Titanium escrita por Cigarette Daydream, milacavalcante


Capítulo 3
Uma Punk Chamada Thalia


Notas iniciais do capítulo

Olá! Gente, estou super feliz! A Raquel, autora de uma das minhas FIC's favoritas - Touched By Hell - está lendo!
Dedico o capítulo a ela e a Julie - autora de Living Dead.
Depois, leiam as FIC's delas, se ainda não leram. São ambas Percabeth.
Sem mais nada para falar, flw.



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Há coisas que eu não sei explicar como aconteceram.

Coisas ruins, coisas estranhas.

Talvez meu cérebro simplesmente desligue enquanto eu faço coisas tão ruins comigo mesma. Tudo que me resta é teorizar, afinal eu nunca sei com exatidão como aconteceu. Tentar pensar muito ajuda. Mas como pensar em outra coisa a não ser a dor aguda e aquele líquido quente descendo por meus pulsos?

Abri meus olhos lentamente para a consciência, já sabendo o que a dor nos meus pulsos devia significar. Notei que havia cacos de vidro por todo lugar, eu devia ter quebrado algo e com muita força, eu certamente entraria em apuros se alguém descobrisse.

Sem conseguir protelar mais, olhei para meus pulsos, de certo modo foi um alivio ver tanto sangue, pelo menos bloqueava minha visão dos cortes, que, pelo fluxo de sangue que escorria, deviam ser bem feios. Notei que um pequeno caco de vidro ainda estava agarrado a minha pele, arranquei-o sentindo uma pontada de dor e um pouco de agonia pela cena.

O frasco de sabonete líquido estava em minhas mãos e ao tentar pensar em como eu havia feito isso, minha cabeça começava a girar. O que diria Atena? Certamente nada, só marcaria mais uma consulta psiquiátrica. Afinal, é TÃO difícil conversar com a louca.

Procurei lembrar se em alguma dessas consultas eles já haviam mencionado o porquê de meu cérebro viver desligando nessas situações. Não me lembro de nada sobre isso, talvez eu não tenha mencionado esses ataques inconscientes, só talvez. Minhas memórias estavam embaralhadas, mas logo me lembrei de Percy e do que tinha acontecido. Ah, Percy. Por que eu esperava outra coisa? Obviamente ele estava me enganando... Ele me deu esperança de normalidade, apenas para que Rachel pudesse tira-la de mim. Ele devia ter apostado sobre a coragem para ficar perto da louca. Todos me consideravam uma piada, todos me consideravam uma aberração. Eu sou uma experiência de laboratório.

Só despertei de meus pensamentos quando uma menina de olhos azuis elétricos e um estilo punk, entrou no banheiro e parou, arregalando os olhos. A menina murmurou algum palavrão e trancou a porta, usando a grande lata de lixo como trava.

– O que está acontecendo aqui? – perguntou ela em um tom leva, mas autoritário, como se me forçasse a responder. – Não que não seja obvio, mas eu gostaria de entender.

– Nada – murmurei. – Me desculpe, você não precisava ver isso.

A punk revirou os olhos e me puxou delicadamente até a pia, onde começou a lavar meus cortes com bastante cuidado. Ela tirou uma caixa de lenços umedecidos em forma de refrigerante. Era até uma situação engraçada, aquela estranha cuidando de mim, mas certamente a expressão dela estava séria demais para eu tentar fazer uma brincadeira.

Ela começou a limpar a bagunça, eu estava tão abismada com a situação e com a atitude dela, que nem liguei e me limitei a observar, de algum modo tudo começou a sair de foco e eu senti o banheiro ao meu redor começar a girar. Me apoiei na pia e ela terminou rapidamente com a bagunça.

A punk se limitou a dizer: – Você precisa de algum ar puro.

Ela destravou a porta e começou a me levar para o caminho que reconheci como o do pátio externo. Notei que não havia ninguém mais lá, obviamente a segunda aula já havia começado.

– Que horas são? – perguntei meio desorientada enquanto ela me sentava em um banco e se sentava ao meu lado.

– Oito e dez – ela me informou.

Respirei um pouco do ar frio e olhei novamente para ela.

