Ele E Ela escrita por Maitê


Capítulo 20
Completa ruína


Notas iniciais do capítulo

Eu voltei *--*
Nos falamos lá embaixo!



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Aquela foi uma das piores noites da sua vida, com toda certeza. Depois de ter sido expulsa do time de torcida e desabado na frente de Miguel ,tudo à sua frente se tornou um grande borrão. Ela só sabia dizer que ele a tinha levado para casa e passado muito tempo ali, seus olhos eram preocupados e ele sempre perguntava o que tinha acontecido.
Maria não consegui responder, sua voz parecia estar presa na garganta. O que poderia dizer? A verdade, é claro. Mas dizer a verdade era difícil demais.
Depois de horas, Berta finalmente mandou Miguel ir para casa. Se sentou ao lado de Maria na cama e fez carinho em seu cabelo, do mesmo jeito que fez na noite em que Rosie morreu. Maria permaneceu em silêncio, encolhida no colo da empregada que sem querer tinha se tornado sua mãe.

Às onze da noite, Maria Flor pegou no sono. Mas acordou no meio da noite graças a um pesadelo, onde ela aparecia no meio de um circulo de pessoas. As pessoas que a amavam, mas olhavam para ela de uma forma tão diferente. Era quase como se sentissem horror a ela. Horror da verdade que ela carregava nos pulsos.
Ao acordar Maria se deparou com o teto, e seu quarto escuro. Sozinha, era a oportunidade perfeita pra pensar. Tudo tinha corrido bem por muito tempo, esse jogo de aparências tinha funcionado por anos de forma satisfatória. Mas agora tudo estava ruindo, não tinha saída. A verdade iria aparecer, de uma forma ou de outra.
Era assustador. Mas o pior é que Maria nunca pensava nela mesma, nos males que lhe atormentavam. Ela só conseguia pensar nos outros, no que os outros iam pensar, no que iam fazer ou dizer. Mas por que isso era tão importante?
A resposta é simples, Maria não tinha um pingo de amor por si mesma. Mas obtinha uma capacidade de amar gigantesca.
O dia amanheceu e com ele veio a raiva, Maria havia se transformado em uma montanha russa de emoções. Consequência de tudo o que vinha fazendo consigo mesma.
No momento sentia uma raiva gigantesca de Brooke. Por que ela tinha contado para treinadora? Por que?! Ela tinha dito que não contaria a ninguém.
Maria queria gritar, queria quebrar alguma coisa. Até bater em alguém, só não queria ficar parada esperando que Booke contasse seu segredo a mais alguém.
Antes que contasse à Miguel.
Pulou da cama e se vestiu rapidamente, não vestir o uniforme do time foi muito estranho. Mas estava com tanta raiva que nem pensou nisso, tomou um banho rápido. Vestiu jeans e camiseta, calçou uma sapatilha e nem ao menos se lembrou da tão necessária maquiagem.
Desceu as escadas correndo e nem prestou atenção se Berta já estava ou não. Dirigiu feito uma bala para o colégio, quando chegou ao estacionamento viu poucos carros parados e pessoas circulando. Ainda estava cedo, mas Brooke tinha hábito de chegar cedo. E hoje não tinha sido diferente.
A picape vermelha estava estacionada ali, na mesma vaga de sempre. Brooke também estava no mesmo local de sempre, encostada no carro com um livro aberto em mãos.
Ao ver a menina de cabelos cor de rosa, a visão de Maria ficou turva pela raiva. Saiu do carro sem nem pegar a bolsa, enfiou as chaves no bolsa e bateu a porta com força. Se dirigiu até a picape à passos largos e barulhentos, o que chamou a atenção de Brooke. Que se surpreendeu ao ver a amiga de jeans e camiseta.
– Nossa, como você está diferente. - disse sorridente..
Antes de sentir o peso da mão de Maria contra seu rosto. Se apoiou no carro meio tonta, não pela força do tapa. Mas sim pela surpresa de ter levado um tapa de Maria, sua melhor amiga e nem saber o porquê.
– Você não podia ter feito isso comigo Brooke! - Maria gritou à plenos pulmões atraindo a atenção dos poucos estudantes que já estavam ali.
– Feito oque? - Brooke rebateu com a mão no rosto. Não queria sentir raiva de Maria, mas era tão difícil..
– Não se faça de inocente Brooke! - esbravejou ao apontar o dedo para Brooke - Você sabe muito bem do que estou falando!
– Não, eu não sei! Você por acaso enlouqueceu?!! - Brooke agora gritava, até mais alto que Maria. Estava tão zangada com ela agora.
– Eu fui expulsa do time por sua causa! - Maria respondeu aos prantos e levou as mãos até o peito.
A raiva de Brooke desapareceu de modo instantâneo. Alguma coisa de muito grave tinha acontecido e um mal entendido enorme estava acontecendo. Mas a tristeza estampada no rosto rosto de Maria era maior do que tudo aquilo, e quando você realmente ama alguém a vontade de cuidar supera qualquer outro sentimento.
