...Ele está me beijando. E minha mente de repente para, porque eu não consigo processar isso. Adam. Me beijando. Eu queria perguntar se isso é um sonho, ou se é um pesadelo. De qualquer forma, minha pulsação aumenta, e nos poucos segundos de surpresa, eu me deixo à deriva do que está acontecendo. Ele está segurando minhas bochechas muito forte, o que em parte ajuda porque me faz acordar do transe em que eu estava, e lembrar quem está metendo a língua na minha boca. É Adam. O garoto asqueroso e convencido que inferniza a minha vida. O que bate no Luke. E então, somando tudo isso, eu fico com nojo o suficiente para morder com força a língua dele e empurrá-lo para longe. Bem longe. Tão longe que ele bate no muro da escola, me olhando surpreso, e sem fôlego.

–Que porra foi essa? -Eu grito, depois que recobro meus sentidos e minha respiração volta ao normal. Acho que estou vermelha. De raiva e de vergonha. Porque ele me beijou, e não é todo dia que as pessoas me beijam, principalmente de surpresa. E é Adam. O que deixa a situação toda mais esquisita. E eu só quero socar ele até a morte, lembrando do que aconteceu mais cedo. Ah. Meu. Deus. Canalha.

–Você nem é virgem, sabe o que eu fiz. E que porra foi ESSA? Você mordeu minha língua, cacete!

–Você... você... que. Nojo! -Acho que vou vomitar, quando a realidade me atinge. Ah, não. O pior? Não foi o pior beijo da minha vida. Mas mesmo assim eu me comporto como uma criancinha e limpo minha boca. Bem... a parte externa dela, porque seria estranho limpar lá dentro. Uh.

–VOCÊ ME BEIJOU DE VOLTA. -Ele diz, com a mão da boca e fazendo uma careta, enquanto geme de dor.

–NÃO BEIJEI NÃO.

–CLARO QUE BEIJOU. VOCÊ ME QUER TANTO QUANTO EU TE QUERO. -Ele grita, extasiado, e então ouve o que disse. Eu fico roxa, mas não pelos motivos que ele acha que eu fiquei.

–Você quer me levar pra cama! Seu canalha! -A criança dentro de mim assume o controle e eu levanto a mão para dar um tapa na cara dele, como naqueles filmes onde o cara bonito beija a garota e ela é uma dama e por mais que goste dele não pode deixar ele sair impune de uma infração dessas. Mas eu não consigo porque ele segura minha mão, impedindo que ela chegue na sua carinha de idiota.

–Você vai dizer que não gostou.

–Você é um porco. -Eu retruco, fazendo ele largar minha mão.

–Você me beijou de volta.

–Eu fiquei surpresa, idiota! Por cinco segundos eu não sabia o que fazer.

–Não. Você quis me beijar. -Ele diz, tentando parecer convicto, mas parece que ele está tentando provar pra si mesmo que é verdade. Como se isso fosse algum prêmio idiota para ele. E considerando a personalidade deplorável, provavelmente é.

–Não eu não quis. Você pode ser adorado por milhares de garotas morrendo para perder a virgindade estúpida delas com você, mas eu tenho um cérebro! -A expressão dele continua impassível, assim como a minha. Eu quero enfiar uma faca nos olhos dele, e depois fazer ele tomar gasolina e acender um fósforo e jogar dentro da boca dele. Pensando bem, eu deveria fazer isso na minha boca também, pra limpar de todos os germes que aquela língua nojenta deve ter. E eu tenho plena consciência de que estou parecendo uma criancinha de cinco anos que acha que beijar engravida e transmite 85448 doenças, mas devido as circunstâncias, algumas coisas tem que ser feitas. E é de Adam que estamos falando. Eu pego minha mochila, que caiu no chão na hora que ele fez Aquilo-Que-Não-Vou-Citar e começo a andar a pé mesmo. Batendo o pé e me virando de um jeito que o meu cabelo voe e espero que bata na cara daquele idiota, e ele me veja indo embora claramente sem cair de amores com ele. Na verdade, nem um pouquinho afetada.

O que é mentira, porque pra falar a verdade, estou meio tonta, e meios lábios estão inchados. Comprovo isso quando toco eles e eles parecem estar do tamanho dos lábios da Angelina Jolie. Continuo batendo os pés, até a saída da escola, e então eu escuto o barulho da moto atrás de mim.

–EU TE ODEIO. E SE NÃO PERCEBEU EU NÃO QUERO SUA CARONA.

–Mas precisa.

–Vai pra merda.

–Qual é, Axl...

–Escuta aqui. -Eu explodo, apontando um dedo para ele, quase encostando no meu peito e ficando bem, bem perto, mas dando o meu melhor olhar assassino. -Eu te odeio. De todo o coração, eu não suporto você, e pensar que você me beijou me dá enjoo. Eu quero que você pare de bancar o conquistador pra cima de mim, porque isso não vai dar certo. Só no dia em que um apocalipse zumbi acontecer e eles arrancarem meu cérebro que vai existir alguma chance de eu gostar de você. Então eu quero que você pare. De me beijar. De me perseguir. De bater no meu melhor amigo. De tentar qualquer coisa perto de mim. Eu cansei. Da próxima vez, eu vou te socar mesmo. E vou obrigar Luke a fazer alguma coisa contra toda essa merda que você faz com ele todos os dias. Se você não sabe, bater nele não mostra que você é macho. Eu sei muito bem que você tem um pênis, babaca.

Ele não sabe o que responder. Ótimo.

–Entendeu? -Ele continua me olhando, profundamente, com uma mistura de sentimentos e emoções e pensamentos que eu tenho medo de tentar decifrar então eu só me concentro em manter o olhar gélido, parado e constante. Sem nenhum sinal de fraqueza. Sem mostrar que ele me deixou tonta e confusa e perturbada da cabeça. Eu só odeio ele. Depois de um tempo, eu me convenço que ele não vai responder, e abaixo o dedo. Percebo que eu prendi a respiração, porque começo a ofegar, e viro o rosto outra vez. Ele não diz nada. Só passa com a moto a uma velocidade enorme, e é claro, para fechar com chave de ouro, passa por cima de uma poça, bem na minha frente, deixando minha calça.

Toda.

Molhada.