Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 20
A fuga


Notas iniciais do capítulo

Gente muito obrigada pelos comentários, e dessa vez além do último capítulo houve comentários em capítulos anteriores o que traz a seguinte constatação, estamos com 291 comentários. Faltando pouco para os 300, e como tinha falado toda vez que chegássemos aos comentário n00, quem fizesse esse comentário poderia me fazer qualquer pergunta sobre a história que eu responderia, sendo assim, o direito de pergunta está próximo, kkk, quem será o agraciado?
Agora sobre esse capítulo, meninas, ele é o primeiro capítulo do que chamo de segunda fase da história, espero que gostem dos novos rumos. Com ele estou colocando uma nova capa, mas peço que o leia antes de vê-la, já que terá mais graça assim.



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“Eu devia ter sido mais decidida em minhas dúvidas.”

Laura em Lado a Lado

Por Laura

Enquanto eu arrumava as malas, ainda pensava bastante na minha decisão. Principalmente no modo que aquilo afetaria Pedrinho. Como seria? Pensava nos prós e contras... E mesmo que ainda tivesse muitas dúvidas, me parecia que seria melhor para ele.

E para Edgar? Ele ficaria arrasado... enfurecido. Eu não fazia aquilo para me vingar dele, para feri-lo. Mas não consegui ver uma solução, onde conseguisse paz, sem magoá-lo. Dessa vez, eu preferi não pensar nele. Ele fizera a sua escolha há algum tempo. Agora era a minha vez de fazê-la, pensei em mim e no meu filho.

Já havia várias malas arrumadas quando Isabel chegou. Eu a esperava, pois no dia anterior, pedira que ela me fizesse uma visita pela manhã.

Desde que comecei o plano, eu não falara dele para ninguém. Nem mesmo ela. Não era por falta de confiança. E sim porque achei mais seguro ninguém saber até que eu tivesse prestes a concluí-lo. Quanto menos pessoas soubessem, maiores eram as chances de não ser descoberto e menos culpados seriam apontados. Mas chegara o momento de falar para ela:

– Amiga, que bagunça! -ela falou ao ver as malas, roupas e objetos pelo chão

– Vou viajar …

– Eu sei. A Matilde me falou que você decidiu ir para São Paulo ficar com o Edgar. Mas não acha que tem mala demais para uma viagem de alguns dias? - nada escapava a Isabel

– É que não é uma viagem de alguns dias. Estou deixando Edgar e vou levar Pedrinho comigo.- falei direta, para ela eu não mentiria

Isabel se mostrou surpresa, ficou calada por alguns instantes e depois disse:

– Você tem certeza, Laura? È algo tão drástico...

– Certeza, eu não tenho. Mas acho que é a melhor solução. Eu e Pedrinho não podemos continuar aqui! - falei já me entristecendo

– Então pode contar com o meu apoio – ela se aproximou de mim e me abraçou

– Eu vou sentir tanta falta sua, Isabel. Sua e do Neto.- falei durante o abraço

Nos afastamos, ela me olhou de maneira estranha e depois disse :

– E se você não precisar sentir a nossa falta?

– O que você está falando, Isabel? - eu estava confusa

– Laura, você sabe a situação que estou vivendo. Tenho pesadelos com sua mãe tomando meu filho. Tenho o meu pai, a tia Jurema, e o pessoal do teatro me apoiando. Mas não me sinto segura no Rio. E se nós formos com você?

– Isabel, você quer mesmo ir?

–Também acho que essa é a melhor solução para mim. Meu pai não gostará. Mas nós fugiremos juntas, amiga. Você me deu o incentivo final...

Eu havia planejado pegar o trem para São Paulo na manhã seguinte. De lá eu iria para o interior daquele estado. Desde que soubera da viagem de Edgar, comecei a me corresponder com D. Emília, a responsável por uma escola de uma cidade pequena e um pouco afastada de Santos.

A professora de meninas da série inicial estava prestes a se casar e já pedira o afastamento do cargo. A cidade era bem pequena, mas cercada de fazendas, e não tinha muitas moças com instrução e dispostas a dar aulas. Assim, ela procurou uma nova professora de fora, eu me candidatei e através das correspondências, ela já havia me contratado.

Isabel saiu para se despedir da família, amigos e arrumar suas coisas. Como ela imaginava seu pai mostrou muita resistência. À noite, ela voltou com as malas, e na manhã seguinte nós partiríamos.

Antes de Matilde se recolher. Deixei uma carta com ela destinada a Edgar. Inventei uma desculpa de que nós poderíamos nos desencontrar, e se Edgar chegasse antes de mim, ela deveria lhe entregar a carta, que na realidade explicava tudo e lhe informava da minha fuga.

