Almas Sombrias escrita por Caroline Hernandez


Capítulo 4
Capítulo Três




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Capítulo Três

    O restante das aulas foi um saco, a Violetta ficou o tempo todo falando que eu coloquei alguma coisa na garrafa dela para estourar e a Karmin ficava se lamentando que ia ter que passar o resto do dia lavando o cabelo para tirar o cheiro de uva. Não tem como comprovar que fui eu quem fiz aquilo, não tem nada que possam fazer. 

    Hoje vou ter que ir embora sozinha, a Brianna vai ter que ficar até mais tarde no colégio para fazer um trabalho e a Laura não viria me buscar, e eu também não ia querer isso. 

    Quando já estou prestes a atravessar a rua, a náusea começam a me atingir, um enjoo que vem do nada e sinto minha visão ficar turva, vejo os carros passando em borrões na minha frente e em câmera lenta, os sons sumiram, as coisas parecem que vão ficando paradas, o chão começa a subir e vejo as coisas escurecendo. 

    O som vem do meio do arbusto ao lado da enorme casa de fazenda amarela, tenho medo de me aproximar mesmo sabendo de que aqui nesse lugar, nada poderia me fazer mal, minha avó me garantiu isso, de que nenhum monstro pode aparecer em terra sagrada. 

    Me aproximo do arbusto e quando vou para detrás dele, vejo que ali só tem um coelho fofinho comendo as folhas. Eu o pego no colo e levo para dentro da fazenda gritando para minhas primas verem o coelho que achei. 

  - Lyssa, qual é o nome dele? - a Camille me pergunta enquanto alisa o coelho branco no meu colo ainda. 

    - Eu não sei, acho que talvez Coelhinho mesmo. 

    A Jessica se aproxima e pega o coelho das minhas mãos, mas eu o seguro com força, não quero ninguém pegando meu animalzinho, a Jessica só tem cinco anos, não teria cuidado com ele. 

    Enquanto estamos lá vendo quem vai ficar com o coelho, vejo a nossa avó vindo desesperada da cozinha. 

    - Meninas! Larguem já esse coelho - ela diz tirando-o da minha mão. 

    - Deixa ele, eu cuido do Coelhinho - digo querendo chorar por terem me tirado o coelho. 

    - Venha já comigo na cozinha, Alyssa - minha avó diz diz e vai em direção a cozinha e eu vou atrás. 

    O ambiente está com cheiro de pão, minha avó faz pães para fora, então esse cheiro é bem comum na cozinha e eu gosto dele. 

    - O que foi vovó? Eu não acho que ele vá fazer mal - digo olhando para o coelho que parece nem ligar para o que está acontecendo. 

    - Onde você achou ele, querida? 

    - Nos arbustos, ele estava comendo folhas. 

    - Temos que devolve-lo. 

    Minha avó começa a andar de um lado para o outro e resmunga algo como "Como isso foi acontecer" e parece inquieta. 

    - Não quero, ele é meu! 

    - Mas é necessário, ele não pode ficar aqui. 

    Minha avó vai lá fora para devolver o coelho e me deixa aqui triste e sem entender o por quê de eu não poder ter um animal de estimação nessa fazendo tão enorme. 

    A noite chegou, mas eu não consigo dormir, sinto que preciso ir lá para fora, tenho que achar o Coelhinho de novo. 

    O primeiro lugar que procuro é o arbusto, mas não está lá, séria óbvio demais, e fora que um coelho não ficaria parado num lugar só. Começo a procurar por todos os cantos da fazenda e quando estou atrás da casa vendo tudo ao redor, é quando ouço um barulho vindo do campo atrás de mim. 

    Fico com medo de me virar, mas quando viro, fico assustada. Na enorme árvore a alguns metros de distância, vejo minha avó com o coelho nas mãos e falando algo com alguém que não consigo ver e quando vejo os olhos do coelho, levo um susto, estão muito negros e ele parece que consegue me observar como um ser humano... 

    - Ei, garota, você está bem - ouço uma voz desconhecida pairando no ar ao meu redor. 

    Abro os olhos e vejo que estou numa espécie de clínica, o lugar é todo branco e silencioso  Será que estou morta? 

    - Onde estou? - pergunto e tento me ambientar com a luzes das lâmpada, minha cabeça ainda está um pouco estranha. 

    - Ainda bem que acordou, pensei que estivesse morrendo - a voz diz - E você está numa clínica, não sabia o que fazer e te trouxe até aqui. 

    Me sento e noto que estou numa salinha de consultório e a voz vem de um garoto sentado na beirada da cama. Ele tem cabelos loiros, e olhos azuis que parecem assustados. Não parece ser o médico, ele não deve ter mais de 21 anos. 

    - E... você é o médico? - pergunto com cuidado sem querer ofender se caso ele for. 

    - Eu? Não, não sou - ele diz rindo - O médico foi buscar água quando viu que você já parecia estar acordando, eu sou só um um estagiário,  faço técnico em enfermagem, e já meio que estou desistindo dessa profissão, quando vi você já desmaiando lá na rua, nem soube o que fazer direito, me desesperei também. Acho que não lidou bem com essas coisas. 

    Noto um homem de jaleco entrando na sala com um copo de água, ele me entrega o copo e depois pega o meu pulso para ver se está tudo bem. 

    - Pai, parece que ela está bem - o garoto diz e eu observo os dois e nem tinha me ligado que um se parece bastante com o outro. 

    - Seu pulso já voltou ao normal e... Ai - o médico diz e desencosta rápido do meu pulso. 

    - O que foi? - eu e o garoto perguntamos juntos. 

    - Essa sua tatuagem me queimou - ele diz ainda parecendo não acreditar. 

    Olho para o meu pulso e vejo que a minha marca de raio parece que está mais quente e mais brilhante. Enfio o mão no bolso da saia ridícula da escola para esconder essa minha "tatuagem". 

    - Perai, você tem quantos anos? - o garoto que não sei ainda o nome pergunta. 

    - 16. 

    - E já tem tatuagem? 

    - Minha mãe deixou eu fazer - digo mentindo, mas até que se eu pedisse para minha mãe deixar eu fazer uma tatuagem ela deixaria, ela nem liga mesmo. 

    - Mas... 

    - Gente, o assunto aqui, não é esse,e sim como essa tatuagem ficou tão quente - o médico diz ainda incrédulo. 

    Eu me levanto da cama e vou indo em direção da porta. 

    - Deve ter sido só impressão. Bom, eu já vou, e aliás, eu não tenho que pagar consulta nenhuma não né? Nem tenho dinheiro. 

    - Eu te levo até em casa se quiser, e não precisa pagar nada não, fui eu que te trouxe aqui. 

    - Obrigada aos dois, e "garoto que não sei o nome" eu consigo ir sozinha. 

    Digo e saio da sala do consultório ainda sentindo minha marca arder no pulso. 


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Notas finais do capítulo

Eu realmente espero que vocês estejam gostando, deixem seus comentários!