Brasil, um país tropical. Repetir essa frase mentalmente está funcionando da melhor maneira possível como um aquecedor mental. A simples idéia de me mudar para um país que fica exatamente no meio da zona Glacial, ou quase isso, me deixa um pouco assustada.

O aeroporto estava cheio, e no meio de tantas pessoas, uma louca qualquer, no caso Eu, vestia um grosso casaco de frio em um agradável dia de verão brasileiro onde a temperatura de 38° pode ser considerada realmente “agradável”.

– Está bem agasalhada querida? – A voz de mamãe soou alta perto de mim atraindo olhares estranhos das pessoas. Não é como se você devesse mesmo fazer esse tipo de pergunta no meio de um aeroporto aonde a temperatura mínima não chegaria a 15°, nem se você estivesse dentro do congelador.

– Claro que sim mamãe. Se o avião errar a rota e acabar indo para o Alasca ao invés de para Londres, eu ainda estarei suficientemente aquecida. – Falei ignorando a careta de desaprovação que a minha mãe fez em seguida.

– Vai demola muitu pla volta do luga lonze Manu? – A voz do pirralho que eu mais amo no mundo soou, quase me fazendo desistir de viajar.

– Claro que não pequeno. – Falei pegando o meu monstrinho, ou irmão, como preferir, no colo. – Volto antes de você conseguir sentir saudades.

–Eu vou sentir sua falta filha. – Minha mãe, ou senhora Marina do Drama, falou me abraçando e conseqüentemente esmagando a mim e ao meu irmão de uma única vez.

– Vamos lá querida. –Papai, ou Charles o salvador da pátria, disse puxando mamãe para mais perto de si.

– Diga a desnaturada da sua filha mais vela que também não fazia questão mesmo de que ela viesse se despedir. – Falei me lembrando da minha irmã mais velha. Aquela cadela trabalhava tanto que em momentos como esse, seus presentes se tornavam insignificantes. Queria que ela estivesse aqui.

– Sendo assim, já posso ir de volta para o trabalho. – A loira falou se aproximando rapidamente e me surpreendendo com um abraço.

– Você veio. –Eu falei sorrindo e abraçando a Barbie a minha frente.

– Achou mesmo que eu não viria e deixaria de te entregar a lista de presentes que eu quero que você traga para mim quando voltar? – Mariana disse me fazendo revirar os olhos ainda sem parar de sorrir;

A voz quase mecânica no alto falante anunciando a ultima chamada para embarque do meu vôo soou nos chamando a atenção.

– Vou sentir falta de vocês. – Falei sorrindo tristemente para eles mais uma vez.

– Mas você volta antes da gente sentir saudades. – Me irmão formulou uma frase quase sem erros dessa vez surpreendendo a todos nós.

–Hora de ir. –Papai falou e eu assenti me direcionando ao salão de embarque.

– Eu amo vocês. – Foram as três palavras que eu disse antes de dar as costas uma ultima vez e seguir em direção ao meu destino.

Ganhar uma bolsa de estudos para terminar a faculdade em Londres era sem duvidas um sonho para qualquer um.

Morar com um nem tão primo assim, completamente desconhecido em um lugar que eu não conheço é de longe animador.

Mas não pode ser tão ruim assim não é?