“Não vejo a hora de chegar em casa”, pensou Lucy exausta.  Havia acabado de chegar de uma missão e cobiçava sua banheira mais do que qualquer coisa no momento.

                Era cansativo fazer missão junto com Natsu, Erza e Gray, afinal, eles sempre acabavam se empolgando e destruindo metade das coisas que tinha por perto.

                Ao estar a poucos passos de sua casa, avistou a janela do quarto; estava aberta e a luz acessa, julgou ser Natsu ou Happy, os costumeiros invasores noturnos. Suspirou.

                “Porque não me avisarão que iriam vir? Podiam me dar uma ‘canora’ até aqui...”. Suspirou novamente.

                Antes de girar a maçaneta para entrar em casa jurou para si mesma que, mesmo que os dois tivessem revirado sua casa não se estressaria. Seguira para o seu banho e então dormiria; outro dia ela gritava com os dois.

                Mas veio uma pequena surpresa ao entrar: seu invasor era um rapaz seminu que estava sentado na cama, observando com olhar vago para fora da janela.

                — Gray! — disse surpresa, fazendo o garoto voltar o olhar para ela.

                Um frio lhe correu a espinha.

                O olhar de Gray para ela foi tão sereno e carinhoso que faria qualquer garota se entregar inteiramente para o mago. Por mais indefinida que fosse sua expressão, ela sentia a ternura que circulava dentro dele.

                “Será que ele está quente como esse olhar?” deixou essa pergunta vagar em sua mente enquanto ouvia “bem-vinda de volta” da parte dele.

                — O que está fazendo aqui? — Perguntou colocando sua bolsa em cima da escrivaninha e sentando na cadeira que ficava em frente do móvel.

                — Passei para ver como você estava.

— Estou bem, só um pouco cansada. Uma noite bem dormida me fará bem.

                — Entendo.  E... como anda as coisas com o Natsu? — Ele tentou desviar do foco. Gray parecia estar evitando ir ao ponto, e demonstrava tensão e insegurança.

A maga o olhou, ele realmente queria saber disso?

                — Como assim “coisas com o Natsu”? — falou intrigada — Não existem “coisas com o Natsu” que não seja amizade e... – ela buscou olhar para os lados, buscando alguém para mudar de assunto, mas, como imaginado, não havia ninguém além dos dois. Suspirou.

Quem manda falar demais?

                — E...? – Gray insistiu.

                — E eu gosto de outra pessoa.  – Corou. Uma vergonha subiu as orelhas de Lucy, como se ela tivesse acabado de assumir um crime.

                Mas talvez fosse. Quem mandou ela se apaixonar por um companheiro de equipe?

Ele procurou olhar os olhos delas e tentou dizer algo, porém hesitou novamente.

— Quer me falar algo? — perguntou Lucy desconfiada, já procurando um lugar na cama para se sentar. Seu rosto ainda tentava controlar a cor avermelhada que tonalizou sua pele.

— Eu estive pensando. — o mago começou — Se você fosse uma fada, você seria a da neve.

Lucy ainda estava confusa, mas não o interrompeu.

— Você pode ser calma e bela, a melhor pessoa para se brincar, ou, pode ser rigorosa e temida. Você tem um sorriso acolhedor e quente, que encanta a criança que viu pela a primeira vez um floco caindo e derretendo. Você às vezes se acha fraca como uma pequena bola de neve no meio de uma guerra, mas nem imagina o quão forte é; como uma tempestade que castiga os desprevenidos.  Além de ser bela, claro. E se você quer mesmo saber, eu amo neve.

Lucy estava chocada, mas seus lábios mostravam um sorriso tão alegre e bobo que disfarçava a confusão que se passava em sua mente. Ela queria se aproximar, aninhar-se naquele corpo frio que emitia no momento um calor tão gostoso. Queria ter o toque daqueles lábios suaves nos seus, queria que aqueles braços fortes lhe apertassem, e queria repousar naquele peito nu.

Queria ter coragem para isso.

— Gray eu... — abaixou a cabeça procurando por palavras.

Melhor dizendo, ela tinha palavras, só não sabia como dizê-las.

E ele estava atento, esperando qualquer palavra ou demonstração de que era correspondido.

— Bem... — ela brincava com os dedos sobre o cochão — Se quer mesmo saber, eu gostaria de ser, unicamente, a SUA fada da neve. — ela disse sorridente, erguendo a cabeça.

Por mais surpreso que estivesse não podia esperar mais. Acariciou o rosto da loira enquanto ela fechava os olhos, apreciando o friozinho que emitia da mão do rapaz.

Colocou a mão sobre a dele quando foi surpreendida por um selar de lábios, que logo se tornou num beijo.  Naquele momento, o tempo parou.

Somente os dois.

O momento dos dois.

Lucy mantinha uma das mãos no rosto do garoto enquanto a outra estava pousada nas costas desnuda do mesmo. Já a mão do rapaz percorria as costas da garota.

Da sua garota.

Então o tempo retornou, sugando o ar dos dois, fazendo-os se separarem contra a vontade.

Foi então que a loira tomou coragem e o abraçou. Envolta daqueles braços grandes e frios, ela se sentiu aquecida. Ele afagou seus cabelos, mal conseguia controlar a felicidade que corria pelo corpo. O garoto se encostou à cabeceira da cama, e a garota ficou aninhada em seu peito.

Era o suficiente para os dois.

Aquela noite, Lucy não dormiu tão cedo, tanto ela quanto Gray. Ambos não continham de felicidade, um ao lado do outro naquela noite de verão.

Ambos esperando que a neve chegasse logo, para apreciarem juntos.