The Bright Side escrita por Anna C


Capítulo 21
Às Avessas


Notas iniciais do capítulo

Este ficou longo, só reparei quando terminei... Bom, boa sorte! Obrigada por não desistirem da história, mesmo que os capítulos custem a sair de vez em quando. Eu acho que esses capítulos estão ficando maldosos, o que posso dizer? Esses feriados estão bem agitados!
Bom chá com biscoitos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/358815/chapter/21

Por alguns segundos, Lauren ficou paralisada apenas observando a cena diante de seus olhos. Não estava acontecendo. O que Albus Potter fazia ali dentre todos os lugares que poderia estar? E o que era aquilo que ele segurava? Meu Deus, ela não acreditava que seu pai havia servido firewhisky ao garoto.

— O que é isso? — ela perguntou para ninguém em particular, só desejando resposta.

— Eu não disse que ela já estava chegando? — disse Seamus, afundando em sua poltrona. — Diga, meu bem, aonde você foi mesmo?

Ela não falou nada a princípio, apenas os encarou mais um pouco. Finalmente, entrou no apartamento, depositando sua bolsa sobre o balcão que separava a cozinha da sala.

— Fui ver a vovó — disse ela em tom baixo. — Você está ciente de que são cinco da tarde, certo? — a pergunta saiu antes que pudesse pensar direito.

— E o que tem isso? — indagou Seamus, pelo jeito, ignorando algum fato importante.

Lauren mordeu a parte interior da boca, tentando se manter calma. Mas não conseguia, aquilo não podia estar acontecendo.

— Você é inacreditável... O céu mal escureceu e você já está assim... E como ousou dar essa porcaria para ele também?

Tanto Seamus quanto Albus pareciam confusos com o tom da garota. A verdade é que nunca tinha falado de tal modo com o pai, mas a cena a deixou muito perturbada. Estava errado, tudo errado. Ele não deveria estar ali, ninguém jamais deveria entrar naquela casa e ver aquilo.

— Você trouxe o hidromel? Sua avó sempre manda um hidromel — Seamus perguntou, numa tentativa de retomar o astral, tentativa esta que saiu pela culatra.

Lauren lançou um rápido olhar para sua bolsa, estava ali dentro a tal garrafa. Então, olhou para Albus que assistia àquilo tudo. Como ela poderia entregar a bebida ao pai na frente dele? Ela não era só uma cúmplice, ela era a culpada. Mas não era para ninguém ver, não era. Será que devia enxotar o garoto dali? Não, era tarde demais, não havia mais o que esconder e, certamente, seria ilegal lançar um feitiço da memória nele. Até mesmo naquele estado, Seamus se posicionaria contra aquela medida.

Ela já não conseguia mais olhar. Baixou os olhos para o carpete puído.

— Pai, por que você não toma um banho quente? Pode ser que te faça bem — ela sugeriu em voz fraca.

Por Merlin, como odiava aquele momento.

— E correr o risco de ficar sóbrio? — o homem riu. — Bem, quem sabe mais tarde.

“Droga, pai. Por que você fala essas coisas?” ela queria enterrar o rosto em suas mãos, só não o fazia por estar se contendo.

Ao perceber uma movimentação, Lauren ergueu o rosto. Era Albus se pondo de pé e deixando seu copo na mesinha de centro.

— Eu preciso ir.

— Mas já, Albus? Chegou não tem nem quinze minutos — falou Seamus.

— Lembrei que tinha combinado uma coisa com a minha irmã. Foi um prazer conhecê-lo, Sr. Finnigan. — Estendeu a mão para o bruxo mais velho, que a apertou.

— O prazer foi meu. E você, Lauren? Não vai acompanhar o seu amigo até lá embaixo?

— Ele não é... — estava pronta para dizer, mas se refreou quando seu olhar cruzou com o do Potter do meio mais uma vez. — Tudo bem.

Lauren tomou a dianteira e abriu a porta, esperando que Albus passasse por ela antes de fecha-los para o lado de fora. Enquanto percorriam as escadas até o andar térreo, Lauren sentia o olhar de Albus em sua nuca, como se aguardasse por alguma explicação. A loira só abriu a boca quando chegaram à saída. Ela precisou tomar um fôlego antes de dizer:

— Eu... Eu sinto muito que tenha presenciado isso.

