Remember Me escrita por SweetBia, Anaísis


Capítulo 8
Broken heart


Notas iniciais do capítulo

Ok, antes de começarem a reclamar e atirarem-me com tudo o que estiver à mão deixem-me explicar o motivo desta ausência tão prolongada: basicamente tudo se resume a eu estive a matar-me a estudar! Sério gente, estou no último ano do ensino secundário e a minha entrada na universidade e no curso que quero depende muito das notas que tiver, por isso perdoem a minha ausência, para vos compensar fiz um capitulo enorme e cheio de emoções para vocês.
Por favor não abandonem a fic =(
Boa leitura



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No capítulo anterior
– Nunca te esqueça que eu te amo, mais do que à minha própria vida.
Dito isto, virou costas e partiu rumo ao seu destino, ouvindo os gritos da irmã em meio ao seu choro, deixou algumas lágrimas escapar e enquanto andava pensava em quanto a vida era injusta, ainda ontem tinha conseguido encontrar a sua irmã mas não conseguiu ter tempo nenhum para estar com ela, mais uma vez o tempo encarregou-se de os separar e desta vez era por tempo indeterminado, havia até a hipótese de ele morrer em combate, mas Jasper tinha a certeza que um dia eles se iriam reencontrar, na terra ou no céu

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"Meu anjo
Todo este tempo que passei longe de ti, apenas serviu para me mostrar o quanto a saudade pode ser um sentimento poderoso.
Ultimamente não tem havido ataques na zona em que estou colocado e, por isso, fiquei encarregado das operações de mudança de mulheres, crianças e idosos para lugares mais seguros, sítios onde possam ter pelo menos um mínimo de proteção contra esta guerra que não quer acabar. Não sei como admitir isto mas uma parte de mim deseja ser colocado noutro lugar, num sítio onde haja batalhas a decorrer, quero isto não pela ação em sim mas porque pelo menos lá não tenho tempo para pensar, para sentir O que faço agora tem sido como uma tortura para mim, sei que estou a fazer algo de bom pelos outros, que estas pessoas que perderam a sua casa, familiares, amigos, todas as suas posses, precisam de toda a ajuda que lhe prestamos, mas olhar à minha volta e ter de ver constantemente crianças apenas faz com que o buraco no meio peito, que tenho desde que parti e dica bem no lugar do coração, doa cada vez mais, como se atirassem sal para cima de uma ferida que ainda não cicatrizou.
Há poucos dias perdemos uma menina no caminho e após a sua morte precisei de algumas horas a sós para conseguir lidar com a dor que senti, não porque conhecia a menina mas porque assim que pus os olhos nela foi como se te visse no seu lugar, a mesma cor de cabelos encaracolados e uns grandes olhos castanhos que, apesar de não serem iguais ao teu chocolate, assim que pousaram em mim, foi como se fosses tu a olhar-me. Eu tentei salva-la, juro que tentei, mas ela estava muito doente e os poucos recursos de que dispomos não foram suficientes para a salvar. Assim que a vi soltar o seu último suspiro e os seus olhos perderem o brilho apenas tu tomavas conta dos meus pensamentos, como estavas, se estavas bem, se estás a ser bem tratada, se naquele momento voltasse para casa voltaria a ver-te correr para mim e atirares-te para os meus braços, aconchegando-me com o teu abraço como já tanta vez fizeste. Ah meu pequeno anjo, eu juro que naquele momento, tal como em tantos outros, eu daria tudo e mais alguma coisa, venderia a minha alma ao Diabo se fosse preciso, só para te poder abraçar uma outra vez.
É verdadeiramente uma pena que nem sempre consigamos ter aquilo que desejamos logo no momento, por isso tudo o que me resta é esperar que possa voltar para casa e rezar para que, mesmo estando ausente, nunca te esqueças de mim e que estarei sempre a teu lado, pode não ser fisicamente, mas desde que me guardes um espaço para mim no teu coração, estarei sempre contigo.
Nunca te esqueças que eu amo-te mais que à minha própria vida, meu anjo.
Jasper"

Lágrimas caiam em cima do papel já um pouco desgastado devido às inúmeras vezes em que fora lido e relido, mas também pela ação do tempo. Já se tinham passado dez ano desde que aquela carta tinha sido enviada, dez anos desde que Jasper morrera. Na altura, Bella apenas tinha seis anos mas lembrava-se do dia como se o homem que a informara tivesse lá ido a casa nessa manhã, tal como se lembrava da dor que, apesar do tempo passado, continuava fortemente presente no seu peito.

