Eternally Forbidden escrita por Ivie Constermani


Capítulo 31
30. Pai e Filho


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo! ='( fico feliz em ter chegado aqui! Fico mais feliz ainda por vocês chegarem aqui comigo! Obrigada por existirem, anjos, vocês são a o motivo pelo qual eu escrevo. E escrever é o que sou!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/357511/chapter/31

30 - Guardião

Depois de se certificar de que Enid estava em casa, segura e dormindo, Evan caminhou com Caliel pelas ruas da cidade. Já era madrugada e a noite estava silenciosa e fria.
Evan estava desconfortável. Ver o seu criador, seu pai, depois de tantos anos era no mínimo estranho para ele. E vergonhoso, porque desde a morte de sua mãe ele manteve-se o odiando e querendo vingança. Mas no fundo ele sabia que havia algo errado, porque se sua mãe, Elizabeth, fosse mais um brinquedo ele não ficaria tanto tempo - sete meses no total - com ela.
- Você se tornou um bom rapaz - disse Caliel quebrando o silêncio.
Evan olhou para o chão sem saber como responder.
- Bem diferente do que eu me tornei. - Caliel continuou a falar. Seu olhar estava distante, ele observava a lua minguante como se fosse a primeira vez que ele a via. - Eu me orgulho disso. Tenho orgulho de você.
- Obrigado. - Evan disse ainda sem olhar para Caliel.
- Creio que você ainda tem raiva de mim... Por minha causa Elizabeth morreu. - A voz do anjo caído falhou. - Eu sinto muito por isso. Mas eu quero que você saiba que há uma explicação para tudo.
- Ah, é? Explique-me então - Evan disse num tom arrogante. - Como você pode explicar como minha mãe se apaixonou por você, um... - ele parou quando olhar triste de Caliel encontrando o dele.
- Monstro - ele completou, dando um longo suspiro. - Há uma explicação. Se você me deixar explicar... Se quiser que eu te diga a explicação de tudo, eu direi.
Eles continuaram andando na rua fria e silenciosa enquanto Evan pensava se queria ouvir o que Caliel tinha a dizer. Como poderia haver uma explicação para uma pessoa se tornar um monstro narcisista que só vive para satisfazer seus desejos? Qual era a explicação para um anjo caído fazer uma mulher se apaixonar por ele, ter um filho nefilim, pô-la em grande risco, depois sumir e deixá-la procurando por ele e causar a morte dela? Como ele poderia explicar?
Mas Caliel estava ali, ao lado dele. Um encontro depois de tantos anos sem conhecê-lo. Havia muito a dizer, muito a ouvir, tanto a saber. Era o momento que Evan sempre esperou em sua vida, o momento em que ele poderia olhar nos olhos do causador da morte de Elizabeth. Mas, quando ele olhava, via apenas um brilho fosco que demonstrava a dor de um anjo que foi expulso do Paraíso, que perdeu quase tudo o que era precioso. Talvez pudesse ter uma explicação. Talvez Caliel pudesse ter uma razão de vir aqui e salvá-lo depois de anos desaparecido. E se essa explicação existia, Evan queria ouvir. Precisava ouvir.
- Apenas fale - disse ele, por fim, olhando para Caliel e deixando-o ver que era apenas uma chance para ele se explicar.
Um sorriso iluminou o rosto jovem do anjo caído, que aparentava ter apenas 25 anos, mas que tinha a eternidade séculos atrás.
- Conheci a Elizabeth em um inverno próximo aos dias do Natal. Ainda me lembro daquela cena como se tivesse acontecido ontem. Ela saía da faculdade com as amigas. As luzes alaranjadas do pôr-do-sol iluminava a pele dela e os olhos azuis cintilavam mostrando toda a sua jovialidade. Ela me interessou de imediato. Procurei uma forma de saber seu nome, de onde era, quais lugares frequentava. Descobri que ela ia a uma lanchonete da cidade e fui também. Quis me aproximar dela, puxei papo, comemos juntos e no fim, ela apenas foi para casa.
