9 Crimes escrita por Miss America


Capítulo 7
O Crime de Diego




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Penitenciária de La Pila

San Luís Potosí, 11 de março de 1998.

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Aos Sr e Sra. Mendonza

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Eu provavelmente atrapalharei o dia dos senhores com esta carta. Se estiverem em momento de almoço, sentirão repulsa ao reconhecer o meu nome. Mas, ainda assim, sinto que existem coisas que preciso dizer antes de retornar à minha cela.

Ofereceram-me a oportunidade de escrever uma carta para alguém de minha família, mas eu não possuo nenhuma. Porém, pensei comigo: “por que não?” Informei ao homem que agora escreve estas palavras enquanto as dito que gostaria de enviá-las aos pais de minha vítima. Meu advogado garantiu meu direito e eu usufruí dele, como podem claramente perceber.

“Por que não?”. Essa frase me persegue, de certa forma. Ela me levou a tomar todo tipo de atitude impensável e imatura e que agora mancham minha ficha criminal. Não começou apenas pelas drogas; não terminará apenas por causa de drogas, enquanto eu puder ser influenciado por esta frase.

Sinto um ódio irracional de todo e qualquer ser vivo que atravesse meu caminho. Irrito-me pela maneira como se sentem superiores aos outros. Não dão ouvidos ao que pensamos, sentimos e, obviamente, somos capazes de fazer. É angustiante como as famílias se agrupam em suas casas e procriam, procriam, procriam para que a raça de superiores estúpidos ainda permaneça sobre a terra.

E minha tarefa? Minha tarefa é exterminar todos eles. Todos aqueles serezinhos fechados em seus círculos de julgamentos errados. Excludentes e subestimadores filhos da mãe. Oh, o homem fardado à minha frente fez uma cara feia. Estou indo longe demais? Não! Estou falando de pessoas que pensam, acreditam ser superiores quando, na verdade, não o são.

Então eu vou lá e os mato. Fazê-los implorar por misericórdia os torna puros diante de meus olhos. Confie em mim, nem todos nasceram com o poder e a capacidade que me foram dados. Deus tem a anjos no céu e a mim na terra.

Com o filho dos senhores não foi diferente. Como aquele garoto gostava de sorrir. Exibia aquele carro vermelho para cima e para baixo. Olhou para mim com nojo antes de entrar em casa. Ele tinha um jeito peculiar de bater na porta, não é? Vocês devem se lembrar. Ele dava dois toques em cima e um embaixo. Vocês ainda ouvem esse barulho, à noite? Ouvem? Talvez seja ele batendo nas portas do inferno.

Lembro-me de quando o capturei. Apagou rapidamente, sem reclamar. Quando acordou, encontrou-se sem roupas à beira de uma ponte. Como o rio é bonito à noite, senhores.

Chorava e chorava. Chamou pelos nomes dos senhores. Ofereceu-me coisas. Soluçou. Tremeu de frio e suava ao mesmo tempo. Fechava os olhos toda vez que lhe apontava a arma. Garoto inocente. Morreu fatiado, no fim das contas. Ensanguentado, respirando sangue, sangue, sangue... Puro.

Não sei se a esse ponto os senhores ainda permanecem lendo esta carta ou se já a queimaram na lareira. De qualquer forma, quero dizê-los por que matei seu filho. Alguns me chamam de louco e outros dizem que sou o filho do diabo ou coisas até piores. Talvez, talvez...

Matei porque quis e o faria outra vez. Faria quantas fossem necessárias. Todos possuem demônios em suas vidas e eu fui o demônio da vida dos senhores. Quando lamentarem a morte dele, pensem em mim. Lembrem-se de mim, é uma ordem. Um pedido. Não há ninguém para lembrar-se de mim esta noite. Nem na próxima. Nem em todas que virão.

O homem fardado me mostra as minhas algemas. Ele quer me levar para dentro da cela. Eu disse que sim. Já terminei minha carta. Purifiquei seu filho. Purifiquei. Purifiquei. Purifiquei. Como sei? Antes de morrer, ele me disse para dizer-lhes que os amava. Acho que cumpri minha promessa.

Purifiquem-se, antes que eu venha buscá-los. Porque eu vou. Demônios, demônios, demônios... eles estão em todas as partes.

Talvez eu me purifique esta noite. Por que não?

Lembranças.

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Diego Señales,

Prisioneiro n° 1443


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Notas finais do capítulo

"Eu dou minha arma quando ela estiver carregada.
Tudo bem?"
~ 9 Crimes
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Oi gente! Saudades de postar. ^^
Essa carta ficou extremamente perturbadora. É que eu tentei usar o ponto de vista de um psicopata, mas, graças a Deus, não sei como é xD
O caso é que acredito que podemos retirar mensagens de todos os lugares, mesmo das palavras de um assassino. Ainda assim, não defendo seu ato de maneira alguma. A vida e a morte pertencem a Deus.
A repetição de palavras foi intencional, tá. :)
A prisão é real, pesquisei sobre para escrever. Mas só pra escrever, também #prontofalei xD
Ironicamente, escrevi a carta enquanto ouvia People Help The People. :O