As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 42
A música e o aniversário.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora: eu estava sem inspiração e com a cabeça em outro lugar :/ Mas, agora to de férias e pretendo terminar a fic nessas férias. Beijos.



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´#Narrado por Daniel#

Preparo o café enquanto a minha avó passa a minha roupa para que eu consiga chegar a tempo ao local da prova.

- Pelo menos hoje é o último dia. – comenta ela. – Está preparado para a redação?

- Mais ou menos. – respondo enquanto me sirvo uma xícara de café. – Eu não dormi muito bem.

- Insônia? – questiona ela.

- Não sei... Acho que é só excesso de pensamento. – respondo.

- Pode ser saudades da Diana.

- É, pode ser.

Dona Amélia me entrega a roupa passada eu sigo para o banheiro onde termino de me trocar. Ouço a porta do quarto bater. Talvez seja Leandro quem tenha acordado. Não nos falamos há alguns dias, e o motivo não envolve discussão. Na verdade é apenas a falta de tempo.

- Bom dia. – ouço a voz dele.

- Bom dia querido. Quer tomar café? – pergunta a minha avó. Ele não responde, mas acredito que nesse momento ele deve estar sentado à mesa servindo sua própria xícara de café.

Saio do banheiro no momento exato em que ele pergunta por mim.

- Precisa de algum dinheiro, alguma coisa? – pergunta ele a mim.

Minha reação é a mais perplexa possível. Encaro a expressão despreocupada de Leandro e a minha avó interrompe:

- Daniel, ele está falando com você.

- Eu sei. – digo. – Mas não preciso de dinheiro. Valeu.

Vou à direção da minha avó e lhe dou um beijo na testa, como de costume. Pego a mochila e saio da cozinha apenas sorrindo para Leandro.

***

Chego ao local da prova e, como esperado, já existe muitas pessoas no portão. Fiquei chateado pelo fato de Diana estar fazendo a prova em outra escola diferente da minha. Seria legal se tivéssemos ficado no mesmo prédio.

Apoio-me do muro e coloco os fones de ouvido para esperar pacientemente até os portões serem abertos. Sento no chão e fecho os olhos, apenas ouço a música. Kings of Leon, e aqueles gritos fodásticos do Caleb Followill. Ele me lembra Diana. Na maioria das vezes, quando ela não faz referência a algum livro, faz referência a alguma música. E geralmente é Use Somebody.

Dizem que todo casal possui uma música que, de certa forma, expressa a história dos dois. Lembro que dizíamos a Maurício e Flávia que a música deles era “She Will Be loved” por causa do trabalho de inglês onde os dois cantaram juntos. Mesmo que eles ainda não tenham a capacidade de admitir um relacionamento que está estampado na cara dos dois, nós os chamamos de Fláuricio (combinação de nomes que Lucas decidiu criar). Enquanto isso, Use somebody é a nossa música, e de acordo com Lucas e seus outros amigos engraçados, eu e Diana somos Daniana

- Daniel? – pergunta alguém cujo rosto eu não consigo enxergar por conta do sol. Enquanto a imagem vai lentamente tomando forma, reconheço a voz e a pessoa.

- Guto? – me levanto do chão em um salto e mal consigo controlar a surpresa. – O que vo-cê tá fazen-do aqui? – pergunto, mal conseguindo pronunciar as palavras direito.

- Vim trazer minha irmã pra fazer a prova. – responde ele. – Quanto tempo hein?

- Pois é, quanto tempo.

Aí vai uma pequena história que se embaralha na minha cabeça enquanto Guto conta as novidades de sua vida. Lembram-se dos imundos? Então... Guto era um deles.

 Quando eu me distanciei de todos aqueles imundos, Guto foi um dos únicos que manteve contato. Depois ele sumiu. Só hoje, depois de anos, revejo ele novamente. Ele era um dos amigos que eu mais sentia falta, mesmo depois de todos os erros que cometemos juntos.

- Bom, me dá seu número. Combinar de a gente se encontrar qualquer dia e sei lá... Tomar alguma coisa. – diz ele.

- Claro. – concordei enquanto ele anotava o meu número.

Os portões abriram e eu me despedi de Guto com um aceno meio sem jeito. Continuei andando sem olhar pra trás. Procurei a minha sala e esperei mais até a prova começar.

