Fitei a grande casa a minha frente e deixei que uma careta formasse-se em meu rosto.

Essa casa era muito maior do que a casa na qual eu nasci e vivi por dezessete anos.

A casa que agora eu fitava, era uma grande construção branca, de dois andares, rodeada por um gramado tão verde que chegava a enjoar os olhos.

Olhei meus pais por um momento, meu pai estava com um braço ao redor dos ombros da minha mãe, e ambos sorriam de forma que nunca vi antes, seus olhos brilhavam de excitação e olhavam a casa quase que com uma adoração.

Segurei uma de minhas reclamações e tirei minhas malas do chão, meus pais notaram esse movimento e me olharam, ainda com aquele sorriso que parecia ser maior que o rosto.

- Vamos entrar – falei tentando soar empolgada, eles sorriram ainda mais, e achei que suas bocas fossem se rasgar, então pegaram suas malas e fomos em direção a porta.

Ao chegar à porta, meu pai destrancou-a e a abriu, pensei que os móveis que se encontrariam dentro daquela casa seriam os mesmos de minha antiga casa, eu estava muito enganada.

Comecei a andar pela casa e ia notando cada vez mais diferenças.

Pra começar, aquela casa tinha um Hall de entrada, na verdade, era apenas uma saleta com uma mesa de madeira e um abajur sobre ela, e nas paredes dessa saleta tinha três arcos, um deles levava a sala, que por sua vez, continha um sofá branco, uma mesa de centro de vidro, uma raque com uma televisão enorme de tela plana, a sala tinha uma porta de vidro que levava a uma varanda de madeira, que ficava em frente a mais gramado verde enjoado. De volta ao Hall de entrada, o outro arco levava a cozinha, era um lugar enorme, com muitas bancadas, uma mesa redonda, um balcão, fogão, armários, e geladeira, tudo variando entre as cores azuis e brancas, tinha um banheiro atrás de uma porta no canto da cozinha.

Voltei novamente ao hall de entrada e entrei no ultimo arco – o da parede da direita, ao lado da porta-, ele levava a uma escada em L, ao topo da escada tinha um corredor que seguia para leste, esse corredor levava a quatro portas no corredor, duas de cada lado, a primeira porta da direita era outro banheiro, a primeira porta da esquerda era o quarto dos meus pais, a segunda porta a esquerda era um quarto que meus pais me disseram ser o de hóspedes, e por fim, a segunda porta a direita era o meu quarto.

Abri a porta branca e entrei lentamente, pé ante pé, como se tivesse alguma espécie de bomba no chão.

O chão era de madeira, legal, ao lado da porta tinha uma cama Box de solteiro, que estava com um edredom vermelho sobre ela, ao lado da cama tinha um criado mudo com um abajur, na parede a esquerda da cama, tinha uma enorme prateleira que cobria toda a parede, e uma parte dessa prateleira estava com meus amados livros, na parede a direita da cama, tinha um guarda-roupa branco, na parede a minha frente tinha uma escrivaninha sob uma grande janela, sobre a escrivaninha tinha apenas meu Bonsai – cujo nome era Fred-, e a sua frente tinha uma cadeira de rodinhas de estofado vermelho.

As paredes eram brancas com uma espécie de fita, de trinta centímetros, vermelha e com textura, que ficava no meio da parede e cercava todo o quarto, parecendo uma caixa de presente, só que do avesso.

No canto do quarto tinha uma porta de vidro que levava a uma varanda pequena, nessa varanda tinha apenas uma rede pendurada uma pequena mesa ao canto da varanda, com um vasinho de flor em cima.

- E então? – indagou meu pai, me virei para encontrá-lo sorrindo para mim com minha mãe ao seu lado.

Forcei um sorriso e mexi em meu cabelo.

- Eu adorei – falei tentando soar empolgada, eles pareceram ignorar meu esforço e se contentaram com aquelas palavras, então saíram do quarto.

Meu pai voltou uns minutos depois e deixou minhas malas no meu quarto, eu ainda estava parada no meio do quarto, encarando as paredes, ele viu que eu queria ficar sozinha e se retirou em silêncio.

Fechei a porta do quarto e deixei meu corpo tombar na cama, então suspirei e ajeitei meus cabelos enquanto fitava o teto.

- É Califórnia, será que iremos uma com a cara da outra? – falei sozinha.

