–... Hunter.

– Ah... - ''Que nome lindo, e o dono é mais lindo ainda'' pensei, mas óbvio que eu não iria falar isso alto. Corei levemente com esses pensamentos inapropriados para uma garota de família como eu - ah, claro, de família - e pensei em algo decente para falar - Que legal. E o meu é Scarlet, mas eu acho que você já sabia.

– É, eu já sabia. - Falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, e na verdade era sim.

– Scarlet, Hunter, chegamos! - A porta principal foi aberta, revelando Juliet e Bob. Eles estavam sorridentes, o quê me pareceu realmente bastante suspeito.

– Eu e a Ju-

Bob tentou começar a falar, mas um celular - o do Hunter - começou a tocar.

– Eu vou atender ali, licença. - Hunter falou e levou o celular que ainda tocava lá para cima.

Alguns minutos se passaram e Juliet e Bob saíram de novo, Bob ia trabalhar e Juliet disse que ia na casa de uma amiga, mas antes deles saírem o Hunter voltou e disse meio constrangido que uma amiga - amiga, sei! - ia vir aqui de noite. Todos concordaram - e com ''todos'' eu quero dizer a Juliet e o Bob, apenas - e Juliet disse animada ''É hoje que eu vou conhecer minha futura nora!'', o que fez Hunter fazer uma careta involuntária e eu sorri com isso.

***

– Soraiah, eu estou com fome! - Fui para a cozinha - que estava com um cheiro ótimo, devo acrescentar - perturbar Soraiah e ver se eu conseguia algum petisco, mas ela não deixou eu pegar nenhuma bolachinha sequer.

– Em 40 minutos no máximo está pronto, por quê você não vai se arrumar para o jantar e quando voltar eu te deixo comer umas bolachas? - Ela falou de costas para eu, olhando para o fogão e mexendo com uma colher de madeira o conteúdo de uma das panelas.

– Só depois do banho?! - Exclamei, frustrada e a mulher olhou para eu com um olhar censurador e eu sorri amarelo - Pensando bem, acho melhor eu ir me arrumar mesmo.

Subi as escadas e antes dei uma espiadinha na sala de estar e vi que Hunter estava desligando a televisão, provavelmente iria se arrumar também.

Entrei no quarto - agora já sem poeira, com a boliche arrumada, e com duas cômodas a cada lado da enorme janela de madeira - e fui na direção da cômoda direita, e abri a primeira gaveta.

Na primeira gaveta estavam roupas íntimas, meias, pijamas e três seções separadas de caixinhas, onde eu guardava minhas pulseiras, brincos e etc, eu tinha vários, apesar de não gostar muito de usar.

Peguei uma calcinha preta e com listras brancas e um sutiã branco, fechei a gaveta e abri a segunda.

Na segunda gaveta estavam shorts de todos os tipos, destroyed, alguns curtinhos, outros daqueles que iam do umbigo até um pouquinho abaixo da bunda, iguais aos da Miley Cyrus, e de várias cores. Fui averiguando-os e peguei um jeans escuro liso, era mini, mas eu nem ligava, ninguém estava ligando para as minhas pernas - pelo menos não nos EUA.

O tempo estava esfriando, então quando abri a terceira gaveta peguei uma blusa branca de mangas da mesma cor com o pássaro da Hollister vermelho.

Graças á sei-lá-quem, nesse quarto tinha um banheiro - muitos ''vivas'' e ''uhu's''! - que eu nem ousei entrar no primeiro dia, mas que agora parecia seguro para minha saúde mental, espirutal, e corpal.

Entrei no banheiro e peguei uma toalha branca e limpa, depositando minhas roupas em cima do vaso e a toalha em cima delas.

***

– Quanto tempo para ficar pronto, Soraiah? - Gritei de cima da escada. Eu já estava de roupa, os pés descalços e a toalha na cabeça.

– Desça em vinte minutos! - Ela gritou de volta. Voltei andando para o quarto e peguei na minha maleta que estava em baixo da beliche o secador e peguei na primeira gaveta da cômoda uma xuxinha fina preta.

Voltei para o banheiro e liguei o secador, secando meus enormes cabelos o mais rápido que eu podia. Voltei para o quarto e peguei na mesma maleta minha prancha fina azul com animal print preto. Voltei para o banheiro e separei metade do meu cabelo verticalmente, passando prancha rapidamente apenas na parte de cima e na franja para abaixar.

