Ele E Ela escrita por Maitê


Capítulo 23
Morta




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– Tá... Tudo bem, não tem problema. – Miguel disse meio sem jeito, não se sentia nenhum pouco confortável perto daquela garota.
– Ansioso para o jogo? – Rachel perguntou ainda sorrindo, mas tinha alguma coisa diferente.
Miguel franziu o cenho, desconfiando da atitude de Rachel.
Ela nunca tinha se puxado assunto com Miguel antes, pra falar a verdade, ele tinha certeza de que Rachel o achava um grande panaca. Aquilo não mudava sua vida, nem o afetava. Ele só queria saber o porquê dela estar sendo tão simpática agora.
– Não.. Na verdade to bem. É ... eu já vou indo tá? Tchau. – deu as costas, mas antes que pudesse se afastar ouvir Rachel falar:
– Maria não veio?
Ok, ela estava aprontando alguma. Por que perguntar de Maria, e ainda mais depois de ontem. Miguel olhou para ela novamente, em parte irritado e em parte confuso.
– Não, ela não pôde vir hoje. Por que?
– Ah nada, eu só queria me acertar com ela.
O sangue subiu a cabeça de Miguel, cada palavra que ela dizia parecia emanar veneno no ar. Mas antes que pudesse responder, foram interrompidos pelo reclamar de uma voz feminina.
– Ai! Você me machucou sua maluca!
Miguel olhou em volta, até que pode ver uma das líderes de torcida que andavam com Rachel no chão e Brooke em pé ao seu lado com um celular na mão.
– Sua vadia! – Brooke gritou para a garota, aparentemente irada.
Naquele momento Miguel teve certeza que algo errado estava acontecendo, e Brooke já sabia o que era.
– O que tá acontecendo? – sussurrou mais para si mesmo.
Rachel não olhava para ele, sentia o rosto quente de raiva. Brooke, sempre Brooke. E ao ver a prima se aproximando com o celular na mão, aquele cabelo rosa ridículo, aquela saia longa preta e a blusa curta, os anéis, os brincos e pulseiras. Era tudo tão mais interessante do que qualquer coisa que pudesse usar um dia, naquele momento ela se deu conta mais uma vez do quanto Brooke Davis era a imagem do perfeição; do quanto era linda. E sua raiva e inveja atingiram níveis máximos.
– Olha isso! – Brooke disse zangada estendo o celular para Miguel.
Rachel bem que tentou impedir que ele o pegasse, mas sentiu a prima a empurrando e logo o celular estava nas mãos de Miguel.
Ele ficou encarando o conteúdo das mensagens que tinham acabado de serem enviadas.

“Pensei que ele fosse seu namorado.”

“ Vocês não viviam grudados? Parecia que ele gostava de você.”

“ Parece que a Rachel é mais interessante.”

E por último, uma foto enviada. Rachel segurando os pulsos de Miguel, toda sorridente. E ele a segurando pelos braços, olhando para ela. Olhando de fora, pareciam amigos de abraçando ou caminhando para isso.
– Miguel você tem que ir atrás da Maria agora. – Brooke disse alarmada.
Mas ele não ouviu muito bem, continuava encarando a foto e todas as mensagens. Como alguém poderia ser tão cruel? Levantou o olhar, e encarou Rachel.
– Por que?
Claro que ela não respondeu, era covarde demais para isso.
– Miguel. – Brooke chamou, ficando na frente dele e tirando o celular de suas mãos. – Não importa o porquê, você tem que ir atrás dela agora! Essa foto pode resultar num desastre.
Brooke sabia de tudo, sabia o quanto Maria era sensível e sempre prestes a um colapso. Mas Miguel não sabia.
– Desastre?
Brooke até que tentou responder, mas foi interrompida pela risada de Rachel. Os dois a encararam espantados.
– Ele ainda não sabe?!! – Rachel perguntou entre risadas, tomava ar e quando enfim parou de rir, soltou seu veneno. – Sua namorada é uma louca que corta os pulsos Miguel Collins.
Miguel olhou para Brooke com os olhos arregalados, desejava com toda força que a amiga dissesse que aquilo era mais uma das mentiras de Rachel. Mas Brooke nem mesmo olhou para ele, era verdade.
– Você era o único que não sabia?! – Rachel perguntou, e logo voltou a rir.
Brooke estava zangada, e decepcionada com Rachel a muito tempo. Não eram próximas a muito tempo, mas continuavam sendo primas. E quando eram crianças, Rachel era sua melhor amiga. Como foram tomar caminhos tão diferentes? Como Rachel se transformou nesse monstro egoísta, será que ela não pensa que pode acabar matando Maria?
– Chega! – gritou com força, calando Rachel imediatamente.
Miguel estava atordoado demais para se assustar com o grito de Brooke, mas sentiu suas mãos em seus rosto fazendo com que a olhasse.
– Esse é o segredo. Ela tem problemas sérios Miguel e você é o único que pode ajudá-la agora. Você tem que ir até a casa dela e ajudá-la, entendeu?! – os olhos de Brooke continham medo, ele nunca tinha visto isso antes.
Ele não conseguia se mexer, por mais que quisesse sair correndo dali. Tinha medo do que poderia esperá-lo.
– Miguel, se você não for agora.. Pode perde-la pra sempre. – Brooke disse firme, pondo a chave de sua picape na mão de Miguel.
Nada mais importava. O jogo, o que Rachel tinha dito, o fato de Maria não ter dito a verdade a ele. Aquelas coisas eram insignificantes agora. Ele não iria perde-la, de jeito nenhum.
Sem pensar duas vezes, correu em disparada para fora dali. Podia ouvir ao longe o barulho da torcido que o estava aguardando. Mas o que falava mais alto em sua cabeça era a voz de sua Flor, sem ela o que seria da vida dele?
Corria tão rápido pelos corredores vazios do colégio que era quase como se voasse por ali. Empurrou as portas de entrada com força e correu pro estacionamento, eram tantos carro naquele lugar que o deixaram confuso.
Levou as mãos a cabeça, olhando para todos os lados. Seu coração estava apertado e batia forte no peito, a respiração estava acelerada e a mente completamente confusa. Muitas vozes em sua cabeça, muitas coisas que ele deixou escapar, tanta coisa que ele poderia ter feito para ajudá-la....
Tentou se concentrar, sabendo que se perdesse tempo ali poderia não chegar a tempo. Ele sentia que algo estava acontecendo, sentia seu coração ligado ao dela e por isso estava tão angustiado. Sua flor estava morrendo! Ele podia sentir em cada célula de seu corpo.
Respirou fundo e olhou novamente até encontrar a picape vermelha.
Correu até ela e logo estava lá dentro, apertou os dedos em volta do volante. Estava com medo, suas mãos tremiam. Era demais, aquilo tudo. Mas não importava. Tudo o que importava era Maria Flor e somente ela.
Deu a partida no carro, pedindo a Deus que não fosse tarde demais.

