As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 34
É agora que você diz que me ama.


Notas iniciais do capítulo

ok ok ok... esclarecendo: não sei quantos capítulos essa fic vai ter, porém o final dela está todo programado na minha cabeça (não sei como, mas quando pensei em escrever essa história, eu imaginei o final antes de pensar em um enredo). Mas, admito, ela é longa e o final ainda não está próximo! eu aviso quando estiver acabando. bjbjbjbbjbjbjbjbj



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/352699/chapter/34

#Narrado por Diana#

Quinta-feira, segundo dia de ensaio.

Enquanto Murilo e Daniel aprendiam a tocar a música corretamente nos devidos instrumentos, Maurício e Flávia dividiam as estrofes da canção. Ainda tímidos um com o outro, ensaiamos praticamente o dia inteiro. Nosso juiz soberano de todas as coisas, Lucas, criticava de forma engraçada a forma em que o trabalho estava seguindo. Por fim, após cinco horas sem pausa, a música estava de acordo. Por sorte, Flávia e Maurício não tinham dificuldade na pronuncia em inglês, logo eu não me desgastei.

– Cara, essa música é uma homossexualidade só! – exclamou Lucas emocionado fazendo todos rirem e ainda deixando claro que era gay. Apesar dos quatro ali, isso não importou. Talvez fosse medo de acabar sofrendo as mesmas consequências que Catharina.

– Eu também gostei muito! Amanhã nós apresentamos. – disse. Todos começaram a organizar as coisas, menos Daniel.

– Eu vou ficar mais um pouco, preciso falar com a sua mãe. – avisou ele sorrindo pretensiosamente.

Encarei todos que estavam no quarto, tentando não esboçar desespero. Apenas concordei em um gesto e levei o pessoal até a saída.

– Vejo vocês amanhã. – despedi-me.

Voltei para o quarto onde Daniel e Lucas sussurravam.

– Ok, qual é o plano dos dois? – perguntei de braços cruzados.

Daniel passou por mim com um sorriso de quem em breve iria aprontar alguma coisa e seguiu para a cozinha, o lugar onde minha mãe estava. Eu o segui junto com Lucas.

– Dona Daniela? – chamou ele.

Minha mãe apareceu enxugando as mãos em uma toalha. Olhou curiosa para ele e depois para mim.

– O que houve, Daniel? – questionou ela.

Ele ainda hesitou em falar, respirou fundo e antes de voltar à atenção a minha mãe, sorriu:

– Quero lhe fazer um pedido, e eu acho que é algo que nunca aconteceu por aqui antes... – continuou ele.

Minha mãe sorriu serenamente, como se soubesse o que estava por vir.

– Faça o pedido Daniel. – disse ela.

– Quero permissão pra namorar sua filha. Tipo, namorar de verdade porque eu não acredito que ela seja daquelas garotas que saem por aí “ficando” com qualquer um. – disse Daniel expressando nervosismo.

Eu não sabia se estava acordada ou tendo um sonho até que Lucas gritou eufórico no meu ouvido.

– Daniel, eu realmente não sei o que dizer... – disse minha mãe surpresa.

– Nem eu. – afirmei.

Minha mãe veio até mim e me estendeu a mão.

– Diana teve poucos romances. Coisa boba. E é a primeira vez que alguém a pede em namoro. Mas já que você foi tão... – ela fez uma pausa, pensando no que falar. – Responsável a ponto de me pedir permissão...

– Eu acho que é o certo. Sei lá. – disse ele ainda nervoso, apertando as próprias mãos.

– Daniel, é ela quem deve responder se aceita ou não seu pedido. – concluiu minha mãe olhando pra mim.

Eu não sabia o que fazer. Tudo aquilo tinha sido inesperado demais. Lucas ficava me pressionando a falar algo, mas subitamente as palavras desapareceram. Eu não tinha ideia do que responder.

– Eu... Aceito. – respondi hesitando, ainda nervosa.

Daniel riu da minha forma de responder ao pedido, e agradeceu a minha mãe. Ele me deu a mão e pediu que eu fosse a casa dele.

Deus meu, duas surpresas de Daniel em um dia só era demais pra mim. Eu não sabia o que esperar indo a casa dele. Mais formalidade? Provavelmente, mas isso não é coisa de Daniel. Eu sei bem, ele deve ter sido pressionado por alguém a assumir isso. Eu quase conseguia ver nos olhos dele.

Seguimos ao ponto de ônibus, e a forma como estávamos estranhos um com o outro começou a me incomodar.

– Ok, me diga: porque me pediu em namoro agora? Desse jeito? E porque estamos indo pra sua casa? – perguntei.

Ele estava sério, mas me acalmou sorrindo aquele sorriso torto e sincero que poucas pessoas sabem dar.

– Minha avó passou o final de semana inteiro questionando sobre a gente e me mandou tomar vergonha na cara e assumir logo. – respondeu ele.

– Ela estava desconfiada?