Não sabia o que Albus esperava que dissesse, mas, dada sua expressão, não era aquilo e isso só contribuía para que ficasse ainda mais constrangida. Será que ele teria se surpreendido menos se ela tivesse lhe expulsado aos berros? Talvez. Mas ela não queria uma cena, isso poderia instiga-lo a fazer mais perguntas do que provavelmente já tinha em mente.

— Não conte a ninguém que o viu assim, mesmo aos seus pais. Por favor.

Ele a fitou por certo tempo, depois balançou a cabeça.

— Não vou falar nada.

— Ótimo — tentou dar-se por satisfeita, ainda que fosse difícil naquelas circunstâncias.

— Ah, tem uma coisa... — Albus pôs-se a procurar algo no bolso da calça. Quando Lauren viu o que era, seus olhos iluminaram. — Você esqueceu no trem. Só vim para devolver, achei que talvez fosse importante ou algo assim.

Lauren pegou sua tira de fotos, segurando com firmeza.

— Estava procurando por isso — ela sussurrou mais para si mesma do que para ele. Ao menos, uma boa notícia naquele dia.

Pensando por um momento, ele poderia muito bem ter esperado a volta às aulas para lhe entregar aquilo. Se tivesse feito isso, teria poupado, bom, tudo.

“E de que importa pensar nisso agora? Já está feito. Vamos acabar logo com esse pesadelo.”

— Você não devia deixar sua irmã esperando — Lauren disse, quando ele não se moveu dali.

Albus franziu o cenho, porém, logo se lembrou do que dissera pouco antes.

— Ah, claro, o compromisso com a minha irmã... — ambos sabiam que era apenas uma desculpa para o garoto ir embora mais cedo, mas talvez fosse melhor assim. Nenhum deles queria permanecer por mais um segundo. — Então, até depois.

Lauren não respondeu e Albus pelo jeito não esperava que ela o fizesse, por isso, virou as costas e seguiu seu rumo, rua abaixo. A garota olhou uma última vez para ele antes de voltar para dentro.

Tinha a sensação de que sua paz havia acabado naquele fim de tarde e, talvez, as consequências fossem permanentes.

x-x-x-x

Sempre que Luke Longbottom dizia que vivia sobre o Caldeirão Furado, a maioria ficava impressionada e comentava o quão legal devia ser. Bom, talvez fosse mais interessante na teoria do que na prática.

— Luke, vai ver o que o homem na mesa seis quer! E leve esses mariscos estaladores para a quinze — gritou sua mãe, entrando na cozinha.

A verdade é que boa parte do tempo livre do garoto era usado para auxiliar na administração do lugar, sendo que normalmente os serviços mais enfadonhos acabavam por lhe ser atribuídos.

No entanto, jamais reclamava e isso simplesmente por nunca ter sentido tal vontade. Era um trabalho duro, mas que no fim do dia era recompensador. Além disso, as gorjetas dos clientes e hóspedes eram imprevisíveis e, muitas vezes, de maneira positiva. Outras, nem tanto.

Quando o relógio bateu seis horas, ele pôde enfim parar um segundo para descansar. Pegou na cozinha alguns salgadinhos de mandrágora e espremeu-se num canto atrás do balcão para belisca-los. Foi então que seu olhar recaiu sobre um rosto familiar em meio à clientela. Intrigado, deixou o seu prato de lado e limpou os dedos engordurados no avental, tirando-o em seguida.

O que ele estava fazendo ali? Quer dizer, essa não era a pergunta correta. O que ele fazia ali sozinho? Devia ser a primeira vez que via aquela cena. Louis Weasley sempre tinha companhia, era como se fosse uma espécie de ímã humano. Além disso, a expressão do garoto um ano mais novo também não era das melhores.

Luke sequer sabia que tinha vontade de se aproximar, apenas quando parou bem em frente ao loiro e precisou pensar em algo rápido para falar é que teve tal consciência.

— Vai pedir algo?

Louis, antes distraído em pensamentos, ergueu a cabeça em surpresa.

— Ah, oi! Você trabalha aqui?

— Bom, mais ou menos. Na realidade, eu moro aqui — falou Luke, dando de ombros.

