Voltando escrita por Gabriela Maria


Capítulo 1
Capítulo único




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Peeta está deitado de bruços, ressonando baixinho. A janela, que ele insiste em abrir todas as noites, permite a entrada de uma brisa agradável que passeia pelo quarto. Julgando pela tênue claridade que começa a envolver o ambiente, sei que o sol já está nascendo, mas eu continuo sentada numa poltrona ao canto da parede, observando o sono de Peeta.

Essa noite foi anormalmente ruim. Peeta estava exausto e adormeceu em pouco tempo. Eu não consegui fazer o mesmo. Fiquei inquieta, me virei mil vezes na cama, não consegui relaxar. Finalmente, após uns poucos e curtos cochilos, eu me levantei e vim me instalar nessa poltrona do quarto. Não gosto de perambular pela casa no meio da madrugada. Ainda há muitos fantasmas nesse lugar que ameaçam o que restou de minha sanidade.

Apesar de saber que eu poderia recorrer a alguns remédios para dormir, continuo largada sobre a poltrona, decidida a ficar acordada. Há apenas alguns anos, eu estaria me levantando agora, depois de uma noite de sono numa casinha apertada da Costura, e me preparando para caçar na floresta. Dessa vez, porém, não tenho mais uma família para alimentar. Por algum motivo, eu ainda teimo em caçar diariamente.

Todos os dias, saio após me certificar de que Greasy Sae já chegou para preparar o almoço e limpar a casa e vou para a floresta. Não me aventuro tanto quanto antes e minhas habilidades ainda estão debilitadas. Passaram-se semanas até que eu conseguisse abater um coelho com dignidade. Trago a caça para casa e Greasy Sae se encarrega de usar a carne para nossas refeições. Quando alguma coisa sobra, eu dôo para alguma família carente que decidiu voltar ao lar. Nos últimos meses, diversas pessoas retornaram ao Distrito 12.

Peeta, que tem mais costume de andar pela cidade do que eu, disse que viu alguns rostos conhecidos nas proximidades da praça. Ao que parece, o governo anunciou que vai financiar a reconstrução do distrito. Agora que todos os nossos mortos foram sepultados, o país está tentando retomar um ritmo. Eu não sei se consigo digerir essa ideia. Ainda é muito deprimente andar pelo que um dia foi a Campina e ver a vastidão cinzenta, sabendo que ali jazem centenas de conterrâneos. Meu povo. Meus amigos e conhecidos. Talvez até o que sobrou de minha irmã – embora seja difícil achar que sobrou alguma coisa.

É por isso que estou tão concentrada em observar Peeta. Há dias, Greasy Sae fez um comentário que me despertou para isso.

- Ele está bem, o garoto – ela disse distraidamente enquanto preparava um ensopado para o jantar. – Depois de passar pelo inferno e voltar, ele parece estar melhor que todos nós.

Sei que isso não é tão verdadeiro porque os pesadelos de Peeta se tornaram mais agitados e mais barulhentos. Ele agora geme e se remexe quando tem sonhos ruins. Já choramos juntos algumas vezes. Já trocamos amarguras. Ainda há momentos relativamente constantes em que ele foge de mim e se tranca em algum armário, com um monte de panos na boca, para tentar controlar seus flashbacks. Mesmo com o intenso e caro tratamento a que os médicos do Treze e da Capital o submeteram, Peeta ainda se sente um pouco perturbado. Ele ainda faz perguntas sobre o passado. De vez em quando, jogamos Verdadeiro ou Falso.

Geralmente, fazemos isso em dias de grande tristeza ou nostalgia. Falamos de momentos difíceis em tempos que agora parecem mais fáceis. Lembramos velhas histórias que costumavam ser felizes, mas que sempre me deixam com uma sensação de vazio. Peeta lida um pouco melhor com essas coisas. Vez ou outra, ele me faz rir. Desde quando voltou da Capital, há quase cinco meses, ele é meu maior patrocinador. O melhor que já tive. Então, parece certo ajudá-lo.

Quando decidi que voltaria a caçar, logo após o retorno de Peeta, tive dificuldades em me acostumar novamente com a floresta. Era muito doloroso entrar sozinha num lugar que costumava ser de Gale também. A questão não era a ausência de Gale em si, mas a ausência de tudo. A solidão crônica que me consumia. No dia em que Peeta apareceu aqui pela segunda vez, trazendo consigo pães fresquinhos, eu senti, pela primeira vez em muito tempo, que tinha companhia. Ele me acompanhou algumas vezes até a floresta. Eu nunca conseguia caçar nada devido ao barulho de suas passadas, mas era bom ter um parceiro. Nós coletávamos algumas frutas e raízes. Aos poucos, Peeta me incentivou a entrar mais na mata. Certo dia, nós conseguimos pescar. Primeiro no rio. Então, há cerca de dez dias, eu o levei até o lago. Peeta adorou o lugar. Foi mais um daqueles momentos tristes e nostálgicos, mas eu não estava só. Nós ficamos abraçados à sombra das árvores e não pescamos nem coletamos nada. Eu só queria que Peeta conhecesse aquele santuário. Contei sobre o pontoprop que tinha sido gravado ali, mas ele já sabia. Tinha visto o comercial enquanto estava na Capital. Conversamos pouco nesse dia. Mesmo assim, ele continua aqui. Ele vem dormir comigo todas as noites. E eu gosto disso. Deixo que Peeta me abrace e me prometa que vamos ficar bem. Deixo que ele me veja chorar.

