– O que faz aqui, Margareth?

– É assim que você me trata depois de meses? – suspirou. – Achei que você ficaria mais amigável depois de encontrar sua amada.

– Você vem para o Japão sem me avisar, causa uma bagunça e espera que eu seja amigável?

– Acho que perdi a chance de dizer “surpresa”. – sentou-se no sofá e cruzou as pernas. – Sabe muito bem que eu não disse nada à imprensa. De qualquer forma, eles chegariam a essa conclusão.

– Como pode alguém não ter nenhum senso de responsabilidade por seus atos? Você é uma criança? – sentou-se na poltrona.

– O que? Pelo menos isso vai te obrigar a resolver seu relacionamento com aquela garota. Vai me dizer que ainda não tentou nada?

– Não sei do que está falando.

– Hum... Com essa expressão nem precisava dizer. – sorriu. – Como estão as coisas entre vocês? – empurrou o corpo para frente em expectativa.

– Estava tudo indo bem até certo alguém aparecer. – Margareth soltou um “gomen, gomen” irônico. – Mas ela passou por uns dias difíceis recentemente. Foi bom eu estar aqui.

A expressão da atriz ficou mais séria antes de prosseguir.

– Vim para o Japão por um convite do Lory. Não era minha intenção causar problemas. Mas, dê um desconto, realmente não imaginei que você tivesse tomado alguma atitude. Enfim – levantou-se. -, é bom ver que você está indo bem e que está tudo maravilhoso em sua vida. Vim aqui cedo porque esse parecia ser seu único horário disponível. Agora tenho que ir. – Ren levantou-se para acompanha-la até a porta. – Não se esqueça de me apresentar a essa garota.

– Um dia... – sorriu segurando a maçaneta da porta. – Obrigado, Margareth.

– Oh God, completamente sentimental. – pôs a mão sobre o ombro dele. – Conserte essa sua personalidade gentil. Até logo. – saiu do apartamento elegantemente e dirigiu-se ao elevador.

Ren foi despertado de seus pensamentos pelo som do celular. Era uma mensagem de Kyoko.

“Venha almoçar comigo no restaurante do hotel, vou estar te esperando 13h.”

– ... – fechou os olhos e passou a mão pelos cabelos. – O que está pensando, Kyoko?

[...]

– O vídeo será bastante interativo. Deixaremos a câmera com vocês para dar um ar mais real. Vamos gravar na praia, no parque, enfim, em lugares que os casais costumam frequentar. Apenas certifiquem de sorrir bastante e agir como um casal. Será fácil para vocês dois que já são bastante íntimos. – o diretor coçou a barbar grisalha e começou a pensar. – Vamos gravar vocês dois tocando piano e cantando juntos em uma sala também. Como a música fala sobre um amor que se foi, Mogami-san desaparecerá do lado de Sho no final. Algo um pouco dramático. Entenderam pelo menos a base do que quero dizer?

– Perfeitamente, Tanaka-san. Tudo bem para você, Sho?

– Claro. É mais fácil do que imaginei. Quando podemos começar?

– Amanhã será um bom dia para isso. Como hoje à tarde Mogami-san tem a gravação de “Doce Veneno”, deixaremos isso para amanhã.

Os dois agradeceram e saíram da sala do diretor Tanaka. Entraram no elevador em silêncio. Pensativos.

– Você parece melhor. Isso me deixa aliviado. Não sei como explicar, mas você parecia estar em um conflito interno.

– Obrigada. Acho que finalmente consegui organizar meus sentimentos. – virou-se para Sho. – Vou tentar ser mais sincera a partir de agora.

– Isso é ótimo... – colocou as mãos no ombro da garota e apoio seu queixo. - Ainda tenho que me acostumar com sua ausência. Depois do vídeo vou ficar uns dias sem te ver. Preciso reorganizar meus pensamentos. Tudo bem?

Kyoko sentiu uma dor no peito. Apesar de tudo, sentia-se mal por Sho. Afagou a cabeça do rapaz calmamente e beijou o topo de sua cabeça.

– Me desculpe, fiz você passar por muita coisa.

– Fez mesmo! – sorriu. – Mas em parte é minha culpa, então tudo bem. – a porta do elevador abriu-se. – Vou ficar por aqui. – bagunçou os cabelos longos da garota desfazendo seu coque. – Te vejo amanhã.

– Até mais... – assim que a porta voltou a fechar, Kyoko pode sentir a dor que Sho estava sentindo. – Por que sempre é algo doloroso?