"Aquilo me decepcionou muito. Eu tinha as garotas na primeira noite, e Elizabeth nem mesmo havia me beijado. Mas eu não ia desistir. Aceitei o desafio de conquistá-la e tê-la por apenas uma noite. Então, no dia seguinte, lá estava eu novamente. Ela me reconheceu, nos falamos de novo, paguei um drinque para ela, que recusou, e ela foi para casa. Essa rotina se instalou por semanas, e em uma noite eu finalmente consegui beijá-la.
"Foi um beijo completamente diferente do que eu estava acostumado. Foi doce. Houve sentimentos nele. E foi aí que eu percebi que ela gostava de mim. Naquela noite eu decidi apenas levá-la para casa. Aquela mulher havia mexido comigo. Conseguiu despertar em mim algo que eu nunca havia sentido antes. Algo que me fez levar flores para ela no dia seguinte.
"Meses depois percebi que eu havia virado um suposto namorado dela. Ela dizia as amigas o quanto eu era gentil, doce, o quanto eu a fazia feliz. Nunca imaginei fazer uma mulher se sentir assim. Antes era apenas uma noite de prazer, e só isso. Com Elizabeth eu sentia prazer apenas ao ver o sorriso dela. Para mim já era o suficiente.
"Depois disso ela se sentia mais segura comigo. As coisas ficaram mais sérias e ela me levou para conhecer Vivian. Sua avó era muito esperta, já sabia dessa história dos Renegados e quando me viu sentiu que eu era diferente. Tentou afastar Elizabeth de mim, e depois de uma semana longe dela eu percebi o quanto eu precisava dela perto de mim. O quanto eu sentia falta do sorriso dela. Percebi, então, que eu a amava.
"Amor era uma palavra diferente para mim. Quero dizer, no Céu eu sentia o amor infinito pelo meu Pai, mas esse amor que eu sentia por Elizabeth era diferente. Era uma necessidade de estar perto, de tocar, de sentir sua presença... Aquilo me deixou louco. Larguei toda a minha antiga vida e me dediquei a ela por completo.
"Meses depois as coisas ficaram ainda mais sérias. Comprei um anel para ela, jurei amor eterno, dormimos juntos. Depois da nossa primeira noite eu contei a verdade para ela. Ela precisava saber de tudo. Não escondi nenhum detalhe por mínimo que fosse. Contei sobre meus pecados, meus erros, minha primeira intenção ao vê-la. Mas ela me compreendeu. Claro, precisou de um tempo para compreender toda a situação, mas no fim disse que me amava e que nada poderia mudar isso.
"Um ano depois de relacionamento sério, sem casamento, ela engravidou. Eu sabia no que ia dar, ela sabia, Vivian sabia. Mas ela queria ter você. Sentiu que te amava no mesmo instante que soube que você estava nela, Evan. Disse que era um pouco de mim que ela levaria com ela para sempre. E aí sim vem a parte da explicação... Eu encontrei uma coisa.
Caliel parou de falar deixando um mistério no ar e Evan curioso. Ele hesitou, olhando para o céu como se pedisse um conselho. Depois olhou para Evan e seu lábio tremeu.
Ele estava com medo.
- Pode dizer. - Evan o encorajou. - Você já me disse muita coisa, mas essa é o que eu mais quero saber.
Caliel juntou as mãos, entrelaçando os dedos, e depois suspirou. Quando falou sua voz estava cheia de arrependimento.
- Eu achei uma coisa - ele repetiu, olhando para Evan com os olhos cheios de pesar. - Algo perigoso, valioso. Algo que muitos queriam encontrar. Senti que precisava guardá-la. E esse foi de longe o pior erro que cometi.
Uma brisa gélida passou por eles, fazendo Evan se arrepiar e se agarrar mais ao casaco. Caliel olhou para o chão e levou as mãos a cabeça, balançando em negação. O arrependimento dele era tão sincero que fez o coração de Evan doer.
- O que você achou? - Evan perguntou. Ele sentia medo da resposta.
Caliel levantou a cabeça, olhando para o algo - olhando para o céu -, mordeu o lábio e fechou os olhos com força. Suas mãos estavam suadas, o rosto começou a ficar vermelho. Ele abriu a boca, depois parou, medindo as palavras, e falou novamente.
