- S.. Sim, senhor Namikaze... Uchiha. – Respondeu a moça tentando controlar a voz, mas a gagueira pelo nervosismo foi inevitável. O castanho-aloirado suspirou em sinal de cansaço e sentou-se ao lado de Hinata.

A azulada nada comentou. Apenas ficou calada tentando imaginar as chances de aquilo ser verdade. Eram quase nulas, na verdade. Como nunca ouvira falar de Tsukasa se ele pertencia mesmo as duas famílias? Se bem que ele poderia ser um filho bastardo bem escondido. Mas as duas famílias eram pobres de ricas, como Tsukasa era pobre então?

As enfermeiras trataram de colocar a Hyuuga em uma cadeira de rodas e conduzi-la até o consultório do médico que estava de plantão naquela hora. O rapaz então permitiu-se afundar na poltrona macia da sala de espera, uma poltrona cara que nunca teria condições de comprar.

Ainda perguntava-se se fez certo em falar aquilo. Ainda mais na frente de Hinata. Sabia bem que a azulada ficara curiosíssima, mas nada perguntara por educação e vergonha de está se metendo demais em sua vida. Encarou a identidade que estava em mãos. Quando Hinata saísse conversaria com ela. Sentia que tinha de conversar com ela sobre o assunto. Deixar tudo as claras.

Como pensara o machucado de Hinata não era nada grave. Aquilo era apenas a dor causada pelo impacto da porta pesada, nada mais. O trajeto até o carro foi em silêncio. A Hyuuga queria muito perguntar sobre o sobrenome dele, mas não achava um momento oportuno para abordar o assunto. Já o castanho-aloirado tomava coragem para falar a verdade para a azulada.

- Quer ir para sua casa? Ou pra casa de alguma das meninas? – Indagou quebrando o silêncio constrangido deles. A Hyuuga suspirou.

- Quero voltar para a sua casa. – Respondeu. Não estava muito a fim de conversar com outras pessoas além do castanho-aloirado, muito menos explicar todas as suas ações da noite passada.

- A minha casa Hyuuga? Tem certeza? – Perguntou descrente. A menina assentiu sorrindo de forma meiga. – Tudo bem então. – Respondeu dando de ombros seguindo o caminho de casa.

O silêncio reinou novamente. O rapaz não entendia bem por que em vez de ir para sua casa confortável aonde teria todos os mimos possíveis a moça havia escolhido voltar para a espelunca – como ele próprio chamava – em que ele morava.

- Tsukasa...? – Chamou insegura. A curiosidade a estava corroendo.

- É verdade. – Replicou rapidamente. – Eu sei o que ia perguntar. O que quer perguntar desde a hora que eu falei com aquela atendente desgraçada. Sei que parece impossível ou no mínimo improvável, mas é a verdade. Confira. – Disse por fim entregando a identidade que parecia queimar em seu bolso.

Hinata pegou o documento ainda perturbada. Nunca. Mas nunca mesmo. Pensou que viveria para ver algo assim. Um filho bastardo que pertencia a duas das quatro famílias mais influentes do Japão. Olhou a assinatura do rapaz ainda descrente. Namikaze Uchiha Tsukasa. Ficou mais pasmada ainda ao ler a filiação do rapaz.

- Namikaze Minato e... Uchiha Mikoto? – Sussurrou encarando o rosto de Tsukasa que observava o asfalto coberto pela geada. O castanho-aloirado deu uma assentida discreta enquanto estacionava o carro. – Mas sendo assim você é meio-irmão de Naruto, Itachi e Sasuke.

- Por favor, não me lembre dessa parte horrível. – Resmungou. – Odeio aqueles mauricinhos que acham que tem o mundo aos pés deles pelo dinheiro que possuem. – Hinata observou a expressão de raiva do rapaz enquanto ele a carregava escada acima em direção ao apartamento minúsculo e antigo em que morava.

Abriu a porta, atravessou a sala-cozinha e entrou no quarto. Deitou Hinata na cama de casal sem dar mais nenhuma palavra sobre o assunto. A azulada começou a ficar preocupada com o silêncio do rapaz desde que falara de seus irmãos. Sabia que Sasuke era um insensível, Itachi um genioso e Naruto um babaca, mas não achava que aquela raiva toda tivesse algum fundamento. Será que toda aquela implicância não seria inveja da boa vida? Voltou ao ponto de duvida latente. Cadê o dinheiro que Tsukasa deveria ter?

- Você mora aqui por quê? Sendo filho de quem é você é muito rico. - Pronunciou-se curiosa.

- Eu não quero o dinheiro deles. O Namikaze Minato nunca foi homem suficiente para ser meu pai.Ele nunca quis. Nem depois que a mulher morreu. Já a Mikoto-okaa-san... Eu a amava, mas o dinheiro é do Uchiha e seus filhos. Eu não tenho nada e nem quero nada deles. - Respondeu sério. - Não insista com isso Hinata. O dinheiro não é meu. - Disse antes que ela replicasse algo.

- Okay. E Naruto, Sasuke e Itachi sabem? – Quis saber sentando-se apoiada na cabeceira da cama.

- Claro que sabem. Ou acha que a gente se ama assim por nada? Aliás, todos os amiguinhos de Naruto sabem. Afinal nenhum dos três nunca perdeu a oportunidade de me humilhar e rebaixar na frente deles. Em conseqüência disso todos os amigos deles também nunca me deixaram em paz. – Respondeu com o maxilar travado de raiva e os punhos cerrados. - Não quero mais falar sobre isso.

