The Bright Side escrita por Anna C


Capítulo 17
Encontros e Desencontros


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, não há pedido de desculpas que possa compensar tamanha demora... Mas mesmo assim, não tenho como não dizer: me perdoem! Bom, imagino que o capítulo seja mais esperado do que a minha tagarelice, por isso, deixemos isso para as notas finais haha O capitulo é dedicado a Colecionadora de sonhos10, que fez uma recomendação muito fofa. Obrigada!!

Para todos, bom chá com biscoitos!



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— Weasley!

Rose estava voltando para o dormitório no fim de tarde, quando foi abordada no meio do caminho. Algum tempo tinha se passado, já era dezembro. Os dias estavam frios e nevava com alguma frequência, mas ao ver quem lhe chamava, tudo que ela pôde sentir foi o calor que aqueceu seu rosto inteiro.

— Hewitt, oi — Rose sorriu de orelha a orelha.

— Se importa se eu tomar um segundo do seu tempo? Estava indo a algum lugar importante?

— Ah, claro que não! Pode falar.

Eric ia começar a falar, mas pareceu subitamente tímido.

— Bom, eu...

Segurou a mão de Rose e a puxou para o corredor ao lado, que era menos movimentado. Rose ficou tão surpresa, que ficou de olhos arregalados encarando o sonserino. Ao pararem, Eric riu levemente.

— Tudo bem?

“Por Merlin, Rose, não aja feito uma maluca! Não agora!” ela se repreendia mentalmente. De alguma maneira, conseguiu relaxar sua expressão.

— Não se preocupe comigo, er... O que queria dizer mesmo?

— Então, Weasley... Eu estive pensando e, bem, eu sei que não nos conhecemos tanto assim, mas... É na verdade justamente por isso que eu queria saber se você não gostaria de sair comigo nesse fim de semana?

“Ah. Meu. Deus.”

Não precisou pensar duas vezes.

— Sim, quero sim! — Rose sorriu animadíssima. Depois, pigarreou, tentando manter os nervos sob controle. — Quer dizer, vai ser legal.

“Sutil como um trasgo, é claro.”

— Mesmo? — Eric retribuiu o sorriso. — Que ótimo! Duas horas de sábado no Três Vassouras está bom para você?

— Claro — ela assentiu.

— Está combinado, então.

E, antes de partir, Eric se inclinou na direção de Rose e depositou um beijo em sua face. Ela agradeceu por ele ter ido embora logo em seguida, pois seu rosto devia estar todo escarlate agora.

Não podia acreditar que alguém como Eric Hewitt pudesse estar mesmo interessado nela! Ela precisava contar a Albus e também a...

“Espere... Acho que o Malfoy não vai gostar muito disso.” Lembrou-se da expressão de Scorpius na primeira vez que insinuou ter uma queda pelo garoto.

“— Deve estar de brincadeira comigo.” Foi o que ele disse.

E ela não devia ter mentido três semanas atrás, mas a reação dele também não foi das melhores quando falou que tinha “invadido” a sala comunal da Sonserina para fazer uma visita a Hewitt.

Rose não queria fazer uma omissão daquelas, porém temia a reação do amigo.

“Por que ele não pode ficar feliz por mim e só isso?”

Talvez o silêncio não fosse uma opção assim tão ruim.

“— Às vezes, não omitimos as coisas por mal”, Eric havia comentado meses antes, “Se puder, diga a verdade. Se ficar em dúvida, reflita primeiro.”

E Rose estava em dúvida.

x-x-x-x

A atenção extra que Scorpius recebia agora que era conhecido na escola já não o incomodava tanto assim. Descobrira que era tão fácil de ignorar que sequer valia a preocupação.

Além disso, Albus Potter parecia cada vez mais estar por perto dele e de Rose. Obviamente, Scorpius jamais diria que Albus se tornara seu amigo, o grifinório teria a impressão de que o loiro não levava a sério seu próprio discurso. Entretanto, começava a tolerar a presença do garoto Potter também. Era perceptível que Albus estava sendo cauteloso quando estava presente, tomando o cuidado de não aborrecer Scorpius com alguma bobagem. Ainda assim, mostrava-se de bom humor e amistoso como de costume.

