Bom, minha vida é um saco. E não, eu não sou dramática. Vamos aos motivos: Eu moro longe de casa, fora da vista dos meus pais, não tenho ninguém para fazer comida pra mim. Meu estoque de Nutella acabou a duas semanas, eu estou mais pobre que eu me lembrava de ser a alguns meses atrás, e além de lavar minha próprias roupas eu ainda tenho que lavar as roupas do porco que mora comigo. Em pensar que eu reclamava quando ele tinha mania de organização. Sim. Por que, duas semanas atrás, o príncipe fofo de olhos azuis me disse que estava apaixonado por mim. Oh, eu devia estar mesmo feliz, é claro que devia. Sabem o que eu ganhei desde lá? Pedidos incessantes de coisas absurdas, tipo: “Manu, traz meu prato” “ Manu, paga a fatura do cartão de crédito” “Manu, manda Kamyla parar de dormir no meu sofá” E o pior veio hoje cedo. “Manu, será que você poderia lavar a minha roupa? Dessa vez não vai dar pra esperar para levar tudo na próxima visita que agente vai fazer para minha mãe”.

– Manu, você já terminou de lavar a roupa? – Bom, como eu ia dizendo, o Ed me perguntou isso, e foi a última coisa que ele fez, já que eu matei ele em seguida com o meu olhar super mortal. Só que não. O sistema prisional da Inglaterra é tenso de mais quando se mata alguém, então eu me limitei a encarar ele com a minha melhor cara de tédio.

– Eu pareço ter terminado alguma coisa por aqui? – Eu perguntei me virando de volta para a máquina de lavar e nem reparando na cara de tapado dele.

– Que foi que houve Meinu? – Ele perguntou chegando perto. Perto de mais para eu manter minha cara de despreocupada. – Você parece zangada! Foi alguma coisa que eu fiz?

“Sim. Foi o fato de você estar me tratando como a escrava Isaura era tratada, e só pra constar eu nem sei lavar roupa direito. Eu preferia quando você era só o ruivo em quem eu dava uns pegas, e não o cara por quem eu faço tudo.”

Mas como eu já disse, eu não diria isso, já que eu faço tudo por ele. Vida de apaixonado é uma droga completa.

– Não Ed, está tudo bem. – Eu respondi simplesmente e senti ele sorrir atrás de mim. A respiração dele estava bagunçando a pequena parte do meu cabelo que ainda não estava bagunçada. – O que você quer? – Perguntei e ele me abraçou apertado, me puxando para mais longe da máquina de lavar.

– Eu queria alguma coisa, mas ai quando eu cheguei aqui e vi você assim, com esse cabelo mal penteado e esse avental super sexy e esqueci o que era. – Ele me disse e foi minha vez de rir. Para não bater nele é claro.

– Não é educado debochar das pessoas Edward, sua mãe devia ter te ensinado isso. – Eu me virei para encarar ele e percebi pelo olhar dele que ele não parecia nada debochado. Nada debochado mesmo. – Você estava falando sério?

– Por que eu não estaria? – Ele me respondeu como se fosse óbvio e eu quase ri da cara dele. – Você por acaso já se olhou no espelho hoje?

– É claro que sim. – Eu respondi e ri da risada dele. Aquela risada que era mais do tipo, “ela não ta entendendo a parada direito”. Não é como se a camisa velha dele dos Beatles, combinada a um shorts curto e meias velhas fosse um look sexy. Sem contar o avental de bolinhas por cima. O meu cabelo dispensa comentários. Então, ele só poderia estar brincando comigo. – Sério Ed, o que é que você quer?

– Eu queria te dizer alguma coisa Meinu, sério. Mas agora eu não quero mais.

– Então o que você ainda está fazendo parado aqui? – Eu perguntei com toda a minha educação quase britânica e ele riu de mim.

– É por que agora ao invés de falar eu quero fazer outra coisa. – Ele disse e foi minha vez de fazer cara de trouxa.

– E que coisa seria essa, ruivo?

– Eu quero agarrar você Meinu. – O Ed disse com toda a sua cara de pau, que só pra constar devia ser uma das características descritas na internet como britânica, e depois de dizer isso nem me deixou espaço, ou tempo, para pensar em uma resposta cabível. Edward James Shetfield me agarrou como faria com um saco de farinha, ou não, e em um instante a nossa máquina de lavar estava servindo para outra coisa que não fosse para o seu sentido literal de “lavar a roupa suja” se é que vocês me entendem.

O estúpido conseguiu me fazer derrubar uma pilha de roupas para o lado e logo o sabão em pó deu um toque especial na mistura Edward + Meinu + Roupa suja. Enfim, a bagunça completa estava instalada na nossa pequena lavanderia.

Tudo bem, talvez a bagunça valesse à pena. Talvez a roupa pudesse esperar, e talvez, só talvez, sabão em pó fizesse bem para o cabelo. Talvez homens possam achar mesmo uma garota mal vestida e lavando as roupas dele sexy. Ah, e é claro, uma última constatação meio que óbvia: Talvez, só talvez, estar apaixonada não fosse assim tão ruim.

E sabe por que eu descobri isso? Por que eu demorei alguns segundos apenas para descobrir que existiam coisas muito piores do que essas. Sim. Coisas tipo, uma mulher estranha parada na porta da lavanderia, seguida de um cara que para mim tinha uma aparência levemente familiar. Isso sim não me parecia nada legal. E Pior ainda que isso tudo, foi o que eu descobri logo depois.

O Edward viu, assim como eu, o estranho casal parado na nossa casa, e no mesmo instante, bem ele deu um jeito, que eu não me lembro como foi, de se afastar um pouco de mim, que estava sentada em cima da maquina de lavar. E com os olhos mais arregalados que em toda a sua vida, Edward disse a palavra que me fez entender muita coisa.

– Mãe?

E o homem que estava ao lado dela, disse a frase que me fez querer fugir para o Alasca logo em seguida.

– Bem, você deve ser a Manuela não é?

Mais duas coisas óbvias para constatar: Se aquela mulher era a mãe do Ed, o homem ao lado dela só podia ser uma pessoa.

– Oi, tio Paulo. – Foi o que eu disse assim que consegui descer da máquina de lavar roupa. Com direito a uma cueca do Edward presa ao avental e tudo.

E minha última constatação óbvia, foi, sem duvida, a seguinte: Sim, eu definitivamente estava muito ferrada.