The Bright Side escrita por Anna C


Capítulo 18
Farosutil


Notas iniciais do capítulo

Já perdi a conta de quantas vezes tentei escrever um pedido de desculpa decente, mas sei que essa demora não foi nada legal e não dá pra justificar. Independentemente do que está rolando na minha vida, acho que foi muita mancada minha, por isso, nada de justificativas aqui, apenas posso torcer pra que perdoem. De verdade, me desculpem.
E fico impressionada que, apesar de tudo, tenho leitores tão carinhosos! Dedico o capítulo para Carol Evans Potter, Mary Rios e PudimdaLuna69 pelas recomendações lindas, que me deixaram muito contente. Obrigada!
Bom chá com biscoitos a todos!



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Havia outras pessoas na sala comunal da Lufa-Lufa, mas Coline estava longe delas. Como sempre. Tinha quase cinco anos que sua vida girava basicamente em torno de Louis e, agora que estavam brigados, ela se via sem ninguém.

“Por que eu faço isso?” ela se perguntou, deitada no sofá. Coline sabia o que pensavam dela, que parecia mais uma guarda-costas que uma amiga. Tinha culpa se todos se comportavam feito predadores perto de Louis? Era natural desenvolver um instinto protetor em relação a ele. Tudo bem que depois de um tempo, talvez não fosse bem isso... “Acho que... Que o queria só para mim”, admitiu, seu rosto ficando quente. Então, estava apaixonada por ele?

Ainda tinha suas dúvidas. Certos dias, estava certa de seus sentimentos e ficava tentada a confessar. Não achava que Louis já tivesse considerado aquela possibilidade, mas uma confissão poderia de certa forma levá-lo a isso. Quem sabe, depois de refletir, ele chegasse à conclusão de que eram feitos um para o outro? Entretanto, de vez em quando, sua devoção a assustava um pouco. Nesses momentos, era forçada a pensar melhor sobre as origens de seus sentimentos... Estava mesmo apaixonada ou obcecada?

Deu uma leve risada debochada.

— Não, eu não sou uma louca dessas...

— Então, por que está falando sozinha?

Coline quase caiu do sofá, mas se segurou no encosto. Olhou para cima e encontrou Noah Knight, o monitor-chefe que vivia lhe dando bronca. Bufou, sem muita paciência.

— O que você quer?

Ele apontou para os pés dela sobre o estofado.

— Se quer colocar os pés no sofá, deveria ao menos tirar os sapatos primeiro. Outras pessoas sentam aí, sabe.

— E por quê? Por acaso está escrito no regulamento da escola? Vai me dar mais uma detenção? — Coline perguntou com escárnio.

— Não, mas é o que chamam de boas maneiras — a resposta de Noah também não era isenta de sarcasmo.

Ela rolou os olhos, puxando as pernas para si. De má vontade, arrancou os calçados e os atirou para o outro lado da sala. Recebeu alguns olhares de reprovação, mas não ligou. Noah ergueu as sobrancelhas, ocupando o espaço agora livre para sentar.

— O comportamento de uma dama.

— Nunca quis ser uma de qualquer forma.

Ele deu um sorriso de lado.

— Afinal, por que está chateada, Chevalier?

— Quem disse que estou?

— Bom, não é muito difícil de adivinhar. Você estava com uma cara miserável há alguns minutos, falando sozinha, e deve ser a primeira vez no ano todo que fica aqui na sala comunal... E então, qual é o problema?

Coline virou o rosto, tentando não parecer impressionada pela breve análise de Noah. Claro que não ficaria confidenciando seus aborrecimentos a um garoto com quem mal falava.

— Tem a ver com o Weasley, não é?

Ela o olhou de esguelha, sem querer confirmando a suposição.

— Entendi... Espera só um segundo, eu... Ei, Holly! — Noah chamou alguém que também estava na sala, logo atrás.

Coline ficou curiosa e resolveu espiar. Uma garota de olhos castanhos e cabelos acobreados se aproximou. Na verdade, eles até que se pareciam...

— Minha irmã, Holly. E Holly, essa é Coline Chevalier.

“Ah, irmãos, está explicado.”

— Ai, Noah, você é super avoado! — A tal Holly deu uma ligeira risada. — Eu já a conheço, ela divide o dormitório comigo.

