Ignorei-os e corri pelos corredores até me perder, o que não foi difícil. Encolhi-me perto de uma escada, que dava de encontro a uma porta. “Porque ele está sendo tão mandão?” Infantilmente pensei. Comecei a pensar seriamente sobre o que ele disse, até que fortes e insistentes batidas na porta me tiraram de meus devaneios. Será que Josh já me encontrou?

—Sei que tem alguém aí do outro lado, então abra essa porta agora. –Disse uma voz do outro lado da porta, mas não a voz de Josh. –Eu sei que vocês estão com ela, abram logo essa porta ou eu mesmo vou abri-la.

Espera um pouco aí... Eu conheço essa voz!

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As batidas continuaram, e mesmo sendo a voz de quem eu acho que seja não tive forças para levantar. Ouvi passos distantes vindo em minha direção, eram Josh e Colin.

—Eu avisei - Disse a voz da porta.

As batidas foram interrompidas, mas logo depois foi ouvido um estrondo alto, e a porta abriu-se com violência. Aposto que pelo menos alguém já sabe quem é. Vou dar um docinho para cada um que acertar. Mentira! Senão vou ficar sem doces. Parado em frente à porta recém-aberta estava nada mais, nada menos que meu novo protetor, Henry. Ele observou toda a entrada, e me viu encolhida ao lado da escada. Seu olhar de preocupação se transformou em um olhar de raiva quando ele olhou-me de cima a baixo, e depois olhou para Josh e Colin, que haviam acabado de adentrar o local.

—Quem são vocês, e porque é que a pequena senhorita está aqui e machucada? –Perguntou friamente.

—Eu é que deveria perguntar isso! Quem é você e o que está fazendo na minha casa? –Perguntou Josh.

—Eu estava procurando a senhorita já faz uns QUATRO dias! –Ele exclamou zangado, encarando-me com seus misteriosos olhos brancos cheios de raiva.

—Senhorita? Está falando da Onee-chan? –Perguntou Colin, inocentemente. –Por que estava procurando a Onee-chan?

—Onee-chan? Ah... A Anne. –Murmurou Henry, que depois respirou fundo, para se acalmar - Sim, eu estou falando dessa Onee-chan. Eu sou um criado enviado pelo pai da senhorita, com a missão de cuidar dela. No dia em que nos encontramos, saí para fazer compras, e quando voltei a senhorita havia desaparecido. Passei todo o meu tempo procurando ela. –Agora eu estou me sentindo um pouco culpada...

—Oh... –Murmuraram Colin e Josh.

Finalmente criei coragem pra falar sob o olhar severo que Henry me mandava, então disse o que primeiro havia me ocorrido:

—Henry, como me achou?

—Hum... Não foi muito difícil. –Ele respondeu, sorrindo de canto - Você tem um cheiro muito diferente. – Ah. Isso explica tudo. Espere aí... Como assim cheiro?

Assim que percebi o que ele havia dito, corei fortemente.

—Oh! É verdade, a cogumelo tem um cheiro muito estranho. –Nada a declarar.

Corei mais forte, se é que era possível.

Colin, que até agora estava só acompanhando a conversa, olhou de um jeito acusador para Josh e Henry e disse:

—Vocês por acaso ficam cheirando a Onee-chan? Seus tarados!- E se colocou protetoramente a minha frente. –Não vou deixar que toquem na Onee-chan! –MEU DEUS! Como um ser humano consegue ser tão FOOOFO?! Opa! Surtou de vez. Fiz o que qualquer garota com ataque de fofura faria, levantei-me e abracei, ou esmaguei, o pequenino.

—Ooowwwnnt... Seu fofo! –Exclamei, quase esmagando ele.

—O- Onee-chan...

—Senhorita, eu acho que você está sufocando o pequeno garoto.

Percebi que Colin estava quase desmaiando, e soltei-o desesperada.

—Ah meu Deus, Colin! Você tá bem? –Ele murmurou algo irreconhecível - Me descuuuuulpa, eu sou uma pessoa horrível.

Josh desatou a rir e Henry simplesmente bufou e disse:

—É melhor você me explicar logo o porquê de estar aqui e porque está machucada, senhorita.

