Titanium escrita por Cigarette Daydream, milacavalcante


Capítulo 2
Olhos Cansados de Atena


Notas iniciais do capítulo

Olá! Espero que gostem do primeiro capitulo oficial!
Tem um link de roupa no texto.
Sem mais comunicados, enjoy.



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 Eu entrei ensopada em casa e só vi uma expressão de raiva no rosto da minha mãe, mas eu não conseguia conter meu sorriso. Um amigo. Eu nunca tive nada nem remotamente parecido antes, a perspectiva até me assusta, sentir a normalidade não é exatamente comum por aqui...

 Ou talvez seja, para os outros, mas eu sou uma aberração, não há como saber.

 Minha mãe estava me secando, sem dizer uma palavra, raivosa. Eu sorri para ela, corajosamente, e perguntei como havia sido o dia dela. Ela pirou. Começou a gritar coisas sem sentido como “Annabeth, você me deixa louca!”. Depois eu é que sou a maluca. Oras, eu só perguntei como o dia dela havia sido.

 Encarei os olhos cansados de Atena e me solidarizei, eu sei o quanto tem sido difícil lidar comigo. Desde os primeiros sintomas, os primeiros amigos imaginários que duraram tempo demais, os primeiro sintomas de psicopata, ela tem estado ao meu lado. Ela não fugiu como meu pai. Ela não me abandonou. Eu não devia odiar os olhos de Atena e sim ama-los.

 – Desculpe, mamãe – eu disse de repente. –, eu queria conseguir fazer melhor do que isso... As vezes eu não consigo enxergar meus erros.

 – Você consegue Annie – ela respondeu. – É por isso mesmo que cobro tanto de você.

 Assenti e disse a ela que eu iria subir e tomar um banho.

 Eu ainda me lembro de quando eu tinha apenas dez anos e desci as mesmas escadas atrás de meu pai. Ele carregava uma mala. Ainda me lembro de ter sido estúpida o bastante para chorar e dizer que se ele viajasse não teria tempo de voltar para o meu aniversário no dia seguinte. Mal sabia eu que não era só uma viagem. Eu queria voltar no tempo e dizer para aquela menininha que o pai dela era um covarde e que ela não devia falar com ele.

 Gostaria eu de poder dizer que não o culpo pelos meus problemas, mas eu estaria mentindo. Lembro que na mesma época que ele se foi meus amigos imaginários se foram também e minhas companhias passaram a ser os livros. Shakespeare, átomos, a guerra fria... Tudo isso substituiu a dor. Tentar pensar muito ajuda.

 Assim que cheguei ao meu quarto peguei uma roupa e me encaminhei para o banheiro. Comecei a fazer tudo o que precisava ali, mas logo tinha acabado. Eu precisava me ocupar, não quero criar muitas expectativas sobre meu novo amigo. Não quero ver minha esperança sendo esmagada. Não de novo.

 Cheguei ao meu quarto e liguei meu pequeno notebook, eu quase nunca o usava, mas se agora eu tenho um amigo talvez eu possa ter um perfil online. Comecei a criar um Twitter, sem ter muita certeza de como usar. O que eu posso colocar na descrição? Louca, insana e rejeitada. Decidi simplesmente colocar uma frase conhecida: “Há grandes livros no mundo e grandes mundos nos livros”.

 Comecei a procurar Percy e logo encontrei, ele tinha 2.346 seguidores, mas só seguia pouca gente. Decidi apenas seguir ele e não falar nada, afinal e se ele se arrependeu? Notei que ele havia enviado um post recentemente, o que devia significar que ele estava online. Logo recebi um tweet dele: “Twitter novo @Anniebeth?”.

 Parei por um segundo sem saber o que deveria responder. Algo do tipo: “Sim, criei agora”, ou do tipo “Criei por que agora tenho amigos”.

 Decidi uma coisa mais simpática: “@PercyJackson É, acabei de criar, não sou muito acostumada com redes sociais”. Ele me seguiu e respondeu um simples: “@Anniebeth DM”. Que diabos significa isso? Para não parecer desinformada procurei no google e achei um tutorial. AAH, era tipo uma mensagem privada.

 Abri minhas mensagens e vi o pequeno texto que ele me enviou: “Pode, por favor, não contar para ninguém sobre o que aconteceu no parquinho? Não quero ter que dar explicações a ninguém e desculpe ser assim rude, mas é importante que você não conte”.

