Doce Veneno escrita por Makiyenn


Capítulo 16
Em vão


Notas iniciais do capítulo

Domingo, dia de fanfic.

Aproveitem, muita coisa nova nesse capítulo. ^^

Aviso: Capítulo sem revisão.



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Kyoko entrou no quarto onde sua mãe estava internada. Fechou a porta lentamente sem olhar para trás.

Sua mãe estava deitada, frágil, sentindo as luzes que atravessavam a janela baterem em seu rosto pálido e com uma expressão sem vida. Kyoko tentava organizar as palavras, mas elas pareciam prender-se em sua garganta. Doía. Porém, não tanto quando se sentir impotente.

Finalmente conseguiu caminhar. A gravidade parecia ter aumentado tornando difícil qualquer movimento, mas era apenas o nervosismo. Puxou uma cadeira e sentou-se ao lado da cama.

O som estridente da cadeira fez Chieko emitir sons incompreensíveis.

- Já disse que estou bem, enfermeira – abriu os olhos, mas não virou-se. – Não preciso de mais soro. – assustou-se ao sentir uma mão trêmula e fria segurar seu pulso. – O que... – seus olhos marejaram ao ver quem estava à beira de sua cama. – Kyoko... chan...

Kyoko soltou sua mãe nervosamente. Não conseguia dizer nada. A imagem do sofrimento de sua mãe enquanto enfrentava sua doença sozinha deixou a garota ainda mais perdida.

- Por que veio? – a única pergunta que Kyoko não gostaria de ouvir saltou da boca de Chieko. – Você disse que não ia procurar por mim... – novamente a pontada no peito. – Por que veio?

- Eu só... – Kyoko percebeu que ainda tinha medo de sua mãe, medo da reprovação.

Naquele momento ela voltou a ser uma garotinha assustada com o boletim nas mãos.

- Eu não queria que você me visse dessa forma patética, impotente. – as lágrimas de Chieko caíam desenfreadas. – Eu tentei tanto falar com você, Kyoko-chan, por que só agora?

A ficha de Kyoko caiu. Por um momento viu um pouco de si em Chieko. Sorriu brandamente e voltou a segurar a mão de sua mãe.

- Me desculpe, eu não-

- Por favor, não me peça desculpas. – disse virando o rosto para a janela. – Sou a única que deve explicações por aqui.

Kyoko pôs as mãos sobre o colo. Agora as perguntas que ficaram tanto tempo em sua mente, gritavam por liberdade.

- Eu não sabia o que fazer, Chieko. – a mulher voltou a encarar a garota e novamente as lágrimas voltaram.

- Você deve ter tantas perguntas para me fazer. – tentou alcançar o rosto da garota, mas não tinha forças. Kyoko entendeu o gesto e colocou a mão de Chieko sobre sua bochecha. Uma sensação de calor e alívio invadiu o corpo da garota.

“Então esse é o toque de uma mãe?”.

- Ah, Kyoko... Você se parece tanto com seu pai. – os olhos de Kyoko se arregalaram. Nunca ouvira nada sobre seu pai antes. – O formato de seu rosto, seu jeito e principalmente esses olhos que transmitem toda a vivacidade... Você é igual a seu pai. – a voz não passava de um sussurro. – Era tão doloroso olhar para você e lembrar que ele nunca mais estaria aqui.

Kyoko não demostrou nenhuma reação. Tentava digerir aquelas palavras e formar qualquer frase que fosse. Em vão.

- Eu amei muito seu pai, Kyoko – lentamente tirou a mão do rosto da garota. – Você era muito pequena quando ele se foi e eu era muito jovem. Quando a notícia chegou eu não soube o que fazer, não derramei uma lágrima sequer, apenas tranquei minhas emoções para que não caísse. – Chieko desviou o olhar, como se isso fosse diminuir sua culpa. – Mas sempre que olhava para você e via seu pai... Eu... Simplesmente perdia todas as minhas forças. Comecei a te odiar.

Kyoko sempre soube o quanto foi odiada por sua mãe, porém, não imaginava que iria doer tanto ouvir isso diretamente dela. Queria desaparecer. Abriu a boca duas vezes e tentou dizer alguma coisa. Nada.

- Sei que te magoei muito, Kyoko – continuou. – Nada justifica o que fiz e não tenho nenhum direito de lhe pedir perdão, mas... – voltou a encará-la. – M-Me perdoe... Eu... – fechou os olhos. Era a vez de Chieko querer desaparecer.

- Realmente não tem, Chieko. – a mulher manteve-se imóvel, esperando receber a dura verdade e o ódio anunciado de sua filha. – Você destruiu parte de mim, algo que talvez nunca fosse restaurado. Mas eu segui em frente – as lágrimas rolavam pelas pálpebras fechadas de Chieko. – E... Encontrei uma pessoa maravilhosa que me ensinou a perdoar... – sorriu timidamente com as lembranças que surgiam em sua mente. – Me ensinou a amar novamente.

