As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 63
Nova Iorque assusta.




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#Narrado por Diana#

– Filha, o que vai levar nessa mala? – pergunta minha mãe abrindo uma das malas que eu tinha separado para guardar minhas coisas pra viagem.

– Não sei mãe. A viagem vai ser daqui a algumas semanas... eu penso no que vou levar quando estiver mais perto. Calma. – respondi deitando na cama e me preparando pra dormir.

Minha mãe, como sempre, percebia quando eu não estava bem. Ela sentou-se na cama e ficou acariciando uma mecha do meu cabelo.

– O que você tem? – perguntou ela.

A voz da minha mãe e o jeito como ela estava ali, fazendo carinho em mim, isso fazia eu me sentir mal e bem ao mesmo tempo.

– Não quero ir embora. – respondi, e logo as lágrimas rolaram pelo meu rosto, enquanto eu estava deitada, mal conseguia respirar. Soluçava em cada suspiro dado pelo choro, e minha mãe apenas me abraçou, como sempre.

Eu não queria ir. Deixar as coisas pela metade como faculdade e planos feitos em relação a isso. Deixar amigos, parentes. É certo que passaria apenas alguns meses em Nova Iorque, mas eu sabia que isso mudaria tudo. As coisas já tinham mudado. A segunda edição do livro tivera saído, e eu estava me tornando, de certa forma, uma “jovem autora reconhecida”. Tinha feito entrevistas pro jornal local (graças a meu pai), e alguns me rotularam como a “sortuda literária”. Muitos questionaram o fato de a minha história ter se tornado popular na cidade, e graças à internet estava se espalhando para outras regiões.

“- Talvez talento, quem dirá? Mas sabemos que Diana Lins tem muito a nos mostrar ainda.”

Essa frase ecoou em minha mente por dias. Logo depois da reportagem, andar na faculdade tornou-se mais estranho do que antes. Ir à padaria ou ao supermercado também. Acessar meus e-mails tornou-se complicado demais. Muitos recados e convites para entrevistas em blogs e websites sobre literatura jovem. Poderiam até pensar que eu estava esnobando todos, mas na verdade eu estava com medo. “... tem muito a nos mostrar ainda.”. Será mesmo? Eu não penso em escrever outra história, mas os produtores da editora estão investindo em mim como se eu fosse a única fonte de água no deserto. E agora, essa ideia absurda e genial ao mesmo tempo de ir à Nova Iorque para assinar um contrato para ter meu livro publicado em outro país. Eu não espero que saia muitos exemplares por lá, mas aceitei arriscar e ir.

– Vão ser apenas três meses querida. – disse minha mãe. – Claro que você está começando a ficar relativamente conhecida, mas isso é algo positivo.

– Não acho mãe. – digo. – Não quero ser nenhuma “famosinha” ou coisa do tipo.

– Pare de pensar assim. Qual o medo?

– Medo de tudo. De não gostarem de mim. – respondi enxugando as lágrimas.

– Mas você é incrível filha! Pense comigo: uma editora aprovou seu livro. Outra editora também aceitou, a diferença é que fica em outro país. – disse ela tentando me acalmar.

– Mesmo assim, não quero ter que ir embora por três meses e sabe Deus o que vai acontecer durante três meses. – continuei. – Tem muita coisa em risco.

– Você vai conhecer tanta gente lá. É uma oportunidade que você não vai ter aqui. – continuou ela, que agora se levantava da cama.

– Eu já decidi que vou. É apenas medo.

Ela sorriu pra mim e aquilo foi como um alívio.

– Tente dormir e não pensar nisso. Amanhã é um novo dia.

***

Alguns dias se passaram. Comecei a separar as roupas que iria levar pra viagem, alguns livros e coisas mais pessoais. Lucas me ajudou, como sempre, mas não parou de falar um minuto desde que disse que não iria levar nenhuma roupa cheia de brilho.