 Ah, entendi, o que aconteceu no parquinho, fica no parquinho. Ele não quer ser meu amigo.

 Enviei um: “Pode deixar não tenho por que contar”.

 Suspirei, esperei ele enviar um obrigado, e então apaguei minha conta. “Voltamos a estaca zero Annie”, uma voz no fundo da minha mente insistia em dizer. Decidi que já era tarde o bastante para me deitar e tomei meus remédios, antes de apagar em um sono longo e profundo.

XXX

 Já era manhã e eu abri meus olhos lentamente para a claridade cinzenta, eu gostaria de voltar para os meus sonhos... Eles eram tão bons! Percy estava me apresentando para os amigos e dizendo o quanto eu tinha sido legal com ele, logo depois estávamos em um estádio de futebol gritando por algum time e então a chuva me levou até a cena do parque novamente. Os sonhos não fizeram muito sentido, mas pelo menos eu tinha um amigo neles! Agora depois do que ele me enviou ontem só me resta sonhar com o que o dia de hoje poderia ser.

 Me rendi ao despertador e levantei para desliga-lo. Comecei a me arrumar e logo havia terminado o que tinha para fazer ali também. Peguei meu celular e meus fones e comecei a escutar músicas no caminho para a lanchonete. Eu sempre tomei café da manhã ali, para não ter que escutar minha mãe reclamando de como eu me visto ou de como eu demoro a passar geleia no pão. Ela sempre tem do que reclamar.

 Sentei na bancada e pedi o que sempre peço: dois pães de queijo grandes, um chocolate morno e um bolo de baunilha pequeno. Acho que só não sou gorda por que sempre saio para correr de tardezinha, mesmo que minha mãe não veja. Ela acha que não sei dar um passo sem companhia.

 Comecei a observar os outros que estavam esperando a comida, tinham algumas pessoas da escola me encarando então logo baixei o rosto. Continuei aproveitando a espera ao som de Acceptance, mas logo senti um fone ser puxado do meu ouvido. Era Percy.

 – Bom dia – ele sorriu.

 – Olá – murmurei sem entender o porquê daquilo.

 Ele se sentou e perguntou se eu já havia pedido, eu fiz que sim com a cabeça e então soltei a pergunta: – Você não disse que não queria ser meu amigo? Por que isso agora?

 Ele franziu a testa por um momento, mas depois pareceu compreender e riu um pouco. Deuses, o sorriso de Percy é realmente bonito, mas não me deixei distrair.

 – Eu nunca disse isso Annabeth – ele disse. – Eu apenas pedi para não contar sobre o parquinho, não significa que não podemos ser amigos.

 Eu só notei que estava sorrindo quando ele sorriu também. Tentei disfarçar minha felicidade, mas era meio impossível.

 – Por que está tão feliz? – ele perguntou.

 Por que você é o meu primeiro amigo.

 Dei de ombros e falei: – Hoje é sexta-feira.

 Ele sorriu e pareceu ter se lembrado de alguma coisa, logo ele disse: – Eu sei que não deve ser muito sua praia, mas amanhã vai ter uma festa na casa da Thalia, se quiser ir...

 – Acho que eu deveria esperar o convite dela – falei sugestivamente.

 – Qual é, eu digo para ela que quero levar uma amiga nova, mas sinceramente, ela nem vai ligar – ele riu.

 – Como é essa festa? – perguntei.

 – É uma festa caseira normal, mas como é a de Thalia vai ser incrível – ele disse. – Você tem que ir.

 – Acho que vou sim – sorri um pouco.

 Percy parou de repente, mas logo começou a despejar informações como hora, quem ia, como ia ser, as músicas, roupa que eu devia usar...

 – Não é como se eu nunca tivesse visto seriados ou filmes, Percy, sei como isso funciona – eu disse com um meio sorriso e ele deu um pequeno sorriso de canto.

 – Eu sei que você sabe, mas eu falo muito quando fico empolgado – ele pareceu envergonhado e eu ri.

 – Somos dois.

 – Então você é a pessoa menos envergonhada que eu conheço – ele disse e notei que eu realmente estava falando muito pouco.

 Eu não precisava dizer que eu costumava ficar nervosa sozinha e falar sozinha. Apenas concordei com a cabeça e me perguntei se ele já estaria entediado com aquela conversa parada quando meu café da manhã chegou, e o dele também.