Desta vez, Rose sequer estava naquela sala de estudos, mas Scorpius não tinha enxotado seu primo dali ainda. Eles conversavam — Albus mais que o outro garoto — sentados a uma mesa de mogno, enquanto Scorpius finalizava o dever de Poções.

— Quer dizer, eu não sei por que todos gostam tanto de cerveja amanteigada. Francamente, não suporto nem ver — confidenciava Albus, mantendo a voz baixa para não atrapalhar os demais na sala, mesmo que fossem poucos.

Scorpius ergueu brevemente o olhar de seus pergaminhos.

— Também não gosto — disse, apesar de não lembrar quando haviam começado a falar sobre aquilo. Há um minuto o grifinório não estava tagarelando sobre a Firebolt V, lançada no mês anterior? Aquela mudança brusca de assunto era algo que costumava incomodá-lo, mas desde que Rose Weasley havia se tornado um elemento de seu dia-a-dia, tinha virado algo comum.

“Ele é como ela, deve ser de família. A única maneira de lidar é não perder a cabeça por nada.”

— Sabe outra coisa de que não gosto? Goblins Under Attack.

Agora, Scorpius mostrou uma reação maior que apenas concordar e discordar. Por Merlin, ele odiava aquela banda.

— Cara, eu sei, eles são péssimos! — Scorpius falou, fazendo uma expressão de desprezo. — Eles chamam aquilo de guitarra?

Albus assentia, parecendo indignado.

— Exatamente! Você é o primeiro que encontro que não puxa o saco deles. Como todos podem adorar um grupo tão ruim? Quer dizer, eles têm uma música mais ou menos, e o resto é simplesmente triste. Não faz sentido serem tão populares...

Tudo bem, Albus era um cara decente. Quer dizer, no momento em que se descobre que odeiam a mesma banda que todo mundo ama, esse é um momento em que realmente se percebe o potencial de uma amizade. Bom, na verdade, aquilo parecia um meio um tanto falho de fazer amigos, mas de todo modo, Albus parecia ter ficado duas vezes mais legal depois de ter dito aquilo.

Eles falaram mal daquela banda por mais alguns minutos, até não haver mais o que criticar. Então, Scorpius enfim terminou a lição e guardou o material. Enquanto saíam da sala, Albus deu uma risada. O outro o olhou em suspeita.

— O que foi?

— Estava pensando que, depois de todo esse tempo, a gente na verdade tem bastante em comum. Digo, além do Quadribol.

— Suponho que sim. — Scorpius deu os ombros. Apenas esperava que Albus ficasse menos entusiasmado.

— Sabe, eu tenho uns amigos na escola e eles são divertidos e tudo mais, mas... A maior parte do tempo, ficamos só fazendo piadas e não conversamos muito. É bom falar sobre qualquer coisa para variar.

Seriam esses amigos os mesmos aos quais se referira aquela garota que o abordara semanas atrás? Se sim, a confissão de Albus em nada lhe impressionava. Aliás, a situação dele acabava por remeter àquela que Rose se encontrava havia alguns meses. Por um momento, Scorpius considerou fazer um comentário... “Não, eu não tenho nada com isso. Da outra vez, foi a Weasley que veio me procurar para falar dos problemas dela. O Potter não parece ligar tanto assim para isso... Ou talvez prefira não ligar.”

— Então, Malfoy, como acha que vai ser o encontro da Rose? — perguntou Albus de repente.

Scorpius estacou no lugar, pensando ter ouvido mal. Piscou algumas vezes, como que para alinhar seus pensamentos.

— A Weasley? Encontro?

Albus fez que sim, parando ao seu lado.