– Maria eu não fiz nada!
– Claro que fez, você era a única que sabia! - Maria rebateu com tanta raiva na voz, raiva e tristeza. Um turbilhão de emoções, uma bomba relógio pronta para explodir.
Prestes a explodir...
– Sabia do quê? - a voz de Miguel surgiu de repente.
Ao estacionar o fusca ao lado do porshe de Maria ele pôde ouvir os murmúrios de um amontoado de pessoas encarando duas garotas. Mas espera, aquelas garotas eram sua melhor amiga e sua namorada. E as pessoas ao redor delas diziam que Maria tinha acabado de dar um tapa em Brooke. Ele achou que fosse loucura, mas ao se aproximar viu Brooke apoiada na picape com a mão no rosto e Maria chorando com o dedo na cara da outra garota. Elas estavam brigando, era claro, mas por que?
Quando Miguel se aproximou as duas ficaram em silêncio completo. Nenhuma das duas olhou para ele, se encaravam como que tentando achar uma solução.
Brooke olhou para ele e disse firme:
– Nada, não sabia de nada. E não está acontecendo nada.
– Se não está acontecendo nada por que todo mundo nesse estacionamento está olhando para vocês duas esperando que uma ataque a outra? - perguntou Miguel a encarando sério.
Maria permanecia imóvel, continuou olhando para Brooke. Não podia olhar para ele agora, contar a verdade seria a única saída. A melhor saída, ela sabia disso. Mas a verdade iria acabar com tudo. E ela não queria que aquilo acabasse.
– Por que você não conta logo a verdade Maria?
Aquela voz não era de Brooke, muito menos de Miguel. Era a voz de Rachel, mas por que ela estava falando em verdade se ela nem ao menos sabia da....
Mas é claro que sabia.
Como num clique Maria percebeu tudo, pôde olhar toda aquela situação como alguém que observava. Não tinha sido Brooke, foi Rachel. Ela de algum modo tinha descoberto tudo e contado a treinadora.
Brooke também juntou as peças, mas não soube o que fazer. Se sentia sem forças, como sua própria prima. Uma garota que tinha crescido e brincado de boneca com ela poderia ser tão má? Encarava Rachel com os olhos arregalados.
Já Miguel olhava para as três garotas, Maria de cabeça baixa e punhos cerrados. Brooke olhando para Rachel ,que estava bem atrás de Maria. Vestida com seu uniforme de torcida, os cabelos soltos moldavam seu rosto. Sorria, parecia vitoriosa...até tomar um soco de Maria.
Foi tudo muito rápido, em um minuto Rachel estava sorrindo e no outro estava no chão com as mãos sobre o rosto e gemendo de dor. Ninguém soube o que fazer, o silêncio tomou conta do estacionamento. Brooke encarava a prima no chão, e Miguel encarava Maria espantado. Quem iria esperar que ela fosse fazer algo assim?
E no minuto seguinte, Maria se sentia desesperada por ter feito aquilo. Como fez aquilo? Quando deu um soco no rosto de Rachel? Nem ela sabia explicar... Olhou em volta, e viu olhares espantados sobre ele e alguns outros se concentravam na dor de Rachel.
Mas ninguém moveu um dedo para ajudar.
Não consegui falar nada, e o que poderia fazer para ajudar se ela mesma tinha provocado a confusão?
Então fez o de sempre: fugiu.
Todos abriram caminho para ela passar correndo, quando Maria se trancou no carro Rachel ainda estava no chão, Brooke estava ajoelhada a seu lado falando alguma coisa. Mas ninguém dava atenção aquilo, todos a encaravam. E mesmo com os vidros ecuros do carro, Maria sentia como se pudessem vê-la. Julgá-la. Por isso pisou fundo no acelerador e saiu dali. Pensava em Rachel, será que tinha se machucado muito? Como pode deixar a raiva tomar conta de si? Como perdeu o controle daquela forma?
Controle era uma coisa que ela não tinha mais, e só naquele momento percebeu o quanto o considerava importante, o quanto precisava dele.
Dirigia sem rumo, sentia como se toda a cidade já soubesse do que ela tinha feito. E se saísse do carro, todos iriam julgá-la. Maria não queria olhos sobre ela, não queria encarar a verdade que poderia encontrar dentro deles.
Apertou os dedos em volta do volante, e chorou até a vista ficar embaçada por conta das lágrimas. Parou o carro no acostamento e encostou a testa no volante.
Como a vida pode mudar tão rápido?
Buscava alguma coisa que pudesse explicar seu comportamento. Mas ela já sabia, aquilo era só mais uma das consequências da bulimia e da automutilação. Sua mente e seu corpo clamavam, imploravam por socorro. E aquela era a forma de chamar atenção. Não ter controle sobre seu próprio corpo é assustador caros leitores.
Maria levantou a cabeça e olhou adiante, não queria ir pra casa e ficar com Berta. Pensou em ir ao cemitério e passar um tempo com sua mãe. Mas aquela altura, Rosie deveria estar com muita vergonha da filha, aonde quer que estivesse.