Flashback on:
http://www.youtube.com/watch?v=yNVxwL8UGio

Estava um dia frio, não chovia mas também não fazia sol, ele estava escondido atrás de uma grossa camada de nuvens que deixavam o dia cinzento.
A pequena menina de olhos chocolate estava sentada no chão a olhar pela janela, não havia mais nada para fazer e ela estava aborrecida, a velha senhora que tomava conta dela desde que o seu irmão fora embora estava na cozinha a preparar o jantar, não podendo assim brincar com ela.
Antes de partir, Jasper encarregara-se de garantir que Bella ficara entregue aos cuidados de alguém que realmente tomasse conta dela. Tinha a perfeita noção que mal ela saísse pela porta o pai voltaria a maltrata-la, como sempre fizera, e desta vez ele já não estaria mais por perto para a defender. Dito e feito. Assim que pode o homem rude, largou a menina, atirando-a para o chão.
– Espero que estejas contente, a culpa do teu irmão ter ido embora é única e exclusivamente tua. falou, de seguida cuspiu-lhe em cima e saiu, batendo a porta com força.
Bella ficou encolhida no chão da sala a chorar, as palavras do pai magoaram-na muito mais do que o facto de a ter atirado para o chão ou lhe ter cuspido para cima. Não soube dizer se tinham passado minutos ou horas, mas algum tempo depois a simpática senhora que vivia na casa ao lado e com quem, por vezes, ficava quando o seu irmão ia trabalhar, entrou na casa e correu até ela. Limpou-lhe a cara e pediu-lhe que colocasse as suas roupas numa mochila que ia morar para casa dela. Muitos poderiam achar estranho a pequena menina ter obedecido de imediato, não reagindo da mesma forma que as outras crianças que choram e agarram-se aos pais, querendo ficar com eles, mas quem conhecia a história de Bella e a forma como o pai a tratava desde que nasceu compreendia perfeitamente o alívio da menina por não ter de ficar naquela casa com o pai.
Bella olhava para a rua sem realmente a ver, estava a pensar no seu irmão Jasper, ela sentia saudades dele, das brincadeiras que faziam, das horas que passavam no piano e a cantar, das noites em que ele lhe contava alguma história para adormecer, a senhora com quem vivia também lhe contava histórias mas não era a mesma coisa, ela não fazia as vozes das personagens, não lhe fazia cócegas quando via que ela estava apenas a fingir dormir, não lhe aconchegava os cobertores como Jasper fazia. Há seis meses que o irmão não lhe enviava uma carta e a pequena menina temia que ele se estivesse esquecido dela. Há tanto tempo que estavam longe um do outro e apesar da saudade imensa, Bella achava possível que Jasper já não se lembrasse dela.
Estava tão distraída que apenas notou no carro que se aproximava quando ele parou em frente da casa do pai e um homem de uniforme sai de dentro com uma caixa pequena nas mãos com a bandeira americana dobrada em cima. Observou o homem andar até à casa e bater à porta, ficando à espera que a mesma fosse aberta. Bella sabia que muito provavelmente o homem iria ficar ali espectado sem ninguém que lhe abrisse a porta, o pai estava de certeza a dormir profundamente, era essa a rotina dele, chegar de madrugada a casa bêbado e dormir até à tarde, voltando a sair à noite. Não seria as batidas na porta daquele homem que conseguiriam acordar o pai.
– Tia! Tia! chamou a velha senhora que veio da cozinha enquanto secava as mãos num pano. Está um senhor à porta de casa do pai.
– Um senhor? perguntou aproximando-se da janela e olhou para fora, na direção da casa, observando a figura imponente do homem. Arquejou, ela sabia muito bem o que significava a presença daquele homem com a bandeira em cima da caixa, só esperava é que estivesse errada. Espera aqui querida, eu vou ver o que o senhor quer, não saias de casa Isabella.