– Está melhor? – ela perguntou.

Assenti sem ter muita certeza e perguntei: – Qual é seu nome?

– Eu sou Thalia – ela disse e sorriu um pouco. – Você deve ser Annabeth.

Minha cabeça girou mais uma vez antes de eu conseguir me lembrar: – Você é amiga do Percy.

– Aham, ele me contou de você e me disse que você tinha sumido depois que a Rachel mencionou a aposta – ela explicou. –, ele me pediu ajuda para te procurar.

– E como você soube que era eu? – perguntei ainda um pouco confusa.

– Ele fez uma descrição na mensagem – ela disse. –, mas eu teria ajudado mesmo que não fosse você.

Parei por um segundo e perguntei: – Que descrição?

– Ele apenas me disse para procurar por olhos cinza, é bem fácil, já que não são muito comuns – respondeu Thalia.

– Sobre a aposta...? – deixei a pergunta no ar.

– Percy não aposto você – ela disse convicta.

– Mas... Rachel insinuou que... – eu tentei falar, confusa, mas a voz se perdia em algum lugar, não me permitindo completar uma sentença.

– Rachel é uma imbecil – esbravejou Thalia. –, ela não devia ter falado da aposta... E se fosse você?

– Então não sou eu? – me peguei a única coisa que meu cérebro confuso assimilou.

– Não é você – ela me assegurou. – Na verdade, acho que Percy ainda nem escolheu a garota! Se continuar assim, ele vai perder paro o Luke.

Respirei um pouco mais calmamente tentando me agarrar ao ar frio e perguntei: – Que aposta é essa exatamente?

Thalia parecia estar pensando se devia ou não me contar alguma coisa, mas enfim se decidiu e começou a falar, me deixando um pouco perplexa com as informações.

– Eles tinham que levar uma menina para minha festa, Percy me disse que te convidou, mas ele também me disse que você não era a menina da aposta – ela explicou. – Eles iam dar um grande fora na menina na hora da festa e eu ia gravar os dois foras, o mais acessado no Youtube ganharia.

– E isso tem algum nexo? – perguntei meio pasma.

– Tem, para o Luke, acho que o Percy não gostou muito, mas ele não disse não... – ela continuou a explicar. – Eles tinham terminado o namoro recentemente e Percy estava meio para baixo, então Luke sugeriu a aposta para “animar” o clima – ela gesticulou as aspas no ar.

– Mas, o que eles ganham com isso? – perguntei. – Machucam alguém por acessos na internet?

– Não acho que o Luke precisa de acessos para fazer isso, mas, sinceramente, eu também entraria na aposta pela guitarra autografada do Kurt.

Revirei os olhos, mas isso apenas causou mais vertigem. Eu poderia dizer que por motivos moralistas eu não seria mais amiga de Percy, poderia dizer que eu odiava a atitude nojenta dele, poderia dizer que nunca iria ser amiga de alguém que troca pessoas por coisas, mas eu nunca diria. Eu não posso me dar ao luxo de perder o Percy.

– Thalia... – comecei.

– Não vou contar – ela me interrompeu e eu sorri.

– Obrigada – murmurei. –, eu não sei direito o porquê daquilo, mas...

– Annie, eu sei como as pessoas te tratam, eu vejo às vezes, mas nunca pensei em me aproximar de você, isso é o suficiente para fazer muitas pessoas irem bem além dos pulsos – ela discursou. –, não vou te passar um sermão, você é grande o suficiente para saber a diferença entre certo e errado, mas a vida não é só feita de erros e acertos, você só precisa ser forte de vez em quando.

Eu sorri, acho que Thalia deve estar pensando que estou tentando parecer concordar, mas eu realmente concordo.

– Você não sabe o quanto eu tento Thalia – as palavras não eram acusadoras. – Eu tento ser forte, eu concordo com você a respeito disso – indiquei meus pulsos. –, nossas opiniões são as mesmas, mas não é tão fácil na prática.

– Imagino – ela disse e então o sinal tocou, indicando a terceira aula. – Eu não posso faltar essa aula... Você vem?