Semanalmente, falo com o Dr. Aurellius e ele sugeriu que eu encontrasse um bom confidente. Sugeriu que, quando tivesse vontade de falar algo ou quando estivesse sufocada, eu conversasse com alguém. E disse que não havia nada de vergonhoso nisso, que eu só estaria seguindo com a vida.

Então percebi que a pessoa em que mais confio nesse mundo é Peeta. Talvez ele seja até a única pessoa. Não me interessa que ele tenha sido telessequestrado. Peeta ainda é bom. É decente. É o mais normal de todos os envolvidos com os últimos acontecimentos. Ele me ouve, tenta me entender e me abraça sempre que estou à beira do desespero. Ou sempre que estou à beira do mais absoluto desamparo. Ele plantou flores em homenagem à minha irmã na lateral da minha casa. Ele me aparece todos os dias com pães fresquinhos e quase sempre ajuda Greasy Sae a cozinhar o jantar. Ele a faz rir e me ajuda a limpar a caça que trago. Outro dia, quando voltei para casa com uma bolsa particularmente cheia de caça, Peeta soltou uma exclamação de vitória ao despejar o conteúdo da bolsa sobre a mesa.

- O que foi? – perguntou Greasy Sae. Até a netinha dela se aproximou de nós com uma expressão curiosa.

- Olha só isso! – Peeta respondeu. Seus olhos brilhavam tão intensamente quanto antes do telessequestro. Ligeiramente hipnotizada por isso, eu mal percebi o esquilo que ele segurava pela cauda.

- Quê? – eu disse.

- Olha! – ele apontou para a cabeça do esquilo. – A flecha, Katniss! Você acertou esse esquilo entre os olhos! Ainda dá para ver a marca da flecha.

Um silêncio pairou sobre a cozinha enquanto eu absorvia aquela informação. Não tinha me ocorrido que, pela primeira vez em meses de depressão, eu finalmente tinha abatido um bicho com meu tiro característico. Greasy Sae parecia ansiosa por minha reação, mas Peeta não perdeu o sorriso.

- Você sabe o que isso significa? – ele disse. – Significa que você está de volta, Katniss. Ou, pelo menos, que está a caminho! Significa que aí dentro ainda existe Katniss Everdeen e que ela vai voltar. Eu sei que vai!

Não me pergunte como Peeta consegue me deixar tão comovida com tão pouco. Na hora, fiquei realmente contente e até emocionada. Greasy Sae se encarregou de preparar o melhor cozido de esquilo de nossas vidas e Peeta não sossegou enquanto não a convenceu a jantar conosco.

A netinha de Greasy Sae sempre simpatizou com ele e, nesse dia, Peeta brincou bastante com ela. Ele é ótimo com crianças. Buttercup, que era o único dentre os que frequentam essa casa que tinha alguma aversão à presença de Peeta, ficou ligeiramente enciumado, então Peeta se encarregou de dar algumas entranhas de esquilo para ele.

Nada no mundo pode pagar a enorme dívida que me liga a Peeta Melark. Eu já lhe disse isso uma vez, mas ele apenas riu.

Peeta é paciente. Ele tem tolerado meus acessos temperamentais há mais de um ano. Tem cuidado de mim desde a infância, mesmo que fosse em segredo. Agora, imagino quais os motivos que o fazem continuar com essa postura. Ele poderia muito bem partir para qualquer outro lugar e recomeçar a vida, mas ele voltou para cá. E há momentos em que eu não quero sequer que ele saia da minha cama.

No mesmo dia em que comemos o banquete de esquilo, na hora de dormir, Peeta deitou ao meu lado e eu me dei o direito de abraçá-lo. Ele retribuiu o gesto. Eu já estava quase dormindo, com a cabeça pousada em seu peito, quando o ouvi sussurrar. Em geral, se nós não estamos conversando, ele fica bem quieto. O máximo que faz é acariciar meus cabelos. Nessa noite, porém, antes de ser carregada pelo sono, pude ouvir Peeta confidenciar:

- Eu te amo.

Então ele suspirou de um modo triste e começou a afagar meus cabelos.

Nunca ouvi nada disso. Não assim, falado para as paredes em voz tão baixa. Na hora, mil sentimentos poderiam ter me invadido, mas só o que fiz foi abrir um pequeno sorriso, que Peeta sequer percebeu.