Bella viu a senhora ir ter com o homem, dizer-lhe algo ao qual o homem respondeu e nesse momento a menina não se aguentou de curiosidade mas também de preocupação, o que quer que ele tivesse dito, tinha feito a senhora chorar e de alguma forma Bella sabia que o que o homem tinha falado tinha a ver com Jasper. Desrespeitando a ordem que lhe fora dada, Bella saiu de casa indo até os dois adultos.
– Eu lamento imenso, o Jasper não era apenas um excelente major, era também um grande homem. ouviu o homem dizer com uma voz grave.
– Jasper? O senhor conhece o meu irmão? Sabe onde é que ele está? Ele esqueceu-se de mim? perguntou, atraindo a atenção dos dois adultos.
– Bella, eu tinha-te dito para ficares em casa. a senhora repreendeu-a.
– Desculpa tia, mas é que eu vi a senhora chorar e fiquei preocupada. tentou desculpar-se mas sem tirar os olhos do homem que se baixava, ficando da altura dela.
– Tu és a irmã do major Jasper, Isabella, certo? perguntou.
– Sim, como é que sabe o meu nome?
– Oh o Jasper falava muito de ti, eras o maior orgulho dele.
– Então ele não se esqueceu de mim?
– Claro que não. afirmou com uma pequena risadinha Ele sentia muito a tua falta, sempre que tinha algum tempo livre olhava para a tua foto que andava sempre com ele, escrevia-te cartas ou relia as cartas que lhe escrevias vezes sem conta.
– Então onde é que ele está? Porque é que não veio com o senhor? Ele vem a caminho? interrogou, olhando para o fim da rua esperançosa não vendo assim a troca de olhares preocupados entre o homem e a senhora que também se baixou, ficando do seu tamanho.
– Minha querida, - chamou, atraindo-lhe a atenção lembras-te do que o teu irmão te costumava dizer? Que ele estaria sempre contigo
– Desde que eu o guardasse no coração. Bella completou, demonstrando que se lembrava. Sim, mas porquê? Eu já não vou precisar de me lembrar dele, o Jazzy vai estar comigo, ele está quase a chegar! exclamou, acreditando que era para isso que o homem ali estava, para lhes dizer que Jasper estava a caminho.
– Bella - a senhora começou a dizer mas não conseguiu terminar a frase, desfazendo-se em lágrimas.
– Isabella, lamento muito que isto tenha acontecido e ter de to dizer, mas o Jasper não vai voltar. o senhor falou olhando para ela que o encarou confusa.
– Então eu vou ter com ele? É por isso que está aqui? Veio buscar-me?
– Sim, tu um dia irás ter com ele, mas só daqui a muitos anos, eu espero. suspirou, ganhando coragem para as palavras seguintes Isabella, o teu irmão morreu.
Ao ouvir aquelas palavras, Bella não reagiu, ela sabia muito bem o que era a morte, Jasper uma vez tinha-lhe explicado quando um vizinho já muito velho morreu, ele também lhe tinha dito que quem morria nunca mais voltava e isso não podia ser verdade, o seu irmão não podia estar morto, ele tinha de voltar para ao pé dela. Todos os príncipes dos contos de fadas que Jasper lhe lia voltavam, e ele era o príncipe dela.
– Não isso não é verdade, o senhor está a mentir e mentir é feio! respondeu, chateada por a estarem a tentar enganar fazendo-a acreditar em algo tão horrível.
– Eu queria muito estar a mentir, mas infelizmente não estou. O Jasper morreu mesmo.
– Não, não, não! É mentira, é mentira! O Jasper está vivo, ele vai voltar! exclamou não querendo acreditar na verdade, enquanto se atirava para cima do homem e lhe batia com toda a sua força no peito. Só que a sua força não era muita e em nada se comparava com a do homem que facilmente a agarrou, sendo o mais gentil possível, Bella ainda se debateu tentando soltar-se, só que o senhor não a deixou, abraçando-a, até que Bella ficou quieta, com as lágrimas a correr-lhe pelas bochechas e gritou toda a sua dor.
Flashback off