— Divido? — Coline perguntou e os irmãos a olharam com espanto. Sentiu-se corar. — É que eu não presto muita atenção.

“Nossa, que fora. Ok, talvez eu passe tempo demais longe da Lufa-Lufa...”

— Bom, cara irmã, a situação é a seguinte. A Chevalier aqui está um tanto desanimada e acho que ela precisa descontrair um pouco. Infelizmente, não sou um cara muito divertido, como sabe...

— Ele tem razão. — Holly fez uma careta exagerada. Depois sussurrou: — Esse daí é do tipo que gosta de fazer lição de História da Magia e ainda pede dever extra.

— Continuando... — Noah lançou um olhar de advertência para a irmã. — Me lembrei de você, querida irmãzinha, que é uma garota espirituosa, jovial...

— Viu? Ele adora usar essas palavras velhas para parecer esperto. — Holly revirou os olhos.

— Você tem sorte de eu ser monitor — o rapaz falou em ameaça, apesar de estar sorrindo.

— Você pode ser grande, Noah, mas não assusta ninguém.

Coline achou um pouco cômico. Era engraçado ver a discussão entre os dois, imaginou que fosse uma coisa comum entre irmãos de personalidades opostas. Não que ela entendesse como era aquilo, no entanto.

— De todo modo, procurou a pessoa certa. — Um sorriso amistoso despontou dos lábios de Holly, relanceando um olhar ao irmão. — Acontece que odeio ver gente deprimida, então, parece que terei que ficar aqui até você se sentir melhor.

A francesa não estava muito certa do que acontecia. Sentia que os Knight haviam feito uma espécie de pacto silencioso naquele último minuto, ainda que não soubesse bem como. Tudo que sabia era que eles estavam falando sério e seria difícil recusar sua ajuda sem ser incrivelmente rude.

Bom, que mal faria falar com outras pessoas que não fossem Louis para variar?

x-x-x-x

— Por que está preocupado, hein?

Albus olhou para a namorada, que estava agarrada nele num abraço. Droga, havia se dispersado de novo, chegando a se esquecer de que estava sentado perto do lago com Tracy. Que namorado terrível ele era... Mal conseguia ficar cinco minutos sem que seus pensamentos estivessem longe.

— Albus... Terra para Albus... — ela insistiu, apoiando a cabeça em seu ombro.

— Desculpe, Tracy. Você tem razão, estou meio preocupado.

— E o que é? Eu posso ajudar.

O grifinório sorriu fracamente.

— Acho difícil, mas obrigado. São a Rose e o Malfoy. Eles não estão se falando há alguns dias e não querem me contar o problema. Tudo que eu queria é que as coisas ficassem normais, entende?

— Não me disse que Malfoy era seu amigo...

— É que é meio recente. E não acho que ele me considere um “amigo” dele ainda, mas já é alguma coisa.

Tracy deu de ombros.

— Sei lá, tem algo de estranho nesse garoto... Deve ter sido algo que ele disse para ela. Ele não parece uma pessoa muito simpática.

— Mas Rose é amiga dele, diferente de mim. Com ela, ele não age assim.

— Bom, eu não sei, Albus. Mas eles que resolvam os seus pró...

A fala de Tracy terminou subitamente e Albus estranhou. Olhou para ela e notou que seus olhos estavam arregalados, fitando algo por cima do ombro dele.

— O quê?

Tracy ergueu uma mão trêmula, apontando.

— T-Tr-Três... Cabeças... C-Cobra...

Albus prendeu a respiração, pois ouviu um silvo muito próximo do ouvido, que confirmava aquilo. Tinha que pensar em algo rápido.

— Certo. Não entre em pânico, eu vou me virar devagar...

Porém, Tracy não obedeceu, dando um grito agudo de horror. O som assustou Albus, que se voltou para trás mais depressa do que pretendia, pondo-se de pé. Pôde então ver a tal cobra de três cabeças, não era muito longa, um animal que só havia visto nos livros sobre criaturas mágicas e que nunca pensou que encontraria. O grito fez se sentir ameaçado, ele podia concluir pela postura do réptil.

— Vai nos atacar! — Tracy se agarrava ao seu uniforme.

— Não vai, tente ficar calma — ele dizia mesmo não estando muito certo.

— Vai, sim! Faz alguma coisa! Lança um feitiço nessa droga!

