As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 61
O caderno.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/352699/chapter/61

#Narrado por Diana#

Depois de tanto tempo, meu livro foi finalmente lançado. Eu estava feliz. A festa de lançamento foi um sucesso aparentemente bom. Esperávamos que determinada quantidade de público aparecesse e foi exatamente o que aconteceu. Em duas semanas o livro era particularmente conhecido. Os acessos ao blog do livro aumentaram e os produtores me mostram resultados novos a cada semana. Recebi a ligação do representante da editora internacional afiliada a que publicou meu livro alguns dias atrás e...

– Querem que eu vá pra Nova Iorque. – disse sem reação, pois ainda não acreditava.

– COMO ASSIM? – gritou Lucas, dando um pulo do sofá.

– Eles realmente acreditam que a história vai alavancar a editora, pois há tempos não conseguem um sucesso. E vão investir no meu livro! – disse pondo as mãos no rosto e sorrindo.

– FILHA! ISSO É INCRÍVEL! – exclamou minha mãe, me abraçando forte. Lucas veio logo em seguida e ficamos ali, sorrindo e chorando, os três. – Precisamos ligar pro seu pai agora.

Eu mal conseguia digitar os números no telefone, então deixei isso por conta da minha mãe, já que Lucas também estava tendo uma vertigem.

– Ok, vamos esperar você. – disse ela desligando o telefone. – ele está vindo e tem mais notícias boas pra você.

– Notícias boas... Tenho recebido tantas que nem acredito que estou vivendo. Acho que esse é o sonho mais demorado que já tive. – falei enquanto me jogava na poltrona e fechava os olhos. – Vou tentar acordar agora.

– Para com a babaquice! – repreendeu Lucas me levantando da poltrona. – As coisas estão acontecendo porque devem acontecer. É assim, e vai ser assim. Você merece. – ele sorriu e me abraçou mais uma vez.

– Ah, eu te amo... – disse baixinho pra ele.

***

Meu pai chegou com uns papéis em mãos. Estava nervoso e animado ao mesmo tempo. Me abraçou, abraçou Lucas e sentou-se.

– Também recebi a ligação hoje, pois um dos meus amigos trabalha da editora de Nova Iorque e eles estão inteiramente decididos a receber o seu livro. Já leram, revisaram e ele entra nos padrões que eles pediram. Trata juventude, modernismo e tem uma linguagem excelente. – disse ele enquanto mexia nos papéis que havia trazido.

– Ele disseram que querem que eu vá pra Nova Iorque. Como assim? – indaguei ainda sem acreditar.

– Bom, se eles querem lançar seu livro lá, querem também que você, a autora, participe do lançamento. A editora é pequena, então como sucesso aqui foi imediato nas primeiras semanas, e eles querem arriscar. Não lançam um livro de qualidade faz muito tempo... E não há autores jovens na grade deles. – disse meu pai.

Todos olhavam para mim na sala, e eu estava começando a ficar angustiada ao invés de feliz.

– Você não quer ir filha? – perguntou minha mãe.

– E a minha vida aqui? Faculdade, amigos... Tudo isso acaba? – perguntei cabisbaixa.

– Vai ter que trancar a faculdade e abrir mão das outras coisas, se esse for seu sonho. – respondeu ele me mostrando um papel.

No papel havia uma espécie de convite onde a editora de Nova Iorque estava apresentando a proposta oficialmente em documento. Eu li e reli com os olhos fixos no “aguardamos uma resposta, e estamos ansiosos para conhece-la”.

– Pode dar uma resposta até semana que vem. – continuou ele, levantando-se do sofá. – e mais uma coisa, a primeira edição do seu livro esgotou. Estão encomendando a segunda. – ele sorriu orgulhoso e ficou me esperando falar algo.

– Isso é bom. – foi tudo o que consegui dizer.

***

Dias depois fui até uma cafeteria perto de casa, onde costumo ir antes de ir à faculdade. Vi uma garota de uns quinze anos sentada em uma das mesas lendo meu livro. Sorri ao ver a cena e disfarcei. Pedi pão de queijo ao atendente e um copo com café e leite quente.

– Aqui está senhorita. – disse ele me entregando o pedido. - Parabéns pelo livro. – ele sorriu e olhou para a garota que estava lendo o livro na mesa ao lado. – Sua mãe sempre que vem aqui fala dele.

