Ele E Ela escrita por Maitê


Capítulo 19
Começo de ruína


Notas iniciais do capítulo

Estamos entrando em reta final gente ):



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- O que você vai fazer agora? - Maria perguntou com a voz embargada.

- Eu não sei ... - Brooke suspirou enquanto colocava a última pulseira no pulso direito de Maria.

Ainda estavam no banheiro feminino, tinham perdido as aulas que começavam depois do almoço. Mas não importava.. Ainda não tinham se recuperado, na verdade era como se estivessem anestesiadas, mas a dor ainda estava ali.

Maria Flor estava sentada sobre a bancada da comprida pia do banheiro, Brooke estava a sua frente. A arrumava para que ninguém notasse que na verdade ela estava em cacos.

As pulseiras que antes estavam espalhadas pelo chão, agora estavam nos pulsos de Maria como se nunca tivessem sido tiradas dali. Cobriam a verdade que ninguém poderia imaginar, muito menos Miguel.

Miguel... Só de pensar em seu nome, e no segredo que teria de esconder por seilá quanto tempo, o estômago de Brooke embrulhava.

- Eu não vou poder guardar esse segredo por muito tempo Maria, eu e Miguel não temos segredos um com o outro. E se algo acontecer... - não teve nem mesmo coragem de concluir a frase.

Maria sabia muito bem o que ela queria dizer, e sabia que não ia poder obrigar Brooke a manter um segredo como aquele. Que nem ao menos era dela. Teria de contar a verdade, mas como? Era o fim da linha..

- Eu sei..

- Você vai contar a ele ou prefere que eu conte? - Brooke perguntou enquanto limpava as manchas pretas de rímel do rosto de Maria com um pedaço de toalha de papel.

- Eu tenho que contar, ele tem que ouvir isso de mim. Mesmo que depois tudo esteja acabado. - sentiu seus olhos se encherem de lágrimas só de pensar nisso.

- Ele não vai te deixar. - Brooke disse firme.- Miguel Collins não é assim ,ele é um cara durão. E vai aguentar essa, junto com você. - disse olhando dentro dos olhos verdes de Maria.

- Eu não acredito nisso Brooke..

- Eu sei... Quando você vai contar?

- Eu não sei ,ele está nervoso com a apresentação do trabalho de Inglês e no domingo ele tem o primeiro jogo da temporada. Se eu contar agora, posso estragar tudo pra ele..

- Então vamos esperar até segunda, depois disso você vai contar. Se eu mesma faço isso. - Brooke se afastou e jogou o papel sujo na lata de lixo, chegou perto de Maria novamente para arrumar seus lindos cabelos, o olhar dela era perdido. Sem vida.

- Quando você disse que o amava, você estava falando sério?

- Como nunca na vida. - Maria olhou para Brooke, queria que ela acreditasse. Queria que alguém acreditasse. - Ele é tudo que tenho Brooke, é minha única esperança.

Brooke abraçou Maria com força, desejando que pelo menos um segundo pudesse livrar a amiga de tanta dor.

- Vai ficar tudo bem Maria, segunda contamos tudo para ele. E ai ele e eu vamos te ajudar.

Maria Flor deitou a cabeça no ombro da amiga e permitiu que as lágrimas rolassem por seu rosto ,ao perceber que não tinha certeza de nada. E que talvez as coisas não ficassem tão bem assim.

E realmente não ficariam ,não com facilidade..

(.....)

- Maria? - Miguel chamou pela quinta vez, e nessa Maria finalmente despertou de seu transe.

- Oi! - ela respondeu num sobressalto.

- Tava em que planeta minha Flor? - Miguel estendeu a mão sobre a mesa para poder alcançar a dela e entrelaçar seus dedos.

Maria sorriu, desesperada para mudar de assunto. Na verdade estava pensando em que reação Miguel teria ao saber da verdade, e como seria se fosse Brooke a contar tudo a ele. Só de imaginar, um frio lhe corria pela espinha.

- Se trabalho pra amanhã já está pronto? - ela perguntou mudando de assunto.

- Já, e o seu?

- Também. - ela baixou os olhos pros livros abertos a sua frente.

Os dois estavam sentados em uma mesa do lado de fora do colégio, o sol já estava se pondo, deixando o céu num tom estranho de cor de rosa. O tempo estava abafado, mas era agradável. E mesmo com todas essas coisas ao redor, Maria não conseguia relaxar nem por um segundo.

- Está tudo bem? - Miguel perguntpu franzindo a testa.

- Está. Tudo em ordem. - ela levantou o olhar para ele e sorriu novamente.

Miguel pensou em questionar, mas decidiu ficar quieto.

- Eu posso te fazer uma pergunta?

- Claro. - ela respondeu com medo da tal pergunta.

