Depois da épica vergonha que fizemos os Stoll passar, eu, Jason, Percy e Annabeth voltamos para nossa terceira aula. Era quarta-feira, as provas tinham acabado semana passada, ainda tinha essa semana de aula só para cumprir os dias da escola e para os professores arrumarem e ajeitarem as notas dos alunos. Já estávamos no meio da semana e por mais que eu não quisesse pensar, o tempo meu e de Jason estava se esgotando, domingo o pai dele o buscaria e o levaria para Nova York.

A risada de Percy ao meu lado me tirou de meus devaneios e o olhei, ele retribuiu o olhar, divertido:

– Acabei de postar no face, youtube, instagram e botei pra rodar o vídeo no whatsapp – Percy riu um pouco mais.

Eu e Percy tínhamos a terceira aula de quarta-feira juntos. Eu quase tive dó dos Stoll.

– Coitados, acho que fomos malvados. Foi um mico e tanto.

– Um mico engraçado e merecido que já teve... – Percy verificou seu celular – mais de 300 visualizações no youtube.

Ok, mesmo eu sendo nova aqui, os Stoll já aprontaram muito comigo também, desde roubar meu travesseiro Poof e meu sutiã, até prender meu braço na carteira com algemas quando eu dormi na sala, mas isso eu não precisava ter contado. Então minha dó foi embora e eu ri junto com Percy.

– Algum problema por aí Jackson? McLean? – o professor perguntou severo.

– Não – murmurei timidamente, mas Percy fez o contrário.

– Para Connor e Travis sim, vem cá ver o que armamos pra eles, professor – Percy disse sorrindo e levantando o celular.

Dédalo, o professor de matemática semicerrou os olhos para Percy.

– Jackson, você sabe que não é permitido celular na aula – Dédalo avisou.

– Sim, eu sei – Percy falou indiferente, chamando o professor com um gesto de mão.

– Tudo bem – Dédalo então sorriu de repente e correu até Percy, os dois ficaram vendo o vídeo e a sala se transformou em uma zona, até a aula acabar.

Na hora do almoço, fui encontrar o pessoal em uma das mesas redondas perto da cantina, ao ar livre onde todos gostam de ficar. Jason chegou a mesa na mesma hora que eu, então fomos nos servir. Enquanto andávamos pelo balcão, vimos uma mulher de meia idade de costa, eu e Jason nos tocamos que era a mesma que tinha nos pego na cozinha. Abaixamos na mesma hora quando ela se virou, derrubando metade da comida de nossa bandeja (adeus asinhas de frango, sentirei saudades). Acho que o garoto atrás da gente não percebeu que estávamos abaixados no balcão como qualquer pessoa normal - dã - e tropeçou em Jason, caindo por cima de nós dois e derrubando a outra metade da nossa comida. Fez um barulhão e grande parte do refeitório olhou pra nós, voou comida e bandeja para o céu e para todos os lados e a tiazinha se debruçou no balcão para ver porque o garoto tinha caído.

Ouvi muitas risadas enquanto a tiazinha apontava e gritava “vocês!”. “Cala boca veia” foi o que Jason respondeu atirando uma batata frita nela. Ele levantou-se, me ajudou a levantar, fez um aceno de tchau para a senhora e para a nossa plateia risonha e me puxou para fora do refeitório. Gritei um “desculpa” por cima do ombro pro garoto que ainda estava caído no chão.

Chegamos na mesa rindo um pouco e o pessoal nos olhou.

– Cadê o almoço de vocês? – Annabeth perguntou.

– Por que tem macarrão no seu cabelo? – esse foi Leo olhando para Jason.

– Que mancha é essa na sua blusa? – Luke perguntou para mim.

– O que... – Thalia começou.

– Ok, mudando de assunto – Jason interrompeu pegando uma folha de papel do bolso e me olhando – o que acham de faltar aula hoje a tarde?

– Para? – alguns replicaram.

– Ir ao Flip-Flip – Jason sorriu e guardou o papel.

Todos já sabiam do Flip-Flip, mesmo quem não tinha ido, já tinha ouvido as histórias que tínhamos contado.

– Eu topo – Leo falou sem hesitar.