- Mas Tsukasa... – Insistiu agora sim interessava-se sobre a história. Ali todos os seus amigos também estavam envolvidos.

- Chega Hinata! – Exclamou rude. Suspirou tentando acalmar-se. – Depois azulzinha. – Disse por fim indo para a cozinha preparar algo para o almoço. Toda a vontade que sentira de se abrir com Hinata fora embora ao lembrar de todas as palavras felinas, indiretas e ironias sofridas por parte dos garotos.

A azulada se punia calada por insistir daquele jeito no assunto. Só percebera no fim que aquilo tudo não deixa Tsukasa só com raiva, mexia profundamente com o rapaz, o deixava triste, abatido, pode ver a mágoa antiga nos olhos azuis límpidos. Deus! Será que depois de todos aqueles anos nem sequer conhecia o ex-noivo, ou os amigos ou ainda seu próprio irmão?

Não demorou muito e um cheiro delicioso vinha da cozinha de Tsukasa, ele apareceu com uma bandeja com o almoço da moça. Um copo de suco, que Hinata identificou sendo de laranja, e um prato tinha uma arrumação interessante. Quase caindo da borda rodelas de tomate, seguidos de um arroz soltinho e bem no meio uma espécie de carne de panela com batata frita junto.

- É muito bom. Aprendi com Yuri-okaa-san. – Começou sentando ao lado de Hinata. – Simplesmente adorava quando ela fazia isso para mim. – Terminou nostálgico. Como sentia falta da mãe de criação.

- E onde ela está? – Indagou sorrindo para ele.

- Espero que no céu. Ela já morreu azulzinha. – Respondeu com um sorriso triste.

- Tsukasa me perdoe. Eu não fazia ideia. – Começou constrangida. Que boba! Já devia ter imaginado isso.

- Você não sabia, não se culpe. Além do mais já faz muito tempo. – Sussurrou levantando. – Almoce, farei o mesmo. Depois retomaremos o assunto sim? Sei que está curiosa. E me desculpe por antes. Digamos que eu nunca falei sobre isso com ninguém. – Articulou levantando e indo montar o próprio prato. A refeição se seguiu em um silêncio pensativo.

- Se não quiser falar sobre isso comigo. Eu vou entender, certo? – Sussurrou deitando-se no ombro de Tsukasa enquanto esse a abraçava.

- Eu quero falar. Pelo menos com você. Sei que não é como Neji e vai me tratar mal e humilhar só por ser amiga de Naruto a mais tempo. De todas as pessoas que sabem apenas Pain ficou ao meu lado e o Nara que nada disse. Todos os outros, desde que eu era pequeno, fazem questão de “me por em meu lugar”. – Começou. – Não há muito o que dizer. O Namikaze e a Mikoto-okaa-san tiveram um caso. Quando a barriga da gravidez começou a crescer ela inventou uma doença e ficou nos Estados Unidos escondida. Quando me teve deu pra uma das empregadas criar com o marido.

“Ninguém nunca desconfiou. O Namikaze pagava todas as coisas que eu precisava e ainda dava uma mesada para a Yuri-okaa-san, sabe como é para garantir que meus pais ficassem calados. Lembro de que quando tinha uns cinco a seis anos minha okaa-san me levava para o parque, a Mikoto-okaa-san levava Sasuke e o Namikaze levava Naruto. Ambos para terem um pretexto para sair e irem me encontrar. Foi assim que Naruto e Sasuke descobriram que somos irmãos. Não sei se lembra de mim, mas estudamos na mesma escola. O Namikaze pagava aquela escola cara para mim. Antes eu estudasse na escola pública. Seus amiguinhos sempre me enchiam o saco. Por isso nos odiamos.”

- Não dá para acreditar. Quer dizer, não estou te chamando de mentiroso, mas eu... Eu vivi a vida toda com eles e nunca imaginei que os garotos poderiam ser assim. Eu não conheço meu próprio irmão! – Sussurrou horrorizada.

- Nada foi pior do que quando a os pais de Sasuke e a mãe de Naruto morreram. Só porque a culpa foi minha. Não diretamente, mas foi. – O rapaz suspirou.

- A morte deles não foi sua culpa! – Defendeu separando-se dele e olhando-o nos olhos.

- Não me orgulho disso azulzinha. A “Tragédia Uchiha” só aconteceu porque Mikoto-okaa-san achou que o Uchiha a perdoaria se ela contasse a verdade, mas ele acabou surtando e a matando, ao tomar consciência do que fez se matou. Itachi contou tudo para a Uzumaki e foi assim que começou sua dependência pelo álcool, sua histeria e depressão. Pelo que parece ela deixou bem claro na carta de suicídio que estava fazendo aquilo para “apaziguar a dor que a traição de Minato a causou”. – Discordou Tsukasa voltando a suspirar.

- Como pode saber que ocorreu tudo desta forma? Você não estava lá para saber de tudo Tsukasa. – Ralhou a Hyuuga decidida. Tsukasa deu um sorriso desanimado.

- E você acha mesmo que enquanto levava uma surra de Itachi, Naruto, Sasuke, Gaara e Neji eles não me disseram por quê? – Respondeu puxando Hinata para deitar em eu peitoral.

- Eu não posso...

- Acreditar? – Riu amargo. – Ainda há muito mais coisas. O passado de você, seus amigos e o meu está mais entrelaçado do que você possa imaginar. Mas não é algo que devemos conversar agora. – Replicou misterioso a beijando calorosamente.