***

Ao final da prova, não fui pra casa. Peguei um ônibus que seguisse direto a casa de Diana. Precisava vê-la, conversar com ela. Faz tempo que sinto falta de fazer qualquer coisa que envolva nós dois.

A rua da casa dela está vazia. Poucos carros passando e nenhuma criança brincando na rua. Toco a campainha e Lucas vem me atender.

- A Di não está. Ela pediu pra ficar outro dia na casa da Flávia, mas ela vai chegar daqui a pouco. – avisa ele.

- Eu posso ficar aqui?

- É claro que pode. Entra.

Lucas estava fazendo desenhos em um caderno de capa velha. Desenhos de roupas, parecidos com o que aqueles estilistas costumam fazer.

- Ual, você desenha muito bem! – comento.

- Obrigado. Estou voltando ao curso de corte e costura essa semana. Acho que aquela fase de depressão pós-nada passou.

- Você estava em depressão? – pergunto.

Ele ri.

- Na verdade, isso foi uma ironia. Ultimamente as pessoas usam esse termo sempre que estão tristes demais... Ou querendo se matar. – responde ele.

- E qual era o seu caso?

- O primeiro.

Lucas vasculha sua pequena bolsa e tira alguns lápis de cor para pintar as ilustrações. Enquanto isso eu fico no sofá assistindo um filme sobre um cara que fica perdido em uma ilha.

- Esse filme é um saco. – comento assim que os créditos começam a subir. Lucas olha rapidamente para a televisão e depois sorri.

- Por quê? Eu acho legal.

- Ele nem termina com a mulher que ele gosta. Passa anos em uma ilha pra voltar e ela estar casada com outro cara! Antes ter morrido na ilha.

- Ok... Mas nem sempre as coisas terminam do jeito que a gente quer. – continua ele.

- Não sei... Acho que estou lendo livros demais.

- Não se preocupe. Diana também não gosta de finais infelizes. – afirma ele.

A porta da sala se abre. É Diana e Flávia rindo sobre alguma coisa estúpida que viram ou ouviram. Elas controlam-se a me ver.

- Daniel! Por que não me avisou que estaria aqui? – pergunta ela deixando a bolsa no canto da sala e me dando um beijo.

- Era surpresa. – digo sorrindo.

- Uma ótima surpresa! – afirma ela sentando-se do meu lado.

- Cadê a dona Daniela? – pergunta Flávia.

- Foi resolver algo a respeito do trabalho. Ela começa amanhã. – responde Lucas.

- Ah, que legal. Dê meus parabéns a ela! – diz Flávia. – Mas, e a prova... O que acharam?

- Eu peguei a azul, e a redação... Nossa! Não era o que eu esperava como tema. – comento.

- Também não gostei do tema. Mas, fiz uma boa redação. – diz Diana.

- Você sempre se dá bem. Por isso, vamos comemorar comendo pipoca! – exclama Flávia seguindo pra cozinha.

- EU QUERO PIPOCA! – grita Lucas, soltando o caderno de desenhos e indo atrás de Flávia.

Diana e eu rimos. E novamente, a risada dela sobressai de forma cômica e aquilo me faz bem. Me lembra a chuva, a lama e a nossa primeira conversa civilizada.

- Ok, meu casmurro... O que há. Parece que você quer me contar alguma coisa.

Eu queria.

- Não. – respondo abaixando a cabeça.

Diana segura meu rosto, como faz sempre que quer acalmar ou convencer alguém.

- Diga logo. – sussurra ela.

- Ainda não consegui decidir o que fazer pro tal “futuro”. – desabafo. – Todo mundo ao meu redor parece saber exatamente para onde vão, os planos que tem...

- Eu não. – replica ela.

- Você é a pessoa mais decidida que eu conheço.

Ela ri o riso mais bobo até agora.

- Não sei mesmo! Eu esperava receber uma ligação de um cara que me diria que meu livro seria publicado. Até hoje, nada... Acho que sonhei alto demais. Agora não consigo decidir se devo fazer faculdade de letras ou jornalismo.

- Por que jornalismo?

- Sei lá... Queria realizar o sonho da minha mãe. E eu gosto de jornalismo.

- Tem que realizar seu sonho. Não o dos outros.

- E você tem que decidir o que quer, e não se lamentar por não ter decidido ainda. – replica ela. – O que você gosta de fazer? Sei lá, você se dá bem em matemática. Podia cursar alguma área que envolvesse isso.