– Imaginei... Obrigada. – disse pegando o pedido e saindo. Voltei os olhos a garota e ela não parava de ler, estava fixada no livro, na história, que nem me percebeu ali.

Ao chegar em casa, recebi outra ligação. Dessa vez não era de nenhum produtor ou editora, era de Eduarda.

– Estou realmente orgulhosa de você. – disse ela.

– Obrigada Eduarda. Saudades suas.

– Eu também querida. Tem falado com Daniel? – perguntou.

Esse nome ainda me causava certo incomodo e felicidade ao mesmo tempo.

– Não. A última vez que nos falamos, apenas fizemos as pazes. Esperava que ele fosse falar comigo no lançamento do meu livro, mas apenas Catharina foi falar algo.

– Ele está diferente desde que vocês fizeram as pazes... Enfim. Ele está maduro, está... Está muito mais crescido do que antes. Não entendo como não foi falar com você.

– Timidez talvez... Mas ele sabe que ainda é especial pra mim. – disse, me arrependendo logo em seguida disso.

– Por que não demonstra isso? – perguntou ela.

Fiquei calada por um tempo, segurando o telefone com força e fechando os olhos para não chorar.

– Vou ver o que posso fazer.

***

Fui a editora buscar um exemplar do meu livro e depois segui para casa de dona Amélia, pois precisava visita-la, ainda não tivera tempo de lhe agradecer por tudo o que fizera por mim, e pedir desculpas pela arrogância com que havia lhe tratado meses atrás quando ela viera me visitar e pedir para que eu e Daniel fizéssemos as pazes.

Claro que para chegar lá tive que passar pela antiga casa de Catharina, onde apenas seus pais moram agora. Relembrei tudo e apenas suspirei. Bati a porta da casa e foi Leandro quem me recebeu.

– Quanto tempo. – disse ele.

Eu entrei e dona Amélia me serviu tudo o que tinha em casa. Ela não demonstrava um pingo de mágoa, nada. Apenas saudade e muito carinho. Mas Leandro estava sério como sempre, apesar disso não ser estranho.

– E você soube? Vai ser uma menina! – disse dona Amélia a respeito da filha de Daniel.

– Sim, eu soube. Vocês devem estar bem felizes.

– Estamos. – afirmou Leandro, e então sorriu timidamente.

– Bom, mas eu vim aqui lhe trazer um exemplar do meu livro. Esse era um dos que reservei para vocês porque a primeira edição já até acabou. Sei que a senhora talvez nem goste de livros de jovens, mas eu quero lhe dar mesmo assim. – disse, entregando em seguida uma caixa com o livro.

– Ah minha filha, leio até bula de remédio escrita por você se for preciso. – disse ela e sorriu.

– Parabéns pelo livro, soube que está sendo um sucesso. Daniel quem me falou. – disse Leandro.

Fiquei sem jeito quanto ao elogio e logo depois me despedi de ambos.

– Vê se aparece por aqui, e não deixa a fama lhe subir a cabeça. – aconselhou dona Amélia.

– Olha... Se ela subir a cabeça, peço pra senhora tirá-la de lá. – disse. Nós sorrimos e nos abraçamos.

– Espero ver você ir longe algum dia. – continuou ela. Suspirei.

– Ela vai. – disse uma voz vinda detrás de mim. Me assustei a virei para ver. Era Daniel.

Houve uma pequena troca de olhares e um sorriso bobo. Dos dois.

***

Daniel colocou uma cadeira no meio do seu antigo quarto e me pediu para sentar. Fazia tempo que não via mais aquele quarto. O tapete continuava o mesmo, no mesmo lugar. E o latido de Salomão ecoava do quintal da casa de dona Amélia para dentro do quarto de Daniel.

– Pensei que você o tivesse levado para morar com você... O Salomão. – disse.

– Ele foi, mas não se acostumou com a casa grande e o trouxe de volta. Na verdade, acho que ele gosta mais da minha avó do quê de mim. – disse ele sentando-se na sua antiga cama.

Ficamos em silêncio por um tempo. Apenas a nossa respiração parecia mais alta e nenhum dos dois arriscava olhar um pro outro.

– Como você tá? – perguntou ele.

– Bem... E você? – continuei.

