, eu tentava explicar sem mentir, contava estórias do início do nosso casamento, da época em que tudo era bom, e também da fase depois, somente dos momentos em que tínhamos um pouco de paz e amor.

Por enquanto a situação parecia ir bem. Cecília ainda não me pressionava em pontos cruciais difíceis. Mesmo sem conhecer Edgar, ela achava que o pai era bom, e pela nossa foto de casamento muito bonito. Pedrinho também não se abatia em relação a ele, apesar de ser mais calado. Era o jeito dele. Eu só não sabia até quando tudo continuaria assim, e tinha medo por isso.

Quanto a minha vida profissional, eu estava satisfeita, há algum tempo começara a dar aulas para as meninas da segunda ou terceira série. Certas vezes, tentava mudar a visão de D. Emília e de outras professoras, algumas conseguia e em outras não.

Elas me deram certa independência para educar as meninas, e os castigos corporais foram abolidos da escola.

Em certa ocasião, quando uma professora dos meninos adoeceu, por um curto período juntamos a turma de meninos e meninas e passei a dar aulas para eles juntos. Foi uma experiência maravilhosa, tentei convencê-las a fazer turmas mistas, mas sem sucesso.

Na verdade, eu tive tantas ideias! Até comecei a aplicar algumas com as minhas alunas. Eu as levava para passear na cidade e nas fazendas, as estimulando a desenhar o que viam e a aprender geografia, história e ciências tudo junto.

Tentava fazer o aprender ser divertido com dinâmicas como julgamentos, cantar musicas com teor das disciplinas, apresentar peças, fazer brincadeiras, levar jogos onde elas pudessem compreender diversas matérias desde português, matemática, à história, geografia, ciência, ética e acontecimentos atuais.

As atividades e o gosto pela leitura não podia ser forçado, assim eu levava livros e materiais adequados à idade e que as fizessem adquirir a vontade de ler, pois ler é divertido, até mesmo escrevi algumas histórias infantis e passei para elas. Apresentava a importância daquilo no dia a dia. As estimulava a escrever sobre o que queriam. Também dava o exemplo e mostrava a que eu própria apreciava a leitura. Muitas vezes, lia em voz alta assuntos que eu achava interessante.

Também tentava entender cada menina, descobrir em que cada uma delas era boa, as estimulava e inclusive lhe dava prêmios. Todas tinham que receber pelo menos um prêmio. O resultado é que elas saiam da minha turma interessadas em aprender, sabendo bem ler, escrever, a tabuada, além de ter uma boa noção das outras disciplinas.

As crianças deviam aprender pela vontade, e não pela obrigação e excesso de deveres. Aprender era divertido e assim eu ensinava às minhas alunas.

Eu fiquei tão empolgada com aulas, os resultados, e minhas ideias, que acabei escrevendo um manuscrito sobre isso, aquilo ficaria guardado e quem sabe um dia eu pudesse as publicar ou até mesmo colocar tudo em prática na escola que sonhava em construir.

Além desse manuscrito, também comecei a reunir algumas estórias infantis que tinha criado, e que contava para as minhas alunas, os meus filhos e Neto. Todos eles pareciam gostar muito delas.

Já era noite, e eu estava no quarto sozinha. Depois que os meninos cresceram e por serem tão unidos, Isabel e eu passamos a dividir o mesmo quarto e as crianças o outro. Minha amiga havia saído nessa noite e comecei outro projeto, algo que já queria fazer a algum tempo.

Escrever um romance... se chamaria “O Amor e o Tempo”, e contaria a minha estória com Edgar. Teria alguns personagens fictícios, os nomes e a alguns acontecimentos seriam mudados, mas a base seria a nossa história, com os fatos que ainda estavam tão vivos em minha memória e coração. Eu pensava em escrever sobre o tempo bom, onde construímos o nosso amor e vivemos felizes. Um tempo que eu sentia tanta falta e tinha cheiro de alecrim. O nosso amor era foi bonito que merecia um livro, mesmo que nunca o publicasse.

Eu estava concentrada nessa tarefa quando escutei uma risada e Isabel entrou no quarto:

– O que foi, Isabel ? - ela ria sem controle

– A dona Amália... Você acredita que ela estava nos esperando na porta como um cão de guarda? E mal nós entramos, ela falou a Lauro para ir imediatamente ao quarto? Disse que estava preservando a minha honra, e que não o deixaria fazer nenhuma gracinha... Até parece que eu sou uma mocinha virgem e indefesa...- ela voltou a rir, percebi que estava feliz, há algum tempo Lauro a chamava para sair e finalmente nesse dia ela tinha aceitado.

– É o jeito dela. E o fato de você ter um filho, Isabel. Não faz de você uma mulher sem honra – falei

– Eu sei, amiga. Mas que é engraçado, é, né? - ela continuava rindo

– Estou vendo que o encontro foi bom, né? Você está tão alegre – disse feliz com situação, Lauro e Isabel mereciam aquilo.

– Sim, foi muito bom.

– E aconteceu alguma coisa a mais?- perguntei curiosa

– Nós nos beijamos, amiga … foi… maravilhoso- ela parecia encantada

– Fico feliz por vocês – falei sincera

– E você, Laura? Não sente falta … lembro que na época que estava com o Edgar... me contava cada coisa. Não sente falta de ser beijada, de ser tocada, amada... - ela dizia já mais cautelosa

– Sinto, Isabel... E muito, mas é...

– O que?

– Eu não sinto falta de ser tocada por qualquer um, sinto falta de ser tocada e amada pelo Edgar. Mesmo depois de tantos anos, não imagino outro me beijando, me tocando. Entende? Sou patética, né?

– Não, você ainda o ama, e está sendo verdadeira com os seus sentimentos. Na verdade, isso é admirável – ela falou de forma suave e me abraçou, eu estava feliz por ela, pelo menos uma de nós ainda tinha chance de ser feliz no amor.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Sei que não teve nenhum acontecimento muito bombástico, mas é que a ideia desse era apresentar as crianças, a visão da Laura e o tempo que passou, e as suas iniciativas educacionais. No próximo capítulo narrado por Laura, já adianto que se passará mais no presente e acontecerá algumas coisas. O que será? kkk
Quanto as ideias educacionais da Laura, me inspirei bastante nas do filme Uma professora muito Maluquinha ( tem o livro também, que é ótimo ), é um filme que para mim é simplesmente sublime, e tem ótimas ideais, até escrevi sobre ele em meu Blog: http://singularpqu.blogspot.com.br/2012/11/e-mais-nostalgia-uma-professora-muito.html. Mas Ziraldo é o cara mesmo, sempre me faz senti liricamente nostálgica.



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