Separei a minha franja com o meu pente e prendi o cabelo - já devidamente seco e meio-pranchado. Peguei as coisas e levei-as para a maleta cinza novamente, guardei em baixo da beliche e peguei na primeira gaveta da cômoda minha necessaire.

Já na frente do espelho do banheiro, peguei meu lápis de olho, delineador, blush e um batom nude, fechando a bolsinha novamente. Passei lápis de olho apenas até metade da linha d'água dos dois olhos e o delineador também.

Passei blush bem fraco com o aplicador do mesmo e então o batom nude, essa era a maquiagem que eu passava quando não estava jogada morta no sofá tirando minha soneca da tarde.

Guardei tudo em seus devidos lugares e calçei uma meia pequena e meu all star, pretendia dar uma volta para ver a London Eye hoje depois do jantar.

Desci as escadas e percebi que estava meio atrasada porque Juliet, Bob, Hunter e uma garota - loira artificial (dava para perceber de longe!) com cabelos com ondas e até abaixo dos ombros - já estavam sentados na mesa conversando e rindo, enquant Soraiah servia cada um deles. Me sentei na cadeira do lado da Juliet,na parte esquerda da mesa e esperei em silêncio a Soraiah me servir.

Enquanto nós comíamos, olhei algumas vezes de relance para a loira, e percebi que:

1 ela usa - no mínimo - oito quilos de maquiagem.

2 ela toda hora mexe no cabelo.

3 ela tinha um sorriso branco e lindo, que realçava ainda mais seu batom vermelho e extravagante, enquanto eu uso aparelho nos dentes, pois é, ô vida injusta.

– Por que você está me olhando? - A loira perguntou e eu percebi algo mais, que com certeza eu iria usar para atingir o Hunter depois, a garota tinha dois olhos azuis muitos brilhantes e... grandes. Parecia uma esquilete, sério.

– Ah... Nada. - Voltei meus olhos para meu prato.

– Oh, desculpe, eu nem apresentei vocês. - Hunter disse, depositando seus talheres no prato e nos olhando - Scarlet, essa é a Mia, a garota que eu disse que ia vir jantar conosco hoje e Mia, essa é a Scarlet, minha... Hm, meia-irmã, digamos assim.

Essa tal de mia ficou me encarando o tempo todo enquanto Hunter falava e quando o mesmo finalizou, ela disse:

– Quantos anos você tem? - Ela tinha um sotaque diferente, porém conhecido. Eu tinha certeza que ela era americana. E ela sorria, e eu conhecia aquele sorriso muito bem. Ela estava debochando da minha cara. Arqueei a sobrancelha.

– Dezesseis. Por que a pergunta? - Mantive a feição séria enquanto ela fazia caras e bocas na minha direção.

– Nada não, flor, é que você é meio baixinha, né? Pensei que tivesse uns catorze anos, por aí. E também, você não usa maquiagem e nem sabe se vestir, o quê quase me provou que você tem catorze anos.

Ela sorria super debochada e eu apertei meu copo com suco pela metade com raiva, suspirando várias vezes seguida.

– E você, tem quantos anos? - Perguntei, como quem não queria nada.

– Dezoito, quase dezenove, por que? - Ela me olhou novamente.

– Nada não, ''flor'' - repeti o quê ela disse -, é que você usa tanto pó e maquiagem e laquê de cabelo que eu jurei que você fosse a Mortícia Addams, o quê com certeza foi de longe o melhor elogio sincero e verdadeiro que você já ganhou, aposto. - Rebati, e vi Bob reprimindo o riso juntamente com Hunter, enquanto minha mãe me encarava com repreensão.

– Scarlet, olha os modos! - Juliet falou e então foi minha vez de sorrir debochada.

– Pode deixar, ''mamãe'', eu vou comer lá no quarto. - E então me levantei da cadeira, pegando meu prato e meu copo e saindo de lá torcendo mentalmente para quê a Mia se engasgasse com o salmão que ela comia e morresse sufocada ali na mesa mesmo.

Subi e fui para o ''meu'' quarto, sentei na cama com as pernas cruzadas e terminei de comer. Alguns minutos antes de eu terminar de comer, alguém bateu três vezes na porta e entrou quando eu sibilei um ''entra''.

