Os Jogos do Vício escrita por Ryskalla


Capítulo 8
Capítulo 7 - Compreensão.


Notas iniciais do capítulo

É isso ai! Jogos do Vício está voltando! è-é Firme e forte, mas com um capítulo particularmente pequeno. Peço desculpas por isso, foi meio complicado de escrever ç_ç Mas não se preocupem, o próximo será maior e eu irei pegar o pique de novo!



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Hexabelle não falara nada desde a cerimônia de reencarnação de Purah. Quando o pequeno foi levado de volta para o reino dos anjos, imediatamente foi posto no Leito da Esperança. Os anjos presentes murmuravam entre si, excitados, perguntando-se como seria a aparência nova de Purah. Porém, isso era algo que só descobririam nove meses depois, quando sua nova mãe desse a luz.

— Vocês são doentios. — As palavras de Hexabelle feriram mais a Theliel do que aos outros. De fato, ele se sentia doentio. Tal como Myra falara, ele encarava como um favor a remoção das asas de Belle. A confusão o atormentava ainda mais, no entanto procurava se manter calmo. Era isso que Myra gostava de fazer com todos: deixá-los confusos. Não podia cair nas armadilhas psicológicas dela. Acompanhou uma revoltada Belle até sua área favorita de descanso, a única que tinha uma visão privilegiada do reino humano.

— No que está pensando? — Theliel ouviu-se perguntar. Que tipo de pergunta idiota era aquela? Buscou manter sua expressão impassível, mesmo que sentimentos conflitantes brigassem dentro dele.

— Que preferia ter minha existência apagada a ficar aqui. — A arcanjo sabia que Theliel não era culpado por nada daquilo, que deveria agradecer por ter alguém que a tratasse tão gentilmente. Era tão... Difícil não sentir raiva. Considerava que todos os anjos eram insensíveis e após a morte de Purah pode ter certeza disso.

— Uma existência não pode ser apagada, apenas esquecida. Todos que viveram ainda existem, só viajaram para seu local de repouso. — Aquilo... Será que ela ainda existia então? Mesmo que não houvesse esperanças para a natureza de Cedric, ainda haveria para suas lembranças. Se Cedric visse Alice, ele certamente se lembraria de tudo, mas... Será que ela própria significara tão pouco para Cedric a ponto de não conseguir fazê-lo lembrar? Belle sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto e então sentiu o dedo macio de Theliel limpá-la. — Belle...

— Por quê? Por que ele não consegue se lembrar de mim? — Sentiu os braços do arcanjo envolverem-na e se encolheu. Por tanto tempo desejou um abraço como aquele, mas era o de Cedric que ela desejava. Theliel jamais iria entender, por mais sábio que fosse... Eles jamais ficariam juntos.

— Ele decidiu se esquecer. Quando alguém opta por abandonar suas lembranças, nada é capaz de trazê-las de volta. Exceto ele próprio. — Ainda mantinha Belle em seus braços, não tinha coragem de largá-la. Dali, ela não poderia ver seu rosto. Theliel, o arcanjo perfeito, tinha lágrimas em seus olhos. Sabia que Belle lhe era inalcançável. Tal como Cedric era inalcançável para ela. Ter consciência disso não iria impedi-los de sofrer. O conhecimento não abrandava o sofrimento, às vezes só o intensificava. — Ele é realmente muito forte, normalmente é difícil conviver com o vazio que uma vida inteira de lembranças é capaz de deixar.

— E com um vazio de sentimentos? — Hexabelle afastou-se subitamente do arcanjo. Por que ele a irritava daquela forma? Não era isso, por que ela se irritava com tanta facilidade? Talvez ela fosse o problema. Sempre fora.

— O que quer dizer? — O seu tom de voz era cauteloso. Lembrava-se das palavras do Vício. Tu és tão frio e ela tem tanto calor... Hexabelle tem tanto calor que irá lhe queimar. Sabia que ele estava certo.

— Vocês não têm sentimentos. — Podia ouvir a voz de Myra nas palavras de Belle. Era tragicamente engraçado o fato das duas concordarem em algum ponto. — Não sofrem quando um amigo se vai, não podem se apaixonar.

— Está errada. Com o tempo você verá, irá entender a vida e os sentimentos de um anjo. Verá que somos capazes de nos apaixonar, que também somos capazes de sofrer. — Devia ser mais paciente, ele sabia. Deveria se controlar e não dar espaço para sentimentos negativos como a raiva. Talvez o calor de Belle estivesse lhe queimando... Poderia estar sendo contaminado com sua fúria.

— Ah, claro que são! Veja Lúcifer, se apaixonou e deu origem aos Caídos! — A voz de Belle ficava cada vez mais alta. Tinha que se acalmar, tinha que se conter. Mas era tão difícil!

— Porque ele se apaixonou por um demônio! — Retrucou, a contrariedade sutilmente presente em suas palavras. Quando ela iria parar de atacá-los? Quando seria capaz de compreendê-los?

— Então eu não sou muito diferente de Lúcifer. Devo cair também? — Aquele tom zombeteiro... Theliel fechou os olhos e respirou fundo. Aquilo não adiantava, não conseguiria manter a calma para sempre. — Porque também estou apaixonada por um demônio.

— Não! Você está apaixonada pela lembrança da vida humana daquele demônio! — Belle o olhou, ligeiramente perturbada. Foi quando viu a expressão dela que Theliel percebeu que havia gritado. Suspirou enquanto dava as costas para ela. Precisava ficar sozinho, talvez não devesse vê-la com tanta frequência... Belle estava cegando-o, do mesmo modo que Cedric estava cegando-a. — Você está apaixonada por um humano que morreu. O Cedric que você ama já não existe mais. Deveria encarar isso e parar de se machucar.