Agora há alguma alegria, muita incompreensão, algum alívio e uma onda de curiosidade e de agitação. As palavras de Peeta não me saem da cabeça. Em parte, tenho vontade de perguntar sobre o assunto, mas sinto vergonha. Embora Greasy Sae nos olhe de modo sugestivo e faça comentários como: “Vocês se dão muito bem” e “Ele está pensando em morar aqui?”, eu me sinto insegura e culpada. Assuntos românticos nunca foram meu ponto forte e, sinceramente, que condições tenho eu de tratar deles agora? Mal consigo cuidar de mim mesma...

Peeta se remexe lentamente na cama. Imagino que ele esteja prestes a acordar. Geralmente seu sono não vai até muito depois do amanhecer e o quarto já está bastante iluminado. Sorrio ao pensar em seus eternos hábitos de padeiro.

Finnick estava certo: eu amo Peeta. Não demorou muito para que eu me desse conta disso, mas ainda não sei se posso afirmar com toda a certeza qual é esse tipo de amor. O gesto de Peeta, sussurrar uma declaração quando achava que eu estava dormindo, apenas me deixa mais preocupada. Ele está tentando não se aproveitar da minha fragilidade e imagino o quanto deve ser torturante estar ao lado da pessoa amada e ser obrigado a reprimir a vontade de expor abertamente esse sentimento. E imagino o quanto não mereço o amor de Peeta. E o quanto sou sortuda por tê-lo mesmo assim. E penso finalmente que não quero vê-lo longe de mim. Nunca mais. Porque, se ele for embora, eu nunca mais vou encontrar a tal Katniss que está aqui dentro. Ela vai voltar para uma arena qualquer e vai passar o resto da vida como a bestante em que se tornou, perambulando em meio a seus maiores horrores do passado.

Acabo de chegar a essa conclusão pela milésima vez em dias quando Peeta abre os olhos e tateia o colchão em busca de mim. Ele ergue o tronco sobre os antebraços ao constatar que não estou ali e olha sobressaltado para os lados.

- Aqui – digo para que ele possa me localizar.

- Já está de pé? – Peeta se senta na cama, aliviado, e coça os olhos preguiçosamente.

- Mais ou menos.

- Noite ruim? – confirmo. – Por que não me chamou?

- Você estava dormindo tão bem.

Essa é uma das maneiras que encontrei ultimamente para demonstrar um mínimo de carinho e preocupação em relação a Peeta. Ele parece dividido entre a satisfação e o aborrecimento.

- Eu não me incomodo de ser acordado – diz enfim. Então pensa um pouco e acrescenta. – Quer conversar sobre o que te tirou da cama? – sacudo a cabeça.

- Não. Eu nem consegui dormir mesmo – levanto da poltrona e caminho até a cama. Sento-me ao lado de Peeta, retomando meu lugar no colchão.

Ele se aproxima para que eu repouse a cabeça em seu ombro e não penso duas vezes antes de aceitar a ideia.

- Não se preocupe. Você está melhor – Peeta observa. – O Dr. Aurellius disse que essas noites de insônia podiam vir, não foi?

- Foi – concordo. – Ele também disse que eu não devia usar os remédios da depressão para isso.

- Talvez a gente devesse comprar aquelas pílulas soníferas.

- Talvez... – mas a ideia não me agrada muito. Lembro-me claramente de quando as tais pílulas apenas prolongavam meus pesadelos horripilantes durante a Turnê da Vitória.

Peeta acha minha mão e a segura com a sua, entrelaçando os dedos nos meus.

- Peeta – começo, seguindo um impulso que simplesmente não pude conter. – Eu estive pensando... – ele me olha atentamente, mas eu não consigo prosseguir.

- O que foi?

- Nada – encaixo a cabeça em seu ombro outra vez. Menos de um minuto depois, porém, volto a encará-lo e crio coragem para dizer. – Eu só queria agradecer pela sua ajuda. Desde sempre.

- Mas é isso o que a gente faz – ele responde calmamente. – Cuida um do outro.

Por um segundo, posso reviver o exato momento em que pronunciei aquelas palavras, quando conversei com Peeta no subsolo da Capital. Será que, mesmo de forma menos eficaz, eu também não tenho me esforçado para cuidar de Peeta desde sempre? Não tenho observado cuidadosamente a vida do garoto com o pão desde o nosso primeiro contato? Eu não sabia alguns detalhes de sua rotina e não tratava de acompanhá-lo vez ou outra com os olhos?

- É – concordo, sentindo o coração bater mais rápido. – É isso que a gente faz. Desde sempre.

Peeta sorri.

- Posso fazer uma pergunta? – disparo antes que a coragem passe.

- Uma já foi, mas eu deixo que você faça outra – ele brinca.

- Por que você voltou para o Doze, Peeta? Depois do que houve com sua família e com a gente?

