Little Things escrita por BiaSiqueira, ThansyS


Capítulo 32
Voando, Brasil e Ervilhas




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– Filha, você parece tão abatida. Emagreceu tanto. Está mais pálida. Ah meu Deus, Manuela, o que é que há com você? – Mamãe esbravejava dentro do carro, em seu discurso super protetor que já durava uns 25 minutos. Isso é claro por que eu havia saído do avião e pisado no Brasil a cerca de meia hora atrás.

– Deixe a Manuela respirar mulher. Ela só está branca por que a Inglaterra fica na parte da terra que é tão sem graça, que a te o sol tem preguiça de passar por lá. – Papai disse e sorriu reconfortante para mim.

– Manu trouxe presente? – Meu irmão mais novo disse e eu podia jurar que aquela frase era influencia de nossa irmã mais velha.

– Como era o seu colega de apartamento Manuela? – Minha amada irmã me fez lembrar por que irmãos mais velhos eram tão não amados pelos mais novos. E pelo sorriso que estampava aquela cara porca da perua, acredito que minha careta deve ter dado a ela muito mais que uma resposta.

– Ele é um cara legal. – Eu tentei soar o mais natural possível, mas ao que parece, não foi muito convincente.

– Pela foto que eu vi de vocês no facebook, ele me parecia bastante mais do que legal. – Ela insistiu no assunto, e eu insisti em me fazer de estúpida.

– Ele era realmente muito legal. – Falei agora sorrindo um pouco mais, e não pude deixar de corar ao pensar que “legal” era um adjetivo bastante simplório para descrever o meu Edward. – E ruivo. – Eu disse, e pelo sorriso no rosto da minha irmã, depois de meses eu me senti menos estúpida por achar esse fato relevante. Afinal, para os brasileiros, pessoas ruivas não são tão comuns.

– Você trouxe presentes? – Meu irmão voltou a falar e eu voltei a encara-lo. Antes de responder, porém, a voz da minha irmã voltou a ser ouvida.

– Nada menos que aquele ruivo quente, será lembrança boa o bastante para nossa irmãzinha, estou certa Manu? – Ela disse e eu fui obrigada a concordar com ela. Isso mesmo. Eu, Manuela Abrantes, concordei categoricamente com a frase estúpida da minha estúpida irmã.

– Como é que é Manuela? – Papai se pronunciou e eu pude ver mamar voltar a prestar atenção em nós.

– O que tem de especial a respeito desse rapaz que nós mereçamos saber Manu? – Mamãe perguntou e eu senti que aquela era um pergunta bastante importante.

O que tinha no James que era tão especial para mim? O cabelo ruivo era o marco inicial. O jeito de falar como se estivesse com pressa e preguiça ao mesmo tempo também. Os olhos azuis, hora límpidos, hora tempestuosos. A pele clara, quase sem cor. O sorriso bobo, o jeito como ele tocava no violão. A inspiração exalando de si a cada momento. A musica. Tudo. Edward em si era a minha definição de especial. O especial que nasce do nada e não tem um fim aparente. O especial que me fazia querer pegar um voo de volta para Inglaterra imediatamente só para dizer para ele o quanto ele é especial para mim. James era aquele tipo de especial que me fazia querer chorar só de pensar que nosso futuro agora era incerto.

E a minha reposta a pergunta da minha mãe, não foi feita de enormes discursos ou palavras bonitas.

– Tudo. – Foi o que eu falei. Tudo no Edward, desde as suas qualidades, até as suas manias mais irritantes e trejeitos estúpidos eram especiais para mim. Edward James Shetfield, puro e completamente, era alguém especial. O meu alguém especial. O alguém que me fez viajar meio mundo para ser encontrado. E o mesmo alguém que estava agora a meio mundo de distancia de mim.

**

Pov. James Edward

Voando. Era o que eu mais estava fazendo desde a ultima semana de ação de graças. Voei de Gales para Londres, de Londres para Yorkshire, de Yorkshire de volta para Londres e finalmente, de Londres para o Brasil. Sim. O Brasil era o meu mais novo destino. Não. Minha avó não morreu. E não, eu não tive vontade de mata-la quando cheguei a Yorkshire e descobri que ela apenas havia comido ervilhas a ponto de sofrer uma reação alérgica depois da ceia de Ação de Graças. A adorável senhora nada mais havia feito do que comido até ficar entupida de ervilhas e não poder respirar sem sentir dor. Imediatamente, depois do alivio da noticia, eu deixei a todos no sala e sem explicações, me dirigi ao aeroporto mais próximo. A passagem de volta para Londres foi comprada a te mesmo sem a irritante e continuação argumentação do contra da minha mãe. Afinal, vovó estava bem, mamãe estava bem, todo mundo estava bem. Até o enorme cachorro balofo da minha tia sem marido e sem gatos estava feliz. Eu estava feliz, mas não completamente. Na verdade, eu não sabia quando voltaria a ficar completamente feliz outra vez. Que homem é completo quando uma de suas costelas* está andando a solta por aí em um país bastante longe do seu? Bom, eu não fico. E como minha “costela”, conhecida também como Manuela, está longe de mim, a dor de ficar sem uma de minhas partes, irritantes, mas bastante necessária estava me deixando inquieto. Manuela era parte de mim agora. Parte da minha rotina, parte do meu coração. Minha pequena e irritante garota do sotaque engraçado. E ela não era pequena demais em estatura. Seu tamanho era grande o suficiente para deixar o meu pobre coração esmagadoramente cheio. E como já foi dito, lá estava eu, voando de Londres ao Brasil. Do ponto gelado da terra, ao seu apogeu de calor. Sem interprete e sem GPS. Mas com um coração cheio de saudades, e isso sim, era o suficiente.

E a parte boa disso tudo, era que eu não havia me dado nem se quer o trabalho de desfazer as malas.


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Notas finais do capítulo

*O termo “costela” faz referencia ao fato de que a mulher, biblicamente, foi criada a partir da costela extraída de Adão.