— Ora, ela não te contou? Ela e aquele tal Eric Hewitt marcaram de sair nesse fim de semana. Fiquei surpreso, nem sabia que eles se falavam... Malfoy? Você tá legal? Parece que ficou mais pálido, ou sei lá.

Scorpius semicerrou os olhos.

— Você tem certeza disso? Um encontro mesmo?

Albus quase riu, achando graça do semblante do sonserino.

— Não sei, acho que sim, cara. Por quê? Tem algo de errado?

A palidez do rosto de Scorpius foi se transformando numa vermelhidão colérica.

— Merda, aquele...! — O loiro se virou e começou a andar em passos pesados.

O grifinório uniu as sobrancelhas em preocupação, fitando as costas de Scorpius.

— Ei, Malfoy! Aonde você vai, cara? O que aconteceu?

Quando Scorpius não voltou, Albus suspirou em exasperação.

— Foi algo que eu disse?

x-x-x-x

— Ah, meu Deus! Ela ficou linda! — exclamou Lily ao terminar de trançar o cabelo de Lucy e examinar seu trabalho.

Lucy ficou olhando furtivamente de um lado para outro, temendo que alguém as estivesse observando. Todavia, ninguém naquele banheiro feminino parecia lhes dar atenção. Ela se virou e encarou o espelho.

— Ficou horrível! Parece que eu tenho cinco anos de idade — falou, segurando o cabelo trançado com as pontas dos dedos.

— Nossa, assim me magoa. — Lily fez bico, fingindo chorar no ombro de Rose. — Está vendo, Rosie? Depois eu que sou a prima cruel.

Rose riu da cena, aproximando-se de Lucy.

— Eu achei que ficou bom. E não era você que estava reclamando que seu cabelo estava no rosto e incomodando? A Lily só tentou ajudar você, afinal.

Lucy olhou para Rose e suas bochechas ficaram coradas.

— Talvez não esteja assim tão ruim... — admitiu a pequena, constrangida. — Obrigada, Lily — adicionou um pouco a contragosto.

Rose sorriu, orgulhosa da primeiranista.

Ela estava tentando fazer a mais nova se aproximar um pouco mais dos primos mais velhos, mesmo que por motivos bobos. Lily sempre fora muito habilidosa em fazer penteados e adorava ter algum voluntário para praticar. Rose viu ali a oportunidade para as primas se falarem, ainda que pouco, e até que estava funcionando.

— Bom, senhorita Lucy, eu preciso ir agora encontrar a minha amiga Judy. Não quero saber de você desmanchando o que eu fiz, ouviu? Deu mais trabalho do que parece... — falou Lily, caminhando para a porta.

— O que vocês vão fazer? — indagou Lucy, como se esperasse um convite para se juntar a elas. Rose ficou com um pouco de dó da menina, que tão desesperadamente só queria se enturmar com todos.

Lily deu os ombros.

— O de sempre, conversar sobre as aulas, falar mal do Hugo... Nada de mais.

Infelizmente, a garota Potter não era muito boa em apreender pequenos detalhes, então sequer notou os olhos brilhantes e esperançosos de Lucy.

— Enfim, já vou indo. Não desfaça essa trança, Lucy, ou vou até aqueles confins sonserinos para te atazanar.

Com isso, ela partiu. Lucy cruzou os braços, repentinamente cabisbaixa.

— Não fique assim, Luce — Rose afagou seu ombro. — A Lily também tem as coisas dela... Mas posso ficar mais um pouquinho com você se quiser.

Lucy meneou a cabeça em sinal de recusa.

— Quero voltar para o meu quarto.

Rose suspirou.

— Muito bem, então. Nesse caso, eu acho que...

— Você pode me levar até lá? — questionou Lucy. — As masmorras são meio escuras e... Não que eu tenha medo, ou algo assim, mas...