- E o que houve com a gente, Katniss? – não sei o que responder. Peeta continua muito calmo. – O telessequestro não foi sua culpa.

- Se eu não tivesse me afastado com a Johanna... – começo.

- Se eu tivesse aceitado sua ideia de romper a aliança antes... – retruca ele, imitando minha entonação. – Nenhum de nós sabia do complô rebelde, Katniss. E nenhum de nós sabia exatamente que tipo de relacionamento nós dois tínhamos – eu nunca poderia me opor à última colocação.

- Mas você podia ter ido para qualquer outro lugar.

Peeta dá um risinho fraco e suspira.

- Você nunca vai entender, não é? – ele diz entristecido. Fico calada, mas continuo a encará-lo. – Eu voltei por você, Katniss.

Haymitch também estava certo: eu poderia viver mil vidas e ainda assim não mereceria Peeta.

O que acontece a seguir é totalmente inesperado – nem eu imaginei que fosse reagir assim –, mas sinto minhas bochechas corando e meu coração batendo a toda velocidade. Por um segundo, estou prestes a abraçar Peeta com toda a força e beijá-lo, mas ele apenas solta minha mão e passa o braço por minhas costas, me puxando para mais perto.

- Vai dormir – ele sussurra. – Você precisa descansar.

Estou imersa em ideias confusas. De toda forma, eu me enrosco em Peeta, ficando meio deitada, meio sentada, e descanso a cabeça em seu peito. Posso ouvir o ritmo constante de seu coração. Posso sentir sua respiração quente e tranquila soprando sobre minha cabeça. Com a mão livre, Peeta volta a mexer no meu cabelo. Então, fecho os olhos e permito que a sensação de aconchego me entorpeça.

Não sei em que momento adormeço, mas quando acordo já passa do meio dia. Peeta não está mais por perto e Greasy Sae está batendo na porta do quarto, chamando-me para almoçar. Eu me levanto, um pouco desorientada por tudo que aconteceu no início da manhã, troco de roupa e desço para a cozinha. Lá, Buttercup e a netinha de Greasy Sae brincam perto da mesa.

- Onde está Peeta? – pergunto.

- Ah, ele saiu logo depois que eu cheguei. Disse que ia fazer pão – Greasy Sae responde enquanto coloca minha comida na mesa. – Ele também disse que você não dormiu muito bem essa noite.

- É. Acabei caindo no sono hoje pela manhã e não fui caçar.

- Peeta também disse para lhe lembrar dos remédios.

Não sei como Peeta consegue ser tão cuidadoso com todo mundo. Ele não só faz questão de me ajudar em tudo que pode, como também tenta ajudar Haymitch. Eu ainda não vi nosso antigo mentor desde que voltamos ao Doze. Nenhum de nós se dispôs a visitar o outro. Peeta, por outro lado, aparece vez ou outra na casa de Haymitch e, há pouco tempo, ele teve uma ideia.

- Você mesma falou que o Dr. Aurellius disse que o importante é não ficar parado. Haymitch precisa de alguma atividade. Beber já não é suficiente – ele disse.

- E o que você sugere? – eu perguntei sem grande interesse.

- Bem, eu estive pesquisando e... – Peeta hesitou por um segundo, mas acabou dizendo. – Haymitch já não pode fazer nada que cobre muito esforço físico e também não é muito jeitoso ou delicado... Pensei que ele poderia criar gansos. São bichos resistentes e interessantes e que precisam de poucos cuidados.

- Parece o tipo de coisa que Haymitch aprovaria – eu comentei com alguma sinceridade.

Não sei se Peeta está dando prosseguimento a essa ideia, mas sei que ele faz questão de manter algum contato com Haymitch. Às vezes, os encontros deles são muito difíceis. O próprio Peeta já confessou que se sente um pouco pior quando vê o estado de miséria em que Haymitch se encontra, mas ele garante que não vai desistir.

- Haymitch nunca desistiu de mim, não foi? – justificou. – Não posso simplesmente deixá-lo para trás.

Suponho que o mesmo deva se aplicar a mim, mas não sou tão boa e coerente quanto Peeta. Ainda me sinto incapaz de ajudar quem quer que seja. E ainda tenho algumas mágoas em relação a Haymitch.

Depois do almoço, eu decido que vou caçar. Como Peeta vive insistindo em repetir, nenhum de nós pode – nem deve – passar um dia inteiro parado. Ele, por exemplo, passa horas inteiras fazendo pão e alguns tipos de torta. Outro dia, Greasy Sae lhe deu a sugestão de usar carne de peru selvagem nessas tortas e Peeta ficou maravilhado com a ideia. Desde então, ele está aprendendo a cozinhar.

É isso que me fascina em Peeta: sua vontade de continuar vivo. Ele não jogou a toalha como Haymitch e eu. Talvez o telessequestro tenha lhe ensinado algo que ainda estou aprendendo.