Depois daquele dia o mundo da menina desabou, já não sentia vontade de brincar, já não sorria, tinha de ser obrigada a comer e mesmo os dias de sol eram cinzentos para ela. De um momento para o outro tinha ficado sozinha, Jasper morrera, agora tinha certeza que ele nunca mais iria voltar, já não voltaria a sentir o seu abraço protetor, a sentir os beijos carinhosos que ele lhe dava na cara ou nas bochechas, já não voltaria a ouvir a sua voz.
A senhora bem tentou animar Bella, mas todas as suas tentativas revelavam-se infrutíferas, desde aquele dia que a única coisa que Bella fazia assim que acordava, era sentar-se em frente da janela da sala que dava para a estrada. Os olhos tristes não refletiam toda a dor que a sua alma sentia. De alguma maneira ela ainda mantinha a esperança de que tudo não passasse de um engano, que Jasper estive vivo e a qualquer hora podia aparecer, com o seu habitual sorriso e a brincar com ela por estar parada em frente a janela como uma estátua, mas isso nunca aconteceu. Preocupada com a saúde da menina e com aquele comportamento anormal para as crianças da idade dela, a senhora chamou um médico para a analisar. O doutor, um velho de cabelo já grisalho e óculos mas com um sorriso amável fez todos os procedimentos e algumas perguntas a Bella, que apenas respondeu por educação, e à senhora que lhe contou sobre a morte de Jasper. Nesse momento o doutor percebeu o que ela tinha, depressão, explicou à senhora e aconselhou-a a fazer com que Bella voltasse a antiga rotina e que a proibisse de passar os dias à janela. Dito e feito. Não se pode dizer que foi fácil porque não foi, nos primeiros tempos Bella debatia-se, batendo, chorando, gritando que ela não podia sair dali porque o irmão dela ia voltar e ela tinha que lhe dizer que estava ali e não em casa. Aquelas cenas partiam o coração da senhora que muitas vezes se ajoelhou, abraçando enquanto as duas choravam, porém não desistiu do seu objetivo de fazer Bella voltar à normalidade, vendo os seus planos indo por água abaixo assim que, uns meses depois, Bella parou de se debater sempre que a tirava de frente da janela para, em vez disso, entrar numa letargia profunda, finalmente entendera que o irmão morrera mesmo, que nunca mais voltaria. Parou completamente de falar, comia muito pouco e já nem saia da cama se não lhe mandassem. Esta fase perdurou até que a senhora teve uma ideia que talvez pudesse ajudar, então uma noite antes de dormir, na hora de contar uma história para Bella dormir, informou-a da sua ideia.
– A partir de agora vamos mudar um bocado a hora de dormir, em vez de te contar uma história vamos fazer um jogo chamado Eu lembro-me. começou e deu um pequeno sorriso ao ver que, pela primeira vez em meses, Bella olhava para ela com uma olhar interessado O jogo consiste em todas as noites lembrarmo-nos de algo que o Jasper tenha feito, assim nunca nos esqueceremos dele e ele estará sempre aqui, connosco. ao ver que a menina nada dizia nem reagia decidiu progredir, receosa de que aquela tivesse sido uma má ideia. - Muito bem, eu começo. Eu lembro-me, de uma vez quando o Jasper tinha a tua idade e estávamos todos a jantar no jardim, eu tinha um cão que também lá estava. O teu irmão passou o jantar todo a dar, de forma escondida, pedaços da sua carne para o cão, quando o descobrimos ele desculpou-se que tinha sido o cão a obriga-lo a dar-lhe a carne ou ia roer o seu bastão de basebol. recordou aquele tempo com uma risada.
Ao reparar que a menina nada disse, suspirou e levantou-se da cama dando-lhe um beijo na testa.
– Até amanhã querida.
Os dias passaram e Bella continuava sem falar, mas a senhora não desistiu e todas as noites contava-lhe um episódio novo, até que uma noite ia a sair do quarto quando ouviu uma vozinha suave e baixa.
– Eu lembro-me - Bella começou a medo e a senhora voltou para ao pé dela, sentando-se na cama ao seu lado quando eu era ainda muito pequena, o Jasper estava a tocar piano comigo ao colo, eu ainda não percebia como é que ele fazia aqueles sons maravilhosos mas queria fazer também então comecei a bater com as mãos no teclado, o Jasper começou a rir e a bater também com a mão no teclado levando a que tocássemos uma musica sem sentido nenhum e muito desafinada. Sempre que eu estava triste ele começava a bater com as mãos no teclado tal como eu tinha feito naquele dia fazendo-me rir.