– Vim trazer sua sobremesa, Srta.Vaughn. - Soraiah entrou no quarto com uma bandeja com um ''pote'' de porcelana com alguns desenhos e me deu. Peguei e vi quatro bolas de sorvete de flocos com cobertura de chocolate e pedaços de avelã.

– Obrigada. - Agradeci baixo e a mulher apenas assentiu, recolheu a bandeja com meu prato, meus talheres e meu copo e foi embora.

Terminei de comer o sorvete e fui para o banheiro escovar os dentes e repassar o gloss labial.

Voltei ao quarto e peguei o pote vazio e saí do quarto, fechando a porta em seguida.

Desci as escadas normalmente e levei o pote para a cozinha, o depositando em cima da pia e voltando para a sala de estar.

No famoso aparador tinha um bloquinho de notas e um pote com canetas dentro, peguei uma e anotei um ''Fui dar uma volta, volto algum dia, não me espere. xx S Vaughn'' numa folha. No chaveiro que estava pendurado bem do lado da porta eu peguei uma chave que era igual a da porta e coloquei no bolso, que era o mesmo que eu havia colocado algumas libras caso eu precisasse ou quisesse comprar algo.

***

A brisa noturna londrina batia em meu rosto e eu nem estava ligando muito para isso, encontrei uma pracinha onde um grupo de adolescentes - provavelmente drogados sem futuro, tipo o Hunter - andava, pelas suas roupas percebi que eles estavam indo para algum pub ou algo do tipo.

''Sabe... Eu nunca fui muito de confusão e afins... Quem sabe se... Eu... Hm, fosse lá dar um... Oi?'' pensei com um sorriso maroto no rosto.

Aprovando a ideia quase de imediato, levantei rápido de onde eu estava e fui atrás deles, duas garotas, uma loira e pálida e uma morena de olhos escuros estavam sentadas no balanço conversando, enquanto três garotos estavam sentados no banco do lado delas.

– Olá, eu sou a Scarlet. - Cheguei com um quase-sorriso-forçado e falei isso para a morena de olhos escuros que eu vi no balanço. Ela sorriu.

– Eu sou Megan. - Tirou no bolso do colete jeans um maço de cigarros e tirou um, colocando na boca - Se importa? - De imediato eu não entendi, mas percebi logo que ela queria saber se eu me importava dela fumar ou não.

– Não, claro que não. - Dei um meio sorriso de lado e ela assentiu, acendendo o cigarro.

– E aí, gata? - Um garoto chegou até eu e colocou o braço em volta do meu pescoço. Olhei para ele e vi que ele tinha cabelos loiros jogados para o lado, olhos azuis acizentados e era muito perfeito para estar me chamando de gata.

– Animal é a sua mãe. - Rebati sorrindo, e eles perceberam que era uma brincadeira, e então eles gargalharam.

– Evan, deixa a menina em paz. - A loira pálida, que até agora estava quieta falou.

– Enfim, senta aqui com a gente, moreninha. - Um garoto de cabeça raspada e olhos verdes disse, com um sorriso de lado.

– Eu sou muito morena mesmo, nossa, quase uma africana. - Megan riu pelo nariz, o quê fez fumaça sair dos mesmos.

– É assim que se diz, garota. - Ela disse.

– E então, qual é seu nome? - O tal Evan perguntou, me largando e sentando no banco.

– Quantos anos você tem? - A loira perguntou, me olhando.

– O seu sotaque é diferente, você é estrangeira? - Um garoto de capuz, mais pálido que eu e olhos incrivelmente negros perguntou.

– Hey, uma pergunta de cada vez, por favor. - Eu disse. - Bem, - Olhei para o Evan - meu nome é Scarlet, Scarlet Vaughn. Eu tenho quase dezesseis anos, faltam um mês e meio, por isso eu já falo que tenho dezesseis. - Respondi olhando diretamente para a loira. E, por fim - olhei para o garoto do capuz - sim, eu sou estrangeira, sou da Suíça.

– Então você é africana nascida na Suíça? - O garoto de cabeça raspada fez uma brincadeira estúpida e eu não segurei o riso.

– O quê você veio fazer aqui? Digo, na praça? - Megan tirou o cigarro agora pequeno da boca e jogou no chão e então perguntou.