Louis assentiu, parecendo compreender.

— Saquei. Daí você acaba por ser um funcionário que não dá tantas despesas, tipo ordenado e toda essa coisa.

— É, algo por aí...

Então, a Sra. Hannah Longbottom apareceu como se tivesse aparatado ao lado do filho, que poderia jurar que ela estava atarefada na cozinha meio minuto antes.

— Luke, aí está você! Eu preciso da sua ajuda com... Ah, e quem é este amável garoto? Luke, onde estão as boas maneiras que ensinei a você? Não vai apresentar?

Luke ficou ruborizado, não sabendo nem como começar as apresentações.

— Hã, er, bem... Esse é... Digo, ela é a minha...

Louis pôs-se de pé como um perfeito lorde e fez uma ligeira mesura para a senhora.

— Muito boa noite, sou Louis William Weasley e é um prazer conhecê-la. Presumo que seja a irmã mais velha do estimado Luke, estou certo?

Hannah Longbottom não se continha de lisonja, suas bochechas naturalmente rosadas avivando em cor. Ela deu uma risadinha de embaraço.

— Mas que amigo esse que você foi arranjar, Luke! Não, não, sou Hannah Longbottom, a mãe dele. Mas é igualmente um prazer conhecê-lo. Luke, por que não fica um pouco aqui fazendo companhia para ele? Vou trazer cervejas amanteigadas por conta da casa! — E Hannah sumiu com a mesma rapidez com que tinha surgido.

Não sabendo onde esconder a vergonha que sentia, Luke sentou-se numa das cadeiras vagas.

— Desculpe por isso, às vezes, ela não sabe o que está fazendo. Apesar de que você sabia que era minha mãe o tempo todo, não?

— Bom, sim. Mas as pessoas ficam felizes quando escutam esse tipo de coisa. Quer dizer, ela provavelmente só recebe pedidos o dia todo, é legal escutar um elogio para variar.

Luke ergueu as sobrancelhas, um tanto surpreso com a sensibilidade que não sabia que existia em Louis.

— Acho que tem razão... — foi tudo que conseguiu dizer. Após um breve silêncio, começou a falar de novo: — A sua amiga não está com você?

Louis pareceu surpreso com a pergunta, mas logo desviou os olhos, encarando um ponto qualquer da mesa.

— Não, ela... Na verdade, é minha culpa.

Antes que Luke o questionasse, sua mãe apareceu com as cervejas amanteigadas e deu uma piscadela ao filho antes de sair. “Isso é sério, mãe?” Luke gostaria que houvesse um buraco no chão pelo qual pudesse desaparecer.

— Mas... o que aconteceu? — o sextanista perguntou depois de bebericar de sua caneca.

— Espero que você esteja com tempo sobrando, isso pode demorar.

Então, o loiro começou a contar a longa história, que na realidade, começava muito antes da briga no início do mês. Assim, Luke entendeu a dinâmica básica da amizade de Louis e Coline, sobre seu sangue parte veela, o motivo da transferência de Beauxbatons e todo o resto.

— ... Ela ficou muito magoada e, desde então, nós não conversamos. Quando eu falei com o meu primo Hugo sobre isso, ele me disse que achava que a Coline gostava de mim como mais que um amigo. Mas eu nunca percebi nada disso, digo, já teve momentos em que fiquei em dúvida, mas para mim, era outra coisa... E quanto a mim, eu juro para você, eu amo a Coline, porém, não dá. É como eu te disse aquela vez na biblioteca, ela é como uma irmã, e eu achei que se sentisse da mesma forma comigo.

Analisando cada ponto citado pelo garoto, Luke tentava formular uma solução. Deu um longo suspiro ao chegar a uma conclusão.

— Olha, Louis. Eu acho que compreendo o seu lado, mas você precisa se por no lugar da sua amiga também. Se me perguntar o que eu faria se fosse você, a minha resposta é bem simples: falaria com ela. E, claro, pediria desculpas. Ela definitivamente merece, e quanto mais o tempo passa, mais difícil isso fica. Pode chegar a um ponto em que nada que você disser vai importar, porque deixou a oportunidade passar.

Louis arregalou os olhos, assustado com a possibilidade.