- Eu achei uma das chaves do inferno - ele disse, sua voz estava chorosa, cheia de desespero. - Eu achei que alguém havia a colocado no meu caminho, que era uma missão protegê-la. Mas como eu pude ser tão burro?! Deus havia me abandonado há séculos! Ele nunca iria me perdoar. Eu falhei com meu Pai! E por causa daquela maldita chave eu fugi. Por causa da chave sua mãe me procurou para ajudar, por causa dessa chave infernal ela morreu, Evan!
Evan ignorou o arrepio em sua espinha e olhou para Caliel.
- Como? Eu pensei que ela havia morrido por causa dos Lullaby - disse ele, pensativo.
- Exatamente. Os Lullaby estavam atrás de mim há anos e quando descobriram onde eu estava foram atrás de mim. Fazendo buscas ele descobriu sobre a chave e veio atrás de Elizabeth para perguntar onde eu estava. Ela disse que não sabia, o que era verdade, e eles não acreditaram. A obrigaram a dizer onde eu estava, falaram sobre a chave e ela mentiu para me proteger, para te proteger.
Evan tentou empurrar de volta as lágrimas que surgiram em seus olhos.
- O que ela fez? - ele perguntou, a voz estava embargada.
Lágrimas pingaram dos olhos de Caliel.
- Ela disse que ela estava com a chave - ele disse, olhando fixo para o horizonte. - Aí eles a mataram para ter a chave, o no final era mentira. Era mentira, Evan, ela mentiu por mim!
Caliel caiu de joelhos na rua, sentindo todas as suas forças acabarem, e ele chorou desesperadamente. Evan chorou também, em silêncio, lembrando-se da últimas lembrança que ele tinha de sua mãe viva.
Ela trajava um vestido de renda branco, tinha um olhar brilhante, um sorriso confortante. Ela o abraçou muito forte e disse que o amava. Ela já sabia que ia morrer.
Caliel continuou chorando, sozinho, encolhido no chão sentindo o vento frio em seu corpo.
Evan não teve mais dúvidas sobre o acreditar ou não em Caliel.
Ele tinha uma explicação. Ele não era mau. Ele estava arrependido. E ele amava Elizabeth.
Foi tudo o que Evan precisou saber para sentar ao lado dele e o abraçar.

Todos estavam cansados. Ao chegar em casa Evan encontrou Vine dormindo no sofá com uma garrafa de cerveja no colo. Esse era o jeito dele comemorar:sozinho, com uma garrafa de cerveja e batatas chips.
Evan levou Caliel até o escritório. Agora ele já estava mais calmo, as lágrimas cessaram. Ele se sentou em uma das poltronas do escritório e Evan sentou ao lado dele.
- Evan, posso te pedir uma coisa? - Caliel perguntou de repente, sorrindo. - Posso te chamar de filho?
Evan não sabia de estava preparado para chamá-lo de pai. Tudo bem, ele entendia nada daquilo era para acontecer, que se ele não tivesse encontrado as chaves do inferno ele, Elizabeth e Caliel seriam uma família. Mas ele era o pai dele, então por que não?
- Tudo bem. - Evan assentiu.
Caliel riu, emocionado, e depois olhou em volta. Viu o quadro de Elizabeth na parede e sorriu para o sorriso dela.
- Filho... Eu vou embora amanhã. Eu não posso ficar aqui, é perigoso - disse Caliel olhando fixamente para o quadro.
- Estão te procurando, não é? - Evan perguntou e por precaução fechou as cortinas.
- Não, filho. Eles estão me caçando. Eu deixei rastros falsos para eles e para o Lullaby algum tempo atrás, mas eu decidi que eu precisava ir embora, que eu precisava parar. Quem eu queria enganar? Eu estava condenado, fadado a cuidar dessa chave pela eternidade. Se cair em mãos erradas algo muito, muito ruim pode acontecer.
- Entendo. - Evan balançou a cabeça. - Mas se precisar de mim eu vou estar sempre aqui.
