Ele E Ela escrita por Maitê


Capítulo 13
Verdade


Notas iniciais do capítulo

Esse é um capítulo muito especial pra mim ,e eu espero que vocês gostem dele tanto quanto eu amores!



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Maria colocou suas sandálias nos pés e Miguel pôs um casaco ,desceram para o primeiro andar e se despediram de Bob ,disseram que iriam a um lugar e que Miguel não chegaria muito tarde.

Miguel estava confuso e curioso ao mesmo tempo ,onde ela poderia levá-lo?

Maria se mantinha em silêncio ,porque estava nervosa. Sabia que quando chegassem ao tal lugar, ela iria ter que contar tudo e depois disso não teria mais volta. Mas estava segura de sua decisão ,e isso a assustava e a animava. Era impressionante o modo como se sentia segura ao lado dele.

Entraram no fusca e sendo guiado por Maria ,Miguel foi dirigindo calmamente pelas ruas pouco movimentadas da cidade. Até que pararam em frente a uma floricultura.

- Você quer me dar flores? - Miguel perguntou encarando a faixada da loja. - Não devia ser ao contrário?

Maria se virou para ele prendendo o riso.

- Fique a vontade para me dar flores ,eu vou amar. Mas não hoje ,precisamos de flores antes de ir ao lugar. - fez uma pausa. - E como eu não estou com dinheiro aqui ... - parou sem graça.

- Sem problemas flor! - deu de ombros fazendo pouco caso ,soltou o cinto de segurança . - Vamos comprar flores, Flor.

Saiu do carro e deu a volta para abrir a porta para Maria ,ela saiu e automaticamente procurou a mão dele. E sendo assim ,entraram na floricultura de mãos dadas.

Não demoraram tanto quanto Miguel imaginava ,eram muitas flores e uma vendedora muito atenciosa, mas Maria sabia muito bem o que queria.

E sendo assim não demoraram a sair da floricultura com dois ramos de petunia branca. Voltaram ao carro ,Maria segurava as flores cuidadosamente em seu colo enquanto guiava Miguel.

Até pararem em frente ao cemitério da cidade.

- Tem certeza de que é aqui? - Miguel perguntou cauteloso.

- Absoluta, vem logo.

Maria saiu do carro e logo foi acompanhado por ele, segurava as petunias e se manteve ao lado dele enquanto atravessavam o grande portão do cemíterio de Miracles.

Andavam em silêncio ,Miguel sabia que se estivesse sozinho já teria se perdido a muito tempo naquele mar de lápides. Se sentia nervoso ,a única vez que tinha pisado em um cemitério foi aos 12 anos no enterro de sua avó paterna. E não achou a experiência muito agradável.

A olhou procurando por respostas e só teve silêncio ,mas era evidente que ela tinha alguém aqui. Ela tinha perdido alguém ,isso explicava o olhar triste que se apossava dela as vezes. Quando ela fica olhando pro nada por alguns minutos ,era como se a qualquer momento ela pudesse se desmanchar em lágrimas ,e logo depois estava dando risada.

Era confuso ,mas era ela.

Ele a seguia e ficou um pouco para trás quando começaram a subir uma mini colina ,as lápidas ali ficavam um pouco mais distantes umas das outras e ficou ainda mais nervoso. Ela não falava nada e era como se estivessem indo para lugar nenhum ,até que ela parou em frente a duas lápides de mármore branco.

O nome Mike Santino estava gravado em uma ,e na outra Maria Rose Santino.

Miguel prendeu o ar ,ao perceber que ela não tinha perdido uma pessoa. Tinha perdido duas ,e segundo as datas de nascimento e morte gravadas na lápides ,essas perdas não tinham ocorrido a tanto tempo assim.

Maria se ajoelhou em frente as lápides, Miguel permanecer de pé meio sem jeito.

Ela colocou cada ramo em frente as lápides com muito cuidado e passou os dedos carinhosamente nos nomes ali gravados.

- Esses são meu irmão Mike, e minha mãe Rose. - falou baixinho.

- Eu queria ter conhecido os dois. - Miguel respondeu ,não sabendo se aquilo tinha sido o certo a se dizer.

- Eles teriam gostado muito de você, especialmente o Mike. Ele era um ótimo irmão mais velho. - pelo tom de voz ,Miguel presumiu que ela estava sorrindo.