– Bem. – respondeu ele sem olhar pra mim, apenas esfregando as mãos na calça.

– Eu ia atrás de você, sabia? – falei diretamente. Ele ergueu os olhos espantado.

– Sério?

– Sim... Tinha algo pra te dar. – respondi abrindo minha bolsa e tirando de lá um pequeno caderno. – Parece bobo, mas pra mim não é tão bobo assim.

– O que é isso? – perguntou ele.

– É um manuscrito do meu livro. Digamos que o “original”. Antes de passar para o computador, editar e tudo mais, eu escrevia a história nesse caderno velho. – eu abri o caderno e folheei as páginas já desgastadas. – Tem de tudo um pouco. Frases, textos, os capítulos do meu livro e o início de um novo. – eu o entreguei. – Quero que fique com ele.

Daniel parecia não acreditar. Pegou o caderno e parecia estar com medo de abrir e folhear as páginas.

– Tem certeza que vai fazer isso? – perguntou duvidoso.

– Tenho.

– E por que tá fazendo isso?

– Porque você é especial. E eu sei que vai estar seguro ficando com você. – disse sorrindo. – Queria que entendesse que tá tudo bem agora, de verdade. Que não precisamos nos auto denominar como “conhecidos”. Você é mais que isso.

– Eu sou o quê então? – perguntou ele levantando-se e deixando o livro sobre a cama. Levantei em seguida e me aproximei dele.

– Você é o casmurro. – respondi.

Daniel me abraçou e num primeiro momento senti medo. Eu não queria demonstrar que me importava, mas já era tarde demais para me arrepender. Eu me importava. Nos abraçamos por tanto tempo que seu perfume ficou impregnado na minha roupa.

– Me desculpe, eu não deveria... – disse ele afastando-se.

– Tudo bem, eu também não deveria. – consenti.

– Sinto sua falta. – foi tudo o que ele conseguiu dizer antes de se aproximar outra vez e segurar meu rosto. E ele ficou assim por tanto tempo que pensei “ele vai me beijar, ele vai me beijar, ele vai...”, mas senti suas frias mãos desistindo de segurar meu rosto, e ele abaixou a cabeça e não disse mais nada.

– Eu espero que goste do livro-caderno. Espero que leia tudo, e que um dia até tente escrever uma história. – disse pegando minha bolsa da cadeira e seguindo pra porta.

– Ainda lembra da nossa música? – perguntou ele.

Eu evitei sorrir, tentei ficar séria, mas somente abaixei a cabeça.

– Qual delas?

– Todas elas. – disse ele vindo em minha direção. – Caramba! Eu sei que eu errei, eu sei que fiz a maior burrada da história! Eu sei que... Nada vai ser como antes, mas eu não posso negar que quando eu te vejo... – ele fez uma pausa como se observasse a minha reação. – Quando eu te vejo Diana, parece que estou olhando pra’quela garota que tomou um baita banho de lama de um caminhão. Pra mesma garota que ficou horas sentada em um muro, ouvindo as minhas babaquices. A mesma garota que deitou no chão desse quarto e ficou traduzindo músicas pra mim. A minha Diana. E eu não posso negar que eu ainda amo você, mesmo que isso esteja me matando por dentro.

Eu não soube o que falar a nada daquilo, mas sabia que não podia ceder.

– Eu vou embora Daniel. – disse.

– Eu sei, você precisa ir pra ca...

– Não! – eu o interrompi. – Eu vou embora mesmo! Pra outro lugar. – disse, desabafando sobre o que havia decidido naquele instante.

– Como assim? Vai pra onde? – perguntou ele, com o tom de voz desesperado.

Fitei o chão por um instante e ergui os olhos com lágrimas.

– Vou pra Nova Iorque. – respondi com a voz baixa.

Daniel se aproximou mais e me segurou pelo braço, como se quisesse me sacudir.

– Explica! – exclamou ele.

– A editora, Daniel... Querem que eu vá pra lá, já decidi que quero ir. – disse.

Daniel me soltou, estava atordoado. Mil coisas se passavam na minha cabeça e eu imaginava que mil coisas se passavam pela cabeça dele. Ficamos um de frente ao outro na porta do quarto e o único barulho que escutávamos era o de Salomão latindo. E depois, abri a porta e fui embora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.