Apesar dos impulsos de abraçar sua prima estarem mais sob controle agora, às vezes, Rose precisava fazer um grande esforço para se conter. Por sorte, conseguiu desta vez, apenas assentindo em resposta.

x-x-x-x

Rose tentou fazer Lucy mudar de ideia enquanto se encaminhavam para as masmorras, mas a menina já estava decidida. Por isso, a mais velha se concentrou em apenas elevar o humor da prima, quem sabe mais tarde ela estivesse disposta outra vez.

Quando desciam o último lance de escadas do trajeto, escutaram uma voz exaltada vinda do andar de baixo. Rose teve uma sensação de familiaridade, pensando seriamente que conhecia aquela voz, mas nunca a ouvira em tal tom. Ela e Lucy adentraram o corredor e logo aquela sensação teve sua explicação.

Os únicos ali eram Scorpius e Eric, o loiro parecendo a ponto de agredir o colega de dormitório.

— Mas que droga pensa que está fazendo?! — Scorpius deu um forte empurrão no peito de Eric, fazendo-o bater contra a parede.

Eric fez cara de confusão.

— O que você acha?

— Acho que perdeu a noção por completo! Você é patético.

— Se divertir com alguém de que gosto faz de mim patético?

— Seu senso de diversão é distorcido, você não devia... — Scorpius se interrompeu ao notar que estavam sendo observados. Afastou-se de Eric o tanto quanto pôde, encostando contra a parede oposta.

Rose ficou revezando seu foco entre os dois sonserinos, enquanto tentava entender o que havia acabado de ouvir.

— Lucy... — ela murmurou, pondo uma mão sobre o ombro da menina. — Acho melhor você ir para o seu dormitório.

Lucy parecia prestes a questionar, mas algo no tom da prima a fez apenas concordar, deixando o recinto silenciosamente.

— Então — iniciou Rose, erguendo as sobrancelhas. —, o que está havendo aqui?

Scorpius e Eric se entreolharam, repentinamente sérios e quietos. Rose insistiu.

— Não estou brincando, rapazes. Por que estavam discutindo?

Scorpius foi o primeiro a dar um passo na sua direção.

— Weasley, nós... Eu...

— Não sabia que tinha um amigo tão protetor, Weasley — Eric começou a falar. — Eu estava tentando explicar que vai sair tudo perfeitamente bem no sábado, mas ele parece um pouco relutante em compreender...

Rose piscou, esforçando-se para ligar os pontos. Algo estava errado.

— O que quer dizer? Malfoy, o que Hewitt está dizendo é verdade? A sua preocupação é o motivo dessa briga?

Posto em uma posição inesperada, a face de Scorpius estava agora corando. Ele parecia tentar articular uma resposta, mas apresentava uma dificuldade incaracterística dele. Finalmente, pareceu conseguir se organizar.

— Por que não me contou nada? Fiquei sabendo pelo seu primo.

— E-eu não sei, achei que não estivesse interessado nesses assuntos, já que todas as vezes que falamos sobre algo assim, você fica de mau humor.

— Você não entende, não é por isso que... Escute, há pessoas que você deveria evitar...

Rose franziu o cenho, desconfiada.

— Agora, está começando a me assustar. Está me falando que Hewitt não é uma boa pessoa?

Antes que Scorpius pudesse responder, Eric se voltou para ele com uma expressão de acusação.

— Olha, acho que estou um pouco ofendido. Quer dizer, com base no que você poderia dizer algo assim sobre mim? Você e eu, o que possuímos em comum além de termos que dividir o mesmo dormitório?

Então, Scorpius quase riu, o que sobressaltou Rose ligeiramente.

— Por Merlin, você é mesmo intragável. Inacreditável.

— Garotos, acho que estão escondendo alguma coisa... — disse a ruiva.

— Quer saber? Não, Weasley, deixe para lá. Eu estava fora de mim... Mas espero que se lembre de que eu tentei avisá-la, eu tentei de verdade.

Scorpius lançou-lhes um olhar ressentido e saiu corredor adentro. Rose o seguiu com os olhos até que desaparecesse por inteiro. Sentia um nó se formando na garganta.

— Weasley.

