Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 27
A revolta da chibata


Notas iniciais do capítulo

Então meninas, até que eu queria esperar mais um pouco,já que o capítulo passado foi postado a menos de 24 horas,e bem que eu queria mais comentários.
Mas espero que dessa vez você me recompensem e comentem muito tá? kkk Obrigada as 14 meninas que comentaram, esse capítulo é dedicado a vocês.
Espero que gostem.
Ahhh, só mais uma coisa, vou colocar uma errata aqui, no capítulo anterior eu coloquei o ano como 1905, que está errado, já que esse ano foi quando o Pedrinho nasceu, já corrigi, e coloquei o ano certo no capitulo anterior que seria 1907. Ok?



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“- Eu não queria te magoar – Edgar

- Me magoar … Me magoar? Por que afinal você tem tanto medo de me magoar? - Laura

- Porque eu gosto de você - Edgar

Lado a Lado

Por Edgar

Já estávamos no mês de novembro de 1910. Eu estava naquela casa silenciosa, havia acabado de escrever uma matéria. Era a primeira que escrevia desde a época que ainda era um estudante em Portugal.

O clima no Rio era explosivo. Devido aos maus tratos que recebiam, os marinheiros haviam se revoltado. E ameaçavam, aliás, chegaram a bombardear a cidade. Havia muita confusão e medo nas ruas. A opinião pública se voltou contra os revoltosos.

Nesse cenário, Guerra propôs que eu voltasse a escrever. Ele queria que mostrasse o outro lado. O lado dos revoltosos. Eu teria de deixar aquela carapuça de advogado bem sucedido, e bem casado que de vez em quando visitava a mulher e o filho no interior, e me transformar no meu pseudônimo, nome que não usava desde a faculdade, o jornalista Antônio Ferreira.

Ele me convenceu...Aquilo serviria ao menos para esquecer um pouco a minha situação, o meu sofrimento, as minhas mágoas, meu sentimento de impotência, a minha busca mal-sucedida por Laura e Pedrinho. Fazia tanto tempo que não os via, havia se passado quase 4 anos desde que eles fugiram.

Mas ledo engano. Mesmo quando tentava me afastar das lembranças de Laura, o destino a trazia de volta a mim. Durante a investigação acabei encontrando Zé Maria, o ex-noivo de Isabel, e que deveria ter se casado com ela no mesmo dia em que eu e Laura nos casamos.

Ele foi a minha melhor fonte, me contou e mostrou os horrores que os oficiais faziam aos marinheiros negros. Vi marcas de chibatadas recentes em suas costas. Era horrível e escrevi uma matéria sobre isso, iria denunciar tudo, contar o lado deles.

Mas vê-lo, me fez lembrar de Laura. Do tempo que ela estava comigo, éramos felizes, esperançosos com a iminência de sermos pais. O tempo bom, pois mesmo com o mundo em turbulência, em casa nós tínhamos amor e paz.

Comecei a andar pela casa agora vazia. Ela continuava praticamente a mesma desde que minha família partira. Só havia modificado um pouco o escritório, colocando luz elétrica nele, já que as vezes, varava a noite lá cuidando dos meus processos pendentes.

Lembrava dos momentos em que estavam aqui, e por instantes fingi que eles continuavam presentes. Mas essa ilusão, como sempre, foi breve pois meu peito logo foi tomado pela saudade pungente, pelo mágoa do abandono.

E além disso, havia as várias incertezas, o que era tão mais doloroso. Onde viviam? Estavam bem, saudáveis, felizes? Meu filho já se esquecera de mim? Ele era tão pequeno quando partira, já devia ter esquecido... Será que Laura me esquecera? Eu nunca me esqueceria dela... Nunca... por vezes, meu corpo e minha alma ainda a sentiam perto de mim. Como devia estar a aparência dela? Como seria a aparência do meu filho? Na minha memória, eu via aquele menino de 2 anos, e tentava imaginá-lo agora, quase com 6.

Quantas vezes , eu imaginei o rosto dele depois desses anos. Cheguei até correr atrás de mães e filhos que tinham características similares as deles, mas claro que quando chegava perto percebia que não eram Laura nem Pedrinho.

Amarísio não parou a busca por eles. Eu não deixei, mesmo que as pistas que ele conseguiu durante esse período não nos levou a nada, sempre se mostrando falhas. Eu não ia deixar que ele parasse nunca. Eu nunca desistiria de encontrá-los.

As vezes, sendo as pistas tão fracas, eu cheguei a pensar que algo de ruim tinha acontecido com eles. Me corroía imaginar que eles não estavam bem, estavam perdidos, foram enganados por alguém, sofriam. Não. Não. Eles estavam bem e algum dia, eu ainda os veria, era essa esperança que me fazia continuar, me fazia acordar todos os dias.

Passei mais essa noite sofrendo e me lamentando. Me sentia tão patético. Mas no dia seguinte, entreguei a matéria a Guerra. Ele ficou muito satisfeito, e até me convidou pra jantar em sua casa, com a sua família. A companhia dele, Celinha e Carolina, a linda filhinha deles de 3 anos me consolaria.

Eu aceitaria o convite se não tivesse prometido visitar Melissa. E mesmo que tendo de jantar mais uma vez sozinho naquela noite, já que para não misturar as coisas não fazia refeições na casa da Catarina. Ficar com minha florzinha tinha um efeito mais consolador em mim. Ela era a parte boa na minha vida naquele momento. Ela me dava alegria e me enchia de esperança.