[...]

Ren chegou ao restaurante do hotel ofegante. Olhou desesperadamente para todos os lados procurando a garota, até encontra-la em um canto próximo à janela saboreando um prato com bife. Caminhou devagar e com calma, tentando encontrar palavras para explicar a situação.

Conseguia ouvir os próprios batimentos aumentando a cada passo.

Puxou a cadeira posta frente à Kyoko e ficou esperando a reação dela. A garota soltou um “Olá” e continuou sua refeição.

Ren ficou encarando-a com descrença por certo tempo.

– N-Não tem nada para me perguntar? – perguntou após estranhar o silêncio.

– Acredito que não... – encarou-o. – Não tenho motivos para me preocupar, não é mesmo? – começou a cortar o bife com mais força, causando um arrepio na espinha de Ren.

– É... Claro que não.

– Me desculpe por ontem. Não é que eu não confie em você, é só... – colocou as mãos sobre a mesa e suspirou.

Ren entendeu sem que ela precisasse concluir. Pôs a mão sobre a dela e sorriu gentilmente.

– Não deveria estar se desculpando. Na verdade, esse era para ser o meu papel aqui. Sinto muito, mas eu realmente não sabia sobre a vinda dela, muito menos sobre essas histórias que estão circulando por aí. – apertou a mão dela levemente. – Vou resolver isso logo.

– Está tudo bem, de qualquer forma, te chamei aqui por outro motivo. – passou a mão pelo pescoço em um gesto de nervosismo. – Gravarei um vídeo com o Sho nessa semana. – Ren soltou de sua mão instintivamente assim que ouviu “Sho”.

– Oh... – pareceu pensar por alguns segundos antes de voltar a segurar a mão de Kyoko. – Não precisa fazer essa cara. É trabalho, eu entendo perfeitamente.

– Não é só por trabalho. Pode parecer estranho ouvir esse tipo de coisa, mas Sho e eu somos amigos. Pretendia te contar a mais tempo...

– Como vai ser isso?

– Ainda não sei direito. Eu... Terei que cantar. – o rosto de Kyoko corou levemente. – Algo como um dueto.

– Parece interessante. Então é verdade que você já cantou antes...

– Como soube?

– Vamos dizer que eu tenho um pai espião. – ambos sorriram.

– Faz tempo que não o vejo. Sinto falta de conversar com ele. – tomou um gole de suco e observou a feição de Ren tornar-se mais séria. – Está com ciúmes de seu pai?

– Como pode ser isso? – o sorriso brilhante que surgiu em seu rosto, fazendo Kyoko soltar uma gargalhada. O telefone de Ren interrompeu a conversa entre os dois.

– Ah... Sim, estou a caminho. – desligou o telefone. – Sinto muito, era o Yashiro, tenho que dar uma entrevista hoje. Nos vemos no set? – Kyoko assentiu e Ren levantou-se, pronto para ir até seu carro.

– Obrigada.

– Hã? – virou-se para encarar a garota. - Por que está me agradecendo?

– Por não ter desistido de mim. – sorriu. – Obrigada.

Ren ficou completamente sem expressão. Surpreso pelas palavras de Kyoko. Até que um leve rubor surgiu em suas bochechas juntamente com um sorriso caloroso. O rapaz ignorou completamente as pessoas no local e abaixou-se para depositar um beijo nos lábios da garota.

– Obrigado. – deu outro beijo, dessa vez na bochecha corada da garota. – Por ainda aceitar ficar comigo.

Beijou-lhe a testa e saiu pelo saguão com um sorriso no rosto, sem se importar com os olhares curiosos ao seu redor.

[...]

– REN! – o agente correu ao encontro do rapaz assim que ele saiu do carro. – O que é tudo isso nos jornais? O que essa Margareth-

– Não tire conclusões precipitadas. – interrompeu. - Não há nada entre ela e eu. Você já deveria saber.

– Mas... E a Kyoko-chan?

– Estava com ela há poucos minutos.

– Então, eu interrompi vocês dois? – desesperou-se. – Por que não me avisou? Eu teria ajeitado sua agenda. Como ela estava?

– Não tenho certeza. – fez uma pausa. – Mas ela não me obrigou a comer... Acho que é mais sério do que pensei.

– O que você vai fazer?

– Tenho uma entrevista agora. Se o assunto surgir, eu esclarecerei. – pegou a bolsa e começou a caminhar em direção a um dos elevadores do prédio da TBM.