Ela se virou para Eric. Ele tinha um sorriso gentil nos lábios.

— Você por acaso mudou de ideia? Os planos ainda estão de pé, certo?

Rose não respondeu de primeira, estava fitando os próprios pés enquanto refletia. Enfim, deu um leve sorriso, pondo as mãos dentro dos bolsos do sobretudo.

— Claro.

— Então, nos vemos em breve. — O sonserino piscou um olho para ela e seguiu seu caminho.

“Se fosse algo realmente sério, o Malfoy teria me contado, não é? Francamente, ele tem algo contra todo mundo dessa escola e nem precisa de motivos para isso. Eric parece um bom sujeito...” Por um instante, cogitou conversar com Albus sobre aquilo. “Não, sei que posso resolver sozinha. Ou assim espero.”

x-x-x-x

Olhando para seu reflexo no espelho, Rose decidia se prendia seu cabelo ou não. Ele havia crescido bastante e agora passava quase um palmo dos ombros. “Já está na hora de cortar” pensou ela, não gostava de deixá-lo muito longo. Resolveu por fim prender num rabo de cavalo, sem mais paciência para aquele dilema bobo.

— Ora, ora... Tem um encontro, Rose? — a ruiva quase saltou com o susto. Havia se esquecido de que Lena e Olivia estavam no dormitório naquele momento. Lena lia uma revista bruxa deitada sobre a cama, enquanto que Olivia organizava alguns pergaminhos.

Era estranho que Lena falasse tão casualmente com ela, como se as coisas estivessem normais. Ou talvez estivessem? Rose não se recordava de ter tido algum desentendimento com a colega recentemente. “Bom, ela não foi ao meu aniversário, mas tinha avisado que não poderia... Não somos mais ‘amigas’ como antes, porém ainda podemos conversar de forma normal, certo?”

— Por que acha isso, Lena? — questionou Rose, curiosa para saber que detalhe a havia denunciado.

— Bom, você não costuma ficar mais que cinco minutos se arrumando, mas desta vez já passa de meia hora que está nessa...

Ela tinha um ponto válido.

— E quem é o cara? Se não for muita intromissão minha perguntar — indagou inocentemente, pondo sua revista de lado.

Rose ponderou por alguns segundos, avaliando se deveria dizer ou não.

— É... Eric Hewitt, da Sonserina.

Lena e Olivia se entreolharam e a primeira começou a gargalhar.

— Lena! — Olivia a olhou e depois para a ruiva, apreensiva.

— O que foi? O que é tão engraçado? — perguntou Rose, agora receosa.

Olivia interveio antes que a amiga dissesse algo.

— O que ela quer dizer é que talvez não deva se apegar muito a ele.

Não, não podia ser. Agora, até mesmo aquelas duas estavam depondo contra Eric? Será que o rapaz era afinal um sujeito ruim?

— Sei que nunca fui uma amiga incrível para você, mas me ouça só dessa vez, ok? Com esse cara... Não vai dar certo — Lena praticamente decretou, pegando sua revista novamente.

Rose viu que o assunto se encerrava ali. Olhou para Olivia em busca de talvez mais alguma informação, contudo, a garota Creevey já havia voltado aos seus pergaminhos.

x-x-x-x

Seria impossível ignorar aquilo que ouvira uma hora antes, mas mesmo assim ela fazia o possível para responder e rir dos comentários de Eric no Três Vassouras. Ele era sempre muito cortês e falava de uma maneira divertida, quase como se soubesse o que dizer para fazê-la sorrir a cada cinco segundos. Porém, Rose não conseguia bloquear as vozes de Scorpius, de Lena e de Olivia, que pareciam orbitar sua mente com insistência. Fora isso, o encontro parecia correr bem.

Mas é claro, Rose ainda não tinha conhecimento de dois espiões improváveis a cinco mesas da dela.

Louis e Coline haviam pedido cardápios apenas para poderem se esconder atrás destes.

— Por que estamos espionando sua prima no encontro dela? — questionou Coline, que esteve relutante desde o início.