Mas que feitiços ele conhecia que espantavam cobras? Teria de improvisar algo.

Foi lentamente levando a mão ao bolso para pegar sua varinha. As três cabeças sibilaram alto e ele parou com a mão em pleno ar.

— Tudo bem, tudo bem...

Baixou a mão mais um pouco, a poucos centímetros do bolso.

— Albus!

E, antes que pudesse se defender, a cobra avançou e uma das cabeças mordeu seu pulso. Sentiu uma dor excruciante, que o fez cair de joelhos grunhindo.

— Mordeu você! Mordeu! — Tracy se soltou dele, dando passos largos para trás. Os dentes desprenderam da pele e o animal saiu rastejando rapidamente para dentro de um arbusto. — Essa não, fugiu! Ainda está à solta!

O braço todo de Albus já estava dormente. Ele sentia o pescoço e o lado esquerdo do tronco ficando assim também.

— Tracy... Chame alguém...

Ela respondeu, mas ele não conseguiu entender, só ouviu um ruído ininteligível. Acabou cedendo ao peso de seu corpo, caindo sobre a grama salpicada de gelo. Então, o mundo ficou escuro.

x-x-x-x

Por que estava girando? Aquela tontura terrível... Só podia estar girando, não é? E, por Merlin, estava frio.

Ouviu passos. Seriam passos mesmo? Não tinha muita certeza.

— Potter!

Ele abriu os olhos, porém bem pouco, apenas o suficiente para ver que alguém se debruçava sobre ele. Estava tudo embaçado e, na realidade, seus olhos não pareciam muito confiáveis. Havia tantas cores, formas, como num sonho surreal... Não era Tracy, os cabelos da namorada eram longos e negros. Esta aqui era diferente. Parecia até mesmo haver um halo luminoso envolvendo sua cabeça.

Albus levantou a mão até tocar as madeixas loiras escuras. Ela segurou seu braço no ar.

— Uma picada!

— Mas não está mais... doendo...

E tudo foi mergulhado num breu outra vez.

x-x-x-x

Desde que havia corrido por uma longa distância — que por sinal incluíra lances de escada — no dia do jogo da Sonserina contra a Grifinória, Rose estava ciente de como estava fora de forma. E claro, Scorpius era um atleta, logo não enfrentava aquele tipo de problema. Porém, a ruiva já começava a ficar sem paciência, vendo que o garoto estava usando sua vantagem física para deixá-la para trás.

— Malfoy! Por favor, Malfoy, quer me escutar um segundo?

Já tinha quase cinco minutos que Rose o perseguia pelos corredores e tinha certeza de que ele havia percebido isso, porém estava a ignorando de propósito. Além disso, ir naquela velocidade era mesmo desnecessário. Scorpius não estava propriamente correndo, mas estava andando rápido suficiente para que Rose não conseguisse acompanhá-lo sem fazer considerável esforço “e parecer uma louca”, pensou. Mas até mesmo ela tinha um limite. Mandou as aparências e os bons modos para os ares e aligeirou-se.

Devia ter previsto que não seria uma ideia muito boa. Em resumo, talvez seu robe fosse um tanto longo demais, sendo mais eficaz que um sapato desamarrado para causar um tombo.

— Mas que...?!

Scorpius não pôde terminar sua frase. No instante seguinte, ele e Rose estavam caídos no chão. Dolorida, mas talvez nem tanto quanto estaria se tivesse se estatelado no piso de pedra — Scorpius havia amortecido a queda —, Rose conseguiu se mover o suficiente para se sentar.

— Que droga, Weasley! Precisava mesmo me atropelar? — reclamou o sonserino, massageando o ombro que recebera a maior parte do impacto. Infelizmente para ele, não havia tido nada que suavizasse o baque.

— Tudo bem, não foi muito esperto da minha parte me apressar dessa forma, mas precisava me ignorar? Por uma semana inteira?

Ele revirou os olhos.

— E por que eu pararia para te ouvir?

— Porque eu estou querendo me desculpar com você. Sobre aquele dia.

Scorpius deu uma risada debochada.

— Se desculpar? O que foi? O seu encontro acabou sendo um desastre?

— Não foi nada disso. Eu apenas estou arrependida por não ter dado atenção a você naquela vez. Seja lá o que te motivou a dizer aquelas coisas, você é meu amigo e a sua opinião conta para mim.