Quando fora embora, passou pelos gêmeos ajudantes de Felicity e deixou para trás uma perplexa Hexabelle.

— Nossa, você realmente é boa! Para conseguir tirar Theliel do sério. — Um dos gêmeos se aproximou da arcanjo. A princípio, Hexabelle os achou completamente diferentes: enquanto um possuía cachos loiros o outro possuía o cabelo escuro e liso; ao passo que o primeiro possuía a pele dourada, o segundo possuía uma coloração semelhante à porcelana. — Prazer, meu nome é Hilário. Não Hilário de, puxa, como meu nome é engraçado! Hilário de Hilário mesmo.

Mesmo que há poucos minutos estivesse tão furiosa a ponto de querer chorar, não conseguiu evitar soltar uma doce risada. Há quanto tempo não ria daquele jeito? Foi quando o outro anjo se aproximou que Belle percebeu: Eram gêmeos. O rosto era exatamente o mesmo, assim como o formato do corpo. Era algo peculiar que lhe chamava a atenção.

— Vocês... São gêmeos? — Não poderia ser possível, por mais idênticos que seus traços fossem, havia diferenças o suficiente para torná-los... Como os anjos nasciam? Eram tantas perguntas!

— Sim, exatamente! Dificilmente alguém nota. Gostamos de dizer que somos o contraste um do outro. Utherio, venha aqui. Ela não vai te morder! — Então se virou repentinamente para Hexabelle, como se uma súbita preocupação lhe assombrasse a mente. — Você não morde, não é?

— Não, não. — Ela sorriu e Hilário sorriu-lhe de volta. Utherio aproximou-se dos dois... Seus olhos prateados estavam vermelhos, como se estivesse chorando há pouco. Hexabelle julgou que seria pouco educado perguntar, mesmo que desejasse intimamente fazer o contrário que a educação mandava. Aqueles dois eram tão cheios de... Sentimentos! Muito diferentes dos Arcanjos sempre tão bem controlados e frios. — Vocês são... Diferentes.

— Exato! Por isso é difícil notar que somos gêmeos! Utherio, venha. — Não era sobre a aparência física que falava, porém não quis desfazer o mal entendido. O gêmeo de cabelos negros aproximou-se lentamente com uma expressão contrariada.

— Você e essa sua inacreditável tendência a se meter em assuntos alheios. — Diferentemente da voz de Hilário que era límpida, Utherio possuía uma voz rouca, quase tristonha. — Deveria experimentar ser um pouco mais educado.

— Que absurdo! Tenho certeza de que ela não me considerou rude! Não é verdade, Belle? — Aquele apelido era uma ferida, uma ferida que Hexabelle acreditava que doeria para sempre. Ao que parecia algo em sua expressão denunciou seu desagrado, porque Hilário jogou-se no chão desesperadamente. — Óh, Deus! Eu fui rude! Tenha piedade de minha alma! Por quê? Por que toda a educação ficou com meu irmão e não sobrou nem uma migalha para mim?

Diante de tal situação, Hexabelle não conseguiu segurar o riso, o que só piorou a situação do pobre anjo que agora reclamava sobre ser motivo de zomba e de como era indigno de respeito.

— Deixe de ser dramático, Hilário. — Utherio ralhou e seu irmão pareceu se controlar.

— Dramático? Quem você está chamando de dramático? — Ergueu-se imediatamente do chão e olhou para seu gêmeo que revirava os olhos, claramente impaciente.

— Perdão, mas... Por que vocês são diferentes? Digo, não fisicamente. Falo em relação aos outros anjos. É como se eles não tivessem sentimentos... E vocês parecem cheios deles. — Não sabia se estava fazendo sentido para eles. Hilário mantinha a mesma expressão divertida, porém Utherio contraiu o cenho, como se estivesse irritado.

— Isso é porque passamos muito tempo com humanos. Os Guardiões também são assim. — Ele ergueu-se um pouco do chão, batendo as asas levemente. — Por isso somos mais legais.

— Não é justo, Hilário. — O moreno tinha a voz bem séria, como se ele próprio estivesse ofendido. — Não é como se eles tivessem escolha. E eles não são insensíveis, têm tantos sentimentos quanto nós. Só estão assim por causa da guerra.

— Guerra? — A ruiva perguntou, completamente confusa.

— Ora, Theliel não lhe contou? — Ela percebia agora... Não era algo que ele precisava ter contado. Era algo que estava óbvio. Estivera tanto tempo perdida em sua própria infelicidade, imersa em seus próprios problemas... Que não vira aquilo que estava bem diante de seus olhos. — Os Filhos de Lúcifer despertaram. O próprio Lúcifer e Lillith devem ter despertado também... Não irá demorar muito para eles entrarem em guerra oficialmente.

— Mas qual o motivo da guerra? — A arcanjo perguntou, tinha que haver alguma razão. Não poderiam ser tão irracionais assim.

— O motivo de sempre. Lúcifer e Lillith querem Eva de volta. O único problema é que... Bem... — Hilário levou a mão até a cabeça e bagunçou seus cachos dourados. Seus olhos encararam o irmão, como se procurasse a ajuda dele para continuar.

— Jeliel perdeu o contato com Eva há muitos anos. Ninguém sabe onde ela está... — Utherio permaneceu em silêncio duante um tempo após dizer aquelas palavras. Havia vergonha em seu olhar e somente quando o anjo falou outra vez Hexabelle entendeu a razão daquele sentimento. — E nós não sabemos ao certo o que fazer sem as orientações dela.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, se houver algum erro: AVISEM. Eu não mordo nem brigo. Na verdade fico feliz quando avisam, porque eu sou particularmente distraída... Preciso de uma beta pra essa história também c_c Ai, ai, muitas coisas pra resolver >—> Até o próximo capítulo o



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