– Se o assunto surgir? O que ele está pensando?

[...]

– Então, mesmo depois de tudo que passamos juntos, você ainda pensa nele? - encarou-a com mais intensidade e com um brilho triste em seus olhos.

– Eu... Apenas... Não é que... – procurava nervosamente por palavras.

– É tão difícil dizer? – deu uma risada sarcástica. – Tudo que você fez foi ficar comigo para que não tivesse que passar todos esses anos sem ninguém?

– Não! É só... – desviou o olhar.

– Olhe para mim! – segurou a garota pelos ombros com os olhos marejados. – Você... – diminui a força do aperto e fechou os olhos por alguns segundos. – Alguma vez... Pelo menos uma vez você olhou para mim verdadeiramente?

A garota ficou sem palavras com a expressão dolorosa do rapaz. Abriu a boca e fechou sem proferir nenhum som. Apenas percebeu o que estava acontecendo quando o viu murmurar um palavrão e sair da sala, enquanto ela caía sobre os joelhos e chorava silenciosamente.

– Akira... – sussurrava o nome do rapaz sentindo as lágrimas molhando a palma de suas mãos.

– CORTA! – gritou com lágrimas nos olhos. – Maravilhoso, Kyoko-chan, Kenji-san. Sabia que tinha feito uma boa escolha. Estão dispensados!

Kyoko agradeceu ao diretor e olhou rapidamente para o homem sentando próximo ao set. Ele estava bastante sério, como se lançando um olhar de “É melhor se preparar, pois eu vi tudo!”. Kyoko não conseguiu conter o sorriso, ainda não esquecera a atitude dele no almoço. Agora com certeza todos sabiam sobre seu relacionamento. Começou a afastar-se instintivamente quando Ren levantou-se e caminhou graciosamente em sua direção.

– Precisamos conversar. – Kyoko não respondeu como se esperando que ele dissesse qual seria o assunto. Ren suspirou. – Ainda está brava?

– Não estou. – Ren estreitou os olhos.

– Por que me evitou o dia todo? – perguntou quando a garota começou a andar em direção ao seu camarim.

– Estava apenas concentrada em meu trabalho.

– Kyoko. – a voz de Ren saiu mais grave e rouca que o normal, e a garota parou subitamente. – Vamos anunciar isso juntos.

– N-Não... – virou-se para ele. – Não acho que seja uma boa hora.

– Está fugindo de nosso relacionamento?

A garota corou levemente ao perceber a aproximação de alguns funcionários que poderiam ter ouvido o que Ren dissera. Segurou o braço dele e o levou ao seu camarim. Trancou a porta e ficou de costas alguns segundos antes de se virar ainda com o rosto corado.

– Por que fala essas coisas assim? É embaraçoso!

– Disse a garota que se trancou comigo no camarim. – o rosto de Kyoko empalideceu antes de corar novamente. Ren aproximou-se, ficando parado a centímetros da garota. – Esse tipo de coisa é mais sugestivo do que algumas palavras, não é?

Kyoko ficou irritada com o sorriso convencido de Ren e empurrou o peito do rapaz.

– Estou falando sério. – levantou a mão da garota e beijou-lhe a palma. – Acho melhor falarmos juntos. – Kyoko sorriu e encostou a cabeça no peito de Ren.

– Suponho que seja seu ciúme falando. É a concorrência? – inalou o cheiro de colônia masculina que ele exalava sendo retribuída com um abraço.

– Continue fofa assim e anunciar não será suficiente. Terei que te colocar no meu bolso. – levantou o rosto da garota dando um beijo rápido. – Vamos sair para comer alguma coisa antes da sua sessão de fotos?

– Hum... – jogou os braços ao redor do pescoço de Ren. – Isso me lembra de que você não almoçou. Você é mesmo filho dele?

– Chego a duvidar. – sorriram. – Acreditarei que isso signifique o meu perdão. – passou os braços ao redor da cintura da garota e a trouxe para mais perto. – O que quer comer?

– Não sei... – pendeu a cabeça para o lado, pensativa.

– Sapo assado?

– Não acredito que se lembra disso! – disse com uma expressão assustada, enquanto a imagem daquele prato vinha em sua mente. – Não vou mais comer com você!

– É mesmo?

Ren deu um sorriso convencido e Kyoko acabou ficando irritada consigo por esquecer-se do que dissera antes dele beijar seus lábios apaixonadamente.