No dia seguinte, ainda nem havia amanhecido quando acordamos. As malas já estavam todas arrumadas, nós só precisávamos pegá-las e partir. Enquanto esperava o coche, me sentia muito triste, uma saudade, uma culpa no meu peito. Olhei para aquela casa com aperto no coração. Eu fora tão feliz, apesar de ter sofrido também. Eu sentiria saudades, nela eu havia deixado de ser menina e me tornado mulher e mãe.

Lembrei de Edgar, apesar da nossa situação, como eu sentiria falta dele. Parei na frente de uma mesinha, nela estava uma foto nossa, do dia do nosso casamento. Nós havíamos nos casado sem amor, depois nos apaixonamos perdidamente e agora eu o deixava, apesar de ainda amá-lo.

Comecei a chorar, era doloroso. Eu estava desistindo dele, o deixando para aquela mulher, a Catarina, que tanto infernizava a minha vida.

Num impulso peguei aquele retrato e coloquei numa mala. Não para relembrar dele, pois as memórias estavam no meu coração, na minha mente. Eu nunca esqueceria. Mas Pedrinho era tão pequeno. Talvez ele se esquecesse e quando estivesse maior, eu poderia mostrar o seu pai.

Isabel, Neto, Pedrinho e eu partimos naquela manhã. A esperança era que pudéssemos refazer as nossas vidas e vivermos em paz.

Da cidade de São Paulo, enviei uma carta ao meu pai. Não dizia onde ia ficar, mas explicava a situação, e me despedia dele. Eu queria ter feito isso pessoalmente, ele era tão apegado a mim e a Pedrinho. Mas tinha medo dele revelar a minha mãe, e ela não podia saber, pois com certeza tentaria impedir por causa de Isabel, Neto e pelo escândalo de ter uma filha que fugira do marido.

Parti para o interior, ao chegar na cidade, Isabel ficou com as malas e os meninos numa praça e eu fui a escola.

Conversei com D. Emília que era mais nova do que pensava, tinha os seus 30 anos. E combinei de começar a trabalhar no dia seguinte.

Ela também me indicara um lugar para morar. Uma pensão que segundo ela, era bem limpa, tinha um preço razoável, uma boa comida. O único porém é que a dona do lugar, uma senhora idosa chamada Amália. Mantinha tudo com mão de ferro. Interferia, exigia respeito, bom comportamento, e só hospedava casais no mesmo quarto se fossem casados.

Mas ela percebeu que isso não seria um problema para mim. Pelo contrário, um clima familiar era que o queria. Afinal, eu e Isabel éramos duas mães, que queríamos dar esse clima aos nossos filhos. Nós éramos uma família.

Fomos até a pensão. E enquanto tentávamos levar as malas e as crianças para dentro, quase num malabarismo. Um homem gentilmente nos ajudou carregando todas as malas para uma espécie de sala, que também era a recepção do lugar.

O homem deveria ter cerca de 30 anos, era muito gentil, tinha um sorriso bonito. Mulato do cabelo crespo que mantinha com um corte médio, nem muito curto, nem grande o suficiente para cachear. Cultivava uma barba rala. E seus olhos davam um aspecto exótico a sua figura, eles eram azuis, um azul vivo. Eu não estava interessada em homens, na verdade, sempre me interessei mais por livros até Edgar me conquistar, e bem, ele ainda estava no meu coração, sem espaço para qualquer outro. Mas mesmo, que ele não me interessasse, não me despertasse qualquer vontade nesse sentido, não podia negar que era bonito.

Ele colocou as nossas malas num canto, enquanto eu e Isabel ficamos com nossos filhos, depois veio até a gente e falou:

– Muito prazer, eu sou Lauro ... não sou loiro como significa o meu nome, mas como era filho de branco minha mãe achou que seria possível... E me chamou de Lauro... Se ela soubesse que em vez da cor do cabelos, eu herdaria os olhos... - ele riu simpático, mesmo só o conhecendo naquele momento, me parecia uma boa pessoa – E as senhoras?

– Muito prazer, eu sou Laura. E bem … como você, também não sou loira – brinquei

– Então é a minha xará? -ele falava de modo animado – Um prazer conhecê-la. E a senhora, qual a sua graça? - ele se virou para Isabel de modo pomposo e ela parecia desconfiada

– Isabel – ela respondeu de maneira seca, mas ele ainda sorrindo perguntou

– E esses charmosos cavalheiros no colo de vocês? Agora que já que nos apresentamos, será que posso chamá-las de vocês? - ele olhava os meninos que dormiam

– Claro...Pedro – indiquei meu filho e como Isabel não falou nada, indiquei meu sobrinho – Neto!

– Mal posso esperar para cumprimentá-los acordados- ele dizia pomposo, mas ao mesmo tempo brincalhão – Vocês ficarão apenas alguns dias ou …?