Fiz que não com a cabeça: – Acho que preciso ir para casa, não estou muito bem.

– Até amanhã então, se você decidir ir a minha festa – ela disse, simplesmente.

– É seu aniversário? – perguntei.

– Na verdade é a comemoração do meu meio-irmão – ela deu de ombros. – Ele passou no vestibular, mas os convidados, em maioria, são meus.

Assenti, entreguei meu celular para ela e disse: – Eu vou aparecer por lá, me passa seu numero.

Ela digitou o numero e disse que tinha que correr, pois o professor de matemática a odiava e se ela se atrasasse certamente iria para a coordenação. Sorri feliz, eu já tinha mais uma pessoa, estava aprendendo...

Liguei para minha mãe e em uns vinte minutos ela estava ali, reclamando de como eu era fresca e de como eu a fazia sair do trabalho o tempo todo sem necessidade. O tempo todo, claro... A terceira vez em toda a minha vida.

Cheguei e chutei meus sapatos para longe caindo na cama pesadamente, eu estava exausta. Só notei que estava dormindo quando o bipe do meu telefone me acordou. Fui até a mochila e o peguei. Mensagem de texto de um remetente desconhecido.

“Oi, Annie, é o Percy, Thalia disse que te explicou tudo, não te vi mais desde mais cedo, está tudo bem?”.

Thalia devia ter passado meu número também, mas ao invés de irritada eu estava ansiosa e eu não saberia direito dizer o porquê.

“Está sim, obrigada pela preocupação, ah, eu vou amanhã...”, digitei, “Nos vemos lá?”.

Demorou um pouco, mas ele logo respondeu também: “Que bom que você vai, nos vemos sim, quer que eu passe aí antes com o pessoal para irmos todos juntos?”.

“Quero sim, mas aguarde minha confirmação, sempre tem chances de eu ter que sair escondida de Atena...”, digitei e enviei.

Pude visualizar Percy parado a minha porta, a cena parecia meio deslocada, como se não fosse acontecer e não deveria, afinal, Percy é meio que um semideus grego. Não muito perfeito, mas lindo de tirar o ar. Quem o imaginaria vindo me levar para uma festa? Eu não, e certamente minha mãe também não. Meus pensamentos foram despertados pelo bipe indicando a nova mensagem.

“Ok, mas não precisa, eu falo com ela, se tiver problema, as mães não resistem ao meu mel”, ele respondeu.

“Atena é mais difícil do que as mães em geral, mas sair escondida não é um problema, sempre fiz isso”, eu enviei.

“Precisando de ajuda é só pedir”, ele enviou.

Achei que a conversa tinha acabado e fui tomar um banho para me livrar de vez da sensação ruim que me cortar dava. Mas, ainda antes de eu entrar no chuveiro meu celular fez um novo bipe.

“Acabamos não conversando direito hoje cedo, sobre aquele assunto, se quiser falar vou estar na praça...”, li duas vezes. Eu devia ir? Certamente eu queria conversar, mas... Com Percy? Ele é legal, mas certamente está tentando apenas ser educado. Nem respondi e voltei para o meu banho.

Fiz tudo lentamente, como se ficar debaixo da água quente espantasse as lembranças de mais cedo. Logo acabei o que tinha para fazer ali, mas, mais do que nunca, eu tinha certeza de que precisava falar com alguém. Sem nem ao menos ter a decisão tomada comecei a me arrumar para sair, peguei uma bolsa qualquer e joguei meu celular e minha carteira dentro.

Dei uma ultima olhada no espelho e me certifiquei de que estava descente, na verdade meu cabelo estava de bom humor e eu estava até bonita, por mais que essa não fosse a intenção inicial.

Pulei da janela para arvore e da arvore para o chão, como de costume. Rumei para o parquinho e tive um Déjà Vu ao ver o menino sentado no balanço e de cabeça baixa, mas dessa vez eu sabia que era Percy.

– Oi – murmurei.

Ele levantou o rosto e pareceu surpreso, mas não decepcionado, como se eu o estivesse incomodando, fiquei mais confiante.

– Eu achei que você não vinha – ele sorriu. –, você não respondeu a mensagem.