– Não vou pra festa alguma. Vai ser uma viagem de negócios. – disse.

– Mesmo assim, deveria levar. – continuou ele. Geralmente quando Lucas começava a falar demais (o que acontecia com frequência), eu arquitetava mentalmente formas de fazê-lo calar a boca, mas nunca tinha coragem de fazer.

– Sério, para com isso. – disse dobrando uma das peças de roupa com muita raiva. – Não basta termos que dobrar essas roupas de frio que são grandes de serem dobradas, você ainda fica falando e falando e falando...

Lucas parou de dobrar uma das minhas calças jeans e me encarou como uma mãe prestes a dar uma palmada no filho mal educado.

– Estou tentando ajudar você a não parecer uma molambenta em Nova Iorque. É NOVA IORQUE CARAMBA! Não é qualquer cidadezinha. – disse ele tão estressado quanto eu.

– Ok... Mas eu não quero levar nenhuma roupa extravagante. Essas peças que separei bastam pra mim. – continuei, fechando uma das malas.

Lucas permaneceu falando o resto do dia, mas pra isso eu havia preparado uma lista de músicas e um fone de ouvido. Apenas os ruídos de uma voz ao fundo, mas nada incomodava agora. E assim se estendeu a tarde e a noite.

No dia seguinte decidi passar em uma livraria para comprar alguns livros novos para a viagem. Claro que eu não entrava na livraria como antes. Nas prateleiras em que eu parava pra pegar um livro sempre tinha alguma garota procurando o meu livro. Era estranho ver as funcionárias da loja a ajudando, principalmente quando as duas estavam ao meu lado.

– Aqui querida, esse é um dos últimos. – foi o que a funcionária disse para a garota, e ambas seguiram para o caixa.

Peguei alguns livros e os coloquei na cesta de compras. Ao chegar no caixa, a outra vendedora me reconheceu e...

– Só uma pergunta: vai escrever uma sequência ou um livro novo?

Fiquei sem palavras enquanto pegava a sacola de suas mãos.

– Não sei... Realmente não sei. – foi o que respondi e sai desnorteada.

Quando voltei pra casa, recebi um telefonema. Era Wilton, o homem que havia me descoberto na escola e que agora era oficialmente o meu produtor. Eu gostava de conversar com ele, pois ele conhecia o meu medo.

– Faltam poucos dias, está ansiosa? – perguntou ele.

– Um pouco. – respondi suspirando. – Você vai mesmo comigo não é?

– Sim. Seu pai também vai.

– É, ainda bem.

Depois de uma curta conversa sobre como Nova Iorque era incrível e em como eu ia amar conhece-la, decidi ir assistir algum filme. O mais engraçado é que um dos meus maiores sonhos era conhecer Nova Iorque, mas agora eu estava... Estava agindo como a maior medrosa da história.

– Você deve ser bipolar. – disse a mim mesma. – Vamos lá, anime-se. É Nova Iorque. Tem a Broadway lá. E a times square. E o Empire State. E o central park. Se sua avó estivesse viva, daria tudo para estar na sua pele... E com certeza teria lhe dado uma bronca por estar agindo como uma menininha.

– Está falando sozinha agora? – perguntou Lucas.

– Talvez... – respondi.

– É só Nova Iorque. A cidade dos sonhos, não é isso que dizem?

– Deve ser isso.

– A cidade perfeita pra esse livro. Ele vai se sentir em casa. – disse ele jogando o meu livro sobre o sofá. As letras do título do livro saltavam da capa. Olhei para Lucas e sorri. – Acredite maninha, você não se encaixa nos padrões de apenas “mais uma sortuda literária”.

Lucas saiu da sala e o único barulho que permaneceu foi o da televisão ligada.

***

Tinha algumas coisas que precisava resolver antes de viajar. Passei em uma loja de artigos para bebês e comprei um lindo par de sapatos rosa e dois vestidos fofos para recém-nascidos e os coloquei numa caixa de presentes. Fui até a casa de Eduarda para leva-los à Daniel e Catharina, como meu presente de nascimento, já que eu não estaria presente quando ela nascesse.

