Doce Veneno escrita por Makiyenn


Capítulo 2
Memórias


Notas iniciais do capítulo

Um pouco confuso, mas as coisas serão explicadas futuramente.
Aproveitem ^^



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Kyoko chegou à LME um pouco atordoada. Novamente sonhara com o dia da despedida do Ren, era incrível como mesmo depois de cinco anos ele ainda causava essas reações nela. Mas agora ela já não era uma colegial, era uma mulher com seus 22 anos. Os cabelos já não estavam mais descoloridos, agora eles estavam longos até a cintura e com sua cor original.

“Tanta coisa mudou...” Pensou depois de cumprimentar algumas pessoas e entrar no elevador. Até mesmo o uniforme da seção Love Me estava aposentado. Entretanto, o que mais fazia falta era ele, Kyoko não conseguia parar de imaginar se ele estava bem, se estava comendo direito ou com quem estava. Durante esses cinco anos não se viram, ela apenas via casualmente algumas notícias de supostos casos que o famoso Tsuruga Ren, agora reconhecido também como Hizuri Kuon, teve na América. Notícias que faziam muito mal a ela.

No começo não conseguia esconder seus sentimentos, isso acabava atrapalhando seu trabalho e com o tempo foi aprendendo a se controlar. Mas nesse dia era diferente, no início da semana Kyoko recebeu um convite para trabalhar em um filme.

Na noite anterior Lory havia a alertado sobre esse trabalho, segundo ele seria “O mais difícil que ela já teve, um verdadeiro desafio!”. Porém queria o consentimento dela antes de entregar-lhe o roteiro.

Assim que terminou de ler, Kyoko se apaixonou pela história. Logo de cara já se interessou por sua personagem e teve milhões de ideias de como interpretá-la. Sua animação foi cortada no momento em que leu os nomes escalados para o elenco.

“Tsuruga Ren...”

Ele seria o personagem principal. Ela teria que interpretar alguém que se apaixona por ele. Ela teria que encará-lo. Ela finalmente poderia vê-lo. Por que estava hesitando?

“Tsuruga Ren é visto em um encontro romântico com a nova atriz Margareth Scheiffer.”

“O insaciável Hizuuri Kuon passeia pela praia com sua nova namorada.”

As notícias simplesmente voavam pela mente dela como se avisando que era perigoso continuar. Entretanto, Kyoko não era mais uma garotinha, aquilo era trabalho e ela jamais recusaria uma oportunidade tão boa dessas. Poderia até mesmo aproveitar e aprender alguma coisa com seu senpai...

Quem ela queria enganar, na verdade estava somente louca para vê-lo. Lory percebeu sua inquietação.

- Mogami-kun, quis falar com você antes porque sei que vai ser difíc-

- Eu aceito. – falou surpreendendo o presidente. – Não precisa fazer essa cara presidente, não sou tão fraca quanto aparento.

Lory sorriu e levantou de seu trono. Dessa vez ele estava vestido como um rei. Caminhou até Kyoko e colocou uma mão em seu ombro.

- Esteja aqui amanhã cedo Mogami-kun, ele também estará aqui. – Ela sentiu seu corpo fraco, mas tentou manter-se firme. – Será a volta de Tsuruga Ren para o Japão, estão querendo fazer uma grande produção, por esse motivo escolheram você. – Kyoko assentiu. – Ninguém sabe que ele está vindo para cá, será uma surpresa para aumentar a atenção do filme.

Agora se lembrando do que Lory disse, ela pensou que seria melhor não ter aceitado. O elevador parecia andar mais devagar que o usual. A sensação de querer encontra-lo misturada com o medo de como ela reagiria estava matando Kyoko. Deu leves tapinhas em seu rosto para tentar espantar o nervosismo. Por sorte Kotoname-san a convidara para tomar café-da-manhã. Já fazia um bom tempo que não se encontravam e precisava realmente conversar com alguém.

“Não é hora para isso Kyoko, concentre-se em seu trabalho...”. Quando o elevador parou no andar da sala do presidente Kyoko hesitou. Respirou fundo e pensou se seria uma boa ideia continuar. Fechou os olhos e lembrou-se da promessa de jamais deixar que alguma coisa afete seu trabalho.

Chegou frente à porta da sala do presidente e entrou pedindo licença.

- Desculpe a intromissão. Me atrasei um pouco por causa do trânsi... to.

Kyoko parou no meio da sala observando a figura parada em frente à mesa do presidente. Era um homem bastante alto, com um físico invejável. Seus cabelos eram loiros e os olhos claros estavam escondidos por algumas mechas que caiam desordenadas. Usava uma camiseta social branca com os três botões de cima abertos e uma calça jeans desbotada. O homem virou para ela e sorriu. Era ele, Kyoko tinha certeza. Ele estava completamente diferente, mas ela reconheceria aquele homem em qualquer lugar, qualquer data. Naquela hora ele era uma versão mais velha do Corn assim como ela imaginara. Estava surpresa pela presença dele, não esperava encontra-lo tão cedo.

Como ela sentiu falta daquele sorriso caloroso. Se fosse antes ela certamente fugiria, mas agora o que ela mais queria era poder tocá-lo, sentir seu abraço mais uma vez. O ar da sala mudou, eles pareciam se comunicar apenas com o olhar, todas as palavras não ditas praticamente gritando em sua mente. Kyoko deixou apenas um “Ah!” escapar de seus lábios. Não sabia o que fazer, queria chorar, queria sorrir, porém a única coisa que conseguiu fazer foi ficar parada encarando-o assim como da última vez. Sentiu-se uma covarde.