A senhora sorriu para ela e assim se formou uma tradição, todas as noites cada uma delas contava um episódio diferente em que Jasper esteve envolvido e aos poucos Bella foi melhorando, já se levantava por livre vontade, comia, falava e até passou a sorrir e a brincar pouco tempo depois. Relembrar o irmão fazia com que ele continuasse vivo na sua memória, animando-a. A tradição continuou até aos quinze anos de Bella, altura em que a senhora adoeceu e acabou por falecer.
O dia da sua morte tinha sido mais um dia marcante na vida de Bella, o único ponto positivo fora que a sua morte não tinha sido tão repentina quanto a de Jasper, o que levou a que o impacto não fosse tão grande mas mesmo assim Bella não reagiu de uma forma dita normal
O dia tinha amanhecido limpo, sem nenhum rastro de nuvens, animando a menina que já se sentia farta da chuva intensa que caíra durante a semana. Levantou-se, indo preparar o pequeno-almoço para si e para a senhora para depois ir aproveitar um bocado o sol no jardim. Já fazia alguns dias que a senhora adoecera e a cada dia o seu estado piorara e cada vez mais Bella ficava assustada com o seu estado de saúde. Lembrava-se perfeitamente das palavras da senhora na noite anterior, que tanta inquietação lhe causara durante a noite.
– Minha querida, tu bem tens tentado esconder mas desde pequenina que nunca soubeste mentir ou esconder os teus sentimentos. Basta-me olhar para ti para perceber que estás com medo de algo. afirmou, segurando as mãos de Bella entre as suas e dirigindo-lhe um sorriso gentil. Bella não aguentou mais sufocar a angústia que a atormentava nos últimos dias e, por fim, deixou as palavras sair.
– É que eu tenho medo que também morras. Já se passaram muitos anos mas ainda recordo perfeitamente como foi receber a notícia da morte de Jasper, de como me senti sozinha eu não quero voltar a sentir-me assim. Se morreres já não vou ter mais ninguém, nem terei sitio para ficar, não há nenhuma forma de conseguir sustentar a casa, e eu não quero perder a senhora, tem sido a minha única amiga durante estes anos, é a minha familia.
– Bella, a vida tem de seguir o seu curso, ninguém é imortal. E tu não vais estar sozinha, ainda tens o teu pai. Eu sei que ele não é o melhor pai do mundo mas tomará conta de ti.
– Não quero ir viver com ele, quando era pequena maltratava-me e durante estes anos sempre que me vê vira a cara ou então fica a olhar para mim com desprezo. Como é que ele passará a tratar-me bem se até agora nunca o fez?
– Quando é necessário as pessoas mudam, vais ver que o mesmo vai acontecer com ele, vai-lhe bastar apenas uns dias de convivência contigo para perceber a jovem adorável que és e cair nos teus encantos. Bella, assim que souberem que morri alguém virá buscar-te para te entregar ao teu pai e tu terás que ir. Eu sei que vai ser difícil para ti, mas tens de ser forte, lembra-te do nosso jogo que fazemos com o Jasper e passa a fazê-lo comigo também. Quando tiveres vontade de chorar, chora porque chorar liberta a alma, mas de seguida ri-te porque eu e o Jasper vamos estar bem do teu lado a fazer-te cócegas porque não suportamos ver-te chorar. Eu sei que tens o teu irmão guardado num lugar do teu coração mas espero que possas arranjar um espacinho para mim também, para que assim esteja sempre contigo, do teu lado a apoiar-te em todas as decisões que tomares mesmo que pense que elas não são as mais acertadas, a ajudar-te a levantar quando caíres, a chorar contigo nas tristezas que a vida te trouxer, a compartilhar os momentos felizes e a orgulhar-me cada vez mais ao ver-te crescer porque tenho plena certeza que te tornarás numa grande mulher, mas lembra-te sempre que as grandes mulheres não se medem aos palmos mas sim em atos, em sentimentos, guarda sempre essa tua bondade ingénua, tu és boa demais minha Bella, não deixes que nada corrompa essa qualidade. Nos momentos em que achares que já não aguentas mais recorda-te dos bons momentos, recorda-te que tu és a filha que qualquer mãe deseja ter, és a filha que eu nunca tive e eu nunca poderia ter pedido melhor, porque melhor que tu não existe. Eu amo-te tanto minha querida, não interessa onde estiver, se estou presente fisicamente ou não eu vou sempre amar-te.
– Eu também te amo mamã.