- Nós escapamos da guerra, Katniss. Nascemos de novo. Você sabe melhor que ninguém o quanto a coisa foi sangrenta. Parece muita ingratidão da nossa parte ficar parado num canto, se afogando em tristeza.

Depois de ouvir isso algumas vezes, eu me convenci de que Peeta estava certo. Em grande parte, acho que é por isso que tenho me dedicado mais ao tratamento. Acho que esse é um dos motivos pelos quais atendo aos telefonemas semanais de minha mãe. Ainda é difícil falar com ela sem sentir uma vontade insana de chorar, mas estou trabalhando nisso.

Há umas duas ou três semanas, Peeta me convenceu a fazer uma faxina geral na casa. Até então, Greasy Sae só limpava os cômodos que estavam sendo utilizados – a cozinha e a minha suíte.

Juntos, ele e eu fizemos uma verdadeira varredura. A faxina durou quase cinco dias. Alguns momentos foram como verdadeiras sessões de tortura, como quando nós limpamos o quarto de Prim. Outros tinham vestígios de felicidade, como quando lhe mostrei a foto do casamento de meus pais.

Aos poucos, Peeta vem me convencendo a recomeçar. Nunca me senti tão ligada a ele. Não porque me sinto em dívida, mas porque gosto de tê-lo perto de mim, porque gosto de quem ele é. Eu me esforço para retribuir sua ajuda. Juntos, nós estamos tentando re-encontrar algum sentido nas coisas.

Ultimamente, tenho a impressão de que estou estabelecendo uma rotina mais proveitosa. Já consigo acordar quase tão cedo quanto Peeta e passo a manhã toda caçando. O problema é que passo a maior parte da tarde e da noite desocupada. Então, durante a tal faxina, encontrei o velho livro de plantas da família. Passei várias tardes lendo cuidadosamente cada página, refrescando meus conhecimentos. Pensei no que Peeta falou sobre fazer com que as mortes valessem à pena e tive a ideia de começar outro livro. Ainda estou amadurecendo o pensamento, mas acho que vou falar sobre isso com o Dr. Aurellius e perguntar sua opinião. Acho que tanto ele quanto Peeta aprovariam a ideia. Acho que seria uma boa forma de ficar ocupada e de sarar as feridas.

Agora, porém, o sol já está se pondo e eu estou voltando da floresta com a bolsa de caça quase cheia. Em geral, tento fazer o caminho menos movimentado possível – a cerca que rodeava a floresta foi removida, mas eu continuo entrando na mata pelo mesmo ponto da Costura –, porque minha presença ainda chama muita atenção. Contudo, estou contente porque vi que vestígios de um mato verde estão surgindo na Campina outra vez, ainda que ninguém tenha cultivado, então passo nas proximidades do que costumava ser a nossa praça e vejo que as ruínas do distrito estão se transformando num canteiro de obras. A um canto, Thom, que trabalhava com Gale, está conversando com uma figura loura de cabelos cacheados. Demoro um pouco para reconhecer Delly Cartwright. Ela está ainda mais magra do que eu me lembrava e parece ocupada. Thom está com uma roupa de pedreiro e os dois apontam para uma construção recém-iniciada, como se combinassem o que farão a seguir.

Imagino se Peeta já sabe do retorno de sua velha amiga e sorrio ao imaginar a felicidade que essa notícia certamente lhe trará.

Caminho de volta à Aldeia dos Vitoriosos sem fazer mais pausas. Já estou à porta de casa, mas tenho vontade de falar com Peeta. Embora ele passe um tempo considerável na minha casa, o jardim de sua propriedade está impecável e, pelo que vejo às vezes, o interior da casa continua muito bem cuidado. Por sinal, outra coisa que Peeta me incentiva a fazer e que ajuda a distrair minha mente é cuidar do meu jardim. O pequeno canteiro de prímulas noturnas já está bem grandinho e florido, embora estejamos nos últimos resquícios de verão. Mas não acho que o bom estado da minha casa – da qual Greasy Sae agora cuida com tanto esmero – possa ser comparado ao da casa de Peeta, que mora sozinho.

Desde quando eu lhe pedi que passasse a noite comigo pela primeira vez, Peeta dorme comigo todas as noites. De uns tempos para cá, nós chegamos ao consenso de que ele deveria ter algumas mudas de roupa na minha casa, caso algum dia precisasse delas. Então, separei uma parte do guarda-roupa para os pertences de Peeta – que incluem vestimentas e objetos de higiene pessoal. Foi a partir daí que Greasy Sae começou a perguntar se nós estávamos pensando em morar juntos. Inicialmente, a ideia parecia quase absurda e me deixava muito constrangida. Agora, acho que é uma sugestão tentadora.

Finalmente, eu decido que vou falar com Peeta. Ele quase sempre aparece para jantar comigo e então passa o resto da noite me fazendo companhia, mas posso ver a luz de sua sala acesa através da janela e imagino que ele esteja muito concentrado em fazer pão nesse momento. De qualquer forma, eu bato na porta de sua casa, ciente de que posso estar interrompendo seus rituais culinários.