Melissa estava bem melhor, mas ainda tinha a saúde frágil, e era uma menina quieta, que não corria nem se agitava muito, pois se cansava rápido, e um esforço maior poderia lhe ocasionar crises. Eu adorava lhe contar histórias e ela adorava ouvi-las.

Eu gostaria de poder sair mais com ela. Passear, levá-la em parques e museus, mas como homem casado e mantendo a mentira da Baronesa para acobertar a fuga de Laura, não podia fazer isso. Se me vissem andando frequentemente com Melissa, geraria fofocas. Assim os nossos encontros se realizavam mais a quatro paredes, com mais frequência na casa de Catarina, sendo que eu convivia com ela apenas por causa da minha filha. Por mim eu nem a veria, mas havia a Melissa.

Até que Catarina havia melhorado bastante. Ela não parecia mais uma mãe tão inapta e tratava a Melissa com carinho. As crises da menina se tornaram menos frequentes e ela não possuía muitos motivos para me procurar.

Recentemente eu havia combinado com a Catarina de por Melissa na escola. Ela estava prestes a completar 7 anos e já estava na hora. Havíamos decidido colocá-la quando se iniciasse o ano letivo de 1911.

Eu já procurava colégios que aceitassem a nossa situação E Catarina fazia planos. Ela estava decidida a voltar a cantar. Vivia ensaiando para o seu retorno triunfal. Estava animada, segundo ela, sua voz voltara ao normal e ansiava pelos palcos.

Ela até me pediu um financiamento para montar suas apresentações, e eu acabei lhe fazendo um empréstimo. Achei justo. Ela havia dedicado os últimos anos a filha. E agora que ela entraria na escola, teria tempo e oportunidade para retomar a sua carreira.

Passou-se uns dias e houve mais um desenvolvimento na revolta da Chibata. Eu acabei fazendo uma nova reportagem. Dessa vez tive que me passar por oficial da marinha. Mas assim consegui as informações que queria.

Entretanto as lembranças e os fantasmas do passado, a raiva, a culpa me atormentavam. Eu não aguentava mais sentir o cheiro de alecrim. Por mim, baniriam essa flor da cidade, ela era o nosso simbolo de sinceridade, amor e felicidade, me lembrava tanto Laura e os nossos momentos felizes. Mesmo sabendo que não adiantaria bani-las, pois nada me faria esquecê-la, já que tudo me fazia lembrar dela.

O tempo passava e continuava sem informações de Laura e Pedrinho. A nossa casa permanecia vazia, eu vivendo naquela aflição, com saudades, muitas dúvidas, raiva e culpa. Vivia do passado, das lembranças, das sensações que tinha com a minha esposa e meu filho e que há anos não experimentava mais.

Então chegou o dia, esse era um dos dia que me destroçavam de verdade, e que muitas vezes eu me vira perdido. Era o aniversário de Pedrinho, ele estava completando 6 anos. Era o quarto aniversário que ele passava longe de mim.

E desde o primeiro desenvolvi certo ritual. Nesse dia, eu não marcava nenhum compromisso pessoal ou profissional. Não visitava ninguém e pedia que não me visitassem. Era um dia que eu ficava praticamente em minha casa, com a exceção de uma parte da manhã.

Onde eu saia, comprava um presente e voltava. Nesse dia, mais uma vez fiquei imaginando o que Pedrinho já com 6 anos gostaria de ganhar, com o que ele gostaria de brincar. Vi uma bola de futebol e me imaginei o ensinando a chutá-la, eu não era um grande jogador, mas seria divertido ensiná-lo, jogar com ele. O imaginava sorrindo, conversando e brincando comigo.

Levei a bola. E ao chegar em casa fui imediatamente para o quarto dele. Coloquei o presente embrulhado em cima da cômoda, ao lado dos outros 3 embrulhos que ele não havia aberto. E chorei, será que ele ainda os abriria?

Passei o resto do dia sofrendo, chorando, bebendo, lembrando do seu último aniversário que passamos juntos.

O dia amanhecera feliz, eu e Laura estávamos apaixonados e fazendo planos para o nosso futuro. Tanto que nos amamos pela manhã, e no início da tarde. Lembrava da felicidade de Pedrinho brincando, comendo e correndo pela festa. Assim como os pais, ele também estava feliz. Eram lembranças tão doces, momentos tão bons.

Mas aí a Catarina apareceu com Melissa. E tudo desabou. O olhar magoado de Laura, o olhar assustado de Pedrinho ao nos ver brigando. E ela falando pela primeira vez em divórcio... Eu não podia deixá-la ir, não fazia aquilo para magoá-la, não queria feri-la quando saia para cuidar de Melissa. Eu queria protegê-la, naquela época eu a amava, assim como agora, a amava e muito. E também ao nosso filho.

Esse foi o princípio, o primeiro passo que culminou em sua fuga dias depois. Como um dia que começara tão sublime pôde terminar de maneira tão devastadora? Como um amor tão bonito, tão verdadeiro resultou em anos de mágoas e separação?


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Foi um pulinho bom no tempo né? Considerando que estávamos no início de 1908, foram quase 3 anos de pulo. E bem, muitas tiveram pena do Edgar? Já acham que foi suficiente, que foi muito?
Espero que tenham gostado ou ao menos compreendam que isso foi necessário para eu desenvolver a historia que tenho em mente, e espero que gostem do que vem a seguir, mesmo querendo que Edgar e Laura se encontrem logo kkk. Comentem muiiiito gente, essa falta de comentários tá me fazendo até postergar a postagem de capítulos, capitulo narrado pela Laura só com 14? Espero que o narrado pelo Edgar tenha mais kkkk



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