.-.

Luz, muita luz, vermelho, um teto branco.

“Um teto branco? Espera, o teto do meu quarto é de madeira e... Ah sim, a Califórnia”

Estiquei-me, então me sentei e cocei os olhos.

“Tudo parece tão perfeito, não parece me pertencer”

Levantei-me depois de fitar o chão por uns minutos, então estiquei novamente as costas, escolhi uma roupa na minha mala e saí do quarto, fui até o banheiro do corredor, tomei banho, me troquei e voltei para meu quarto enquanto desembaraçava meus cabelos com os dedos, parei em frente a um espelho que tinha atrás da porta e que só agora eu notara.

- Com minha lerdeza, vou demorar uns três meses para notar todos os detalhes dessa casa – falei sozinha e ajeitei minha blusa.

Eu estava com uma calça jeans, uma blusa de botões branca, sem mangas com o emblema do colégio, descalça.

Meus cachos ruivos estavam bem comportados naquele dia, meus olhos azuis não estavam nem um pouco ansiosos para o meu primeiro dia de aula numa escola nova, minha pele era extremamente branca, tentei sorrir em frente ao espelho para o caso de ter que sorrir para as pessoas da minha nova escola, meu sorriso mais parecia uma careta.

A porta se abriu e eu me afastei para não ser atingida em cheio, minha mãe entrou toda sorridente, seus cabelos ruivos estavam presos num coque comportado e ela me avaliava com seus olhos castanhos e curiosos.

- Ah minha bebezinha! Está tão linda! – ela começou a falar e a me abraçar.

Revirei os olhos e a abracei, então me desvencilhei dela e coloquei uma mala em cima da cama.

- Ainda não tirou suas roupas da mala? – disse minha mãe.

“Ainda tenho esperanças de voltar pra nossa cidade...”

- Hm, estava muito cansada ontem, dormi e esqueci de desfazer as malas – murmurei.

- Sei, você vai passar maquiagem não vai?

- Não.

- Ah Amélia, por favor, só um gloss, sei lá!

- Não, mãe.

- Amélia...

- Mãe...

Por fim ela me venceu, só se deu por satisfeita depois de me ver passar delineador, sombra e aplicar gloss nos lábios, então disse que ia me deixar em paz e saiu.

Calcei meu All Star surrado, e pensei em retirar a maquiagem, mas a preguiça não deixava, peguei o blazer do colégio, pendurei a mochila no ombro e saí do quarto, assim que desci as escadas e entrei no Hall de entrada me perdi na casa, então me lembrei de onde era a cozinha e fui para lá.

Meus pais estavam sentados à mesa, já tomando café.

- Bom dia, pai – falei deixei a mochila de lado, então me sentei á mesa.

- Bom dia Mel.

- Mel não – choraminguei e ele riu.

Meu pai tinha os cabelos castanhos curtos e os olhos verdes, e era muito bonito para sua idade.

- Tudo bem então, Amélia.

Servi-me de Waffles e tomei um copo de suco de laranja enquanto os dois conversavam sobre algo.

- Você tem que estar no colégio em meia hora – disse meu pai para mim checando seu relógio de pulso – e o colégio é longe, vamos?

- Vamos – falei e me levantei, então subi as escadas correndo, procurei minha escova de dente na minha mala, escovei os dentes e desci, meu pai já segurava minha mochila na ponta da escada, peguei a mochila procurei o blazer, estava em sua outra mão, e agora ele me mostrava a peça de roupa.

- Não acho que vá precisar disso – disse ele.

- Tem certeza? – falei hesitante, ele assentiu.

- Tudo bem então – falei dando de ombros e saí de casa, uma lufada de ar quente me tomou e eu queria voltar pra dentro de casa e enfiar o rosto no freezer.

- Ah a Califórnia – disse meu pai saindo atrás de mim e fechando a porta.

- É, a Califórnia – resmunguei e pendurei a mochila no ombro, então fui até o carro estacionado no meio fio.

Era um Linea preto que tínhamos há um ano.

Entrei no banco do passageiro e afivelei o cinto, meu pai fez o mesmo e foi me dizendo para ir prestando atenção a tudo, e aos lugares onde tinham pontos de ônibus para o caso de um precisar ir para casa ou para a escola de ônibus quando ele não pudesse me levar.