- Oi – ele cumprimenta ao abrir a porta.

- Oi. Tá ocupado? – Peeta nega com a cabeça e se afasta para que eu entre. Ele está vestindo uma camiseta branca e um avental. Seu corpo está suado e cheio de farinha, mas Peeta parece muito contente.

- Eu queria mesmo falar com você – ele diz, sorrindo. – Adivinha só o que eu recebi hoje à tarde? – encolho os ombros. Não faço ideia do que poderia ser tão bom. Peeta então corre até um pequeno móvel da sala e volta com um papel na mão. – Olha só.

Ele me entrega o papel. Não é uma folha qualquer. É a fotografia de um bebê miúdo e recém-nascido. Ele está encolhido em meio a vários lençóis, exalando preguiça, mas abriu os olhos para a câmera. Eles são tão lindos quanto os olhos de sua mãe e os cabelos da criança têm um tom sensacional de dourado.

- Oh! – exclamo, incapaz de evitar que meus olhos fiquem marejados.

- Ele não é lindo?! – Peeta ainda está sorrindo, mas percebo que ficou tão emocionado quanto eu.

- Peeta... eu... eu nem imaginava... – ergo a cabeça para encará-lo. – Eu não fazia ideia de que Annie estava grávida!

- Eu tinha ouvido uns boatos – ele diz –, mas não tive a chance de vê-la. Então, um dia desses, eu finalmente consegui o endereço dela e me preparei para escrever uma carta, pedindo seu número de telefone, mas acho que Annie nos encontrou primeiro – ele me entrega outra folha. – Essa carta veio junto.

O filho de Finnick parece bastante com o pai. O formato do rosto e da boca. A forma como entrelaça os dedinhos gorduchos, quase como se fosse fazer seu primeiro nó. Na carta, Annie explica que o bebê nasceu há cerca de dez dias e que o parto foi um pouco complicado, mas já está tudo bem. Ela também diz que há muito não se sentia tão bem. E recomenda que Peeta, Haymitch e eu não desistamos. Ela garante que torce por nós todos os dias. A primeira lágrima escorre quando leio a seguinte frase: “Depois de toda a barbárie que vimos e vivemos, eu acho que vale à pena perceber essas pequenas explosões da vida. Lá no fundo, todo mundo tem um bom motivo para viver.”

Prim.

O sacrifício e a coragem de minha irmã são as primeiras que coisas que me vêm à mente quando termino de ler a carta. Penso no quanto sou sortuda por ter convivido com ela. No quanto sua morte deve valer à pena. É quando lembro que minha segunda grande motivação ainda vive e está me observando, esperando que eu termine de ler e diga alguma coisa.

Ergo os olhos para Peeta e vejo o sorriso lacrimoso dele.

- Ele parece muito com o pai – digo, indicando a fotografia.

- É verdade – ele concorda. – O cabelo, o rosto... Mas os olhos são iguaizinhos aos de Annie!

Então estou sentindo aquilo de novo. Aquela coisa estranha que acontece quando temos uma notícia boa. Aquela sensação que aquece o peito e puxa os lábios para o lado, que nos dá vontade de andar por aí e espalhando a boa nova. Em algum recôndito do meu cérebro, associo essas sensações a dois nomes: felicidade e vida.

- Temos que responder a carta – digo, sentindo que estou quase tão alegre quanto Peeta.

- Claro! Mas Annie também mandou o número do telefone caso a gente prefira conversar mesmo. Podíamos ligar para ela amanhã.

- É – concordo. Uma pequena onda de euforia tenta me invadir. Quando dou por mim, estou sorrindo tolamente para Peeta e ele para mim.

Impulsivamente, eu o abraço. O cheiro de suor e farinha entra sem piedade em minhas narinas, mas eu não me importo. Peeta me segura com força e eu começo a acreditar que Annie está certa.

- Eu queria ter te mostrado isso um pouco antes – ele diz sem me soltar. – Mas, quando fui na sua casa, Greasy Sae disse que você tinha saído para caçar.

- É. Eu não quis ficar parada a tarde toda... – então me lembro de Delly. – Peeta! – exclamo, afastando-me um pouco para encará-lo. Peeta parece assustado. – Eu também tenho uma boa notícia! Delly Cartwright voltou – ele arregala os olhos.

- Delly voltou?! – repete. Confirmo com a cabeça.

- Eu a vi hoje na praça, perto de uma construção nova.

- Você tem certeza de que era ela, Katniss?

- Claro que sim, Peeta! Ela deve ter cansado do Treze como todo mundo cansou – Peeta parece maravilhosamente surpreso.

- Que incrível! Vou procurar por ela amanhã... De repente a gente podia se encontrar. Eu, você e a Delly – hesito.

- É, talvez... – tento parecer animada.