— Ah, é mesmo? Pois eu achei que você conseguiu desconsiderar muito facilmente o meu conselho. Afinal, saiu com ele, não foi?

— Ora, o que queria que eu fizesse? Vocês falam que eu não devia, mas não explicam por quê. Tenho que tomar decisões por mim mesma de vez em quando!

— “Vocês” quem? Quer saber, não me importo. Por mim, você pode até casar com ele e se mudar para a Islândia.

Scorpius se pôs de pé e bateu nas vestes para tirar o pó. Rose também se levantou, apoiando-se no joelho.

— Islândia? Que conversa é essa, Malfoy? Afinal, o que você tem contra ele?

O garoto fez pouco caso da pergunta, continuando a ajeitar o uniforme amassado.

— Ele é um idiota, só isso.

Foi a vez de Rose rolar os olhos.

— Claro, um ótimo argumento. Você costumava ser mais convincente...

Scorpius insistia em desprezá-la, não olhando uma única vez em sua direção. Ela não aguentava mais aquela situação.

— Meu Deus, Malfoy, não finja que não estou aqui! — A grifinória ficou de frente para o garoto, segurando o mais firme que pôde os braços dele para que não se movesse.

Scorpius ficou um tanto espantado, seus olhos cinzentos agora bem abertos.

— Eu. Não. Estou. Namorando. Com. Ele — Rose falou tão pausadamente que era de se pensar que já tivesse dito aquilo outras centenas de vezes, como se tentasse explicar um fato óbvio e não fosse compreendida. — Foi só um encontro. Nós rimos e conversamos um pouco. Depois, eu fui embora. Acabou aí. Não tenho planos de sair com o Hewitt de novo, ao menos, não num futuro próximo. Será que você pode relaxar?

— Eu não ligo se você sai com ele, a vida é sua. Não faça parecer que estou te proibindo ou coisa assim. — Scorpius virou o rosto para o lado, numa expressão fechada.

— Por Merlin, você é bem difícil às vezes... — ela murmurou. Então deu um suspiro. — Não estou fazendo isso porque você “mandou”, ok? Eu só acho que é válido analisar melhor se é uma boa ideia continuar com essa história, antes que eu esteja numa situação mais comprometedora e com sentimentos sérios envolvidos. Se eu quebrasse a cara por não ter ouvido o que me falaram, a culpa seria inteiramente minha, não seria?

Scorpius sorriu em zombaria.

— Quer dizer que agora você se importa com o que eu digo?

Rose bufou, incrivelmente frustrada.

— Olha, Malfoy. Eu te peço desculpas, é isso que eu vim fazer. Mas se você espera que eu implore por perdão e ajoelhe aos seus pés, então receio que só irá se desapontar.

Então, Scorpius por fim decidiu olhá-la, seu olhar transmitia certa mágoa.

— O que eu esperava era que você...

Ele hesitou, deixando-a em expectativa.

— Que eu o quê?

Scorpius exalou o ar pesadamente e se desvencilhou dela.

— Nada. Eu me sinto ridículo falando sobre essas coisas todas...

— Mas eu quero saber, quero que fiquemos de bem!

— Deixe pra lá, não vai fazer diferença.

— Não, não posso só deixar pra lá. Incomoda você, logo, é importante sim.

— Chega, Weasley.

— Se você apenas me contasse...

O loiro ergueu os olhos para ela, seus braços cruzados.

— Eu só achei que essa coisa de amizade, toda essa besteira... Pensei que não precisaria mentir para mim.

Ao ouvir aquilo, Rose tentou pensar em algo para dizer, chegando a abrir a boca, mas nenhuma palavra saiu dali. Seu semblante virou puro pesar. Fez o que pôde para ignorar o nó que se formou em sua garganta, ainda que fosse difícil devido ao sentimento de remorso. De repente, soube que só havia uma coisa a ser dita.

— Você tem razão. Eu não venho sendo honesta... Na verdade, faz mais tempo do que eu gostaria de admitir. Aquele dia do jogo, eu não fui ver o Hewitt. Fui ver você. E quando não te contei que sairia com ele, achei que ia ficar zangado ou decepcionado. Mas acabou que escondendo, eu só deixei tudo pior. Não quero mais fazer isso, então, será que podemos começar de novo? Mas desta vez, sem mentiras.