—É melhor irmos pra sala, então. –Disse Josh, guiando-nos para a sala. Carreguei Colin até a sala, uma vez lá, sentei-me no sofá e deitei-o com a cabeça em meu colo. Henry sentou-se em uma poltrona em frente ao sofá, e Josh sentou ao meu lado.

Comecei a contar o que havia ocorrido, e Henry não tirou seus intrigantes olhos brancos de mim nem por um momento. Ele era um incrível ouvinte, e sua expressão não se alterou em nenhum momento. Assim que terminei a história, ele encarou o vazio por um longo tempo e, simplesmente murmurou:

—Hum. –Hum? Por que é que sempre que eu conto essa história longa e dramática as pessoas simplesmente dizem HUM? O QUE SIGNIFICA HUM? PORQUE HUM? Deu a louca de novo?

Bufei, e disse:

—Será que pode me dizer algo que não seja hum?

—Hum. –Murmurou ele novamente, com um sorriso de canto.

ARGH! Alguém está pedindo pra apanhar. Olhe, eu posso ser pequena, mas eu tenho muita força. Peguei uma almofada que estava convenientemente perto, e aproveitando que Henry estava novamente distraído, arremessei-a com tudo na direção dele. Bom, além de ser forte, eu tenho uma ótima mira. A almofada acertou em cheio o rosto sério de Henry, e sua expressão ficou lívida. Ele virou a cabeça lentamente em minha direção, seu rosto transformando-se em um sorriso de escárnio. ME FERREI! Lálá lálá...

—Só avisando, que foi você quem começou. Não me responsabilizo por nenhum ferimento grave. –Disse ele. Só para confirmar o que eu já disse, ME FERREI!

Henry agarrou uma almofada e lançou-a como um projétil na minha direção. É AGORA QUE EU MORRO! Adeus mundo. Foi muito bom enquanto a vida durou. Antes que a almofada mortal me atingisse, um sonolento Colin se levantou, fazendo com que a mesma acertasse a cabeça dele. Mesmo sendo ele o acertado, eu consegui sentir o impacto da almofada voadora. Tadinho.

—AAAAI! Quem é que jogou essa almofada em mim? –Perguntou ele, com raiva.

Henry deu um sorrisinho culpado, mas Colin não percebeu, porque Josh começou a rir feito um idiota.

—ARGH! Seu maldito! –Gritou Colin, pegando uma almofada e começando a bater no irmão.

—Oh meu Deus! Que dor! Alguém faça esse garotinho selvagem parar de me agredir! –Disse Josh, ironicamente, enquanto morria de rir.

—Se não é dor suficiente, eu vou ajuda-lo a te bater. –Eu disse, pegando outra almofada e ajudando Colin a bater no Josh.

—Socorro! Estou sendo atacado por gnomos mal treinados! –Exclamou Josh, ainda gargalhando feito um lunático.

Parei bruscamente de bater no Josh, pois uma almofada acertou minha cabeça como uma bomba. Virei a cabeça como uma possuída e lá estava Henry com um sorriso cínico.

—VOCÊ! Considere-se morto mordomo maldito. –Eu disse, fazendo Henry dar mais um sorrisinho.

Corri na direção dele, e comecei a tentar acerta-lo com almofadadas, socos e chutes, mas ele se desviava de todos com naturalidade, o que estava me irritando muito. Decidi arriscar um truque. Fingi que ia acertar a cabeça dele com a almofada, e quando ele se desviou, passei uma rasteira com toda minha força. É claro que ele caiu no meu brilhante plano.

—Acho que venc-

Ao invés do maldito cair sozinho, ele me puxou, fazendo com que eu caísse em cima dele. A nossa posição estava: ele caído no chão, de barriga pra cima, e eu caída no peito dele. Olhe, eu sei que ele é meio que mais velho, mas Henry é muito bonito. Um silêncio mortal reinou na sala enquanto eu encarava os hipnotizantes olhos brancos, e foi drasticamente cortado por uma almofada voando na minha cabeça e uma vozinha inocente gritando acusadoramente.

–Onee-chan... Sua tarada!

–O QUEEEEEEEE? –Gritamos eu e Henry, ao mesmo tempo, vermelhos como tomates.