- O que fazia você feliz... Depois da morte do seu irmão e depois da sua mãe?

- Ah ... - o alívio tomou conta dela, mas só por uns instantes. - Eu ficava muito tempo com a Berta, a gente conversava muito sobre outras coisas. Então eu não pensava muito no que tinha acontecido, pelo menos enquanto a Berta estava falando. Quando ela ficava em silêncio ,tudo o que eu conseguia pensar era que nunca mais os veria de novo.. - Maria olhava pro nada, lembrando de como foi difícil do início. - Depois eu entrei pras líderes de torcida e me senti mais feliz, eu sou boa e amo o que faço. Até hoje ,animar os jogos é uma maneira de esquecer um pouco.

- Entendo ... - ele disse concentrado enquanto fazia anotações no seu caderno.

- Por que a pergunta?

- É que as vezes você não me parece muito feliz. - respondeu sem olhar para ela.

E realmente era assim, Maria percebeu que Miguel sabia de mais coisas do que aparentava. Talvez não fosse tão ruim quando ela contasse a verdade não é? Talvez ele a entendesse.. Era difícil acreditar, mas Miguel vivia falando que ela precisava ter mais fé. E certa vez ele leu para ela uma passagem na Bíblia que dizia que a fé era a certeza das coisas que se esperam, então, ela dizia a si mesma para ter fé.

- As vezes alguns fantasmas volta pra me assombrar, mas isso passa. Quando você tá perto as coisas ficam melhores. - ela disse com sinceridade, fazendo com que ele a olhasse e um sorriso se formasse por seu rosto, o sorriso mais lindo do mundo.

- Você também me faz feliz minha Flor, muito mesmo.

Maria se levantou e foi se sentar ao lado dele, ficaram assim ,aconchegados um ao outro pelos próximos quinze minutos. Se beijavam ,abraçavam, diziam palavras de carinho e davam risada juntos. Os corações dos dois inflavam quando tinham o outro por perto.

Eles eram o ponto de paz um do outro.

Às quatro e quinze, Maria teve de ir para o treino. Miguel iria ficar esperando ali, depois iriam encontrar Brooke no Tacos do Joe.

Maria sabia que iria ter de comer pelo menos um mini taco na frente de Brooke, e já estava se preparando para isso. Olhando pelo lado bom, ela iria fazer uma boa maratona de exercícios no treino, isso iriam compensar as calorias não é mesmo?

As meninas já estavam todas prontas em quadra, o que a fez pensar que estivesse atrasada. Correndo, deixou sua bolsa na arquibancada, mas antes que pudesse voltar e se alongar com as outras. Rachel se aproximou com os pompons em mãos, era toda sorrisos e rebolado.

- Maria, a treinadora que falar com você antes do treino.

- Falar comigo? O que ela tem pra falar comigo?

- Só indo lá pra saber. - Rachel deu de ombros e saiu dando pulinhos pela quadra.

Alguma coisa estava acontecendo, e Rachel estava envolvida até o pescoço.

Maria respirou fundo e pegou sua bolsa. A pendurou no ombro e saiu da quadra, a sala de treinadora Sue ficava num corredor entre a quadra e o vestiário das meninas.

Maria Flor bateu na porta e ouviu um "entre" vindo de lá de dentro.

Quando entrou, encontrou a treinadora Sue sentada em sua cadeira de couro. A sala era toda decorada com prateleiras cheias de medalhas e troféis de toda a carreira como treinadora. Sue Williams era uma mulher solitária, e durana. Toda sua vida e todo seu orgulho estavam resumidos naquela sala.

E no momento sua cara não era das melhores, era como se ela não soubesse o que tinha de dizer. Era alguma coisa muito grave.

- Rachel disse que a senhora queria falar comigo. - Maria disse tentando aparentar tranquilidade.

- Sente-se Maria.

Maria obedeceu, por mais que tentasse achar uma posição confortável, era impossível. Pois o desconforto estava dentro dela mesma.

- Treinadora, o que está acontecendo? - perguntou dessa vez mais nervosa.

Foram pouquíssimas as vezes que ela entrou naquela sala, e todas as vezes tinham sido por bons motivos. Mas dessa vez era diferente, Sue tinha uma expressão séria. Parecia cansada, os olhos estavam frios. E ela permanecia calada, o que piorava muito a situação.

- Eu sei de tudo Maria. - ela disse finalmente, sem alterar sua expressão.

- Sabe? Sabe do que?

Maria sabia, ou pelo menos desconfiava do ela estava falando. Mas era uma verdade terrível demais para ser aceita.

- Dos seus problemas... Bulímia - Sue tomou ar antes de falar. - E automultilação.

