Los Desperados escrita por MetroSurvivor


Capítulo 4
Fixação


Notas iniciais do capítulo

ultimo capítulo da semana, espero que gostem! (embora ninguém lê isso aqui mesmo -.-)



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Comecei a surtar na sala. Gritei muito, pedindo perdão á deus pelo que eu tinha feito. Aliás, o que eu tinha feito para merecer uma vida daquela? Perdi meus pais, meus amigos, minha namorada, minha família, minha escola, minha vida. Por que eu estaria passando por isso? Por quê? Comecei a descontar minha raiva toda, em pensamento daquelas criaturas horrendas. Elas tinham sido a causa de tudo aquilo. De todas as mortes me envolvendo. Até a morte da pobre família, na rua da noite passada. Fui até a cozinha, e avistei um faqueiro. Corri em sua direção e peguei a mais afiada que tinha. Para testar, sim, eu fiz uma coisa louca: cortei meu próprio braço, rasgando desde o início do Rádio até o começo do pulso. Espirrou sangue, sim, mas eu não sentia dor. Apenas ódio. Abri a porta num chute e vi 3 demônios. Fui correndo ao encontro deles, e me joguei em cima do primeiro, já cravando a faca. Retirei-a e um deles tentou me pegar por trás. Enfiei a faca na barriga dele de costas e dei-lhe um soco no queixo que o derrubou, e eu liquidei-o esmagando sua cabeça com o pé. O último estava longe, e usei a mesma estratégia do primeiro. Quando acabei, fiquei ali no gramado, deitado e olhando para o céu, chorando. Logo, viriam mais, então entrei e fui para o meu sofá. Não sei o que tinha dado em mim, nem aonde adquiri aquelas habilidades, nem a força para fazer aquilo. Fiquei ali sentado, chorando incondicionalmente. Não me importava se algum deles me ouvisse, eu precisava daquilo. Coloquei minha cabeça sobre as pernas e ali fiquei. Quando retirei minha cabeça, tive uma visão. Minha mãe estava na minha frente. De imediato, eu pulei de alegria, pensando que aquilo fosse uma brincadeira de mal gosto de alguém que passou por ali, até porque os armários da cozinha estavam quase vazios. Corri e abracei minha mãe:

- Mããe! Você está viva! Graças a deus, não sabia como ia continuar. – Ela me abraçou de volta, chorando e rindo, porém estava um pouco séria.

- Nik, eu quero que você cuide bem de sua irmã, ok? Eu já falei que eu estou num lugar melhor agora, porém não quero isso para vocês. Vocês têm de viver, tá ouvindo? Você tem a obrigação de viver, e de proteger sua irmã! – Comecei a chorar novamente. Aquilo era tudo da minha consciência. Mas, se minha vontade se realizasse, eu ficaria ali para sempre. – Nikolai, eu quero que você saiba que eu sempre vou estar te olhando daqui de cima, e eu sempre vou te amar. Se precisar de mim, tente me chamar e se puder, eu virei. Deus está com você. Filho. Adeus. – E então, vi a imagem de meu pai, me dando um tchau amoroso, levando minha mãe pela porta da entrada, que se transformara numa porta brilhante do lado de fora. Retomei a consciência e eu estava deitado de bruços. Não se passou nenhum minuto; era exatamente a mesma hora. Foi aí, que eu percebi, que mesmo descrente como era, Deus não me abandonou. A primeira coisa que fitei foi a bíblia sagrada de minha família e a cruz em que Jesus foi crucificado, feita de porcelana. Ajoelhei-me. Abri a bíblia no salmo 90, que, todo dia minha mãe lia, mas eu tinha preguiça de acompanhá-la.

“Tu que habitas sob a proteção do Altíssimo, que moras à sombra do Onipotente.

Dize ao Senhor: Sois meu refúgio e minha cidadela, meu Deus, em que eu confio.

É ele quem te livrará do laço do caçador, e da peste perniciosa.

Ele te cobrirá com suas plumas, sob suas asas encontrarás refúgio. Sua fidelidade te será um escudo de proteção.