– Estava procurando coisas para fazer. - Dei de ombros e olhei para o chão.

– Você disse que vai fazer dezesseis anos em breve, não é? - Perguntou o encapuzado e eu assenti levemente - Então, se você quiser, pode vir com a gente para a Brighton Street.

– E isso seria...? - Perguntei, esbanjando curiosidade.

– Uma rua que só tem danceterias, nada muito pesado, apenas para adolescentes. - Respondeu a loira.

– Eu topo. - Respondi olhando-os.

***

A danceteria que nós escolhemos era super divertida. Onde você passava tinha um monte de adolescentes se agarrando, outros quase se comendo e uns apenas conversando.

Megan disse que ia fumar o último cigarro e entraria depois, então entramos sem ela.

A loira, que me disse no caminho que se chamava Lea foi com o quase-mas-nem-tão-careca - que ela me disse que se chama Peter - para o bar, pegar algo para beber.

O Evan foi chamar a Megan lá fora, e então eu me vi sozinha com o encapuzado.

– E então, só sobramos eu e você. - O encapuzado disse no meu ouvido, pois não ouviria se ele não falasse ali, tamanha barulheira que estava no local.

– Pois é. - Respondi olhando para os lados.

– O quê quer ir fazer agora? - Perguntou.

– Bem, eu sou nova aqui, não conheço nada. - Eu disse, olhand para ele novamente - É você quem manda. - E pisquei para ele, e em seguida nós dois rimos.

– Vem cá. - Ele disse e então pegou minha mão, me levando mais para o fundo da enorme danceteria. - Você sabe dançar, Scarlet? - Prguntou no meu ouvido.

Era bem possível que eu tentasse dançar e acabasse destruindo toda a danceteria com o nível de equilíbrio que eu possuía.

– Não, e sinceramente, não quero tentar, é bem provável que nós paguemos mico. - Respondi no ouvido dele e ele assentiu.

– Nós podemos fazer outra coisa então, uma coisa mais interessante. - E então ele se aproximou de mim, com um sorriso malicioso olhando minha boca. Retribuí o sorriso, provavelmente eu nunca mais veria o cara e não via mal nenhum nisso. Quando estávamos realmente próximos e eu podia ouvir sua respiração e ele roçava sua lingua na minha boca, ouvi:

– SCARLET, O QUÊ É QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?! - E logo o encapuzado - que já não estava mais de capuz - foi empurrado para longe de mim e Hunter apareceu na minha frente, com os olhos arregalados e rosto vermelho.

– Não te interessa! - Respondi e eu já estaria indo atrás do encapuzado ou um dos outros se o Hunter não tivesse me pego no colo e me pendurado nas suas costas, me levando para a saída do local.

– ME SOLTA! SOCORRO! ELE QUER ME MATAR, ME SEQUESTRAR, ME ENFORCAR! SOCORRO! - Gritei em plenos pulmões, mas aparentemente ninguém me ouvia e onde Hunter passava, todos abriam passagem e olhavam para ele como quem olha um ídolo, ou alguém realmente importante.

– Eu estou fazendo isso apenas porquê eu não quero aparecer na primeira capa do jornal amanhã com a manchete ''IRMÃ DO POP STAR HUNTER MCBRIDE É VISTA EM DANCETERIA NA BRIGHTON STREET''! - Respondeu contragosto e me jogou no banco de trás do carro dele, colocando o cinto e então fechando a minha porta, a qual ele fez questão de trancar quando sentou no banco do motorista.

Ele deu partida no carro e eu sentia que meu coração ia sair de dentro de mim a qualquer momento, ele parecia estar dirigindo a 200 km/hr, para ''despistar'' aqueles outros carros - que eu tenho breves dúvidas sobre o que eles queriam com a gente - e então ele parou de súbito e veio rápido abrir a porta para eu, me pegando no colo - COMO SE EU NÃO SOUBESSE ANDAR, COMO SE FOSSE A PORRA DE UMA DEFICIENTE! - e trancando o carro com a chave.

Ele abriu a porta de casa com a sua chave e assim que entramos em casa eu ouvi:

– Onde é que vocês dois estavam?

É, depois disso tudo, eu só tenho uma coisa a dizer: Fudeu, e fudeu de vez.