— Porque é um momento histórico! Quer dizer, Rose só deve ter tido um namorado na vida e... Espera... Não, aquele era o entregador de pizza.

— O que é pizza? — A explicação de Louis não estava convencendo muito.

— Uma comida trouxa. Enfim, eu estava entediado, tá legal? Albus comentou isso há uns dois dias e eu lembrei esta manhã, bem quando achei que não teria nada para fazer. Coincidência? Eu acho que não.

Coline franzia o cenho.

— Isso não é muito certo...

— O que os dois querem?

A dupla quase saltou de suas respectivas cadeiras ao ouvirem aquela voz. Olharam para cima e se depararam com a atendente. Coline suspirou em alívio.

— Olá... Pois é, ainda estávamos dando uma olhada... — A garota francesa ergueu o seu cardápio.

— Eu dei os cardápios a vocês já tem vinte minutos e tenho uma série de pedidos para preparar. De verdade, não podem facilitar um pouco a minha vida?

Louis e Coline se entreolharam, inquietos.

— Pode ser uma cerveja amanteigada para mim — pediu Coline.

— E para mim, um uísque de fogo — Louis requisitou.

A mulher ergueu uma sobrancelha.

— Tem certeza de que tem idade para um uísque de fogo?

Louis suspirou em cansaço. Teria que usar seus encantos de veela. Escolheu seu melhor sorriso e se voltou para a mulher.

— Será que isso é um detalhe realmente relevante?

Um breve silêncio pairou sobre eles. A mulher o encarou por alguns segundos de olhos semicerrados. Acabou por dizer:

— Para você, será água. — E se retirou.

Coline ficou em choque ao ouvir aquelas palavras e também pela postura da atendente em geral. Mas quando seu olhar recaiu sobre Louis, virou um poço de preocupação.

— Louis, você está bem?

Com os olhos fixos na mesa, ele balançou a cabeça levemente em sinal positivo.

— Não, não está. Está muito abatido.

— Você não compreende, Coline... — iniciou ele, erguendo lentamente os olhos. — Não é a primeira vez que acontece. Ultimamente, a minha... “influência”... não tem surtido tanto efeito.

— O que quer dizer?

— Há cerca de um mês, eu atrasei para entregar um trabalho de Alquimia e a professora disse que não aceitaria mais nenhum. Eu tentei persuadi-la a estender o prazo, mas ela recusou. Ninguém nunca consegue recusar, entende? E não foi um simples “não”, ela foi seca e inflexível. Naquele dia, fiquei muito espantado, porém decidi ignorar o fato como sendo um caso isolado. Só que então...

Coline se debruçou um pouco sobre a mesa para ouvir melhor.

— Então, o quê?

Louis inspirou calmamente.

— Aconteceu umas duas semanas atrás. Um garoto esbarrou comigo no corredor e me fez derrubar o material. Fiquei irritado e o mandei recolher tudo, é claro. Mas ele... Ele me ignorou. Sequer olhou para trás.

— Talvez não tenha visto que era você — arriscou a amiga.

Ele sacudiu a cabeça, desconsiderando.

— Você sabe que não é assim que isso funciona. É algo completamente contagiante, em especial quando eu quero que seja. Mas não funcionou. E hoje, teve isso.

Coline titubeou, sem saber bem o que dizer.

— Não sei por que essas coisas têm acontecido, Louis, mas tente não ficar muito preocupado. Não importa o que os outros façam ou digam, você ainda será... O que quero dizer é... Louis, eu...

— Não estão fazendo o que acho que estão, certo?

Os dois desta vez quase caíram dos assentos. Agora tinham um motivo real para o susto: era Rose. Louis esquadrinhou a mesa à procura dos cardápios.

— Droga! Aquela mulher levou nosso disfarce...

— Ah, então estavam mesmo espiando meu encontro. Quem contou a vocês?

— O Albus. — Louis deu os ombros, vendo que seria inútil inventar desculpas.