- Eu vou pensar no que fazer. – digo me levantando do sofá. – Quando encontrar meu “lugar no mundo” eu te aviso.

- Não. Seu “lugar no mundo” é onde o seu coração estiver. Sua “lenda pessoal” é aquela missão pela qual você foi colocado no mundo. – diz ela.

- Onde aprendeu isso? – pergunto curioso.

Ela fica calada e o seu silêncio me incomoda.

- Li em um livro. – responde.

- Um livro do tal Rafael. – continuo, sendo um pouco agressivo quanto ao tom de voz.

- Ah, não vamos começar com isso de novo. Estamos tão bem! – exclama ela levantando-se do sofá e segurando a minha mão.

- Eu não quero brigar com você de novo, então vamos terminar essa conversa aqui. – digo.

Nos encaramos de forma repreensiva um ao outro.

- PIPOCA PRONTA! – grita Lucas e Flávia segurando uma panela, fazendo a tensão do momento se quebrar.

- Deveríamos assistir a um filme. – comenta Diana. – Não é mesmo Daniel?

Eu concordo.

***

O filme acaba minutos antes de dona Daniela chegar e surpreender-se com as visitas. Ela nos prepara um lanche e começa a contar como foi difícil conseguir os documentos, pois ela teve que ir à casa de seus pais buscar alguns.

- E Diana... Seu avô quer conhecê-la. – diz ela.

Diana quase engasga-se com o suco e depois a encara de forma surpresa.

- Eles nem acreditaram quando me viram. Eu disse a eles que só fora buscar os documentos. – continua ela. – Seu avô comentou que eu sou uma filha “desnaturada” por não visitá-los.

- Ok, eles odiaram o fato de você ter engravidado, te expulsaram de casa e você é a desnaturada da história? – Indaga Diana furiosa. – Eu não vou conhecê-los. Passei parte da minha vida muito bem. Desculpa falar assim mãe, mas eu só tenho um avô e uma avó.

- Eu sei, sei mesmo. Só achei que você gostaria de conhecê-los...

- Achou errado. – afirma diana servindo outro copo de refrigerante, ainda chateada.

- Bom, acho que você deveria conhecê-los di. – Sugere Lucas. – Os meus avós maternos eram uns demônios, mas os seus não devem ser tão cruéis.

- Eles quiseram me matar quando eu nem sabia que estava no mundo. – continuou Diana. – Tenho meus motivos para não querer olhar na cara deles nem mesmo por foto.

- Você já viu eles alguma vez? – pergunta Flávia.

- Quando eu era criança. E foi só essa vez. Eles moram em Niterói. – respondeu ela.

- Dê uma chance. Sei lá. Melhor arriscar agora do que se arrepender depois. – digo. – Vá lá, conheça-os. Eles não sabem que você é essa garota incrível. E eu sinto pena deles.

Diana e todo o resto das pessoas que estão na cozinha começam a sorrir.

- Eu apoio Daniel. Completamente. – diz Daniela.

Diana olha para mim e depois para a mãe.

- Ok, eu vou visitá-los.

***

Na volta pra casa, fui até o ponto de ônibus com Flávia. Convenci ela a admitir que gostava de Maurício, o que a fez ficar sem jeito.

- Ele é um... Amigo. – disse ela.

- Mas você gosta dele. – repliquei.

- Ah, vai se ferrar Daniel!

Eu ria e ela continuava de cara fechada.

- Vocês combinam. Daria certo se um dos dois tomasse a iniciativa de se declarar.

- Não tenho culpa se ele é medroso.

- Olha quem fala! Tá na moda a garota tomar atitude.

Ela revira os olhos.

- Não consigo fazer isso... Eu gosto dele, mas ele traiu a namorada dele comigo.

- Foi só um beijo. – defendo.

- Se você beijasse a Catharina e a Diana soubesse, não acho que “seria apenas um beijo”.

- Opa... Estamos envolvendo nomes errados aqui. – digo.

Continuamos a metade do caminho em silêncio até que Flávia me dá um conselho.

- Acho melhor você tomar cuidado com a Catharina. Eu não confio nela e não acredito que você também confie. E além do mais, um erro seu já era. Diana não costuma perdoar furadas.

- Ela perdoou o pai.