Chieko arregalou os olhos completamente surpresa pelo que ouvira. - Eu já te perdoei há muito tempo, Chieko.

A mulher usou as últimas forças que tinha para tentar alcançar Kyoko, até que a garota aceitou o gesto e jogou-se nos braços de sua mãe, tendo pela primeira vez aquele sentimento. Aquela sensação inexplicável que somente uma mãe consegue transmitir.

O choro e pedido de desculpas das duas ecoavam pelo corredor do hospital, onde um homem estava sentado à porta do quarto sorrindo e se perguntando o porquê de ter se apaixonado pela garota mais problemática do Japão.

[...]

- Veio sozinha para cá, Kyoko? – as duas finalmente se acalmaram, conseguindo manter uma conversa normal.

- Não. Vim com... – o rosto de Kyoko corou.

- Pelo que vejo é um rapaz. – Chieko sorriu. – Seu namorado?

- Não é bem assim... Nós ainda... Ah, esqueça! – virou o rosto tentando não encarar sua mãe. O olhar de Chieko parecia ver através da garota.

- É o garoto dos Fuw-

- De maneira alguma! – Kyoko interrompeu quase que mecanicamente. A ideia de ficar ao lado de Sho era algo que ela bloqueara há muito tempo. Envergonhou-se pela forma como falou, e tentou esquecer o assunto. – Esqueça isso. A senhora me disse algo sobre meu pai.

- Ah, sim, você deve querer saber muita coisa sobre ele. – a expressão de Chieko mudou. Os olhos completamente sem foco com as lembranças que surgiam. - Está mesmo na hora de saber sobre ele....

[...]

Ren estava encostado na parede frente à porta do quarto, esperando qualquer sinal de Kyoko. O silêncio que se instalara logo após todo aquele choro o deixara perturbado. A vontade de entrar no quarto crescia a cada minuto.

Naquele momento ele amaldiçoava o relógio.

Ouviu sons de passos lentos dentro do quarto, até que a porta finalmente foi aberta. Kyoko saíra com uma expressão completamente transtornada. Dúvida, medo, tristeza, todos combinados de modo que Ren não conseguia decifrar corretamente.

Caminhou lentamente até a garota e, quando aqueles olhos âmbares cheios de angústia o fitaram, ele quis chorar por ela, mas antes que pudesse tomar qualquer atitude, Kyoko encostou a cabeça em seu peito. Aquilo o surpreendeu e depois que ela abraçou-o com força, ele entendeu a extensão do sofrimento de Kyoko.

Abraçou-a de volta carinhosamente. Não disse uma palavra, ele sabia muito bem que a garota não precisava de palavras bonitas. Ela apenas precisava de seu carinho. Beijou o topo da cabeça de Kyoko por um longo tempo, antes de acariciar os cabelos dela passando a sensação de conforto que ela precisava. Não disse uma palavra.

Ren sentiu que o abraço ficou mais apertado. Seu coração palpitava e de certa forma corou ao perceber que a garota conseguia ouvi-lo.

Sentiu as lágrimas quentes de Kyoko molharem sua camisa. A pontada em seu coração ganhou intensidade. Odiava vê-la chorar e odiava mais ainda não saber o que fazer nesses momentos.

Agarrou a garota pela cintura e levantou-a de modo que pudesse encará-la. Kyoko soltou uma exclamação antes de corar perante o olhar triste de Ren.

- Por favor, não... Não chore assim. – puxou-a para mais perto. – Isso machuca... Eu não sei o que fazer.

Kyoko sorriu ao ver a forma que Ren estava naquele momento. Completamente indefeso, parecendo um menino. Soltou um “Obrigada” que não passara de um sussurro e colocou as mãos sobre o rosto do rapaz. Beijou-o timidamente antes de envolver os braços ao redor do pescoço dele.

- Eu te amo, Ren. – ele sentiu todo seu corpo estremecer. Seu coração parecia ter ganhado vida própria. As palavras que ele tanto esperou ecoavam em sua mente. Abraçou-a forte e afundou a cabeça no ombro da garota.

- Eu também te amo, Kyoko. – afastou-se de modo que pudesse beijá-la.

Ren não esperava receber a declaração em um momento como esse, ainda mais com a fragilidade que a garota se encontrava, mas ele pode perceber através do sorriso sincero estampado no rosto da garota que ela verdadeiramente o amava.

Ficaram assim, no meio do corredor, com as testas coladas e expressões bobas. Como se não houvesse mundo ao redor deles. Sempre que ficavam assim os problemas pareciam sumir, como se existissem apenas os dois.

“Eu só queria que esses momentos durassem para sempre...”.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim.

Para quem está com dúvida sobre qual trabalho a Kyoko fará com o Sho, falarei sobre isso no próximo capítulo.

Sim, o Sho voltará.
Sim, tretas.

Ah, por favor, não odeiem o Ren, estou com pena dele kkk

Muita explicação para o próximo. Flashback e mais flashback, enfim...

Comentem o/ Sugestões são bem-vindas.



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