Rose beliscou o dorso do nariz, exasperada.

— Por que ele sai contando para todo mundo essas coisas? Se não tivesse contado ao Malfoy... Mas isso não importa. Por que estão fazendo isso, afinal? Não é nada educado, sabem?

— Tédio — admitiu o primo.

— Desculpe por isso — pediu Coline um tanto constrangida.

A ruiva suspirou.

— Olha, não vou pedir que saiam nem nada assim, mas, por favor, não causem problemas. E, só para saberem, o que entregou vocês foi a língua. Sempre que falam um com outro usam francês.

Louis piscou em surpresa.

— Nunca tinha notado isso — falou e Coline concordou.

— Comportem-se — reforçou Rose, antes de voltar para sua mesa.

Louis bufou, escorregando na cadeira.

— Missão cancelada. Bom, tudo bem, fazer o quê. De volta ao tédio... O que você estava falando, Coline?

A garota ergueu as sobrancelhas e depois começou a rir, nervosa.

— Não era nada... É, então, acho que tudo que podemos fazer agora é esperar pelas bebidas e ficar conversando.

Louis assentia, mas de repente parou, sorrindo maliciosamente. Arrastou sua cadeira até a lufana e depois passou o braço por cima de seus ombros. Coline sentiu um arrepio que percorreu toda sua coluna. Sentia-se menor que nunca envolta pelo amigo, quando ele havia crescido tanto?

— O-O qu-que você está fazendo? — indagou, atônita.

— Fingindo que estamos num encontro, já que fomos proibidos de espionar o deles. Não é bizarro? Só por estarmos nessas posições, as pessoas já começam a especular... Imagine então se... Coline, o que acharia de me beijar?

— Como é?! — os olhos dela quase saltaram das órbitas e o rosto pegou fogo.

— Só de brincadeira, é claro! De qualquer forma, já faz um tempo que não aparece um rumor interessante sobre mim.

Antes que ela pudesse protestar, Louis pressionou seus lábios contra os dela. Entretanto, o momento durou poucos segundos. Coline pôs-se de pé abruptamente, fazendo Louis cair da cadeira. Ela limpou a boca com o dorso da mão e lançou um olhar extremamente magoado ao amigo.

— Por quê, Louis? Por que você tinha que estragar tudo? — não querendo realmente ouvir uma resposta e com as lágrimas ameaçando irromper, ela marchou direto para a saída.

Louis estava para chamá-la de volta, porém notou os olhares dos curiosos. Pela primeira vez na vida, desejou que as pessoas não notassem sua presença. Nunca havia se sentido envergonhado e, logo soube, aquilo era terrível.

x-x-x-x

Rose ouviu um estrondo vindo de trás e se virou, encontrando Louis sentado no chão e Coline deixando o estabelecimento. Antes que pudesse ir até o primo para perguntar sobre o ocorrido, este saiu em seguida. O que havia acontecido? Aparentemente, Coline havia discutido com Louis, porém esse era um cenário quase impossível de se imaginar. Qual teria sido o motivo? Ela poderia fazer algo para ajudar e...?

— Weasley, você está ouvindo? — a voz de Eric a trouxe de volta para o presente.

Nos primeiros segundos, Rose só pôde gaguejar, tentando formular alguma frase em resposta. Mas não sabia o que dizer ao sonserino. A verdade era que sua cabeça estava longe, e apesar de apreciar a companhia daquele garoto, os pensamentos a atormentavam demais para que conseguisse se concentrar e aproveitar o momento.

Afundou o rosto nas mãos, inspirando fundo.

— Desculpe, mas... Olha, não sei se foi uma boa ideia.

— O quê? Ter vindo aqui hoje?

Rose hesitou um pouco.