— Não, isso nunca! E-Eu quero que a gente volte a se falar e eu não me importo se ela vai me proteger ou não, nunca realmente liguei para toda essa coisa de cavaleira montada no cavalo branco, a companhia dela sempre foi a coisa mais importante!

— Bom, se é assim, acho que você já sabe qual deve ser o seu próximo passo.

A cabeça de Louis estava baixa.

— Sim...

No entanto, havia ainda uma coisa perturbando os pensamentos de Luke. Cauteloso, ele iniciou:

— Escuta, pelo que você me contou e pelo o que eu já observei na escola, você não parece ser o tipo de pessoa que gosta de andar sozinho, mesmo quando a Chevalier não está por perto. Por que veio até aqui assim? Quer dizer, se eu não estiver me intrometendo demais, é claro que não precisa responder se não quiser.

Louis deu um riso e sacudiu os ombros.

— Depois de falar sobre minha vida inteira para você, acha que é isso que me fará ficar quieto?

Fazia sentido.

— É como eu falei, eu tenho esses poderes veela mais fortes que o normal desde sempre, mas, agora, eles têm falhado e cada vez com mais frequência. Antes, eu falava qualquer coisa e todo mundo ria e queria andar comigo. Mas algo está diferente. Eu continuo falando e fazendo as mesmas coisas, mas as pessoas que mudaram em relação a mim. E deve ser por causa dessa droga de poder que tem enfraquecido... O problema é que o “Louis veela” é tudo o que eu sei ser, entende? Eu peço, eles me dão; eu reclamo, eles consertam; eu falo, eles concordam. Não sei fazer diferente! — a voz de Louis atingiu um falsete que destoou um pouco do seu tom no restante da fala. Ele pigarreou, recompondo-se. — Só que tem uns dois dias que... Que a minha influência parou completamente.

— Completamente?

— Exato. E eu precisava testar para saber se não estava ficando louco, por isso, fiz algo que nunca faço: saí em público sozinho. — Louis aparentava estar fatalmente sério, ainda que Luke não conseguisse entender a relevância daquela, pelo jeito, muito arriscada decisão. — E por isso, estou aqui.

— Hã, certo... E aconteceu alguma coisa?

— Não! — exclamou Louis indignado.

— Isso é bom, não é?

— Você pirou?! Claro que é péssimo!

Se alguém ali não estava sobre o controle total de suas faculdades mentais, Luke tinha certeza de que esse seria Louis. Entretanto, o assunto parecia realmente afligi-lo, e o mais velho levaria aquilo em consideração.

— Por que é péssimo?

— Porque... Porque, sim! As pessoas não ligam para a minha presença, ninguém veio falar comigo como de costume, a não ser você! — Louis falou, bufando. Então, ergueu devagar os olhos, talvez percebendo o jeito um pouco rude com que dissera aquilo. Ser uma pessoa “normal” o fazia reparar mais naquelas coisas, quando podia ofender alguém ou não, concluiu Luke, que não se sentiu insultado pelo desabafo.

Na verdade, até sorriu.

— Para ser sincero, eu não sabia desses seus poderes até você me falar agora há pouco. Se está me dizendo que eles não estão funcionando neste momento, isso quer dizer que você pode chamar a atenção sem eles para ajudar. Minha mãe gostou de você e eu vim até sua mesa, lembra? Sem influência de poder veela nenhum.

— Isso é outra coisa que eu não entendo! Se não foram meus poderes que te atraíram até aqui, por que veio falar comigo?

— Já te passou pela cabeça que as pessoas possuem livre arbítrio?

Louis fez uma careta de confusão, provavelmente não conhecendo o termo. Luke riu, porém, sem maldade.

— Isso significa que eu vim aqui porque estava com vontade de falar com você.

E aquilo Louis entendeu, pela primeira vez ficando em silêncio. Luke tomou aquilo como sua deixa para sair dali.

— Er, bem, eu acho que vou voltar ao trabalho. Você ficaria surpreso com o quanto esse lugar enche na véspera de natal, amanhã será um dia duro e cheio de hóspedes. Com licença. — O moreno se levantou e, pegando sua caneca meio vazia, atravessou a porta que dava para a cozinha.

x-x-x-x

Quando Albus voltou para casa, seu pai não estava lá. Devia estar cuidando de algum assunto de auror, o que era uma pena, pois tinha a intenção de lhe fazer algumas perguntas. James também havia saído, provavelmente com alguns amigos, e Lily estava escutando música em alto volume no quarto. Viu um par de sapatos femininos que não pertencia a ninguém ali e presumiu que Judy Nyce estivesse com a irmã no quarto. Disponível só parecia haver sua mãe, que lia uma revista de Quadribol na sala de estar.