Scorpius pareceu de alguma maneira tocado pelo que Rose dissera, ainda que sua fisionomia passasse a impressão de que não estava livre de culpa. Ela não entendia como ele poderia se sentir culpado se não havia feito nada errado.

— Falando em honestidade, há algo que...

No entanto, sua fala ficou entrecortada por causa de alguns alunos que vieram como um estouro passando por eles. Deram-se poucos segundos e mais alguns passaram, sempre falando em tom alto e incômodo.

O par ficou confuso e se entreolhou.

— Ei. — Scorpius parou um garoto baixo, impedindo sua passagem. — O que está havendo?

— É o Potter! Estão dizendo que foi envenenado por uma cobra!

— Albus Potter? — Rose interveio, preocupada. — Quando? Aonde o levaram?

— Foi perto do lago pelo que entendi. Agora, ele está na enfermaria. Acham que ele vai morrer? Seria muita falta de sorte, não é?

Rose empalideceu com o comentário, segurando o braço de Scorpius.

— Suma daqui! — ele disse ao garoto, que, assustado, desapareceu como foi ordenado.

— Precisamos ir lá, Malfoy. Agora mesmo.

x-x-x-x

Assim que chegaram à Ala Hospitalar, se depararam com um tumulto. Todos queriam espiar o aluno picado pela cobra e não era um aluno qualquer, era o filho de Harry Potter.

— Para trás, para trás! — mandava Noah Knight, que barrava a entrada ao lado de outro monitor.

Sem perder tempo, Rose conseguiu de algum modo abrir caminho entre os estudantes, Scorpius em seu encalço. Voltou-se para o monitor-chefe, o desespero tomando sua voz.

— Por favor, eu preciso passar! É o meu primo que está aí dentro.

Noah não parecia muito propenso a permitir, mas olhou uma segunda vez para o rosto de Rose. Ela parecia mesmo em sofrimento.

— Tudo bem. — Deu licença para que apenas a ruiva entrasse, voltando rapidamente para a posição original.

Scorpius foi diretamente ao outro monitor lhe lançando um olhar tão afiado quanto uma faca.

— É melhor sair daí para o seu próprio bem.

— M-Mas as ordens foram...

O sonserino intensificou a ameaça em seus olhos e o monitor deu um chiado como de um animal atemorizado.

— Vá logo! — encolheu-se para que o rapaz passasse, que o fez com agilidade.

— Não era para deixar ninguém passar! — ralhou Noah, olhando por cima do ombro.

— Você deixou a garota, oras!

Lá dentro, Rose e Scorpius se dirigiram ao leito no fim da enfermaria, onde havia uma pequena aglomeração.

— Albus! — Rose enfiou-se ali para ser capaz de ver o que acontecia.

Seu primo estava deitado na cama, os olhos fechados e a respiração profunda. Lily também estava lá e acudiu Rose, segurando seus ombros.

— Ele está bem, prima. Só está dormindo.

— Dormindo? Mas ouvi que foi picado por uma cobra...

— E foi mesmo — pronunciou-se a enfermeira, Srta. Price. — Porém, está fora de perigo. Acontece que se tratava de uma farosutil, uma espécie mágica que possui três cabeças, proveniente da África. Ela é venenosa sim, mas não quando quem ataca é a cabeça do meio. Essa é a cabeça que sonha e, em vez de veneno, ela secreta um líquido que faz a vítima apenas alucinar e ter muito sono. Basicamente, o Sr. Potter vai dormir por alguns dias... Foi muita sorte.

— E o que uma cobra dessas faz nos terrenos da escola? — Rose questionou, inconformada.

— Isso ainda não sabemos.

Então, Scorpius se lembrou de algo.

— Teve uma vez... — começou a falar, todos os olhares se voltando para ele. — A professora de Transfiguração pediu que eu e o Potter levássemos umas caixas para o Hagrid. O Potter comentou que pensou ter ouvido algo sibilando dentro da que ele carregava...

Todos se olharam, chocados.

— Será que uma dessas cobras fugiu, então? — Lily arriscou um palpite.

— Há uma chance. — Srta. Price franzia a testa, pensando. — Vou comunicar isso à direção. Vamos investigar.

— Mas, afinal, como aconteceu tudo? — indagou Rose, ainda curiosa quanto àquela dúvida.

Tracy deu um passo à frente.