- O PAI! – exalta Flávia. – E ela é o tipo de garota sensível demais a erros. Acho que é por causa dos livros dela. A Diana costuma criar uma utopia própria, onde tudo lá é perfeito e sem erros. Admito que acho isso estupidez porque, na realidade, jogar expectativa nos seres humanos é decepcionante.

- Todos já erraram ou vão errar um dia. Inclusive ela.

- Ainda não vi Diana cometer um erro crucial. Ela às vezes é a garota mais certa que esse mundo já viu.

- Mas ela ainda é humana. – afirmo.

Flávia fica calada e então chegamos ao ponto de ônibus. Minutos depois o meu passa e ela fica lá esperando o pai vir buscá-la.

Chego à rua de casa e encontro Catharina conversando com os garotos com quem eu jogo bola. Quando eu me aproximo, eles parecem se calar.

- E aí! – cumprimento-os. Todos me dão um aperto de mãos.

- Vamos jogar bola? – pergunta um dos garotos.

- Hoje não vai dar. Passei a manhã fazendo prova e agora preciso descansar. – digo. – Como foi a prova pra você Cathy?

- Foi ótima. – responde ela sorrindo.

- Bom, eu vou indo. Boa noite pra vocês. – eu dou meia volta e continuo o caminho até chegar em casa.

Minha avó está ouvindo música no quarto. Provavelmente no rádio do meu avô. Ela canta de forma que sua voz é audível em toda a casa. Abro a porta de seu quarto e a vejo dançando em seu velho vestido floral enquanto o rádio toca “Bee Gees”. Ela me vê e dirige-se em minha direção, puxa a minha mão e começa a dançar comigo, bem no meio do quarto, murmurando o refrão da música.

- Como é profundo o seu amor, como é profundo o seu amor. Eu realmente preciso descobrir, pois vivemos num mundo de tolos que nos destroem, quando todos deveriam nos deixar em paz. Nós pertencemos um ao outro.

Só então percebo o quanto ela deve sentir falta do meu avô. Desde que ele faleceu (e isso faz muito tempo), ela não escuta músicas que lembra ele. E essa, especialmente essa, lembrava muito, pois ele havia dedicado a ela.

Como eu havia dito: todo casal possui uma música que, de forma clichê e romântica, expressa a relação dos dois.

Enquanto dançávamos, contra a minha vontade porque eu queria desesperadamente sair dali, noto o quanto ela está feliz em seu velho vestido. Como ela me abraça, me conduzindo como quem conduz uma criança. Como a cabeça dela fica encostada sob o meu peito e a ouço sussurrar a nome do meu avô, repetidas vezes:

- Afonso...

Não sei ao certo quanto tempo ficamos assim, mas acredito que fez bem a ela e depois foi só isso que importou.

***

Parabéns ao cara que agora é maior de idade.

Exato, meu aniversário acontece justo em uma segunda-feira ensolarada demais, que implora perdidamente para que eu vá à escola. Cubro-me com o lençol e esqueço todo o resto enquanto o despertador toca repetidas vezes me avisando que estou atrasado.

Sinto alguém puxar o lençol com força, arrancando-o de cima de mim. A mesma pessoa abre a janela do quarto deixando o sol bater no meu rosto e me deixando tonto.

- PARABÉNS PRA VOCÊ! NESSA DATA QUERIDA! MUITAS FELICIDADES, MUITOS ANOS DE VIDA! – gritava a pessoa.

Abro os olhos e enquanto sou chacoalhado na cama para acordar, descubro que a pessoa é Catharina.

- O que você tá fazendo aqui? – pergunto com a voz sonolenta, como um bêbado machucado.

- Vim ser a primeira pessoa a desejar feliz aniversário pra você. E claro, te tirar da cama para irmos à escola juntos.

Levanto com dificuldade da cama e só então percebo que estou sem camisa, vestindo apenas uma cueca samba-canção. Puxo o lençol para perto novamente e esfrego os olhos.

- Cadê a minha avó? – pergunto.

- Está fazendo o seu café. – responde ela sorrindo. Ela aproxima-se e segura meu rosto, uma imitação quase perfeita do que Diana costuma fazer. – Vá tomar banho.

Não respondo. Apenas encaro os olhos claros de Catharina que parecem me prender aquela situação. Tiro as mãos dela do meu rosto e saio do quarto.