Após refletir um pouco, Albus concluiu que ela também poderia ter algumas respostas, afinal. E o que custava tentar?

Aproximou-se como quem não queria nada e sentou ao lado da Sra. Potter. Ginny Potter conhecia seus filhos bem o suficiente para reconhecer quando apareciam com segundas intenções.

— Se isso é sobre a Firebolt V, Albus, eu e seu pai fomos bem enfáticos quando falamos que só depois da formatura...

— Hein? Não, não é nada disso! — disse Albus depressa, apesar de ficar um tantinho decepcionado que a resposta sobre a vassoura nova continuasse a mesma. — Na realidade, eu queria te fazer uma pergunta ou outra, se não estiver muito ocupada.

Ginny depositou a revista sobre a mesinha de centro e mostrou as mãos vazias.

— Diga, querido.

— Ok, mas antes de qualquer coisa, tem alguma chance de eu fazer essas perguntas sem você me questionar o motivo delas?

Ginny o olhou com desconfiança.

— Albus Severus Potter, isso parece o tipo de coisa que seu irmão me pediria antes de fazer alguma coisa errada, então, vou ser honesta, não é um ponto a seu favor...

— Eu prometo, mãe, são perguntas inofensivas.

— Bom, isso veremos... E o que você quer tanto saber, filho? Se eu puder ajudar, farei isso.

E por onde ele começaria? “Pelo início é uma boa...”

— Mãe, você conhece algum Dean?

Ginny sorriu.

— Mas é claro. Deve estar falando de Dean Thomas, que lutou na Batalha de Hogwarts conosco, mas antes disso foi colega de dormitório do seu pai e tivemos um breve namoro no meu quinto ano.

Daquilo ele não tinha a menor vontade de saber. Mas devia ser esse Dean mesmo, encaixava com o sobrenome que lera na etiqueta do painel do prédio.

“Dean Thomas... Certo...”

— Ok, hã... E o que ele faz hoje em dia?

— Pra falar a verdade, faz muito tempo que não falamos com ele. Acho que, na última vez, você devia ter uns seis ou sete anos no máximo. Ele veio aqui em casa para uma dessas reuniões com os antigos membros da Armada de Dumbledore. Naquele dia, também vieram o Neville, a Luna, o Seamus... Enfim, eu acho que ele nunca se casou, na época tinha terminado com uma namorada. Ele estava trabalhando na A.B.A., se não me engano.

— A.B.A.?

— É, Academia Bruxa de Artes. Tem várias ramificações, como Arte Dramática e outras. Ele sempre teve bastante jeito nessa área, não me surpreende que tenha conseguido um emprego lá.

Albus meneou a cabeça em compreensão.

— Ele por acaso era amigo desse Seamus que você mencionou antes? — arriscou Albus, consciente de que estava sendo pouco competente em evitar a curiosidade da mãe sobre aquele questionário.

Entretanto, ela respondeu sem comentar nada:

— Ah sim, melhores amigos, muito como o seu pai e seu tio Ron. Mas o Seamus é outro que anda sumido. Ele tinha casado e tido uma menina da sua idade... Deve estudar em Hogwarts, você a conhece? — o tom de Ginny era de leve suspeita. ­­— Bem, mas sobre o Seamus, ninguém sabe por onde anda agora. Talvez tenha ido morar com a família da Irlanda... Realmente, não saberia dizer, ele parece ter evaporado.

— Evaporado, você disse? Vai saber... — Albus se colocou de pé. — Bom, acho que é só isso... mas ajudou, obrigado, mãe. — Foi andando em direção às escadas, mas logo foi parado.

— Ei, Albus — sua mãe o chamou. — Não precisa falar o motivo dessas perguntas, mas ouça com atenção. Tenha cuidado no que se mete, querido. Há assuntos que simplesmente não nos dizem respeito, está bem? — ela falou em tal tom que era como se soubesse a razão de Albus para aquele pequeno inquérito.

