Ele E Ela escrita por Maitê


Capítulo 11
Agonia


Notas iniciais do capítulo

Volteeeeei *-*
Sentiram saudades de mim?



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Rachel estava certa, assim como todos os outros que a seguiram.

Os olhares de desprezo tinham uma razão,ela estava horrível. Gorda e desajeitada, como podia ter feito isso? Como teve a coragem de quase comer aqueles tacos?

Passou as unhas com força contra a pele de sua barriga ,como se pudesse rasgar toda a gordura que via ali através do espelho no qual estava a frente.

— Ainda dá tempo, tem que dar ... - sussurrou para si mesma.

Deus passos largos e se ajoelhou em frente ao vaso sanitário. Levantou a tampa e respirou fundo, não tinha dúvida nem medo, já estava acostumada com o que estava por vir e achava aquilo totalmente normal. Depois iria se sentir muito melhor...

O resto você já sabe, um dedo na garganta e tudo resolvido.

Vomitou até se sentir sem energias e cair no chão gelado ,respirando ofegante. As mãos sobre a barriga ,o teto do banheiro parecia rodar, mas não importava. Agora tudo estava resolvido.

Depois de recuperar o fôlego se sentou e abaixou a tampa do vaso, deu descarga e foi escovar os dentes.

Olhou seu rosto no espelho e se afastou para ter uma visão melhor de seu corpo. Levantou a camiseta branca que usava e virou de lado.

Se via tão gorda, tão grande. Ocupava um espaço tão grande no mundo, e não da forma desejada por todos os seres humanos. Era um espaço físico.

O que ela não sabia ou não enxergava. Era que o tal espaço que ocupava era cada vez menor. Que seu corpo gritava por socorro ,que a qualquer momento as coisas por ali iriam parar de funcionar e ai ,olhando pelo lado bom ,ela não teria mais de se preocupar com nada.

Mas ela não sabia disso ,nem mesmo se importava com o que tinha por dentro. Só com o que tinha por fora, com as coisas que estavam a mostra, expostas para o julgamento dos outros.

Perdemos tempo demais nos preocupando com o que está por fora, tanto que as vezes até perdemos o que tem por dentro. Não é ?

Naquela noite ela não dormiu porque sempre que fechava os olhos ouvia o barulho das sirenes de ambulância que já ouvira antes e era como se as luzes daquele carro branco que no seu caso anunciou morte estivesse ali novamente.

O quarto estava totalmente escuro, assim como ela. A dor em seu peito era dilacerante, como se tapasse sua gargante ,impedindo o ar de entrar. Respirou fundo e tentou se manter imóvel ali. Mas as vezes a dor se transforma em agonia e essa é a pior companhia que você pode ter.

Ele tem o poder de deixar seu coração fraco ,deixar sua mente embaçada e é nessa hora que ela te toma pela mão e te joga no abismo. Não tem paz ,nem sossego..

Não existe paz na agonia, nem depois dela se você quer saber. Não quando você sucumbe a ela.

Sendo assim ,a agonia tomou Maria nos braços ,a carregou até o banheiro e a pôs no chão. Segurou sua mão até que a menina abrisse a última gaveta do pequeno armário branco e tirasse lá do fundo dela uma lâmina.

Pequena ,prateada e brilhosa. Olhando de longe parecia incapaz de ferir ou mesmo fazer o menor machucado.

A agonia permaneceu segurando a mão daquela garota até que a lâmina estivesse pressionada contra seu pulso esquerdo.

Com a força que a agonia lhe dava ,Maria puxou a lâmina contra sua pele repetidas vezes. Até ver seu sangue pingando no chão ,até a dor de seu braço ser maior que a dor do seu coração.

É nessa hora que a agonia te deixa, quando não tem mais volta. E ai aparece o arrependimento ,ou no caso de Maria ,o alívio.

A lâmina agora largada no chão virara uma arma de alto perigo. O braço dilacerado estava pousado no chão e o sangue continuava a sair.

Os minutos de alívio foram substituídos pelo pânico, Maria olhou para seu braço assustada. O sangue ainda sujava de vermelho o chão perfeitamente branco de seu banheiro.

Ela não queria morrer ,não agora, não assim.