Tu não temerás os terrores noturnos, nem a flecha que voa à luz do dia,

Nem a peste que se propaga nas trevas, nem o mal que grassa ao meio-dia”.

Aquelas palavras se refletiram no que acontecera esses últimos dias, e realmente, percebi que ainda havia um Deus, e que ele estava protegendo-me. Procurei por uma vela na gaveta da cômoda que a bíblia estava e acendi-a. Com isso, minha alma se purificou, e assim pude perceber que nem tudo estava perdido, literalmente. Até fiquei feliz; coisa que achei que fosse rara daqui para frente.

Ouvi Alice chorar, então estava na hora de sua comida. No armário de minha casa, pelo menos ainda havia o leite em pó para crianças especial dela, e aquilo serviria, pois leite materno agora era impossível. A eletricidade ainda não tinha sido cortada, então tratei de esquentar no forno micro-ondas. Quando estava bom, achei uma mamadeira e comecei a dar-lhe, com ela no colo.

Depois de tudo, fui reparar-me. O ferimento mais antigo, do acidente de carro na noite inicial, eu simplesmente esquecera e não me dei conta que estava pior que antes a aparência. E o ferimento do braço, agora que parou de sangrar, precisaria de um curativo. Subi as escadas e retirei-me para meu quarto, colocando Alice em seu no quarto dela, que era ao lado do meu. Sentei na minha cama, retirei a fita milagrosa do porão que me teve 1001 utilidades, e comecei a tirar minha roupa. Quando estava completamente nu, chequei primeiro o ferimento do braço que havia feito com raiva. Não estava profundo também, por sorte, mas abrangia uma grande área. Infelizmente, agora já consciente, o ferimento queimava como carne em chama. Já o da perna, estava melhorando. O algodão em si, não parecia mais algodão, e sim um tecido tingido de vermelho. Comecei a tirá-lo de leve, já que estava grudado. Retirei com cuidado, para não fisgar nas partes cicatrizadas e abri-lo de novo; era o que eu menos queria. Quando retirei todo o algodão, Passei a mão sobre ele. Já não doía mais, e a cicatriz estava em bom estado. Apenas teria de tomar cuidado para não o sangue coagulado não grudar em calças, então comecei a pensar em usar shorts. Era o que faria. Cansadíssimo, fui ao banheiro para banhar-me. Estava fedendo, sim, e de sangue para piorar. Minha roupa, coloquei no cesto das roupas sujas. E iria lavá-la sim, pois agora eu dispunha de mais tempo que nunca. Deixei a água quente fluir sobre meu corpo, e lá fiquei. Retirei todas as impurezas dele com o sabonete líquido e passei uma boa dose de shampoo. Aquilo me revigorou, e depois do banho quente, passei desodorante e perfume, como se fosse um dia normal. Coloquei uma roupa completamente limpa e deitei-me na cama. Estava exausto de tudo que eu havia passado. Mas, eu não poderia dormir.

Havia muito o que fazer ainda. Além de que, desestabilizar minha rotina, virando uma pessoa noturna, me traria problemas. Á luz do dia, as criaturas eram mais facilmente vistas, então eu não correria tanto risco. Tratei de primeiramente, ir de novo ao banheiro e procurar gaze e esparadrapo, para fazer um curativo no braço e na perna. Demorei um pouco, mas no fim até que saiu razoável; daria conta de ficar com ele por mais de uma semana, se preciso. Então, me lembrei das malas que minha mãe havia deixado. Desci as escadas rapidamente e fui checa-las. Primeiro, abri a mala de viagens. Ali, estava separado por uma divisória que minha mãe improvisara com um pedaço de madeiro largo e fino, minhas roupas e as roupas de Alice. Havia 8 camisetas e bermudas, todas em formato de pequenos rolos com 1 sobrepondo a outra, de modo que coubesse tudo, e por cima delas, mais 12 cuecas. O enxoval de Alice estava dividido entre roupas de frio e de calor. Puxa! Minha mãe, mesmo sabendo que iria morrer ainda me ajudou, como sempre. Não chorei, ao contrário, sorri. Comecei a abrir a primeira bolsa de viagem. Lá, encontrei muita comida; pacotes de bolacha, pães, sucos em lata, e outros alimentos não perecíveis, além de latas e latas de leite para Alice. A outra bolsa continha mais uma lanterna, minha escova de dentes e a de Alice, vários pacotes de fraldas, caixas de pasta de dentes, desodorantes, perfumes, sabonetes, dentre outros itens de limpeza pessoal. A lanterna que eu achara com a família morta, e essa que minha mãe me dera, acabariam rápido, pois eram á pilha. Já a que eu encontrei na casa, na noite do acidente, aquela sim seria de ótimo proveito. Munida de um dínamo, recarregaria ela a hora que eu quisesse. Assim, decidi priorizar primeiras as lanternas de pilha, de modo que eu usasse-as rapidamente. Quantos aos alimentos, decidi volta-los ao armário da cozinha, pois não pretendia sair de minha casa. E, como o abastecimento elétrico ainda estava ativo, voltei alguns que poderiam ser guardados em geladeira, como os sucos. A mala de viagem, porém, deixaria como estava. Qualquer saída repentina, eu pegaria a mala.