Era assustador.

— Eu... Eu sei disso — ele assegurou e foi para o próprio quarto.

Assim que ali entrou, fechou a porta e acomodou-se na cadeira da escrivaninha. De alguma maneira, o que a mãe dissera por último tinha mexido com ele e o feito questionar se sabia o que estava fazendo. A verdade era que não fazia a mínima ideia. Ele não tinha nada a ver com a vida de Lauren e, agora, sentia-se um tanto intruso ao saber de coisas que talvez não devesse.

Quando Lauren apareceu no apartamento uma hora antes, ele estava esperando que sua reação fosse furiosa ou, no mínimo, zangada. No entanto, não foi nada daquilo. Ela pareceu extremamente desconcertada, sem ação. Sequer o bombardeou com perguntas sobre a presença dele ali, que seriam mais que justificadas. E até disse que ‘sentia muito’ pelo que Albus tinha visto ali. Ele estava certo, vira algo que não era para ninguém ver. Não só isso, mas pelo visto, quase ninguém devia saber do estado do Sr. Finnigan se usasse o depoimento da mãe como exemplo.

Aparentemente, dadas as novas informações e as peças que já tinha, os Finnigan estavam morando com Dean Thomas, o velho amigo de escola de Seamus. Há quanto tempo isso acontecia já era algo além do conhecimento de Albus. Dean e Lauren pareciam ter um relacionamento próximo, considerando a tira de fotos e o alívio com que a garota a recebera de volta. E a mãe de Lauren? Será que morava com eles? Ginny não a mencionara nem uma vez... Aliás, por que os Finnigan estavam residindo lá? A verdade era que suas informações eram escassas demais para chegar a uma conclusão consistente.

“Talvez seja aqui que eu deva parar. Eu já invadi demais a privacidade alheia.” Repreendeu-se. Então, por que sua curiosidade não acabava, ao contrário, parecia mais atiçada que nunca? Aquilo estava começando a deixar de ser sobre como Lauren tratava Rose e transformar-se em perfeita bisbilhotice.

— Não... Está decidido, eu vou parar com isso — declarou a si mesmo, batendo com o punho sobre a escrivaninha. Ao fazer isso, uma pilha de papéis que ali jazia despescou e, no meio dela, Albus identificou ingressos de Quadribol. — O jogo! — só então recordou.

Como pudera esquecer? Estivera ansioso para o jogo desde a partida contra a Sonserina, dia em que ganhara tais ingressos do irmão. Sequer tinha avisado alguém sobre o jogo, tinha ainda sete pessoas que poderia chamar.

Considerando que o jogo seria em cerca de uma semana, aquele era um bom momento para começar a mandar uma coruja aos amigos.

x-x-x-x

Pouco espanto causaria caso Scorpius falasse do seu desgosto pelos feriados. Porém, ele tinha mais motivos do que a pura implicância. Para evita-los, ele se escondia na fortaleza que era seu quarto, simplesmente esperando pelo fim daquela tortura.

Quando alguém bateu em sua porta, já estava pronto para mandar embora. Mas teve uma surpresa.

— Olá, Scorpius — a mãe falava como se estivesse se divertindo com a situação. Provavelmente, a expressão atual de Scorpius contribuía. — Esta linda garota chegou aqui pedindo para vê-lo, ainda por cima trazendo biscoitos caseiros, que por sinal estão cheirando muito bem. Eu disse a ela que deve ter errado de endereço, pois o meu Scorpius não-...

— O que você está fazendo aqui?! — Scorpius não fez a menor questão de disfarçar a confusão que sentia.

Rose olhou por cima do ombro, um pouco constrangida. Mas o rapaz não demorou a notar que havia outra coisa ali no olhar da ruiva, coisa que o deixou preocupado.

— Scorpius Hyperion! É assim que trata as visitas? — ralhou a mãe. — A Srta. Weasley foi muito atenciosa ao trazer os biscoitos e...

Scorpius, rápido como um pomo-de-ouro, puxou a amiga para dentro do quarto e fechou a porta. Podia ouvir os protestos vindos do outro lado.