— Bom... É. Eu não sei por que o Malfoy disse aquelas coisas naquele dia, quer dizer, vocês sequer se falam. Porém, eu me sinto mal estando aqui, ignorando os sentimentos dele completamente. Não é algo que uma amiga deveria fazer, entende? Eu nem mesmo fui procura-lo depois, o que faz essa culpa apenas crescer. Eu gosto de você e, até onde vi, você parece ser muito gentil. Admito que nem acredito que tenha me chamado para um encontro e acredito muito menos que eu estou prestes a fazer isso, mas... Espero que você consiga me perdoar, mas sinto cometi um erro. Não posso continuar com isso. Não hoje, não agora.

Os olhos de Eric pareceram transparecer decepção por um milésimo, mas que logo sumiu quando ele sorriu em compreensão.

— Não se preocupe, Weasley. Não estou aborrecido.

— Sério, Hewitt, não precisa ser legal até num momento como esse. Vou entender se me achar uma megera.

— Você está apenas sendo honesta. Como eu poderia pensar algo assim de você?

Rose suspirou em alívio.

— Eu não achei que conseguiria dizer, mas estava me sufocando...

— Porém isso não significa que eu tenha desistido.

Ela sentiu o rosto ferver ao ouvir aquilo.

— B-Bem, veremos o que acontecerá, está bem? Talvez as coisas estejam mais tranquilas daqui a um tempo.

Eric pegou a mão de Rose do outro lado da mesa e a puxou até seus lábios, beijando-a. A cabeça de Rose estava a ponto de explodir.

— Espero que sim. — Ele deu um sorriso e a garota ficou zonza por um instante, como se uma memória tentasse vir à tona, mas ignorou a sensação.

Fez o que pôde para retribuir o sorriso, recolhendo a mão para junto de si.

— Talvez eu deva pedir a conta e...

— Não se preocupe com isso — Eric logo disse. — Pode deixar comigo.

— Não, imagine, eu...

— De verdade, Weasley, não é problema algum.

Rose insistiria se uma dor de cabeça incômoda não tivesse começado a atacar.

— O.k. — ela anuiu, levantando-se. — Então, acho que nos vemos depois, por aí.

— Mais cedo do que imagina.

E com um rápido aceno, Rose se foi. Sabia que não era a maneira mais educada de terminar um encontro, porém, maneira mais franca não existia. Estava incerta se Eric havia de fato a perdoado, mas não podia dar mais uma dúvida cruel a sua mente, para depois ficar se condenando por aquilo.

“Foi a coisa certa a ser feita” deduziu, enquanto andava pela rua principal de Hogsmeade. Não podia negar que estava interessada em Eric, mas mal o conhecia, e se Scorpius lhe alertava contra aquilo, deveria ao menos ter um tempo para analisar se aquela suspeita era válida ou não. E após essa análise, ela própria concluiria sobre o que deveria fazer em seguida. Nada de pressa, pois assim todo o problema teria solução.

Nem mesmo reparou que enquanto mergulhava em suas reflexões, havia começado a nevar. Tomou consciência do frio e se arrependeu de não ter trazido um casaco mais quente. Imaginou se aquele não era um sinal de que tempos mais difíceis estavam por vir.


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Notas finais do capítulo

Àqueles que ainda não respondi os comentários, peço desculpas duplamente! Sempre respondo tudinho, mas a vida não está dando tempo para nadica de nada. Felizmente, esse capítulo já estava quase pronto, só faltando uns ajustes básicos. O 18 ainda está em andamento, então tomara que sobre um tempinho para eu continuar (pois o esqueleto básico dele eu já fiz). Estou tão feliz que os personagens logo, logo irão para casa, curtir os feriados de inverno! Tem muita coisa programada pra essa próxima fase, fica a dica ;D
Enfim, é isso aí. Essa terça tem meu niver (viva eu... não.) e eu estou tããão empolgada que não sei ainda se me empanturro de bolo ou me empanturro de bolo (ter uma irmã que cozinha tem suas vantagens). Provavelmente, as duas coisas. Não, talvez a segunda opção... É.
Chega de nonsense, Anna!

Beijooos, people do meu heart! Espero que continuem comigo :)