 Comemos conversando sobre como a moça que estava sentada perto de nós estava exageradamente produzida para uma cafeteria de manhã. Percy imitava a todo tempo as expressões engraçadas de um garçom e logo estávamos totalmente a vontade naquela conversa, mas tudo que é bom uma hora acaba.

 – Acho melhor a gente ir, ou então a gente se atrasa – ele me lembrou.

 Concordei com a cabeça e peguei minha mochila. Atravessamos a rua para ir para escola, que ficava bem na frente da cafeteria, e chegamos à sala bem quando o sinal tocou. Percy me puxou para uma cadeira ao lado dele que ficava bem no meio da sala.

 Me perguntei o que ser amiga de Percy significava. Quer dizer... As pessoas poderiam ter ideias erradas nos vendo juntos e começarem a julgar Percy, eu definitivamente não quero que isso aconteça.

 Abri meu caderno e comecei a anotar o que o professor havia começado a copiar no quadro e uma menina ruiva bateu na porta e pediu licença, ela parecia insegura, não me lembro de já ter visto ela. Devia ser nova aluna. Ela era bem bonita, mas parecia estar um pouco irritada quando olhava na direção de Percy.

 Notei o queixo de Percy cair, ele devia estar totalmente afim da novata. O professor permitiu que ela entrasse e a apresentou a sala, o nome dela era Rachel e ela vinha de um colégio do interior. Ela foi para o fundo, pois era a única cadeira que havia sobrado. Para sorte dela os lugares não são marcados. Você pode mudar de cadeira todos os dias.

 Um plano começou a se formar em minha cabeça... Ela era novata, então não sabia minha fama de louca. Eu e Percy podíamos ir falar com ela e quem sabe em pouco tempo nós três nos tornássemos amigos e ela e Percy mais do que isso.

 Eu sei que a vida não é um roteiro, mas às vezes é bom imaginar e planejar como deveria ser. Eu penso que eu mudaria tudo se eu estivesse no comando, mas eu não estou.

 A cor das nuvens voltaria ao normal, embora digam que é apenas a época do ano.

 As pessoas seriam melhores, embora todos digam que dão o seu melhor.

 Percy ganharia um Nobel por ter se arriscado a ser meu amigo, embora ele diga que não é nada demais.

 O professor falava da matéria lá na frente, mas eu apenas acompanhava o padrão dos cortes em meus pulsos. Eles aconteciam nas noites em que meu cérebro não conseguia parar de trabalhar e eu me lembrava de toda a dor. Eu tenho apenas dezessete anos, mas já passei por mais do que cada um nessa sala poderia imaginar. Pergunto-me quando isso vai parar... Talvez nunca, mas não tenho a resposta.

 Notei que os olhos de Percy se fixaram em meus pulsos, então rapidamente os virei para baixo, mantendo os braços apoiados em meu caderno. Ele franziu a testa e me passou um bilhete em uma caligrafia nem-feia-nem-bonita, legível.

 “Talvez você queira me contar mais tarde sobre isso”.

 Notei que ele estava falando dos meus pulsos e logo assenti com a cabeça. Eu realmente queria, eu nunca tive ninguém para conversar. Aquela experiência seria boa, embora Percy pareça um pouco xereta para quem me conhece desde ontem, mas eu não tenho nada para usar como base do que deveria ser.

 Logo o sinal tocou anunciando os dez minutos livres que temos antes da próxima aula. Eu perguntei a Percy se ele queria ir falar com a novata já que parecia que ninguém iria se voluntariar e ele assentiu meio apreensivo, o que me fez ficar um pouco nervosa. Chegamos à cadeira da Rachel e ela levantou os olhos, como se perguntasse o que estávamos fazendo ali. Eu olhei para o Percy meio em pânico, eu não sabia o que dizer.

 Ela se voltou para o Percy e disse: – Essa é a menina da aposta?

 De repente eu não estava entendendo nada e ao mesmo tempo estava entendendo tudo. Antes que eu pudesse me segurar eu estava saindo da sala com raiva, eu não queria ouvir mais nada.


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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? Não esperei os 5 reviews, pois não queria demorar muito para postar o primeiro capitulo depois do prólogo, me contentei com 4, mas vou esperar 10 reviews até o próximo capítulo, conto com vocês para que a história tenha continuidade.
xoxo