— Você não devia deixar sua mãe falando sozinha assim! — repreendeu Rose, fazendo menção de abrir a porta. Ele não permitiu, apoiando-se contra a madeira.

— Esqueça minha mãe por um minuto. O que houve de errado? E você por acaso não esbarrou com ninguém no caminho até meu quarto, certo? — a última pergunta soara mais suspeita, principalmente pelo tom baixo com que fora feita.

Rose franziu o cenho, sem entender.

— Não, eu só falei com a sua mãe, ela que me recebeu. Está preocupado com seu pai, é isso?

— É, mas pouco importa ele agora, não tente desviar do assunto. Aconteceu alguma coisa.

Seu olhar mais uma vez a entregou. Ela estava um pouco inquieta, andando pelo quarto em círculos. Aquietou-se apenas quando Scorpius ofereceu uma cadeira antiga e ornamentada para se sentar. Ele parou à frente dela, de braços cruzados e com ar de impaciência.

— Então?

— Bom, sabe os biscoitos que eu trouxe? Eu trouxe em dobro.

Scorpius semicerrou os olhos.

— E o que isso quer dizer?

— Eu tinha planos de deixar alguns com o Sr. Miller, depois passaria aqui para te contar sobre a visita. Eu sei que você não estava exatamente animado para fazer algo nesse feriado, mas achei que vir até aqui não fazia parte da lista de coisas proibidas.

“Lista de coisas proibidas”? Ela certamente tinha uma imaginação fértil, não?

— Se estou entendendo bem, essa sua visita à Floreios e Borrões não saiu bem como o esperado — arriscou Scorpius.

— Essa visita simplesmente não saiu, a Floreios e Borrões está fechada.

Aquela notícia com certeza fez Scorpius se preocupar, mesmo que não quisesse transparecer muito. Ele se sentou na cama já que estava próxima e se inclinou para frente, podendo assim escutar melhor.

— Fechada? Mas nem mesmo o Austin Hover estava lá?

— Não. Eu achei tão esquisito, por isso, comecei a perguntar para algumas pessoas se elas sabiam de algo, ele nunca tinha fechado nos feriados antes... Disseram que estava aberta até uns dois ou três dias atrás. Sei que não se passou tempo o suficiente para causar preocupação, mas isso é tão atípico...

— O Sr. Miller pode ter tirado umas férias, não? Ele é velho, mas também deve querer um descanso vez ou outra, talvez ido visitar uns parentes — supôs Scorpius. — Quando foi a última vez que ele te deu notícias?

Rose refletiu por alguns instantes.

— Acho que já tem quase dois meses desde a última carta. E eu não sei onde o Austin mora, senão poderia mandar uma para ele. Francamente, uma pessoa não pode desaparecer assim sem mais nem menos!

— Ele foi visto recentemente, não sumiu de verdade. Você chegou a entrar lá? Quer dizer, creio que ainda tenha aquela chave.

Ela alcançou o bolso do casaco e dele tirou a chave do estabelecimento.

— Eu entrei, sim. E é por isso que sei que não se tratam de férias coisa nenhuma.

Scorpius inspirou fundo, acreditando compreender.

— Não tinha ninguém, é claro. Foi o que pensei.

Rose negou com a cabeça, comprimindo os lábios.

— Você não entendeu. Não tinha ninguém, nem mais nada. Os livros, todos eles tinham sumido. Só havia pó nas estantes.

— Como é...?

Antes que Scorpius tivesse tempo para sua própria reação, Rose escondeu o rosto nas mãos e começou a chorar. Ele ficou em pânico. Não fazia ideia do que fazer, nunca tinha visto ninguém chorando daquela forma. E tudo que desejava era que ela parasse, pois a visão o fazia se sentir por alguma razão terrível.

Incerto do que fazia, Scorpius chegou mais perto e se ajoelhou ao lado dela.

— Eu, er... Quem sabe, ele tenha resolvido mudar de ramo, crise de terceira idade ou algo assim? — aquilo não fazia nenhum sentido, mas ela estava chorando, que droga.

Rose deu um soluço bem audível.

— Ma-mas... Mas por que ele não avisou? E cadê o Austin?

Rose só possuía dúvidas para as quais ele não conseguia arranjar respostas, especialmente com ela naquele estado. O que alguém poderia fazer nessas horas? Nunca tinha passado por uma situação parecida, a não ser quem sabe na infância quando se chateava e sua mãe vinha consolá-lo.

