Titanium escrita por Cigarette Daydream, milacavalcante


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Esse prólogo é bem curtinho, só para deixar um gostinho de quero mais, se possível!
Sem mais delongas, espero que gostem.



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A chuva está caindo hoje. O céu desaba quase todos os dias aqui.

Abracei meus joelhos em uma tentativa de me aquecer. Por que eu não usava as cobertas ou pedia um chocolate quente? Eu não sei. Talvez eu goste de me sentir vulnerável.

Os psicólogos diziam para minha mãe que eu era especial, nas palavras deles, diferente. Os alunos da minha escola diziam que eu era uma garota estranha, deprimida. Minha mãe não dizia nada, por que até hoje ela não falou uma palavra além do estritamente necessário comigo.

Eles dizem que não é natural eu não querer mais ver o mundo, dizem que não é natural eu monologar ao invés de falar, dizem que não é natural eu fantasiar outro mundo. Ah, eles dizem tantas coisas.

O mundo está preenchido de opiniões a meu respeito, de modo que, como o tempo, calou minha vontade de dar minha opinião a respeito de qualquer coisa. Agora as pessoas dizem que sou anti-social. É isso que eles dizem.

Pulei minha janela, agarrando o tronco da arvore que fica bem em frente a ela e desci a arvore calmamente. Já estou acostumada a fugir, mas ninguém nunca vê. Talvez por que ninguém ligue.

Eu espero o dia em que alguém vai ter coragem de falar comigo. Talvez ninguém nunca tenha. Talvez os psicólogos sejam as únicas pessoas com quem eu converse.

A chuva estava molhando meus cabelos, minha roupa e minha pele. Tocando-me. A chuva não tem medo de mim. Talvez a chuva seja uma boa amiga.

Olhei para a frente e o pequeno parquinho estava bem a vista. Aquele lugar era abandonado, calmo e sereno. De certo modo eu me identifico com esse lugar. Talvez se eu ficar bastante tempo nele, eu simplesmente vire uma peça dos brinquedos enferrujados. Talvez...

Mas, ao me aproximar notei que não estaria sozinha hoje. Um menino de cabelos escuros estava sentado no balanço, não se importando com a chuva. Procurei minha voz, me perguntando se eu ainda sabia como falar.

– Olá? - minha voz estava em um tom de pergunta, quase como se eu precisasse pedir permissão para falar.

O garoto levantou o rosto e eu pude analisar os olhos dele. Eram verdes e bonitos. Pareciam assustados. Ele não devia ser muito mais velho do que eu e o rosto dele parecia familiar. Talvez frequentássemos a mesma escola.

– Eu não sabia que mais alguém vinha aqui - ele dispensou meu cumprimento.

Fiquei calada por um momento, me perguntando se a conversa valeria a pena, mas logo me decidi:

– Nem eu - eu disse sentando no outro balanço.

Ambos ficamos calados, e eu achei que a conversa realmente havia acabado, mas logo a voz dele continuou:

– Qual é seu nome?

Eu quase não me lembro, é o que não digo a ele, geralmente só ouço meu nome em alas psiquiátricas.

Prazer, meu nome é tristeza.

– Anne - eu disse depois de um tempo. - E o seu?

Ele me analisou e pareceu ter lembrado de alguma coisa.

– Você é a menina da escola, que todos dizem que é louca e tudo o mais...

As palavras despreocupadas me machucaram mais do que deviam. Por um inocente minuto eu achei que poderia ter um amigo. Me levantei sem falar mais nada e comecei a sair do parquinho. Logo ele estava ao meu lado.

– Desculpe, eu não quis ofender - ele disse. - Meu nome é Percy.

Eu parei por um momento e ele fez o mesmo.

– Você é da minha sala - finalmente me lembrei.

Ele assentiu e colocou a mão nos bolsos, que obviamente estavam encharcados.

– Não tem medo de ficar gripada?

Fiz que não com a cabeça e rebati: - Não tem medo de ficar gripado?

Ele deu de ombros e sentou em um banco, indicando para que eu me sentasse ao lado dele, me sentei e ficamos em silencio por mais alguns minutos.

– Você não tem medo das pessoas te excluírem - perguntei em certo ponto. - Quer dizer... Te excluírem por estar falando comigo...?

– Por que fariam isso? - ele pareceu não entender.

Eu fiz um sinal de deixa para lá, mas logo me peguei contando que todos me consideravam louca. Inclusive a minha mãe.

Ele pareceu espantado com a quantidade de informações e olhou para o horizonte.

– Você está sendo idiota - ele disse. - Devia tentar mudar isso, começar a fazer amigos... Não é tão difícil quanto parece.

– Eu passei a minha vida inteira tentando - eu disse. - Acho que é mais difícil do que parece.

Notei que a chuva começou a diminuir, e quando é finalmente se resumiu a um misero chuvisco, ele falou novamente.

– Pelo menos você já tem um amigoele disse se levantando e me oferecendo a mão e sorrindo. - É um começo.

Sorri também.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero, ao menos, 5 reviews antes de postar o próximo, caso contrário não posto.
O que acharam? Sejam sinceros!!