Apesar de a ver como uma mãe, fora a primeira vez que Bella o tinha exprimido em voz alta. Após um abraço terno, a velha senhora afirmou estar cansada e Bella saiu do quarto para a deixar dormir.
O pequeno-almoço estava pronto e a senhora ainda não se tinha levantado, estranhando essa demora Bella encaminhou-se até ao quarto dela, normalmente ela já estava acordada a esta hora. Bateu a porta e aguardou resposta que não chegou, lentamente abriu um bocado a porta e, espreitando para dentro do quarto, viu que a senhora ainda se encontrava deitada. O seu primeiro impulso foi sair dali e deixa-la dormir mas algo lhe dizia para não o fazer, para se aproximar da cama e ver se estava tudo bem. Ainda ficou um bocado à porta a pensar no que fazer mas acabou por decidir seguir o seu instinto.
Sem fazer barulho aproximou-se da cama, ao ver que a senhora ainda tinha os olhos fechados deduziu que ainda estava a dormir. Sorriu de forma ternurenta para a senhora que considerava sua mãe, mesmo sabendo que ela não a veria, e pousou a mão em cima da dela que encontrava por cima do cobertor, sentindo de imediato a sua frieza. Estranhou aquela temperatura ao lembrar-se que as mãos da senhora estavam sempre quentes, mesmo durante o inverno. Bella podia ser nova, mas não era burra, sabia que quando uma pessoa se encontra com a pele gelada é porque morreu. Aproximou-se um pouco mais da cara da senhora e não sentiu a sua respiração, a entrar em desespero deitou a cabeça no peito da sua mãe no lugar onde saberia que iria ouvir o coração mas em apenas ouviu o frio som do silêncio, tentou por várias vezes sentir a pulsação no peito, no pescoço, no pulso, tentou abanar o corpo da senhora gritando-lhe que acordasse mas nada deu resultado, até que desistiu e deixou-se cair no chão, a chorar com a cabeça enterrada nos braços cruzados sobre o corpo da senhora, aceitando a realidade que ela morrera. Bella estava sozinha.
Não sabe dizer se ficou ali minutos ou horas, apenas que chorou toda a sua mágoa até que ficou apenas a soluçar. Sabia que tinha de falar com alguém, contar sobre a morte da senhora mas no momento em que se lembrou que isso levaria a que fosse levada para casa do pai, sentiu um arrepio percorrer o seu corpo. Não, ela não queria voltar para o pai, voltar aos maus-tratos que certamente sofreria nas mãos dele, tinha de haver outra solução e ela sabia qual era.
Levantou-se para por o seu plano em prática, lavou a cara inchada pelo choro e foi arrumar a senhora, compôs-lhe a roupa, o cabelo e ajeitou-lhe os lençóis, quem a visse pensaria que estava a dormir. De seguida saiu do quarto fechando a porta. Tinha noção que o plano era sórdido mas era a única solução que lhe ocorria.
Um mês se passou e, apesar de lhe ter custado, Bella seguiu com a sua vida, até ao momento o seu plano estava a funcionar, ninguém descobrira a morte da velha senhora cujo corpo continuava da mesma forma em que ela o deixara quando fechara o quarto no dia da sua morte, e ela não fora obrigada a ir viver com o pai. Porém, até mesmo os grandes planos tinham falhas e a de Bella estava prestes a revelar-se.
Bella arrumava a casa, não podia descurar as limpezas ou isso poderia gerar questões inconvenientes dos vizinhos, quando ouvia a campainha tocar. Pousou a vassoura e dirigiu-se a porta, abrindo-a com um sorriso falso, fazia um mês que todos os seus sorrisos eram falsos, a vontade de sorrir evaporara-se tal como a sua alegria, o que era comprovado pelas noites passadas a chorar. Assim que abriu a porta deparou-se com a vizinha da casa do lado oposto da rua, conhecida pela sua fama de adorar saber fofocas e conta-las a toda a gente que a pudesse ouvir.
Ótimo pensou Era só o que me faltava.
– Isabella, querida. cumprimentou com a sua voz nasalada Desculpa estar a incomodar mas eu estava a cuidar do jardim e quando dei por mim estava a pensar onde estaria aquela adorável senhora que vive em frente e que antes estava sempre no jardim a cuidar dele ou a fazer qualquer outra atividade, já não a vejo à algum tempo. interrogou a menina que ficou sem fala por momentos.
– Eh ela hum não tem ido tanto ao jardim porque está doente e o ar frio que ultimamente se tem sentido iria fazê-la piorar. mentiu hesitante, respirando fundo por ter dito algo normal e fácil de acreditar.