Se levantou rapidamente com certa dificuldade ,ligou a torneira e deixou seu braço ser lavado pela água. Chorou ainda mais com o ardor que se seguiu, demorou um pouco ,mas o fluxo de sangue foi diminuindo e diminuindo até enfim parar.

Pegou uma toalha de rosto pendurada ali perto e enrolou em seu pulso o pressionando com força. Se encostou na pia e suspirou ao ver a sujeira que tinha feito no chão ,pegou a toalha maior e com ela limpou o sangue do chão antes que secasse.

Deixou a toalha suja em cima da pia e voltou ao quarto. Sentou na beira da cama e olhou para seu braço ,agora sem qualquer toalha cobrindo.

Quatro pequenos e fundos cortes decoravam seu braço ,mas tarde seriam apenas mais quatro cicatrizes em sua vasta coleção.

Olhou para o relógio em cima do criado mudo. Quatro e meia da manhã ,o sono não iria chegar. Ela sabia muito bem disso.

Se levantou e trocou de roupa, foi até o banheiro e pegou a toalha suja. Abriu a porta do quarto e silenciosamente desceu as escadas.

Passou pela sala e abriu a porta ,sentiu o frio gelado da madrugada contra sua pele e correu até onde o lixo de sua casa era depositado. Daqui a uma hora o caminhão do lixo viria e levaria a prova embora.

Voltou para dentro de casa e lentamente voltou para seu quarto. Deitou na cama e chorou mais uma vez. Sem controle pensava no quanto estava perdida e sozinha nesse mundo .

 

(....)

 

— Querida? Maria ? - Berta sacudia muito levemente o ombro da menina adormecida.

— Huuum ... - gemeu virando para o outro lado ,quase caindo da casa.

— Maria, acorda querida. - Berta continuava tentando acordá-la pacientemente. - Você não vai para a aula ?

Maria somente fez que não com a cabeça e se cobriu totalmente com um grosso edredom.

Quando acordou novamente já eram dez da manhã, Maria tinha conseguido dormir a cerca de 3 horas. E não tinha forças físicas ou mentais para se quer levantar da cama. Berta resolveu não insistir, Maria não era de faltar em seus compromissos ,mas sabia que quando isso acontecia ,alguma coisa muito grave tinha acontecido.

Fechou as cortinas e arrumou as cobertas em cima dela, quando sentiu que ela estava confortável e o quarto estava escuro ,fechou a porta com cuidado e a deixou sozinha.

Maria dormiu por mais três horas ,até acordar se sentindo um pouco mais bem disposta. Tirou as cobertas de cima de si e permaneceu sentada na cama. Tinha faltado a aula hoje, pegou o celular torcendo para que não houvesse nenhuma ligação perdida.

O visor acendeu e nada... Maria suspirou aliviada.

Decidiu se levantar e ir ver Berta ,a achou na cozinha terminando de preparar o almoço.

— Bom dia, Berta. - falou baixinho parada a porta.

— Bom dia, menina bonita!

Maria sorriu ,Berta era sempre tão calorosa com ela.

— Você está se sentindo melhor ? - disse enquanto colocava travessas de comida em cima da mesa.

Berta sempre fazia comida demais ,muitas vezes na esperança de que Maria enfim levasse algo a boca.

— Estou bem, Berta. Obrigada.

Depois de alguns minutos de silêncio, Berta começou a tagarelar puxando assunto e em pouco tempo estavam conversando abertamente. A empregada não desistiu e fez com que Maria comesse um pequeno prato de comida e se sentiu satisfeita com isso.

Depois Berta se lançou na organização dos muitos cômodos da casa e Maria a seguia como um cachorrinho tagarela.

Até que às 16:00 da tarde em ponto a campainha tocou ,Berta estava ocupada arrumando a cama de Jack, então Maria desceu as escadas correndo enquanto o som da campainha ainda soava pela casa.

Abriu a porta num rompante e paralisou ao encarar o rosto a sua frente.

Miguel...

— Oi .. - ela sussurrou.

O que ele estava fazendo ali ?!

— Você está bem ? - perguntou com ar preocupado.

Ela assentiu lentamente ainda o encarando.

— Então por que você faltou hoje?! - agora ele parecia irritado.

