Existem poucas pessoas neste mundo capazes de me abalar tanto, tanto quanto você. Acabei de perder uma miserável noite de sono com o coração em chamas e os olhos a ponto de extravasar o fogo preso no meu peito. São seis e algo da manhã e aqui estou, quebrando em cacos afiados todos os meus conceitos, tudo aquilo em que acredito. Agora eu entendo de fato quando dizem tais atrocidades a respeito do amor.

Onde está você? O que faz a essa hora? Você se prepara neste momento para mais um mergulho na metrópole infinita que é seu lar? Imagino que sim. Como tem ido? Com o que sonhou? O que sente agora? Está feliz? Gostaria eu de ter coragem para fazer todas essas perguntas. Algo me impede. As circunstâncias. Os fatos. Eu mesma.

Nenhum de nós sabia no que ia resultar. Eu nunca esperava que minha vida tomasse as formas do agora. Tão reais, tão novas, tão enérgicas. Eu não sabia nem mesmo quem era. E há tantas coisas que quero descobrir sobre você. Sobre nós. Isso se existir algum "nós".

São os artistas sentenciados a viver assim?

Não odeio a dor da saudade. Não rejeito o incômodo desejo. Não afasto o fantasma da melancolia. Não temo meu lado escuro, porque, apesar de me machucar, ele é parte de mim. Cortá-lo fora seria suicídio, pois preciso dele em alguma medida. Gosto de sua presença, mesmo que assustadora. Sofrer não é de todo mau. Faz com que eu me sinta viva. E cansei de estar morta.

Escrever neste momento assumiu seu papel de maldição. É como se eu fosse infartar caso largasse a caneta antes do verdadeiro fim. Espero pelo amanhecer no silêncio, solitária, com tantas interrogações na mente quanto imagens por trás dos olhos. Imagens de um universo que por pouco não foi meu também, que me escapou pelos dedos como água. Um lugar do qual o destino me tirou sem dar respostas, ao qual quase pertenci.

Peço desculpas por não ter feito o suficiente. Por ter matado suas, minhas, nossas esperanças. Por ter sido cruel, sarcástica, egoísta, fria, dura, distante, por não ser quem você precisava que eu fosse. Pela minha covardia, pelo peso que você carrega tendo um espaço para mim em sua vida. Peço desculpas até pelo que não é de fato culpa minha. Não espero que você entenda, nem que me perdoe. Não é necessário. Eu só queria ter dito. Não me compreenda.

Obrigada. Obrigada por sua luz, por sua calma temerosa, por sua presença tranquila. Obrigada por ser quem você é, com todos os efeitos que me causa, com todos os defeitos que te acompanham. Obrigada por ter surgido tão de repente, por me confortar, por estar vivo.

Sei que talvez você nunca saiba. Não tem problema. Mais uma vez, eu só queria ter dito.

A noite terminou faz tempo. E não consegui dormir.