Miguel continuava ali parado com as mãos nos bolsos, se sentindo um completo idiota por não saber como agir. Até perceber que se ele não fizesse perguntas agora, não poderia fazâ-las nunca mais, pois não obteria respostas.

Maria estava dando uma chance a ele.

Por fim Miguel se ajoelhou ao lado dela, não pegou sua mão ,só ficou o mais próximo possível.

- E como eles foram embora? - perguntou baixinho.

Maria Flor respirou ,sabia que teria de responder aquelas perguntas. Mas não imaginou que seria tão difícil.

- Mike era o melhor irmão do mundo ,era cheio de sonhos e alegria. Ele era a alegria da casa, é meio difícil de acreditar. Mas um dia aquela casa foi feliz.. - fez uma pausa - Mas ele não era o bastante pro meu pai. Jack tinha todo um plano de vida pro meu irmão ,queria que ele tomasse conta dos negócios da editora. Que ele fosse o presidente da empresa, mas Mike não era desse tipo. Ele queria ser botânico ,queria trabalhar com as plantas. Queria ter uma floricultura, uma pequena casa e uma família feliz. Só isso ,ele não queria a nossa casa grande, o dinheiro da nossa família, muito menos aquela maldita empresa. - as lágrimas começaram a transbordar de seus olhos conforme a parte trágica se aproximava. - Mas ele não foi tão forte, com 21 anos ele foi pra Nova York trabalhar na cede da empresa, fazia faculdade e trabalha da editora. A vida dele se resumia nisso.

Miguel ouvia tudo atento ,as vezes encarava o nome do irmão de Maria ,pobre homem. Não teve nem mesmo a chance ,ou a força de escolher a própria vida.

- Um ano depois ele veio nos visitar ,eu estava toda feliz por ver meu irmão, morria de saudade dele. Mas eu nunca ,nunca mesmo vou esquecer da aperencia que ele tinha quando voltou. Estava magro e abatido, olheras enormes debaixo do braço e o brilho dos olhos verdes dele ,tinham sumido. - respirou fundo - Ele ficava quieto ,pelos cantos da casa. Minha mãe e Berta tentavam animá-lo com coisas que o alegravam antigamente. Ele passava horas deitado na minha cama comigo ,mas raramente falava alguma coisa. E Jack se vazia de cego ,não se dava ao trabalho de tentar animá-lo e ainda o carregava de perguntas e tarefas em relação a editora. Alguma coisa o estava atormentando ,eu sabia disso...

Ela parou tomando folego ,passou as mãos nas bochechas ,tirando as lágrimas de lá. Olhou a frente ,tomando coragem para contar o resto da história de sua família arruinada.

- Um dia eu e meus pais saimos para um passeio pela praia, Mike preferiu ficar em casa lendo um livro ,como ele mesmo disse. Meu pai saiu conosco ,e prestava atenção em nós ,mas quando o assunto era Mike ele se fechava por completo. - deu de ombros - Depois de passear por uma tarde inteira ,nós voltamos pra casa. Meus pais andavam atrás de mim abraçados e conversando ,quando estávamos quase chegando eu apressei o passo. Queria logo ver meu irmão e tentar animá-lo de novo. Mas quando eu abri a porta ... - ela abaixou a cabeça novamente ,o choro se tornou alto e avassalador, os soluços mal a deixavam falar. - Quando eu abri a porta, ele estava pendurado pelo pescoço com uma corda amarrada no lustre da sala. Eu gritei desesperada e meus pais entraram correndo em casa ,minha mãe começou a gritar e meu pai pareceu voar ,ficou parado olhando o corpo do meu irmão com os olhos agarrados e mãos na cabeça. Eu chorava desesperada, minha mãe caiu de joelhos e gritava o nome dele sem parar ,até hoje eu consigo ouvir aqueles gritos. Eu corri em direção ao corpo ,segurei nos pés dele e o sacudi ,gritando por ele. Eu queria que eles abrisse os olhos ,mas sabia que não ia. Meu pai me agarrou e disse pra eu calar a boca ,chamou a ambulância e a polícia. Mas todos nós sabiamos o que tinha acontecido ali ,meu irmão se suicidou Miguel. Se matou porque não aguentava mais a vida que escolheram pra ele!

Maria chorava tanto que era como se ela fosse se desmanchar ali ,o instinto protetor tomou conta de Miguel e agora ele sabia o que fazer. A tomou em seus braços e a acarinhou, beijou-lhe os cabelos ,o rosto e fez carinho em sua pele, segurou suas mãos e falou palavras afetuosas em seu ouvido.