Caliel tirou uma caixinha pequena de dentro do bolso da jaqueta e entregou a Evan. Era uma caixa delicada, parecia ser feita a mão. Era de madeira escura, tinha alguns símbolos na frente e um cadeado feito de prata. Caliel entregou a chave a ele, e Evan abriu-a.
A chave era bem diferente do que Evan imaginava. Era grande e pesada, feita de rubi derretido. Parecia ter sido feita na Idade Média por suas características góticas. Mas, apesar de velha, brilhava como o sangue puro, cor de escarlate.
O contato com a mão de Evan fez a pele queimar um pouco, mas algo que Evan podia suportar. Ele olhou para Caliel e para a chave, oscilando entre os dois.
- Minha mão queimou - ele disse, curioso.
O rosto de Caliel empalideceu.
- Evan, tem certeza disso?
- Absoluta. Olhe, está vermelho. - Ele mostrou a mão para Caliel. Um ponto vermelho ficou marcado no lugar onde a chave ficou.
Caliel paralisou, olhando para a mão dele fixamente, os olhos esbugalhados. Evan engoliu em seco.
- Que foi? Há algo errado? - ele perguntou e guardou a chave de volta na caixa.
- Isso... Isso é um sinal. - Caliel murmurou com a voz trêmula. - A chave faz uma marca em quem deve guardá-la, Evan.
Evan precisou de um tempo para processar a informação.
- Você quer dizer...
- Não, Evan, não. Você não vai ficar com isso. Me trouxe desgraça, sofrimento. Por causa dela eu perdi sua mãe, perdi você! Não vai guardar essa chave!
Evan percebeu que havia algo errado. Caliel estava... desesperado demais.
- Qual é o problema, Caliel? - Evan perguntou e o avaliou com os olhos semicerrados.
- Evan, meu filho, eu vou fazer... uma coisa amanhã - o anjo caído falou. Seus olhos estavam fixos no chão.
- O que você vai fazer?
- Vou entregar a chave.
Evan levantou uma sobrancelha. Ele estava atônito. Depois de tudo o que Caliel havia passado para guardar a maldita chave, ele ia apenas entregá-la?!
- Não. Como assim? - ele perguntou, exasperado.
Caliel deu um longo suspiro.
- Hum... - ele espreguiçou-se e bocejou. Os olhos dele demonstravam cansaço. - Eu quero me livrar disso - ele gesticulou para a caixa com a chave. - Há pessoas que a querem mais do que eu. Até porque eu não quero ficar com isso.
- Eu quero - disse Evan rapidamente.
Caliel arregalou os olhos para ele e tomou a caixa da mão dele. Ele enfiou no bolso da jaqueta novamente e depois olhou para Evan nos olhos.
- Eu não quero te pôr em risco, meu filho - ele disse cada palavra com clareza.
Evan balançou a cabeça.
- E você já imaginou quantas pessoas você vai pôr em risco se você entregar essa chave para mãos erradas? Eu fico com a chave. Eu a protegerei. Prometo que ninguém vai pegá-la.
- Não posso deixar...
- Só... Me deixa fazer a coisa certa.
Caliel pensou por alguns minutos. Evan esperou pacientemente imaginando onde poderia esconder a chave. Era algo muito precioso, algo que poderia causar o Apocalipse.
Se uma porta do inferno for aberta, independentemente do distrito, as outras chaves iam ser descobertas e Lúcifer poderia ser liberto. E se isso acontecesse... o mundo jamais seria o mesmo.
- Tudo bem - disse Caliel, de repente. - Mas eu vou estar por perto sempre, me ouviu? Vou te proteger. Fazer tudo o que eu não pude antes.
Evan assentiu. Caliel se aproximou do filho e o abraçou. O gesto pegou Evan de surpresa, mas foi tão reconfortante que ele se rendeu. No fundo ele sempre quis aquilo. Ter um pai.
- Você é a melhor escolha que a chave poderia ter feito. É inteligente, corajoso, forte - disse Caliel se afastando dele.
Evan sorriu torto e acenou com a cabeça.
- É claro que sou. Eu puxei o meu pai.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentários, por favor!
Eu só vou postar o epílogo quando eu tiver postado a continuação.
Beijo beijo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Eternally Forbidden" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.