– Deveria, não é? Depois de eu ter levado você ao desfile do clube dela... Ter ido a uma festa com você e passar dois dias diretos na sua casa ensaiando e voltar pra casa falando de você...

– Então... Você fala de mim, é? – indaguei surpresa.

– O Lucas me disse que você fala de mim também. Estamos quites. – replicou ele.

– Às vezes... Tipo, constantemente. – eu sorri.

***

Dona Amélia preparava o café, e Daniel estava no banheiro tomando banho. Por incrível que pareça, ficar sentada naquele sofá, assistindo um programa sobre culinária às seis horas da tarde na casa do meu namorado (palavra que ainda soava estranha), me lembrava um filme de terror pior que sexta-feira 13. Eu não sabia o porquê, mas estava totalmente incomodada.

– Quer café, Diana? – perguntou dona Amélia com um sorriso largo no rosto que as vezes parecia assustador.

– Não, obrigada. – respondi delicadamente porque ela conseguia ser fofa, mesmo com um sorriso de maníaca no rosto.

Ela sentou-se do meu lado. Com um grande macacão floral e pantufas coloridas, ela começou a falar sobre Daniel e suas histórias. Algumas engraçadas, outras mais tristes, e então ela comentou, mesmo que sem querer, algo que tornou a situação ali algo a ser pensado.

– Daniel sempre foi marginalizado demais. Desde pequeno, quando se revoltou com o pai, ele aprontava coisas absurdas pra um garoto da idade dele. Eu o achava perigoso. Depois que meu marido morreu, eu acabei me aproximando de Daniel, e percebi que ele era apenas um pobre menino que precisa de atenção... Mas não foi suficiente pra ele prejudicar a si mesmo como já fez várias vezes.

Eu, por curiosidade de natureza, questionei:

– O que ele já fez de tão grave?

– Ele já dormiu na rua, já bebeu, andou com uns rapazes nojentos, já tentou até roubar. Nossa! – exclamou ela.

Nesse momento, Daniel apareceu na sala. Ele enxugava os cabelos com uma toalha branca, e pareceu desconfiado ao me ver conversando com dona Amélia.

– Mesmo assim, ele cresceu! – continuou ela. – amadureceu e agora ele é esse novo Daniel. e eu espero di que você continue fazendo dele alguém que valha apena. – ela passou a mão pelo rosto de Daniel e foi para o quarto.

Eu continuei em silêncio, absorvendo as informações que ela acabara de despejar em mim. Levantei do sofá e tentei ficar bem, mas eu estava abalada. Eu imaginava Daniel de muitas formas ruins, mas não o suficiente para ser um criminoso de verdade. Acho que eu o personifiquei como “aquele que se tornou o certo”, e esqueci que no passado ele já fora muito errado.

Mas, ainda pensava que a vida dele havia começado quando ele decidiu para si mesmo que deveria mudar.

– ela contou algo a você? – perguntou ele.

– Não, por quê? – respondi rapidamente. – tem algo que ela deveria contar?

Ele encarou desconfiado.

– Não, acho que não. – disse ele aproximando-se.

Eu tentei romper o clima que de uma hora pra outra tornou-se pesado demais.

– Então... Namorados? Vamos sair agora, assumindo em todas as redes sociais como os casais de hoje em dia fazem? – perguntei sarcasticamente.

– Você não tem nenhuma rede social. Eu também não. Às vezes eu acho que não somos daqui. – respondeu ele.

– Também acho. – disse.

– Então... De certa forma, não assumi nada disso por causa da velha dona Amélia. Foi porque, depois que te vi dançar euforicamente na festa, percebi que tava na hora de algumas coisas virarem certezas.

Eu encarei aqueles olhos que brilhavam em sincronia com o mesmo sorriso. Ele se aproximou de mim, e eu não senti medo ou desespero. Nem mesmo desconforto por ele ter sido aquilo que era. Eu vi apenas o bom e novo casmurro que me devia uma certeza:

– Então, é agora que você diz que me ama? – perguntei segurando as mãos brancas de Daniel.

Ele ficou em silêncio, me fitando por não sei quantos minutos. E então sussurrou.

– É, eu te amo, Diana.

– É, eu te amo, Daniel.

Eu esperava que fosse uma certeza, pois aquilo era novo demais para nós dois, e a gente não esperava que fosse chegar a isso. Mas aqui estamos nós.

Admito, eu não espero uma página em branco com um “e viveram felizes para sempre”. Eu leio muitos livros, mas meus pés estão aqui no chão. E desde que meus pais se divorciaram, eu tenho procurado acreditar um pouco menos no amor. Se isso é cruel, eu não sei, mas espero que Daniel me prove o contrário, já que nessa vida vi muita gente provando que estou certa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente, preparem-se pra ler muito. o 35 vai ser uma reviravolta danada, e creio que o maior capítulo que já escrevi. Porém, só posto amanhã! bjbjbj