Isabella

–Nós sempre vamos estar juntos, não é?-Disse Alice com seu sorriso infantil e seu rostinho redondo que até um tempo atrás preenchia buracos do meu coração.

–Sempre, Ally... -Respondeu Felipe sorrindo com os olhos fechados.

–Somos uma família... -Disse Sthefan com um sorriso um tanto quanto maduro para sua idade.-Eu sou o papai ,Isa a mamãe ,Ally a filinha fofa do papai .-Ele deu um olhar de canto para Ally.-E Felipe é o filho sapeca que merece uns tapas bem dados.

Rimos em uníssono.

–Eu que vou te bater Sthefan. - Respondeu com desdém Felipe enquanto bagunçava os fios finos e praticamente brancos de Alice.

–Sempre juntos. -Disse para mim mesma eternizando em minha mente... E eternizei.

Aquelas memórias estavam acabando comigo. Todos aqueles momentos que eu queria sempre me lembrar... Agora estava me corroendo por dentro e aquela dor...Se igualava a dor de perder quem mais se ama...Ou até a morte.

Eu precisava apaga-los de minhas lembranças para que a culpa não caísse sobre meus ombros. Mas era complicado e praticamente impossível, pois todas minhas lembranças da infância me lembrava eles... Toda minha vida e meu mundo na época giravam em torno deles...E hoje em dia ,não posso ser sínica comigo mesma e dizer que até hoje o mesmo mundo continua girando em volta deles...Por quê gira.

Cá estou eu passando o Natal e só penso neles... No sorriso tranquilo de Felipe ,na sabedoria precoce de Sthefan...E nos olhos infantis de Alice.

Se existe um botão para se desligar as lembranças, eu já o teria apertado sem nem pensar duas vezes, pois esse é o problema da vida... Não vivemos do momento presente como tantos dizem...Vivemos das lembranças e da saudade que elas trazem para o nosso coração fraco e doente.

–Isabella!-Um grito ao longe me despertou das lembranças, mas não foi o suficiente. Um segundo depois uma grande bola de neve acertou em cheio meu rosto, me jogando de lado no chão, já que estava sentada no mesmo em posição fetal.

Quando voltei as minhas capacidades mentais... Mais ou menos na verdade .Pude ver um Max se jogando no chão com a mão na barriga...Estava morrendo de rir.

Alex estava com a mão na boca estupefata com o que acabara de fazer e quando a olhei ela saiu correndo. É ,parece que ultimamente as pessoas pensam que sou uma sem coração.

–Parece que alguém estava no mundo dos sonhos... De novo.-Rob estendeu a mão para mim com um sorriso de covinhas que me fez perder o foco por alguns segundos. -Você... Não quer minha ajuda mesmo? Sabe meu braço tá cansado de ficar estendido esperando. -Ele segurou o próprio braço fazendo uma cena exagerada de cansaço e peso do braço magro.

Sorri fraco.

–Desculpe... Estava reparando em como você é uma vareta. -Peguei sua mão e fiz força para me levantar enquanto ele revirava os olhos.

–Vareta garota? Tá pedindo pra apanha em... Sou puro músculos .-Ele começou a flexionar o ante braço e eu reparei como ele havia mudado de algumas horas para cá como eu nunca teria imaginado...Acabamos de nos conhecer e já fazemos brincadeiras que parece que nem com os amigos de longa data ele fazia.

Dei um soco fraco em seu ombro esquerdo.

–E ai, o que vamos fazer agora?-Perguntei.

–Lexy e Max estavam falando de irmos para um bar na rodovia... Beira a cidade...Topa?

–Bem, ou é isso ou eu volto para “casa” e fico olhando para a parede então... -Dei uma enrolada para o deixar nervoso.-Eu topo.

–Ótimo... Venha!-Ele pegou em minha mão e começou a me puxar em direção a “Nova Galera” como eu resolvi chama-los. -Ela vai gente!

–Ótimo. -Respondeu Josh que pelo o que eu havia entendido estava prendendo Alex nos braços e tentando mordê-la, o que fez logo em seguida que respondeu Rob.

–Vamos... -Disse Lexy se levantando no chão onde estava sentada no colo de Max .Ela começou a ir em direção a um dos carros estacionados e olhou para os dois lados.-Rob abaixou o rosto e nesse instante ela quebrou o vidro da janela do motorista e o alarme disparou. Ela colocou metade do corpo para dentro do automóvel e suas pernas ficaram balançando do lado de fora. Logo o alarme parou e ela retirou o corpo esbelto de dentro dele.Com um sorriso convidativo ,ela abriu a porta do mesmo e Max foi sorrindo em sua direção ,lhe deu um beijo e foi para o outro lado do carro ,tomando o lugar do carona. Josh puxou Alex contra sua vontade para dentro do carro e em seguida eu e Rob entramos o que deixou o espaço bem apertado.