– Estava pensando – respondi.

– Eu também...

– Você realmente costuma vir aqui? Quer dizer... Achei que eu era a única que gostava de ficar no meio de tanta ferrugem – sorri.

– Tá me cantando Annabeth? “Você vem sempre aqui?” – ele riu e notei que ele não queria responder a pergunta. Não insisti mais.

Ficamos em silencio por um minuto e de repente a voz de Percy preencheu o ar, me virei para ele.

– Eu comecei a vir depois que meu pai morreu... Eu não gosto muito de ficar em casa quando tenho que pensar... – ele explicou. – Não tenho nada contra o novo marido da mamãe, mas, sinceramente, acho que ela merece muito melhor e eles discutem o tempo todo. Eu venho aqui quando quero pensar.

– Sinto muito, pelo seu pai... – sussurrei.

– Minha mãe diz que eu pareço com ele, mas ela nunca me mostrou nenhuma foto... – ele disse. – Acho que ela não gostava muito dele, para não ter guardado nenhuma foto.

– Talvez ela não queira se lembrar – eu disse. –, pode doer olhar para um retrato de alguém que ela já amou tanto e se foi...

Percy olhou para mim e deu um sorriso de canto.

– Sabe Annie, para alguém que não falava com muitas pessoas, você me entende melhor do que eu esperaria – ele disse, me deixando imensamente feliz.

– Acho que aprendi de tanto observar, além disso, meu pai me abandonou, eu me lembro dele saindo pela porta, Percy – eu expliquei. –, acho que só isso justifica não dar outra chance para alguém.

– Para alguém que me conhece há um dia e meio você está se saindo uma ótima conselheira, Annabeth Chase – ele riu.

Eu sorri e encarei o horizonte, levemente Percy puxou minha mão, fazendo meu coração dar um pulo, mas ele apenas virou-a, de modo que pudesse ter uma boa visão dos meus pulsos.

– E sobre isso? – ele perguntou.

– Isso... É complicado, Percy – eu disse. – Você se assustaria sobre mim.

– Annie, eu não sou tão fácil assim de assustar – ele disse.

Suspirei e comecei a falar: – Eu não sei como eu faço isso, eu apago e de repente está lá... Já aconteceu... Simplesmente, eu não consigo me lembrar de como aconteceu, eu desperto do transe e tem sangue por todo o lado.

Os dedos de Percy estavam refazendo as linhas dos meu cortes.

– Isso foi hoje? – ele perguntou.

Assenti e falei: – Eu apaguei, aconteceu e Thalia me encontrou, mas eu pedi segredo para ela.

– Você acha que o que aconteceu com você, foi culpa do seu pai? – ele perguntou, de repente.

Eu estava horrorizada, sou puro horror. Percy sabe, ele sabe. Lágrimas começaram a descer da face ao lembrar as cenas. Fechei os olhos com força tentando expulsar a imagem da minha cabeça e segurar as lágrimas, mas foi só abrir que as lágrimas começaram a seguir um fluxo interrupto. Percy ficou meio desesperado.

– Annie, desculpa, eu não queria te deixar chateada – ele dizia alisando meus cabelos,

Sequei as lágrimas e tentei me acalmar. “Você está sendo boba, Annabeth”, pensei, “já passou”.

– Tudo bem – eu sorri, de repente. – Não aconteceu por que meu pai foi embora, Percy, acho que meu pai foi embora por que aconteceu.

Percy me puxou e me abraçou. Senti um choque engraçado durante o abraço, eu não queria que acabasse, e, de fato, ficamos abraçados um bom tempo.

– Eu não vou ir embora Annie – ele prometeu.

Me afastei, lentamente, e sorri para ele.

– Então... Você vai passar na minha casa amanhã? Acho melhor eu te mostrar onde é! – falei levantando e quebrando a estranha atração que eu estava sentindo por Percy, apesar de minhas pernas ainda estarem um pouco bambas. Droga.


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Notas finais do capítulo

E aí gostaram? Review. Não gostaram? Críticas construtivas são sempre bem vindas.
Estamos a apenas 6 reviews do próximo capitulo.
xoxo