 Decidi fazer um plano de afazeres. Primeiro, já que eu me manteria em casa, limparia o quintal daqueles corpos horrendos e taparia todas as janelas. Segundo, eu daria um jeito de fechar o quintal apenas para mim, algum tipo de cerca improvisada ou algo do tipo. Terceiro, saquearia supermercados e mercearias próximas, em busca de alimentos que estragam fácil. Quarto, e mais importante da minha parte. Sobreviventes. Sim, um time deles. Seria ótimo para mim manter convivência humana. E quinto, se viável, uma boa arma de fogo. Não seria aonde acharia, já que as delegacias estariam saqueadas a ponto extremo, mas pensaria mais tarde. Escrevi num papel e colei na porta da geladeira.

Já estava anoitecendo, mais ou menos 5 e 30 da tarde. Então decidi começar os afazeres amanhã. Mas, pelo menos me livraria dos corpos. Desci ao porão e tentei encontrar um par de luvas. Encontrei em uma estante, bem na entrada. Voltei a casa e abri a porta. Não havia nenhum mordedor por perto, apenas um deles bem distante, que não conseguiria me ver por nenhuma razão. Pouco a pouco comecei a pegar os corpos dos cães do inferno mortos, e coloquei-os junto á uma lixeira grande, de reciclagem, que havia atravessando minha rua. O primeiro e o último foram fáceis. Agora o segundo, era um daquelas pessoas que em vida, não faziam nada além de ficar comendo besteiras e sentar na frente da TV. Demorei um pouco e acabei soltando-o 2 vezes ao tentar levar á lixeira. No fim das contas, da lixeira, olhei para as 3 ruas. Á direita, á distância, pude ver “meu” carro e alguns casas que pareciam normais. Á esquerda, vi um carro capotado não muito distante, que eu julgava ser até lá uns 200 metros. E 2 mordedores abatidos no chão. Á frente, tudo limpo por enquanto, apenas o mordedor sem rumo, bem longe. Essa rua ligava a parte mais pacata e distante da cidade ao, agora, temível centro. Lá sim as coisas estavam realmente feias. Pretendia, passado um tempo, tentar pelo menos fazer um bloqueio entre essas ruas, nem que ele fosse feito de pneus empilhados com estacas de madeira. Voltei para casa e tranquei com todas as trancas as portas, e fechei as venezianas. Trataria de criar um envoltório de pano bem grosso nas janelas, com algumas aberturas, para então conseguir espreitar a noite sem fazer barulho. Fui ao segundo andar e tranquei tudo também, e fiz um “sistema de segurança” improvisado com Alice. Coloquei em seu quarto uma linha. Se alguém quisesse entrar ali e pisasse na linha, um sino tocaria e me alertaria, no quarto ao lado. E, meu antigo taco de baseball, que usei no campeonato regional, estaria bem na mesa ao lado da minha cama. Por enquanto, aquela seria minha arma. E eu não me importava, se mesmo humanos entrassem na casa; por Alice, eu era capaz de bater na cabeça de uma pessoa que parece hostil e fazê-la cair da escada, tendo uma fratura na coluna vertebral. Mas seria praticamente impossível alguém entrar, a casa estava muito bem trancada. Eram 5 e 55 da tarde, e o sol, no horizonte, começava a se pôr. Fui ao meu quarto e peguei meu telescópio. Eu possuía um, pela razão de eu participar de olímpiadas de astronomia. Não havia nada para eu fazer ali dentro de minha casa. Então, subi no sótão e do sótão, peguei uma escada e subi ao telhado. Montei meu telescópio ali, e não parecia haver nenhum mordedor por perto, então estava limpo. Atrás de mim, apenas floresta, e a minha esquerda e direita ruas desertas. O que me intrigou foi minha frente. Ali sim, morava o perigo. Posicionei meu telescópio num ângulo de mais ou menos 30 graus e fiquei observando. Ajustei mais zoom no telescópio e fitei um arranha-céu. Ali, havia janelas quebradas e até corpos, de criaturas que eu julguei serem pessoas de verdade, não mordedoras, que, com medo, tiraram sua própria vida. Então, pude ver no terraço uma pessoa, que me parecia um executivo, abrindo a porta e correndo, empunhando uma pistola. Foquei em sua visão e pude ver que se tratava de uma Glock 33. Pude ver uma horda das criaturas vinda de trás. Foi quando vi o clipe da pistola caindo. Sim, ele estava sem balas. Ele jogou a arma na cabeça de um dos zumbis, e correu para a ponta do prédio. Então tive uma surpresa. Ele pegou no colo, uma criancinha que eu pensei ter no máximo 6 anos. Ele estalou um beijo na testa dela e abraçando-a, se jogou do prédio. Nesse momento, tirei o olho do telescópio e quis morrer por presenciar aquela cena. Sim, foi horrendo. Tentei tirar a imagem de minha cabeça, mas não consegui. Foi quando olhei para leste, e vi o sol de pondo. Fiquei olhando para lá e deixei meu pensamento voar, a respeito de tal criança. Será que eles haviam sobrevivido?