(.........)

Já eram três da tarde, ela estava ali desde manhã. Sozinha, na companhia do vento e de seus próprios pensamentos.
A quadra velha de basquete era um lugar que Miguel tinha apresentado a ela tempo atrás. E desde aquele dia, aquela quadra tinha se tornado uma espécie de refúgio. No momento ela estava sozinha, mas pôde ouvir o som do motor do fusca sendo desligado.
As vezes nós podemos sentir o fim chegando até nós, mas naquele momento ela o ouviu.
Depois ouviu a porta do carro sendo batida com força. Um sinal claro de que Miguel estava zangado, um sinal claro que o fim estava bem ao seu lado. Sorrindo para ela e esperando para poder enfim pegar sua mão.
Miguel a viu logo que saiu do carro, ela estava sentada na arquibancada. Não olhou para ele nenhuma vez. Era estranho, porque sempre que a via tinha vontade de sorrir. Mas agora ele só queria gritar. Andou lentamente até estar de frente para ela.
Maria sabia que teria que olhar para ele, sabia que teriam de conversar. Só não estava pronta pra isso.
–Eu...- ela começou ainda sem olhá-lo.
– Oque aconteceu hoje? - ele a interrompeu, com a voz tão fria que por um momento ela se esqueceu de aquele era Miguel, seu Miguel.Teve que olhá-lo para ter certeza de que era ele mesmo.
Era Miguel. Mas estava diferente, tão distante.
Ela abriu a boca para falar algo, qualquer coisa servia. Mas nada saiu. Isso só fez Miguel ficar mais impaciente, suspirou e passou as mãos pelo cabelo.
– Eu já sei que você tem um segredo, um segredo bem grande Maria e também sei que as chances da Brooke saber desse segredo ai são muito altas. Por isso eu preciso saber!
– Você não pode Miguel...- Maria estava cansada, de guardar segredos e de não ter coragem para revelá-los.
– Oque?! Eu não posso? Por que a Brooke pode, e eu seu namorado não?
– Porque ela descobriu sozinha, e você não! E eu não tenho coragem de...- não conseguiu completar a frase porque se viu chorando novamente, cobriu o rosto com as mãos para não ter de encará-lo.
– Eu to cansado disso! - ele falou com a voz mais alterada - Eu sou a pessoa mais próxima de você e provavelmente uma das que mais te ama e você fica ai escondendo coisas de mim!
Uma coisa chamou sua atenção e a fez encarar Miguel e se levantar do banco.
– Ama?
– Claro que amo! - Miguel parecia tão cansado, tão triste e o coração de Maria se partia mais uma vez por saber que ela era o motivo daquilo. - Mas não importa.
Dizendo aquilo, Miguel deu as costas e foi a passos largos de volta ao carro.
O que aquilo significava? Maria foi correndo até ele e gritou:
– O que isso quer dizer?
Miguel se virou e falou de uma vez.
– Quer dizer que acabou Maria.
Foi como tomar um soco bem no meio do estômago.
– Oque? Não não Miguel. - olhava para ele com os olhos arregalados,pegou sua mão a trazendo para o seu peito.- Você disse que me ama, disse!
– E do que adianta? - puxou a mão de volta, deixando-a despedaçada. - Você não é verdadeira comigo Maria. Como posso ficar do seu lado assim?
– Mas eu vou ser! Prometo que vou ser! - disse depressa tentando pegar a mão dele de volta.
– Então me conta o que você esconde esse tempo todo.
Por uns segundos realmente pareceu que ela ia falar... Mas não falou.
Foi covarde. E por isso viu a decepção nos olhos de Miguel. Sentiu como se estivesse morrendo quando ele deu as costas e foi embora no fusca azul.
E teve a certeza de que estava morta, da mesma forma que teve certeza de tinha perdido a única coisa que lhe restava nessa vida.
Seu amor. Seu Miguel...


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Notas finais do capítulo

Oi gente, eu sei o quanto vocês devem estar bravos e chateados comigo. Eu dou razão a vocês, passei muito tempo sem aparecer e por isso muitos pensaram que eu abandonei a ficc. Mas não! Eu não abandonei, porque essa história merece ter um final. Passei por uma fase muuuuuito difícil, mas estou me recuperando e voltei para trazer mais de Miguel e Maria. Espero que gostem e que me perdoem. Sei que por mais desculpas que eu dê, muitos ainda estarão zangados. Mas perdoar é um dom e espero que me perdoem! kkkk, Bom, deixem seu comentário com sua opinião ou crítica e aguardem pelos nossos últimos capítulos!

P.S. Tenho pensado em futuramente escrever uma ficc com a Brooke como protagonista, o que vocês acham meus leitores?

Beijo beijo :3