Ren percebeu a inquietação de Kyoko. Com tristeza pensou que ela ainda não havia se recuperado. A vontade de correr para abraça-la era quase incontrolável, chegava a doer. Porém não faria isso, ela estava incomodada com a presença dele, isso o ajudou a se controlar, não ia fazer nada egoísta apenas para seu próprio deleite, não a forçaria a nada. Fechou os olhos como se entrando em algum personagem. Precisava se controlar... Urgentemente.

- Há quanto tempo Mogami-san. – disse com uma voz calma como se a presença dela não o afetasse. Aquilo doeu mais do que Kyoko poderia imaginar. As lágrimas ameaçaram aparecer, porém ela não se permitia mais chorar por ele, ele tinha abandonado ela, como ele pode odiar tanto o Sho se no final eles eram iguais?

Queria sentir raiva. Queria muito sentir raiva dele, mas por que não conseguia? Talvez estivesse cansada de sentir raiva, ou simplesmente não conseguia odiá-lo. Olhando para ele e vendo como ele agiu friamente mesmo depois da declaração que Ren fizera antes partir, começou a se odiar, justamente por não conseguir odiá-lo.

- Olá Tsuruga-san. – Kyoko usou a voz mais indiferente que pode tentando parecer segura. Sorriu e virou-se para Lory – Quando começaremos a reunião presidente?

Lory queria desaparecer daquele lugar. Imaginou como seria bom se a roupa de super-herói que ele usava pudesse torna-lo invisível. Olhou para os dois e suspirou. “Como esses jovens são estúpidos!”. Suspirou novamente antes de pular sobre a mesa e fazer um gesto heroico estranho.

- Mogami-kun! Vejo que não desistiu do papel. – disse com um meio sorriso. - O resto do elenco vai se reunir amanhã à tarde já que hoje faremos o anúncio da volta do grande Tsuruga Ren. – desceu da mesa e caminhou até ela. – Vocês devem ter muito que conversar. – Lory fez menção de que ia sair da sala, mas foi impedido por Kyoko.

- Não precisa se incomodar presidente, Tsuruga-san e eu não temos nada para conversar, não há necessidade de atrapalhar a conversa de vocês. – os dois ficaram surpresos com a atitude dela. – Se me dão licença.

Os dois ficaram observando a garota sair a passos largos. Quando finalmente acordou daquele “transe” Lory bateu com a palma da mão na testa.

– Vocês são dois idiotas! – disse praticamente com lágrimas nos olhos.

O sorriso de Ren havia desaparecido, sua expressão apenas demostrava ira e frustração. Não poderia culpa-la, ele passou cinco anos sem dar nenhuma notícia, sem procurar respostas. Foi orgulhoso e presunçoso demais da parte dele pensar que ela tomaria a atitude de procurar por ele. Bateu o punho fechado com força na mesa praguejando um “merda!”.

- Ren! – gritou chamando a atenção de Ren. – Por que agiu daquela maneira com Kyoko? Você não passou os últimos anos querendo reencontra-la?

- Não é tão simples, você não viu como ela estava incomodada com minha presença? Talvez tenha sido um erro contar para ela sobre meus sentimentos. – sua voz melancólica fez com que Lory se aproximasse para dar um peteleco na testa de Ren.

- Deixe de moleza, Kuon! Vai desistir agora? Não brinque comigo! – Ren o encarava com os olhos arregalados. – Ren, se continuar com esse seu medo de errar nunca chegará a lugar algum.

Kyoko finalmente parou de correr quando entrou no elevador. Escorou-se em um canto como se tentasse desaparecer. Encontrar com Ren foi doloroso e cansativo demais para ela suportar. Se ficasse naquela sala por mais tempo, acabaria não suportando e começaria a chorar desesperadamente. Não conseguia entender sua atitude, passou os últimos anos querendo reencontrá-lo e agora fugia novamente.

“Ele já não sente mais nada por mim, aquelas notícias deveriam ter sido o suficiente para eu perceber isso. Já é tarde demais.” Pensou enquanto olhava o ponteiro do elevador andando em seu ritmo normal.

O espelho do elevador refletia perfeitamente seu rosto atordoado. Pelo visto o amor que ela sentia por ele apenas aumentou, tanto que nem mesmo conseguia controlar suas expressões.

“Espero que ele não tenha visto essa expressão patética...”.

Quando o elevador finalmente chegou ao primeiro andar e as portas se abriram, ela sentiu dois braços longos e fortes a envolverem. Um vulto amarelo mesclado com branco foi tudo que viu antes de seu rosto ser prensado contra aquele peito. Ela reconhecia essa sensação, a fragrância masculina que ele exalava, reconhecia o calor daquele abraço.

Sua mente ficou completamente branca.

“Me desculpe, por favor, me desculpe...”                 

Foram as únicas palavras que ela conseguiu escutar antes de se entregar àquele abraço. As lágrimas caíam descontroladas molhando a camisa do homem que a abraçava. O cheiro dele não tinha mudado. Quem sabe somente ela havia mudado.

Kyoko parecia ter voltado no tempo, voltado para o dia em que ele partiu, mas dessa vez se agarrou a ele como se ele fosse desaparecer, era o que ela deveria ter feito há cinco anos, mas naquela época não estava preparada.

“Sinto muito, Kyoko-chan...”.

Ruborizou ao mesmo tempo em que se agarrou mais firmemente a camisa de Ren, como se isso fosse recuperar todos os anos perdidos de sofrimento. Mantiveram aquele abraço por um longo tempo, para alguém que estivesse de fora o abraço teria durado apenas alguns minutos, mas para eles significava cinco anos.


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Notas finais do capítulo

É difícil imaginar as reações do Ren... -_-

Espero que tenham gostado, a partir de agora a história vai começar a andar melhor.

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