- Não precisa ser amanhã, Katniss – ele diz, como se adivinhasse meus pensamentos. – É só que Delly é uma grande amiga e eu gostaria que você a conhecesse um pouco melhor.

- Ah – sinto o rosto corar. – Claro.

Há um breve silêncio.

- Bem, eu estou morrendo de fome – Peeta diz enfim. – Preparei a primeira torta de peru selvagem hoje à tarde – ele não pode conter a própria animação. – Quer experimentar?

Tortas. Pães. Bolos. Peeta deve estar alimentando quase metade do distrito. Ele sempre doa o que não consome, mas tem o cuidado de separar uma porção diária dos meus pães de queijo. Ganhei alguns quilos desde que voltamos a conviver.

A torta de peru selvagem é deliciosa. Peeta e eu sentamos à mesa de sua cozinha, que está coberta de farinha, e comemos alguns pedaços generosos. Na verdade, a torta não é tão grande e nós a devoramos em poucos minutos. A massa ainda está bem macia, porque Peeta desligou o forno há pouco tempo.

- O peru ainda não ficou bem temperado – ele observa. – Preciso caprichar mais na hora de cozinhar a carne. E tenho que deixar a massa menos seca.

- Eu achei tudo ótimo – comento humildemente. Peeta é sempre exigente com suas criações, mas ele sorri do comentário.

- Eu cismei de fazer essa torta hoje. Acho que aquela foto... – ele faz uma pausa. – Acho que a foto me fez pensar em Finnick e em todo mundo que... bem... – ele não termina a frase, mas eu sei o que quer dizer. Também senti uma onda de culpa e saudade quando vi o rosto do filho de Finnick e Annie, mas a alegria de ver que a criança estava viva e bem foi maior que tudo isso.

- Greasy Sae vai nos matar se não comermos do jantar que ela preparou – comento, tentando reduzir a tensão. Peeta dá um riso fraco.

- Não subestime meu estômago, Katniss – nós dois sorrimos, mas ele decide voltar ao outro assunto. – Katniss – diz ele lentamente –, você lembra o que aconteceu logo que nós saímos do subsolo depois de termos perdido o Finnick?

Nós nos encaramos por um tempo e eu sei que Peeta está pensando exatamente o mesmo que eu. Sei que ele voltou ao momento em que estava encolhido num canto, lutando para controlar o impulso de matar todo o nosso esquadrão, principalmente eu. Sei que ele se lembra com perfeição do momento em que fiz a única coisa que me passou pela cabeça e o beijei. Não porque a ocasião era muito romântica e propícia. Não porque eu queria beijá-lo há muito tempo. Mas simplesmente porque eu não queria perdê-lo. Porque eu já tinha perdido quase tudo. Snow estava ganhando e eu sabia que tirar Peeta definitivamente de mim seria a maior conquista pessoal do ex-presidente.

- Claro que lembro – respondo finalmente.

Naquele momento, eu fiz exatamente como agora: aproximei-me de Peeta, segurei seus pulsos e me inclinei para frente. Então, pressionei os lábios contra os dele. Dessa vez, a diferença é que Peeta se levantou e nós estamos no meio de sua cozinha bagunçada, coberta de farinha e com cheiro de pão recém-assado.

Ele me segura com força e eu o beijo com toda a saudade que decidiu transbordar. Há quanto tempo Peeta e eu não nos beijamos? Há quanto tempo só o que me resta são as lembranças de nossos bons momentos e a minha vontade de recuperar nosso relacionamento? Quando voltamos a conviver, eu estava num momento absolutamente sombrio. Lentamente, Peeta conseguiu fortalecer minhas humildes tentativas de recomeçar. Agora, a questão não é o medo que tenho de perdê-lo – não acho que ele pense em partir –, mas sim a minha vontade de mostrar que me importo, de merecer que ele fique. Quero mostrar que demorei a ter certeza, mas agora sei que quero mantê-lo bem perto de mim e recuperar o tempo que perdemos. Estou convencida de que Peeta me aconselharia a fazer algo assim. Não quero continuar imersa em dúvidas e complicações. Quero apenas ficar perto da última pessoa querida que me resta.

Pela terceira vez na vida, eu estou concentrada demais em beijar Peeta para perceber qualquer outra realidade. E por que eu deveria me preocupar com qualquer outra coisa, afinal? Peeta voltou. Eu estou tentando voltar também. Nós estamos cansados, sujos e nostálgicos, mas continuamos aos beijos. Exatamente como quando tudo o que nos restava na arena eram nossas promessas de ajuda mútua e a confusão em meus sentimentos. Exceto que, dessa vez, por incrível que pareça, meus sentimentos estão um pouco mais claros. Eu finalmente acho que isso aconteceria de alguma forma.

Quando Peeta interrompe o beijo, eu consigo não ficar desapontada. Nós ficamos abraçados, grudados um no outro, e ele enterra o rosto na curva do meu pescoço. Seus lábios quentes e umedecidos tocam minha pele suada e eu fecho os olhos para apreciar totalmente sua presença.