— Foi muito rápido. Nós estávamos na beira do lago e, de repente, aquele troço apareceu! O Albus bem que foi tentar nos defender, mas foi mais veloz que ele. Quando vi que foi picado, saí correndo.

— Correndo? Para buscar ajuda?

— Não, eu estava assustada! Mas quando me acalmei e pude pensar direito, me disseram que ele já estava aqui.

Rose não tinha tempo para repreender a corvinal, mesmo estando tentada àquilo, então, prosseguiu com o assunto.

— Se não foi você que o trouxe, quem foi?

— Sou relativamente nova na função. Antes que eu pudesse pegar o nome, já tinha ido embora — explicou a Srta. Price.

x-x-x-x

Ao começo da semana seguinte, Albus estava recuperado. Ele se lembrava muito pouco do tempo que passou inconsciente, tivera os sonhos mais estranhos e sem sentido de toda sua vida. Bom, felizmente já se sentia bem e, claro, a vida tinha de continuar.

Entrando na sala dos monitores, onde haveria uma reunião, foi imediatamente recebido pelos colegas, que perguntavam como ele estava, como tudo acontecera, e até mesmo se agora era ofidioglota graças à picada da cobra. Por mais absurdas que algumas dúvidas fossem, ele estava contente por estar sendo tão bem recebido.

— Agora, vamos nos organizar, pessoal — Noah pediu, fazendo sinal para que se sentassem. — Mas é muito bom tê-lo de volta. — Sorriu, dando dois tapas no ombro de Albus.

O grifinório também ocupou um lugar à mesa, próximo aos monitores-chefes.

— Estamos todos muito animados, eu sei, mas vamos tentar ficar focados. Onde paramos na última reunião? Ah, sim... Acho que as rondas precisam ser reforçadas no quinto andar, pois...

Sem sequer perceber o que fazia, o olhar de Albus recaiu sobre a silenciosa monitora-chefe, que observava o lufano falar. E, de súbito, foi como se todas as cores e formas de outrora voltassem e se misturassem ao plano de fundo, como se tivesse mergulhado em mais uma ilusão insana. Já tinha quase um dia inteiro que não tinha alucinações por causa do “veneno” da farosutil, mas aparentemente ainda devia haver resquícios em seu sangue. Piscou diversas vezes, apertando bem os olhos para que tais visões sumissem. Mas, quando pareceu que se desvaneceria, Lauren tornou-se consciente daquele olhar e virou o rosto para o garoto.

Então, a luz que tomou conta do ambiente por um breve instante pareceu cegá-lo, sendo emanada da modesta figura da grifinória. Ela moveu os lábios, mas se havia dito algo, ele não ouviu. O mundo estava quieto. E luminoso.

Houve uma movimentação e o som começou a alcançá-lo outra vez. Cadeiras rangendo, cochichos ecoando.

— Pott... Potter...

Logo, a luminosidade estava de volta ao normal e as cores frias das paredes de pedra retornaram aonde pertenciam.

— Potter!

Os estalares de dedos o tiraram daquele transe por completo. Ele arregalou os olhos, reassumindo o domínio sobre si. Todos estavam olhando para ele.

— O que houve?

— Parecia que não estava escutando. Tem certeza de que está bem para assistir à reunião? Talvez devesse descansar mais um pouco, podemos atualizá-lo sobre os detalhes mais tarde — sugeriu Noah, com o mesmo olhar de apreensão da maioria dos demais.

— Acho que já passou, desculpem por atrapalhar. Podem continuar.

Os outros monitores aos poucos foram concordando e, rapidamente, todos seguiram em frente. Mas a sensação de repentina clareza dos pensamentos ainda estava ali.

Albus olhou para Lauren e soube que fora ela que o havia socorrido.


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Notas finais do capítulo

É bem provável que seja o último capítulo deste ano, por isso, aproveito para desejar um feliz ano novo para todo mundo! Obrigada por terem feito 2014 ser tão bacana, me dando tanto incentivo apesar de toda a minha desorganização. Responderei aos comentários mais recentes assim que me sobrar mais tempo, as coisas estão meio caóticas por aqui no momento... Mas posso prometer que haverá mais de TBS em 2015, podem deixar! :D Espero terminar a fic até o meio do ano, se conseguir recuperar o ritmo. É, tomara que tudo dê certo!
Beijos e um ótimo começo de ano!