Ela se apertava contra o corpo dele ,como se ele fosse sua única fonte de vida, sua única salvação. Conforme sentia seu carinho e ouvia suas doces palavras ,os soluços foram diminuindo, sua respiração foi voltando ao normal e ela pode sentir a camisa de Miguel molhada por suas lágrimas. Não se soltou dele ,mas sabia que a verdade pela metade ,não era verdade. Já que tinha ido até ali ,deveria ir até o final.

- Depois da morte do meu irmão ,tudo mudou. - começou com a voz rouca ,por conta do choro. - A alegria da casa não estava mais lá ,estava morta. Meu pai não nos olhava mais ,nem mesmo falava conosco. Minha mãe mal me olhava ,passava a maior parte do tempo no quarto chorando e tomando calmantes. Era como se ela não me tivesse mais ,como se eu tivesse morrido junto com meu irmão. Berta passou a tomar conta de mim ,mas a noite ela não estava lá. Eu ficava sozinha ,e ouvia meus pais discutindo pela casa. Minha mãe gritava pro meu pai que ele era o culpado pela morte do meu irmão ,e Jack a chamava de louca... Seis meses depois de enterrar meu irmão ,tivemos de enterrar minha mãe também.

Miguel a abraçou mais apertado ao ouvir aquilo ,como ela aguentava tanta dor?

- Em uma noite ,ela tomou tantos compridos depois de outra dicussão ,que o coração dela parou de bater.

Miguel sabia que nada que ele dissesse naquele momento iria fazer a mínima diferença ,ele sabia que a dor que ela carregava dentro de si era infinita. Mas ele não tinha noção do que ela fazia para aguentar tanta dor.

- Eu sinto muito Maria Flor. - ele falou baixinho.

Ela assentiu e se afastou com os olhos fechados ,secou seu rosto com as mãos e o olhou com os olhos ainda marejados.

- Não importa o que eu diga ,ou o que eu conte. Ninguém nunca vai saber o quanto dói ,ninguém nunca vai entender a falta que eles me fazem. Ninguém vai entender minha solidão ,porque toda vez que eu olho pro Jack ,eu vejo o rosto sem vida do meu irmão e as luzes da ambulância que vieram buscar minha mãe.

- Você o culpa por tudo o que aconteceu?

Maria somente assentiu ,fazendo força para não chorar novamente.

Naquele exato segundo ,Miguel decidiu que não importava o que aconteceria a seguir. Até porque o futuro não o pertencia ,e tudo o que ele podia fazer naquele momento era ser alguém que a fizesse sorrir de verdade. Porque era isso que ela fazia por ele .

Miguel queria abraçá-la e protege-la de todo mal ,queria livrá-la da dor dessas perdas ,mesmo que isso parecese impossível.

Determinado ,Miguel segurou as mãos de Maria Flor como nunca tinha feito antes. Ela o olhou ,sabendo que ele iria falar ou fazer alguma coisa importante ,pois sua expressão era séria e ele parecia nervoso. Muito nervoso.

- Eu sei que talvez eu nunca consiga ,mas eu quero tentar te fazer feliz. Eu quero te tirar desse monte de sofrimento e quero fazer você ver o quanto a vida pode ser incrível. Eu quero ser alguém pra você Maria Flor ,alguém a quem você confie seu amor.. Eu estou muito nervoso agora e nem sei se devia estar falando isso ,mas eu quero passar o resto da minha vida do seu lado!

Ficaram se encarando ,Maria mal podia acreditar em seus ouvidos ,mal podia acreditar na sorte que tinha daquele lindo homem dos olhos de oceano querer ficar com ela.

Nem que ela falasse tudo o que sentia ,nem que passasse um dia inteiro falando ,ainda não seria suficiente.

Por isso a única coisa que restou fazer, foi por as mãos no rosto dele e beijá-lo com todo amor que carregava em seu coração.


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Notas finais do capítulo

e ai ,o que acharam? *-*
Gente, tenho um pedido SUPER especial pra vocês, uma leitora super especial a Hannah Diamonds, ela começou a escrever a primeira ficc dela. Ou seja, MUITO especial! O nome da ficc é "Conhecendo meu amor" ,então vamos dar uma passada lá e acompanhar ok? tanks pessoal!
beijo beijo e que Deus abençoe a todos!