No banheiro, consigo ouvir ela e minha avó conversarem sobre mim. Ela pergunta se dona Amélia irá fazer algo especial, e minha avó responde que talvez faça um bolo ou uma torta. Depois há um breve silêncio, mas imagino que as duas estão sussurrando alguma coisa.

Visto-me dentro do banheiro e então saio. Elas estão com os olhares mais desconfiados que alguém poderia imaginar.

- Ok, vocês estão me escondendo alguma coisa. – digo.

Elas ficam caladas. Minha avó vem em minha direção e me dá um beijo na testa, seguido de um “feliz aniversário”.

Tomo café sendo observado por Catharina que só sabe falar sobre as vantagens de ser maior de idade. Eu juro, estou controlando a vontade de mandá-la calar a boca, mas ela fez um esforço grande em acordar mais cedo e vir até aqui me dar os parabéns. E agora, estou tentando ser uma pessoa legal.

Pego a mochila e me despeço da minha avó. Catharina faz o mesmo.

- E o Leandro? Não vai esperá-lo acordar? – pergunta ela.

- Não. – respondo abrindo a porta da sala e saindo.

Catharina continua falando enquanto andamos para a escola.

- Veja só! Quais os planos para o Daniel maior de idade?

- Nenhum. – respondo diretamente.

- Ah, que coisa! Seja mais espontâneo.

- Não quero, obrigado.

Ela revira os olhos e me para na rua.

- Antes de chegarmos à escola, quero te dar seu presente. É o primeiro de muitos. – diz Catharina abrindo a bolsa e tirando uma caixa de lá, com um embrulho azul e preto.

Dentro da caixa havia três camisas com estampas incríveis.

- Obrigado Catharina. Não precisava. – digo.

- Ah, não é só isso! – exclama ela abrindo a bolsa novamente e tirando um pequeno porta-retratos com uma foto onde estavam eu, ela, Felipe e Renan. A única foto que tínhamos todos juntos, tirada há quase dois anos atrás. Eu dou um sorriso por que me lembro de que nessa época éramos o “quarteto fodástico”. Sinto falta, mas isso não quer dizer que eu quero aquilo de volta.

Guardo os presentes na bolsa e, mesmo que eu tema o pior, dou um abraço em Catharina.

- Obrigado. De novo.

***

Na entrada da escola, Diana me avista de longe e corre ao meu encontro. Ela me dá um abraço aconchegante e depois me beija.

- Feliz aniversário meu casmurro. – diz ela que está com um sorriso largo estampado no rosto.

Eu sorrio.

- Feliz aniversário cunhado! – exclama Lucas me cumprimentando.

- Valeu pequeno grilo. – digo fazendo-o rir.

Entramos na escola de mãos dadas, o que deixa Catharina um tanto decepcionada por eu ter deixado-a de lado. 

- Comprei um presente hiper bacana pra você. Está lá em casa. Eu não pude trazer porque a mamãe não deixou. Ela quer que você vá lá, depois da escola, pois ela também quer lhe dar um presente. – diz Diana.

- E eu também! – continua Lucas.

- Tudo bem, eu vou. – afirmo.

Na sala de aula, alguns colegas e amigos me desejam felicidades, saúde, amor e sucesso, geralmente essas coisas que as pessoas desejam pra quem faz aniversário.

Maurício e Flávia me cumprimentam juntos e eu não consigo controlar a vontade de rir ao vê-los, principalmente por conta da conversa que tivera com Flávia no dia anterior.

Como as aulas estão praticamente acabando, os professores estão preocupados com os alunos em recuperação, e os conteúdos quase já não existem.

- Hoje a tarde vou ter que vir na escola. – diz Diana.

- Por quê? – pergunto.

- Como houve aquele evento na quadra para a entrega das premiações, os formando viram a ornamentação da festa de despedida. E a festa de despedida é sexta-feira! Ou seja, teremos que reorganizar tudo em cinco dias. – responde ela.

- Isso quer dizer que Catharina também vai ter que vir? – pergunta Flávia.

- É, com certeza. – responde Diana.

No intervalo, nos reunimos todos naquela mesma mesa. Eles cantaram “parabéns pra você” para mim, três vezes, o que me deixou constrangido e feliz ao mesmo tempo.

Catharina viu toda a bagunça e veio até a mesa.

- Poxa, pena que eu fui a primeira a desejar felicidades ao Daniel. Eu o acordei hoje cedo cantando parabéns para ele. – ela riu. – coitado, dormindo feito uma criança naquele quarto.