– Não, pretendemos ficar um bom tempo. Sou a nova professora da escola.

– Ótimo! Então vou chamar a D. Amália, não se assustem com ela num primeiro momento, ela pode parecer dura, mas tem um ótimo coração.- ele saiu e voltou acompanhado

Dona Amália devia ter em volta de 60 anos. Era branca, e a maioria dos seus cabelos também, mas ainda dava para ver uns fios castanhos. Ela chegou séria, realmente parecia dura como Lauro falou. Mas quando viu as crianças em nossos colos, seus olhos brilharam, e um belo sorriso apareceu em seus lábios. Já parecendo uma avó boazinha de contos de fadas.

Conversamos com ela, e alugamos 2 quartos, um para Neto e Isabel e outro para mim e Pedrinho. Como iríamos ficar por mais tempo, pagaríamos o aluguel por mês, e nesse caso sairia mais em conta.

D. Amália era bem conservadora, daquelas defensora da moral e bons costumes, mas me parecia muito boa. Outro com quem me simpatizei foi Lauro, que também morava na pensão. Isabel o achava atrevido no início. Mas com o tempo, se acostumou com o jeito espontâneo e animado dele. Além dele, ainda havia mais uma moradora fixa, Marta, ela era jovem, e tinha uma aparência que indicava descender de índios. Ela foi a única que não simpatizou com a gente, e claro, que assim, nós não simpatizamos com ela. A pensão ainda recebia hóspedes eventuais e nós tínhamos contato com viajantes, caixeiros, dentre outros.

Com o passar dos dias, fomos descobrindo coisas interessantes das pessoas que nos cercavam. Lauro trabalhava no armazém da cidade e morava na pensão há apenas 6 meses. O que achamos estranho, já que ele parecia tão a vontade e tão amigo de D. Amália. Segundo ele, era o seu jeito. Ele se adaptava fácil. Já havia morado em vários lugares e não ficava muito tempo num mesmo lugar.

D. Amália era uma viúva sem filhos. Tinha várias posses na cidade, e mantinha aquela pensão para ganhar mais dinheiro, mas principalmente pela companhia dos hóspedes e para se manter útil. E em pouco tempo, ela se apegou aos meninos. Seu sonho era ter sido mãe, mas nunca havia engravidado e o falecido marido não aceitou uma criança adotada.

Já Marta que pouco conversava com a gente, só conseguimos descobrir que trabalhava como doméstica na casa de um fazendeiro que morava na cidade.

Depois de certo choque inicial, os meninos foram se adaptando. Isabel estava prestes a começar a trabalhar numa casa que D. Amália a indicara. Os meninos ficariam com ela quando nós estivéssemos trabalhando, tinha pouco tempo que a conhecíamos, mas D. Amália parecia adorá-los e cuidaria bem deles.

Eu também já me adaptava. Adorava dar aulas e as minhas alunas, que pareciam muito animadas com sua nova professora. E Pedrinho já não reclamava muito da minha ausência no período de trabalho. Ele me parecia tão compreensivo.

Entretanto, as vezes, eu sentia uma tristeza, um saudade pungente de Edgar. Imaginava como ele estava, qual fora a sua reação, se estava com a Catarina. Eu evitava chorar na frente dos outros, mas quando estava sozinha no quarto ou quando Pedrinho dormia, não me controlava.

Havia pouco mais de duas semanas que estávamos na cidade. Nós comíamos na sala de jantar. A conversa era animada e o clima bom, quando senti um enjoo Tentei disfarçar e fui para o quarto.

Deitei na cama e já me sentia um pouco melhor. Comecei a pensar, estava preocupada, estava me enganando, adiando pensar... Aquela não era primeira vez que enjoava. Também estava tendo tonturas, naquele dia mesmo, tivera uma na escola. Tentei lembrar da última vez que minhas regras vieram... E elas estavam bem atrasadas... Não... Não podia ser... Não quando tudo estava se ajeitando... Não podia... Mas eu sabia, mesmo não tendo ido ao médico, tinha certeza... Eu estava grávida.


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Notas finais do capítulo

Então o que eu acharam dos novos rumos? Gostaram que Isabel foi junto? E dos novos personagens... Se ainda não viram a nova capa (espero que não tenham visto). Vejam, ela tem um pequeno spoiler (é só ir na página inicial da história). Espero que gostem. E não deixem de comentar, sem seus comentários eu fico triste tá, e não animo de escrever, essa semana eu fiz um esforço maior para colocar um capitulo todos os dias, já que meu dia a dia estava mais conturbado. E pessoal não sei como será na próxima. Por isso comentem, recomendem, mostrem que estão aqui. Isso me deixa tão animada... me sinto recompensada.



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