Lexy era um pé de chumbo, mas não podia discordar de que seu senso de espaço e reflexos eram ótimos. Ela ligou o som do carro em uma rádio de que tocava um rock pesado e que a fazia sacudir a cabeça e fazer seu cabelo ser jogado de um lado para o outro.

Fiquei olhando a neve pelo caminho não conseguindo não pensar que aquela estrada tortuosa à frente, levaria ao sítio, e que esta mesmo estrada era onde tinham acontecido todos os efeitos colaterais de minha raiva crescente.

Senti Lexy pisar do nada no freio, fazendo o carro frear bruscamente e parando com um trampo, e agradeci a ninguém em particular pelo carro, aparentemente ter pneus de neve se não teríamos perdido o controle do automóvel.

–Mas que porra!-Gritou histérica Lexy.

–O que aconteceu Alex?!-Perguntou em choque Josh.

–Um cara acabou de se jogar na frente do carro que estava na minha frente!-Ela disse roboticamente.

–Sério?-Perguntou Rob vendo o carro que estava na nossa frente já estar na curva a quilômetros de distância.

–É cara! E o cara tá ali jogado no chão! Acho que ele tá morto.

–Vamos lá ver Lexy! Temos que ajuda-lo. -Josh abriu a porta e saiu do carro correndo em direção ao cara suicida .Lexy foi atrás dele e ficou em pé olhando o que ele faria .Em seguida ,Josh se ajoelhou e colocou o ouvido no peito do cara e o vi falar algo para Lexy ,que tateou o bolso da calça as pressas e veio correndo em direção ao “nosso” carro.

–Alex, ligue para a emergência! Diga que tem um cara atropelado na rodovia Oeste e que está respirando!

Alex mais depressa do que fui capaz de perceber pegou o telefone e discou, e falou gritando com a atendente.

–Vem.

–Pra onde?!-Questionei irritada.

–Quero ver se o cara está respirando ainda, com o temperamento da Lexy, é provável que ela termine de mata-lo porque Josh a fez prestar socorros... Não exatamente ,mas...

Acompanhei Alex com passos rápidos e vi Josh tirando a jaqueta e a colocando embaixo da cabeça do cara. Alex tirou logo a dela e a colocou em cima dele pra esquentá-lo .Eu fiquei um pouco longe para não ver o sangue .Rob veio logo em seguida com o celular de Alex na mão ainda conversando com a atendente.

–Espera um segundo já te falo. -Rob se ajoelhou ao lado do cara e começou a descrever seu rosto. -É um cara de uns 19 a 20 anos. Pele clara cabelos escuros...1,80 mais ou menos...Ah.-Rob começou a revistar os bolsos do cara e tirou uma carteira do bolso de trás.- O nome da habilitação é... Felipe Piero Agarelli.

~~ ♥ ~~

Eu voltei ao carro correndo e entrei nele. Comecei a querer chorar e não acreditava naquilo...Felipe fora atropelado...E estava morrendo.

~~ ♥ ~~

A chegada da ambulância foi um borrão e eu pedi a Lexy que fosse para o hospital que a ambulância iria. Ela me xingou a beça e falou para eu ir a pé se eu quisesse. Josh gritou com ela e mandou-a dirigir se não ele daria uma surra e a entregaria a policia pelo o que pareceu seu ultimo delito.

Pareceu que demorou uma eternidade até chegar ao hospital e mais algum tempo até que eu conseguisse encontrar Felipe. Ele estava no 9° andar .Cheguei lá e o vi ser removido para uma cirurgia de emergência .Parecia que uma das costelas havia se quebrado e perfurado o fígado. Comecei a tremer e me sentei antes que desmaiasse. Rob chegou logo em seguida e se ajoelhou na minha frente ,coloquei o cotovelo apoiado nos meus joelhos e uni as mãos escondendo meu rosto .Logo a cabeça de Rob apareceu sob minha visão novamente fazendo-me olhá-lo.

–É um de seus amigos, não?

–Sim...

–E você não acha que tem algo pra fazer além de ficar ai chorando?

–Eu não estou chorando. -Rob me olhou com cara de desdém e secou uma lágrima que estava escorrendo.

–Não mesmo?-Um longo silencio se estendeu até ele voltar a falar novamente. -Acho melhor você ligar para seus amigos falando do estado dele.

–Sthefan e Ashley não vão nem me atender... Quem dirá ligar para mim e o Felipe.

–Eles vão te ouvir, pois... Independente de tudo o que você e ele fizeram...Vocês ainda são amigos deles...E o tempo e o amor que vocês sentem um pelo outro ,é maior do que qualquer desencontro.

–Como pode ter certeza disso?-Perguntei esfregando o rosto.

–Por que... Independente do que Max fez no passado...E da raiva que eu senti dele...Eu o encobri...Porque ele é o irmão que eu nunca tive...E eu não ia abandoná-lo...Nunca.