– Eu também – Thalia disse logo depois – nunca fui nesse troço.

– Então eu vou – Luke sorriu passando os braços ao redor de Thalia.

Olhei para Annabeth, mas ela estava de boa. Quer dizer, ela estava em dúvida:

– Mas temos aulas importantes ainda hoje.

Todos começaram a argumentar e insistir, dizendo que era a última semana que ela cedeu.

– Ok, ok, eu vou.

– Então? O que estamos esperando? – falei sorridente.

– Já está para acabar o intervalo do almoço – Jason assentiu.

Todos se levantaram e começaram a caminhar pelo meio do campus descendo pequeno número de degraus ao longo do caminho de pedra que levava a parte dos esportes. Jason de repente parou gritando pro grupo para seguir que daqui a pouco os alcançava. Segurou minha mão e me desviou do caminho, me levando para trás de um salgueiro grande que dava uma sombra legal. Tinha um murinho de pedra atrás de nós que separava os blocos da área de esporte, então tínhamos mais privacidade.

– O que houve? – perguntei sem preocupação já que Jason parecia feliz.

– Eu sei que não é nosso aniversário de namoro nem nada, mas exatamente isso me fez pensar que você merecia algo de especial para lembrar-se de nós. Nunca trocamos presentes e tal, o que é engraçado – Jason sorriu dando de ombros – mas quero te dar algo que não seja só material, nosso tempo está esgotando você sabe, então quero que você fique com isso, para não se esquecer de mim quando eu partir e para lembrar de todas as lembranças boas que tivemos nesse curto tempo, mas com certeza os mais importantes da minha vida.

Jason me estendeu o punho fechado e eu, boquiaberta, estendi minha mão aberta. Ele deixou escorregar uma correntinha marrom e dourada em minha mão. Era um colar fino de couro marrom trançado por uma linha dourada, que parecia ouro. Havia dois pingentes unidos em um mesmo nó, o primeiro tinha uma pequena pena indígena, colorida de azul, castanho e verde, como meus olhos; a segunda era um raio dourado, eu sabia que era a marca do time de football que Jason era apaixonado, mas o raio representava Jason muito mais do que só esse time, eu não sabia o porquê, apenas combinava.

– Jason, é... é lindo! – falei com os olhos marejados o abraçando.

Afastei um pouco ainda permanecendo com os braços em volta de seus ombros

– Só me sinto mal por você não levar nada de mim contigo – fiz um biquinho.

– Mas você me deu algo... você me deu

Por um momento achei que ele seria romântico de novo falando “sua companhia” ou “seu amor”, mas ele disse.

– aquele marcador de texto aquela vez que eu precisei, está até agora comigo.

– Na verdade eu preciso dele de novo, os outros eu perdi.

Jason riu e me beijou.

– Tudo bem, eu posso ficar com este presente – ele disse.

– Não para sempre – murmurei triste.

– Não vamos pensar nisso, ok Pipes? Vamos para o Flip-Flip nos divertir.

Olhei para Jason e seus cabelos loiros iluminados pelas faixas de sol que ultrapassavam as folhas do salgueiro, tentei armazenar todo aquele momento em meu ser, todos os detalhes de seu rosto para não o esquecer.

– Já disse que te amo?

– Não precisa – ele respondeu – eu sei que você me ama, eu sou o cara.

O beijei para ele ficar quieto e quando acabei ele continuou:

– Mas só sou o cara porque também te amo.

– Bom mesmo.

Depois disso caminhamos para o ginásio da piscina e aquela porta lateral lá no fundo já estava meio entreaberta, passamos por ela discretamente e a fechamos. Luke e Leo ainda estavam lá no topo esperando a vez deles de fazer o parkour para fora da escola. Leo olhou para trás deu um sorriso e piscou um olho para nós travesso. Mostrei a língua como resposta.

Depois de um tempo Jason estava arrombando a porta do fundo do fliperama e dessa vez nenhum gato miou, mas sim fez-se outro barulho. Todos prenderam a respiração para ouvir atentamente o som que era... de alguém em prantos, parecia que estava chorando muito. Corremos em disparada para dentro do Flip-Flip.