“Consolo, é isso.” E como se consolava uma pessoa? Como a mãe costumava fazer? “Espere... isso não!” sentiu que seu rosto ficou quente ao se lembrar. Ele não poderia fazer aquilo com Rose, não é? Era o tipo de consolo que se dava a crianças, para uma garota de dezoito anos poderia ter um significado totalmente diferente.

Contudo, a ruiva continuava com seu pranto e Scorpius sentia que deveria agir logo, antes que ela se desse conta de sua incompetência como amigo.

“As coisas têm os significados que atribuímos a elas, e eu sei o que estou fazendo”, ele pensou.

Foi de forma desajeitada que Scorpius afastou a franja do rosto de Rose e se adiantou para frente, depositando na testa da garota um beijo. Sempre funcionava quando ele era pequeno, ainda que não soubesse explicar a razão. Ele se afastou rapidamente, mas quando deu por si, Rose já o fitava e, apesar dos olhos úmidos, tinha parado de chorar.

Pelo jeito, aquilo a acalmava também.

— Eu sei... Vai ficar tudo bem — ela disse tão baixinho que foi quase um sussurro. — Acho que vou avisar meus pais sobre isso, talvez haja algo que eles possam fazer a respeito.

Antes que Scorpius se arrependesse de sua recente atitude, uma coruja parda apareceu bicando a janela mais próxima deles.

— É a coruja do Albus! — exclamou Rose ao reconhecer o pássaro, limpando o rosto com a manga do casaco.

— Do Potter? E por que ele me mandaria algo? — questionou Scorpius, indo até a janela e pegando a correspondência.

— Ele é seu amigo. Não precisa de um grande motivo para te mandar uma carta.

— O Potter não é meu amigo. Ele é um cara com quem eu converso às vezes sobre assuntos sem importância e que gosta de me incomodar.

— Olha, eu espero que isso não te choque muito, mas os amigos fazem esse tipo de coisa — disse Rose, sorrindo bem levemente, sua mente ainda devia estar a mil.

— O que falei sobre você usar sarcasmo, Weasley? Não funciona para você, aceite isso.

Rose riu um pouco e se levantou, aproximando-se e tentando olhar por cima do ombro de Scorpius.

— E o que diz aí?

Scorpius não foi capaz de responder a pergunta, porque alguém adentrou o quarto antes que o fizesse. Ver Rose menos triste o deixara mais tranquilo, o suficiente para se arrepender de como agira minutos antes, quando ela chegou. Por isso, foi logo dizendo:

— Mãe, me desculpa por antes, eu... — mas ao erguer os olhos não foi a mãe que ele viu.

Rose, ainda mais pasma que o amigo, quase engasgou com o nome.

— He-Hewitt?!

Eric, que a princípio também pareceu surpreso, logo apropriou-se de um sorriso.

— Você por aqui, Weasley? Imagino que não tenha vindo por minha causa, ou sim? Eu ficaria bastante contente...

— Mas como...? — Rose nem sabia por que pergunta começar, olhando de Eric para Scorpius e vice-versa.

Eric uniu as sobrancelhas em aparente confusão.

— O quê? Não me diga que o Scorpius não...? Vocês já são amigos há tantos meses e ele nunca mencionou que eu era primo dele?

Rose deteve seu olhar em Scorpius, completamente atordoada, até mais do que estaria se um balaço a acertasse na cabeça.

— Scorpius, isso é verdade? O que está havendo?

Scorpius engoliu em seco. Ele devia muitas explicações.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Devemos ter mais uns dois capítulos dentro desse feriado, depois voltamos para Hogwarts... Gente, ando adorando ler os seus comentários cheios das teorias! É até meio complicado de discutir, porque spoilers viram um problemas sério nessas horas... O mais curioso é que tem muita coisa que vocês disseram que pode estar certa. E algo já deixarei claro: mesmo que alguém acerte, não vou mudar nada. A história vai continuar como planejado.
A inspiração tem sido legal comigo, mas ainda não terminei o 22. Vou ver se trabalho mais um pouco nele no fim de semana...
Obrigada por ainda estarem comigo