Todos os olhares da mesa voltaram-se pra mim. Inclusive o de Diana. Inclusive o dela.

Catharina senta-se na mesa, bem ao lado de Flávia.

- Você acordou o Daniel hoje? – pergunta Diana.

- Sim. Fui até a casa dele e o acordei. Se não fosse por mim, ele nem teria levantado da cama para vir à escola.

- Que... – Diana hesita e olha para mim novamente. – Legal!

O sinal toca e todos levantam-se indo para a sala, exceto eu e Catharina.

- Daniel, perdoe-me o que eu irei dizer agora, mas acho que a relação entre você e diana está... Esfriando.

Eu continuo calado, apenas observando ela espalhar o veneno.

- Vocês antes possuíam uma química que de longe era vista, e hoje parece um casal que saiu de um seriado americano! – continua ela. – Tenho certeza absoluta que vocês nem sequer transaram ainda.

- Isso não é da sua conta.

- Meu amigo, essa garota não é pra você. Quando o antigo Daniel botar as asinhas de fora novamente, duvido que ela vá querer alguma coisa com você. – conclui ela levantando-se e me deixando sozinho.

***

Lucas é a única pessoa que pronuncia qualquer palavra enquanto estamos no ônibus seguindo para a casa de Diana. Ela está fechada, mas não transparece estar magoada ou chateada. Parece estar pensativa demais, e seu olhar me assusta.

- Vou buscar os presentes. – avisa Lucas ao chegarmos a casa deles.

Diana senta-se no sofá e não me encara em nenhum momento. Ela liga a televisão e está tocando uma música que ela parece gostar. De repente, seu olhar pensativo muda para algo triste demais.

- Você tá bem? – pergunto.

- Estou. – responde ela olhando para o chão. – Na verdade, estou... Apavorada.

- O que está acontecendo?

- Daniel, eu preciso contar algo a...

- Os presentes! – exclama Lucas interrompendo-a sem querer. – Tome Daniel, esse é o meu.

Eu seguro o presente que está empacotado em papel de presente e olho para Diana. Sua expressão indica que é melhor eu continuar com os presentes.

Abro o embrulho e o presente de Lucas é um belo casaco que, de acordo com o bilhete, fora feito por ele.

- Valeu brô! – digo agradecendo.

- Como a mamãe teve que sair mais cedo hoje, até porque é o primeiro dia de trabalho dela, ela fez um presente especial pra você. – avisa Diana. Ela segura a minha mão e me leva até a cozinha onde um bolo decorado nos aguarda.

- CA-RAM-BA! – exclamo. O bolo era incrível. Parecia aqueles de confeitaria que custam mais do que eu poderia pagar.

- Vamos lá Daniel! Corte o bolo! – manda Lucas.

Nos servimos em poucos minutos e por um descuido quase esqueço que Diana queria me contar algo.

- Pode continuar aquilo que você começou. – digo a ela.

- Não. Vou buscar o seu presente. – ela deixa o prato sob a mesa e segue em direção a seu quarto. Alguns segundos depois ela volta com o presente.

Um violão. Novo. NOVO!

- Ok, você tá brincando comigo! – falo sem acreditar.

- É claro que não! Eu só tive que implorar para o meu pai me dar uma grana, e ele conseguiu dar um jeito de liberar minha mesada antes do final desse mês. Agora, ele é todo seu.

O violão parecia com o meu antigo, porém era muito mais exuberante.

- Eu não sei como te agradecer. – digo abraçando-a.

- Que tal vocês se beijarem e tal... Sei lá, ficaria romântico. – sugere Lucas.

Eu seguro o rosto de Diana e beijo-a. Eu a amo tanto, e sempre tive certeza disso. Eu não podia perder aquela garota. Eu só conseguia amá-la e amá-la e amá-la, independente de qualquer coisa. O mundo inteiro ficava mais bonito quando ela estava por perto. Me diga: quantas pessoas a sua volta te dão a sensação de estar com os pés fora do chão? Quantas tornam a gravidade inútil? Poucas. Talvez uma. Diana era a única, de tantas pessoas que já passaram pela minha vida. Dava vontade de ficar ali, com ela nos meus braços e nunca soltá-la.

Catharina estava enganada. Eu sabia que Diana era pra mim e eu pra ela. Isso importava. Isso era tudo. 


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