– Sério? Pobrezinha. Posso entrar para vê-la? Gostaria de lhe desejar as melhoras. pediu dando alguns passos para o interior da casa.
– Não! Bella barrou-lhe a entrada e com a voz umas oitavas mais alta que o normal. Ao notar o olhar da vizinha sobre si, apressou-se a acrescentar. É que agora ela está a dormir e o seu sono é muito leve, como precisa mesmo de descansar é melhor não se fazer barulho.
– Oh sim, tens toda a razão. Então vou voltar para o meu jardim, vê lá se cuidas dela, a senhora já está velha e precisa de ajuda.
– É o que farei. respondeu sorrindo amarelo.
Assim que a senhora voltou as costas, fechou a porta encostando-se nela e pondo a mão sobre o coração enquanto respirava fundo. Tinha-se safado por um triz. Quando se acalmou voltou para os seus fazeres, estava a cortar os legumes para a sopa quando ouviu a campainha tocar pela segunda vez no dia.
– Minha querida, durante toda a manhã não consegui deixar de pensar em ti. a mesma vizinha que a incomodara de manhã, falou adentrando a casa dirigindo-se a cozinha, assim que ela abriu a porta. Em todo o trabalho que deves estar a ter a cuidar da casa, de ti e da senhora ao mesmo tempo e sem ajuda de ninguém. Pensei em aliviar-te um bocada da carga e fiz uma sopa para o vosso almoço.
– Muito obrigada, mas não era mesmo preciso, eu tenho tudo sob controlo, de facto ia agora mesmo começar a fazer o almoço.
– Não sejas pateta, uma ajuda sempre é bem-vinda e além disso, assim já não o tens de fazer, ainda esta quente é so comer. A senhora ainda está a dormir? Bem, fica ai a comer sossegada que eu vou lá ver se ela precisa de alguma coisa e chama-la para o almoço. falou tudo de uma vez sem parar para respirar e já se dirigindo para o corredor, mal dando tempo a Bella para processar o que dizia. Assim que percebeu o que ela ia fazer, tentou trava-la.
– Não, deixe-a estar sossegada, ela precisa mesmo de descansar, é melhor não a incomodar e como lhe disse mais cedo, o sono dela é muito leve. pediu apavorada.
– Eu percebo a tua preocupação Isabella mas mesmo assim ela precisa de comer, não pode ficar muito tempo de estomago vazio, ainda por cima estando doente. Agora qual é o quarto? Imagino que seja este, é o que fica mais perto da cozinha e da casa de banho, assim ela não tem de andar muito. E sem dar tempo a Bella de a parar, abriu a porta entrando dentro do quarto. Meu Deus, que cheiro é este? Parece que morreu aqui algum animal e não retiraram o cadáver. exclamou, tapando o nariz com a mão enquanto se dirigia à janela para a abrir e deixar o ar fresco entrar.
Bella já não reagia, parada no lugar em choque e com medo do que lhe iria acontecer agora que o seu plano estava a poucos segundos de ser descoberto, observava a mulher dirigir-se à velha senhora cuja cor abandonara, deixando a pele completamente pálida.
– Oh meu Deus, ela está mesmo com um ar horrível, não seria melhor chamar um médico? indagou enquanto se aproximava da senhora. Assim que lhe tocou no braço assustou-se com a pele incomumente gelada. Tal como Bella, ela sabia perfeitamente o que aquilo significava. Pegou no seu pulso e tentou sentir a pulsação, ao não a encontrar segui para o pescoço e peito onde voltou a não sentir a pulsação.
A vizinha olhou para cima, na direção de Bella que através daquela olhar soube que esta perdida, agora já não havia possibilidade alguma de continuar a viver sozinha, a senhora iria contar a alguém e chamar as autoridades e ela Bella seria mandada para casa do pai.
Engoliu em seco e sentiu as lágrimas escaparem-lhe dos olhos ao pensar no que o futuro lhe reservava.


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Notas finais do capítulo

N/Amaya: *seca as lagrimas* SIM queridos leitores estamos de volta com esse capitulo incrível que a BabyBia fez, eu achei simplesmente divo, meu Deus, foi incrível.

Eu tenho certeza que vocês amaram, mas se querem dar um incentivo a autora por que não recomendam? Tenho certeza que isso vale mais do que qualquer lembrete, e sim nós AMAMOS recomendações, elas fazem nosso dia bem mais feliz.

Beijos.

Amaya ♥

N/Bia: E o que acharam do capitulo? Espero que tenham gostado.
Coitada da Bella, tão nova e já perdeu as pessoas que mais amava.
Comentários e recomendações são sempre muito bem-vindos e até ao proximo capitulo que eu prometo nao demorar tanto.
Beijos