(.......)

Nada.
Era assim que Maria se sentia, um grande nada. O celular estava no chão, ela estava no banheiro em frente ao espelho encarando seu reflexo.
Não sentia mais vontade de chorar, não sentia mais nada. A única imagem em sua cabeça era a foto que tinha recebido minutos antes no celular, Miguel e Rachel.
Eles tinham terminado a um dia. Hoje era o dia do grande jogo, ele precisaria de alguém para lhe dar apoio não é? Rachel estava lá.
Tinha chegado a hora. Ela tinha vivido durante todo esse tempo na esperança de que um dia seria feliz novamente. Que iria superar a dor gigantesca de ter perdido sua mãe e irmão. Que um dia não choraria mais por sentir tanta saudade dos dois. Ela tinha esperança de que um dia o pai pedisse desculpas, só isso bastaria para que ela se esforsace mais para manter a paz.
Miguel era sua felicidade.
Agora que ele não estava mais ali, porque ela deveria existir?
Por que deveria continuar tentando todos os dias? Por que só ficar aliviando a dor, se ela voltaria novamente?
Acabaria com a dor, acabaria com tudo.
Ficou de joelhos e abriu uma das gavetas a baixo da pia, afastou os produtos de beleza até encontrá-la. Porque Maria sabia que ela estaria ali, e estava. A lâmina reluzente estava bem ali, no fundo da gaveta, esperando por ela.
Sentou-se com a lâmina nas mãos. Sentiu vontade de chorar, e chorou porque aquela seria a última vez.
Era um misto de emoções. Sentia medo. Sentia felicidade porque enfim veria sua mãe e seu irmão novamente. Sentia tristeza porque sabia que Berta e Brooke ficariam tristes. Sentia confusão, será que seu pai sentiria falta dela? Sentia alívio por não ter mais que ir a escola e ver Rachel e todas aquelas pessoas que a julgavam novamente. Mas acima de tudo, sentia desespero porque nunca mais veria Miguel novamente.
Mas ela precisava fazer, precisava acabar com tudo aquilo. Porque ela demais... Ela não aguentava mais.
Com as mãos trêmulas afastou as mangas do roupão de banho que ainda usava. Posicionou a lâmina em cima de seu pulso esquerdo, torcendo para ter força de acabar com tudo de uma vez.
Ela teve força.

(.........)

Miguel estacionou a picape em frente a casa de Maria e imediatamente saiu e correu em direção a porta. Seu coração estava tão apertado que mal conseguia respirar.
Bateu na porta com força várias vezes até que Berta a abriu alarmada.
– Miguel? – perguntou espantada ao vê-lo ali vestido com o uniforme do time.
Ele nem esperou um convite, entrou na casa e olhou ao redor esperando ver Maria em algum canto.
– Cade a Maria Berta?!
– Está no quarto, ela não saí de lá a quase dois dias.
Nem esperou Berta terminar de falar, subiu as escadas correndo e parou em frente a porta do quarto de Maria. Forçou a maçaneta, mas estava trancada. Encarou a porta branca, chamava o nome de Maria, mas não obtinha resposta.
– Miguel o que está acontecendo?! – Berta perguntou quando enfim chegou ao topo da escada.
Não tinha outro jeito, teria de arrombar. Deu alguns passos para trás e com toda força se lançou contra a porta que abriu com um baque. Ouviu Berta gritando, mas não ligou para isso, nem para a dor que sentia em seu ombro. Maria não estava em canto algum, viu o celular no chão e sabia que ela tinha recebido as mensagens. A cama estava desarrumada, algumas roupas no chão... e a porta do banheiro estava aberta.
Miguel correu para lá, mas parou. Tomado pelo horror, pelo medo e desespero absoluto.
Maria estava caída no chão, os olhos fechados. Pálida, sem vida. Os pulsos cortados, o sangue escorrendo pelo chão.
Ela estava morta.


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Notas finais do capítulo

Não me batam por favor, lembrem-se que esse não é fim ainda!
Obrigada a todos que comentam e recomendam, vocês me fazem muuuito feliz *-*
Beijo beijo, que Deus abençoe!