Em algum momento, nós decidimos que é melhor irmos para minha casa e comermos o jantar que Greasy Sae preparou. Então, ajudo Peeta a organizar rapidamente sua cozinha e nós saímos de sua casa de mãos dadas. Quando chegamos à minha casa, Greasy Sae já está louca para ir embora. Ela se retira logo que percebe nossa chegada, mas lança um olhar sugestivo para nossos dedos entrelaçados. Peeta toma banho no banheiro perto da cozinha enquanto eu uso o do meu quarto e, quando volto ao térreo, ele já pôs a mesa e está à minha espera.

Nós sentamos frente à frente e comemos em silêncio. Vez ou outra, Peeta me olha, sorrindo. Retribuo seus sorrisos, mas fico cada vez mais nervosa. Surgiram palavras em minha mente que eu não estou acostumada a dizer e não sei se terei coragem de falá-las em voz alta, ainda que esteja decidida a fazê-lo.

- A gente nunca se falou antes dos Jogos Vorazes – Peeta diz de repente. – Verdadeiro ou falso?

- Verdadeiro – digo confusa. Pelo que sei, ele se lembra muito bem do período entre o episódio do pão e a primeira arena. – Você e eu ficamos noivos na Capital, durante a Turnê da Vitória. Verdadeiro ou falso?

- Verdadeiro – ele responde com os olhos fixos nos meus. – Mas você gostava do Gale. Verdadeiro ou falso? – hesito.

- Verdadeiro, mas eu já não tinha certeza de nada por causa de você.

- De mim? – suponho que Peeta sempre teve curiosidade de saber o que passava pela minha cabeça naquela época.

- É. Você tinha se provado um ótimo companheiro e tinha... mexido comigo.

- Mas você estava decidida a ficar com Gale – ele insiste. – Verdadeiro ou falso?

- Falso. Eu tinha certeza de que gostava dele, mas sacrificaria qualquer coisa para manter minha família em segurança. Eu não podia me envolver com Gale e, sinceramente, nós nunca daríamos certo. Eu e ele.

- Por que não? – sei que meu relacionamento com Gale sempre foi perturbador para Peeta, mas não gosto muito de desenterrar esse assunto. Algumas mágoas demoram demais a passar.

- Porque ele era muito mais um amigo do que um amante. E eu não estava disposta a me afastar de você.

Peeta e eu mergulhamos num silêncio demorado. Ele esquadrinha meus olhos, quase como se tentasse detectar um mínimo sinal de mentira ou incerteza que pudesse existir.

- Você não se afastaria de mim? – ele repete.

- Não – digo com firmeza.

- E por que não?

Fale, Katniss! Fale!

- Porque a gente cuida um do outro. Eu sempre dei um jeito de ficar de olho em você – meu rosto cora e meu coração acelera, mas eu continuo falando. – Eu tinha medo de perder minha amizade com Gale se alguma coisa surgisse entre mim e ele. E eu me sentiria culpada por sua causa... – faço uma breve pausa, então decido completar. – Ele nunca soube realmente como lidar comigo. E ele foi embora. Simples assim.

- Talvez tenha sido demais para ele – Peeta arrisca com uma expressão mais suave.

- É – retruco, subitamente aborrecida. – Imagina então o que não foi para mim. E ele me virou as costas, não foi? Você sabe exatamente o quanto uma pessoa é importante quando já não pode alcançá-la e não foi a ausência do Gale que causou meus primeiros sinais de depressão, quando ainda estava lá no Treze.

Intimamente, espero que Peeta entenda o recado: “Ele me virou as costas, mas você não. Você voltou. E você diz que voltou por mim. E foi por você que eu quase parei de viver quando soube dos planos da Capital a nosso respeito.”

Contudo, só o que Peeta faz é dar um sorrisinho compreensivo e elogiar a comida de Greasy Sae.

Mais tarde, quando vamos dormir, ficamos abraçados no silêncio enquanto eu reflito acerca do beijo de horas atrás. Não foi lá um momento muito romântico. Na verdade, eu apenas dei vazão a um impulso que já me acompanhava há algum tempo. Penso então nas raras vezes em que nos beijamos na arena e eu sabia com toda a certeza que nenhum dos dois estava encenando. Em ambas as ocasiões, eu estava aterrorizada com a perspectiva de perder Peeta realmente. Hoje, só o que eu queria era que ele soubesse o quanto sou grata por tê-lo ao meu lado. Então, quando me grudo melhor junto dele, Peeta sussurra.

- Você me ama. Verdadeiro ou falso?

Pela primeira vez, mesmo sabendo exatamente ao que ele se refere, eu respondo tranquilamente e sem hesitar:

- Verdadeiro.

Então ele sorri largamente e me segura com mais força. E nós adormecemos pouco depois. Inexplicavelmente, não há pesadelos nessa noite.


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