— Porque ... porque eu perdi a hora! - ela também ficou irritada. - E por que você veio aqui?

— Porque fiquei preocupado contigo ,ué!

E a pergunta que eu faço é a seguinte: por que os dois estavam irritados? Ora, a resposta era muito simples.

Falta um do outro.

— Me desculpe . - Maria disse num suspiro. - Você veio aqui preocupado comigo e eu te recebo mal ,peço desculpas por ter te deixado preocupado. Mas está tudo bem. - sorriu para sua mentira.

— Eu fiquei muito preocupado ,principalmente depois do que aconteceu ontem . - ele deu de ombros.

— Está tudo bem ,é sério.

Silêncio ,nenhum dos dois sabia o que falar.

— Você quer entrar ? - Maria sorriu fazendo o convite.

— Não... é ... na verdade eu queria te fazer um convite. - a encarava intensamente quase que implorando que ela aceitasse o tal convite.

— Que convite?

— Você quer ir dar uma volta comigo ? Se você estiver bem é claro ,a gente não demora e eu venho te deixar em casa e ...

— Eu adoraria . - sorriu ao perceber que ele estava ficando cada vez mais vermelho.

Ele sorriu de volta, mas por dentro estava tanto aliviado como animado.

 

(....)

 

Acabaram na praia ,caminhavam silenciosamente. O vento soprava e o sol estava se pondo, o céu estava cor de rosa e dava a todos um bom ânimo.

Miguel carregava a mochila nas costas e pensava no que iria acontecer se ele estendesse sua mão alguns centímetros e envolvesse a dela.

Maria estava com uma blusa fina de mangas longas que cobria totalmente seus braços.De vez em quando olhava para ele pelo cantinho do olho e sorria levemente.

Depois de dez minutos ,Miguel teve seus 20 segundos de coragem insana e estendeu a mão envolvendo com firmeza a de Maria.

Eles se olharam e sorriram ,Maria não tirou a mão e ainda apertou a dele com firmeza. Sentiu a paz que emanava dele se espalhar pele seu corpo inteiro.

— Quer se sentar um pouco ? - ele perguntou.

— Claro . - falou assentindo.

Procuraram um local tranquilo e se sentaram lado a lado, olhando para o mar.

— É tão grande... - ela sussurrou.

— O que?

— O mar ,a gente não vê o fim. Uma imensidão bem a nossa frente ,dá até medo.

— É como o amor de Deus por nós.

Ela o encarou perdendo a fala com a resposta.

— O que ?

— O amor dele é infinito. É como o mar ,não vemos o fim. Talvez porque não tenha mesmo. - ele sorriu pra ela. - O que foi ?

— Você acredita mesmo nisso ?

— Com todo meu coração.

— Eu queria ter a certeza desse amor tão grande. - falou cabisbaixa.

Ele a olhou por uns instantes ,até que abriu a mochila e tirou de lá uma bíblia.

— Você carrega uma bíblia com você ? - ela perguntou surpresa.

— Claro ,você não?

Silêncio .

Ele não esperou resposta ,somente abriu a bíblia e a colocou em cima de suas pernas. Leu com sua voz suave ,fazendo aquelas palavras entrarem fundo dentro do coração de Maria.

— "O amor é paciente,é benigno; o amor não arde em ciúmes,não se ufanam não se ensoberbece,

não se conduz inconvenientemente,não procura os seus interesses,não se exaspera,não se ressente do mal;

não se alegra com a injustiça,mas regozija-se com a verdade;

tudo sofre,tudo crê, tudo espera,tudo suporta.

O amor jamais acaba ....

Primeira Coríntios 13:4" .

E enquanto ele lia, Maria teve certeza.

Estava totalmente apaixonada por Miguel Collins.

 


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Notas finais do capítulo

Mais uma recomendação! Daphnne pevensie MUITO OBRIGADA FLOR,MUITO MESMO MESMO MESMO!
E ai gente ,como foram as férias de vocês? As minhas foram muito abençoadas graças a Deus.
Espero que gostem e comentem e desde já agradeço muito a todos que sempre comentam e me fazem feliz! (: kkk
Que Deus abençoe a todos! Beijooos



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