O coração de Maria se apertou de uma forma que ela não achava ser possível. Foi como se por breves momentos ,o mundo parasse de girar. Como se tudo tivesse acabado.

- Oque? - ela sussurrou, sentindo o ar fugir de seus pulmões.

- Eu já fui informada dos seus problemas Maria.

Informada? Mas quem poderia fazer aquilo? Quem sabia...?

Brooke.

- Não é nada disso, não é verdade!

- Não adianta negar. Estava claro ,estampado na minha cara e na cara de todo esse colégio o tempo todo! - disse com o tom de voz mais alterado. - Basta prestar atenção e fazer uma pequena pesquisa, é como somar um mais um!

Será possível? Estava tão evidente assim?

- Não não não! - Maria repetia em quanto balançava a cabeça, numa tentativa inútil de disfarçar as lágrimas que começavam a rolar por seu rosto.

Era o que Sue mais temia que acontecesse, um sinal de confirmação.

- Você não pode acreditar nisso treinadora! Por favor, não tira isso de mim por favor. Eu sou a melhor, eu sou boa no que faço não sou? - ela questionava entre lágrimas, as mãos sobre o peito.

Aquele dia podia piorar?

- Você é boa, provavelmente a melhor. Mas esse escândalo vai estourar, essa cidade é pequena e vai ser o inferno quando acontecer. - ela procurava não olhar nos olhos de Maria enquanto falava. - Eu quero você fora do meu time.

Sim ,o dia podia piorar.

- Oque? - Maria não podia acreditar, não podia ser verdade. Tinha que estar enganada.

- Amanhã eu quero que você traga seu uniforme, e se desligue totalmente do time.

- Você não pode fazer isso! - Maria gritou perdendo todo o bom senso.

- Claro que posso, eu sou a treinadora. Entra e sai quem eu quiser, e eu quero que você saia! - Sue respondeu no mesmo tom ,não querendo prolongar aquela situação nada agradável.

- Por que você está fazendo isso comigo? - Maria perguntou usando toda a energia que ainda tinha para questionar.

- Eu não quero meu nome envolvida em toda essa loucura.. Agora saia.

Loucura... Era essa a palavra que todos iriam usar. Será que todos teriam a mesma reação, será que Maria iriam ser deixada por todos? Será que iria suportar?

Sentia seu corpo doer como se tivesse levado uma surra, e de certa forma fora exatamente isso que acontecera.

Encarava sua treinadora, com raiva e decepção. Professores não deviam agir assim não é? Deviam ajudar.. Mas será que também ajudariam uma louca?

Usando toda a força que ainda lhe restava, Maria se levantou e saiu da sala em silêncio. Antes de passar pela porta olhou para Sue mais uma vez, porém percebeu que Sue evitava encará-la. Então se convenceu de que se devia ao fato da professora não querer olhar nos olhos de uma louca, devia ter medo..

Queria gritar, queria espernear, queria ter o poder de fazer tudo voltar no tempo. Queria poder guardar seus segredos de uma forma que ninguém pudesse nem sequer desconfiar.

Porém se limitou a sair do colégio em passos tropegos, as lágrimas em seus olhos deixavam sua visão turva o que tornava tudo mais difícil. Tomou o cuidado de não passar pela quadra, não queria que ninguém a visse naquele momento.

Mas do que adiantava? Já que amanhã todas saberiam ,e o pior ,segundo Sue o "escândalo" iria estourar a qualquer momento.

Como lidar com isso?

Saiu da escola e como só tinha um lugar em mente ,foi para lá que se dirigiu.

Miguel estava concentrado nos livros a sua frente, estudava para um teste de cálculo que teria no dia seguinte. Mas só conseguia pensar no jogo de domingo, seria o começo da temporada. E isso lhe embrulhava o estômago.

Mas percebeu alguém se aproximando, sentiu seu coração disparar no peito quando a viu se aproximar daquele jeito.

Maria vinha entre tropeços, carregava a bolsa nas mãos e seu rosto estava banhado de lágrimas. Se levantou rapidamente indo de encontro a ela com toda a pressa, quando estavam próximos, Maria deixou a bolsa cair no chão e passou os braços em volta dele.

Chorava com toda a força,nos braços da única pessoa que tinha no momento. E da mais importante de todo o seu mundo.

- O que houve minha flor? - Miguel perguntava nervoso, passando as mãos por seu cabelo sem entender o que tinha acontecido em menos de meia hora para deixá-la assim.

Maria balançava a cabeça de um lado para o outro, não sabia o que dizer. Não podia dizer, porque se dissesse tudo estaria acabado.

Miguel sabia ,sentia que algo estava muito errado.

E ela tinha que sua vida estava começando a ruir.


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Notas finais do capítulo

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Que Deus abençoe a todos! beijo beijo