Cheguei a casa de táxi e Eduarda me recebeu na porta com um sorriso que ia de um extremo ao outro do rosto.

– Senti sua falta querida! – disse ela abraçando-me.

– Eu também.

Ao entrar na casa, Cath estava sentada no sofá acariciando a enorme barriga enquanto assistia a um programa sobre bolos. E ela pareceu surpresa e feliz ao me ver.

– Diana! – disse ela, tentando fazer esforço para se levantar, mas não conseguiu.

– Espere, eu vou até aí. – eu segui em sua direção e por incrível que pareça, nos abraçamos. – Trouxe algo pra você. – continue, puxando a sacola e entregando-a. – Na verdade, para a Júlia.

Catharina sorriu como uma criança. Abriu a sacola e ao ver o presente, pareceu mais feliz ainda.

– Obrigada. Nós adoramos.

Daniel apareceu algum tempo depois. Ficou parado na escada como quem não acredita no que está vendo.

– Daniel, vem ver o que Diana trouxe para Júlia! – disse Cath o chamando.

Ele aproximou-se e me olhou como um garoto assustado. Viu o presente e agradeceu. Depois, Cath pediu ajuda para ir ao quarto, o que me assustou muito, pois percebi naquele momento que ela estava com extremas dificuldades em andar e sozinha.

– O que ela tem? – perguntei a Eduarda depois que os dois subiram.

– Faz um tempo que ela tem sentido fortes dores, tanto na barriga quanto na coluna e nas pernas. Perguntamos ao médico se era normal e ele nos disse que em alguns casos sim, mas para ficarmos de olho, pois Júlia pode querer vir antes do tempo.

– Entendi. Mas no geral, as coisas estão bem por aqui? Como você tá?

– Eles estão bem, sem brigas. E eu estou melhor a cada dia. – respondeu ela.

– E eu fico feliz com isso. – disse. – Eu vim também pra falar que tentei fazer com que Daniel se sentisse especial, mas acho que não deu certo.

– Não deu muito certo porque você vai embora. – continuou Eduarda.

– É uma necessidade. E eu volto. – defendi-me.

– E também porque as coisas não vão ser mais as mesmas entre vocês dois por vários motivos.

Encarei Eduarda e tentei não demonstrar estar triste.

– As coisas são assim mesmo. Uma hora isso passa. – disse, levantando o sofá e despedindo-me. – Eu também vim me despedir, daqui há três dias viajo.

– Toda sorte do mundo pra você querida. – Eduarda me abraçou e me levou até a porta.

Fiquei esperando por um táxi na rua principal até Daniel aparecer de carro.

– Ei, entra, eu levo você. – disse ele.

Nos olhamos por um tempo e pensei mil vezes antes de decidir entrar ou não no carro. Acabei indo, e ficamos em silêncio por muito tempo, até que decidi falar.

– Não quis te deixar daquele jeito no dia em que te entreguei o caderno. Só queria que soubesse da viagem. – disse.

Daniel continuou calado por alguns minutos até conseguir dizer algo.

– Eu sei. Eu que fui babaca por falar demais.

– Eu também falei demais. Mas pelo menos disse o que sentia.

– Será que disse tudo mesmo? – perguntou ele olhando pra mim enquanto estávamos parados no sinal.

– As outras partes eu prefiro guardar pra mim. – respondi.

No resto do trajeto viemos calados como no início. Daniel me deixou em casa, e eu apenas fiquei olhando para ele por um tempo, como se esperasse que ele fosse dizer alguma coisa, mas nada aconteceu.

– Termine de ler o caderno. – pedi antes de ir. – Acho que aquilo que guardo deve estar lá. - Ele pareceu não entender, mas balançou a cabeça e se foi.


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