Voltei ao interior de minha casa, já que já estava de noite. Montei uma mesa em meu quarto e coloquei meu telescópio montado lá, em caso de eu precisar verificar algum perímetro. Decidi tentar ligar a TV. Consegui! E havia sinal da TV a cabo. Então, pelo menos, na Califórnia as coisas não estavam tão feias. Mas, o noticiário da noite não era nada bom. Decidi parar de ver aquelas cenas e troquei para um canal de filmes. Estava passando “2019, o ano da extinção”. Meu deus, será que eles só pensam em mortes? Troquei novamente e estava passando um filme policial. “O atirador”. Era bom, e eu amava bons filmes de ação. Coloquei o volume baixinho e comecei a ver. Quando, me lembrei do meu bom notebook. Corri para pegá-lo e enquanto assistia ao filme, liguei-o. Tentei conectar a Internet. A rede móvel estava fraca, porém, o Wi-Fi de um vizinho próximo que certa vez eu ouvi dizer a senha estava em sinal bom e ligado constantemente. Provavelmente, ele saiu as pressas e esqueceu ligada. Bom, eu aproveitaria, porque, além do mais em poucos dias a energia cairia. Chequei meu Facebook e dessa vez, vi 4 pessoas online. Sem surpresa, pois não havia ninguém conhecido. E, como sempre, mais e mais fotos da desgraça mundial. Apesar de tudo, uma delas me intrigou. Estava escrito, em uma daquelas páginas de profetas que se dizem conselheiros de deus, que os centros de refugiados eram uma baboseira, e que estavam dominados. Baboseira era o que ele dizia, com certeza. E ainda incentivava as pessoas á encararem aquilo, como uma coisa de Deus, que já foi prevista. Não acreditei em metade daquelas palavras. Decidi me descontrair e liguei meu Xbox360. Coloquei um jogo tático, Battlefield 3, para passar horas ali, a fio. No multiplayer, achei salas com 3, 4 pessoas online. Mesmo assim, dava para o gasto. Se o inferno estava fazendo um cerco contra mim, porque eu não aproveitaria enquanto pudesse?


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