Ambiente parcialmente iluminado, cortinas balançando com o vento que entrava no quarto, utensílios no criado-mudo desorganizados e uma garota loira dormindo com os cabelos desgrenhados. Foi tudo que consegui perceber antes de me atirar no meu colchão.

Não consigo encontrar um motivo para o Gaara ter agido daquela maneira. E o idiota do Kankuro nem ao menos ajuda, pedi que me explicasse o ocorrido e ele apenas levantou da cadeira e saiu da sala de jantar. Que pessoa prestativa... Claro que fui irônica.

Agora eu fico aqui suspirando entre travesseiros e lençóis, sem encontrar um porque da ação repentina do ruivo, ou melhor, dos dois garotos já que não consegui entender nenhum deles.

– Hei Sakura – escutei a voz sonolenta da Temari me chamar e virei o rosto para observá-la.

Não pude evitar rir. Ela estava com o cabelo ainda pior do que eu havia imaginado e enquanto ela bocejava com aquele rosto sonolento, ela me lembrou perfeitamente o Nara Shikamaru.

– Do que está rindo? – ela perguntou contendo um novo bocejo.

– Temari... Temari... Você está tão preguiçosa. Daqui a pouco começa a observar as nuvens. – eu disse rindo.

Fui interrompida por uma almofada que ela arremessou em mim.

– Mas não sou eu que já deveria estar no hospital. - ela disse rindo.

E esse foi o momento que comecei a entrar em desespero. Levantei e me dirigi tão rápido em direção ao banheiro que por azar ou alguma bruxaria, meu pé enroscou no lençol e meu corpo inteiro foi ao chão. Levantei-me mais desesperada ainda, entrei no banheiro já arrancando minha roupa e jogando para todos os lados antes de entrar na água. E eu ainda podia escutar as gargalhadas da Temari do outro lado da porta.

Talvez tenha sido o banho mais rápido da minha vida porque nem eu estou acreditando que já me encontro no comércio perto do hospital. Preciso parar aqui com mais calma algum dia, tem tanta coisa bonita. Mas por que tem olhos negros me observando por uma fresta entre os panos que formam uma das barracas ao fundo? Esses olhos... Ele sabe que estou o encarando. Por que não desvia os olhos dos meus?

É o Sasuke-kun, esses olhos negros e intensos são dele. Por que estou correndo até ele? Sasuke-kun, por que está fugindo? Seus olhos não estão mais na fresta. Ah, há alguém passando pelo lado direito...

Um garoto... Apenas um garotinho de olhos negros. E antes que eu perguntasse a ele o porquê de estar me observando, uma mulher passou por mim o agarrando. Agora tudo está fazendo sentido, ele estava brincando de se esconder da sua mãe, e na certa ela estava perto de mim, ele não estava me observando, mas a ela. E lembrei que não tomei meu desjejum hoje de manhã, isso deve ter contribuído para que eu achasse ser o Sasuke.

Voltei para o meu caminho e diversos olhos das pessoas presentes me miraram. É, minha atitude deve ter sido estranha, no mínimo inesperada. Apesar de constrangida pela situação, me sinto mais aliviada porque se eu não tivesse corrido até o menino de olhos escuros, eu poderia ficar o tempo todo pensando se seria o Sasuke-kun ou não.

Chegando agora no hospital, começo a me perguntar para quem devo entregar o documento que o Gaara me deu. Vou falar com alguém da recepção.

– Hei! Você de cabelo rosa. – me virei na direção de quem gritava e pude constatar que realmente falava comigo – Você é a Sakura de Konoha?

– Sim. – foi só o que consegui responder ainda assustada, um homem gritando comigo na entrada do hospital não era o que eu esperava.

– Sou Akira Mutsuhiro. Gaara-sama me avisou que viria, sou o responsável pelo hospital. Venha comigo.

Assim que o homem terminou de falar, ele segurou meu pulso direito com uma de suas mãos quentes e foi me guiando corredores a dentro. Apenas quando paramos de andar sua mão me soltou e abriu a porta a nossa frente. E através da grande quantidade de papéis na mesa, pressuponho que seja a sala dele aqui no hospital.

Esse homem que grita no hospital, que parece totalmente desorganizado. Será que é certo ele cuidar de algo tão importante como vidas? Mas não julgarei, apenas concordarei com essas decisões. Se o Mutsuhiro está aqui é porque Gaara o aprova.

– Sakura... Sakura-chan – ele estava me chamando com voz infantil e como se estivesse cantarolando.

Apenas agora percebi que estava perdida em meus próprios devaneios. O encarei e ele me olhava com um pequeno e enigmático sorriso no rosto, a cabeça estava inclinada e apoiada na mão esquerda.

– Não vai me dar o documento que o Gaara-sama assinou? Tudo bem. – disse isso já levantando de sua cadeira.

Arregalei os olhos só de pensar na quantidade de coisas que o ruivo deveria ter resolvido, mas estava assinando esse papel para mim. Como eu poderia estar sendo tão distraída? Peguei o documento que eu carregava e o coloquei na mesa praticamente o jogando, minha mão direita por cima do papel como que para pressiona-lo naquela madeira. Mutsuhiro calmamente colocou uma de suas mãos na minha, e com seu polegar e indicador puxou meus dedos para cima. Com sua mão livre puxou o documento para si e só após isso recolocou minha mão de volta a mesa. Ele passou os olhos onde estava a assinatura do Gaara e guardou em uma pasta que percebi ter meu nome gravado.

– Vamos Sakura-chan, vou leva-la a sua ala. Você ficará na 2, mas é obvio que poderá e deverá cuidar das outras quando necessário.

– Como elas são distribuídas Mutsuhiro?

– Ala 1: Shinobis; 2: idosos; 3: crianças; 4: cidadãos, fora o setor de emergência etc... – ele segurou meu ombro e percebi que já estávamos na ala que fui destinada – Vou passar aqui ao meio-dia para irmos almoçar. Até lá Sakura-chan.

O vi se distanciar com suas costas voltadas para mim e as mãos tocando levemente a parede direita do corredor enquanto assobiava uma pequena melodia.