As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 30
Apanhador de sonhos.




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#Narrado por Diana#

Chegamos ao clube da dona Amélia por volta de 13:00 hora da tarde. Haviam armado tendas para a venda de roupas e artesanato, como Daniel havia falado, e um enorme palco para o desfile de roupas criadas pela turma de corte e costura dela.

– Onde a sua avó está? – perguntei a ele que parecia estar procurando-a.

– Logo ali, perto do palco. – respondeu ele apontando na direção norte.

Dona Amélia parecia nervosa. Estava terminando de arrumar algumas das “modelos” que adentrariam na passarela quando o desfile fosse começar. As roupas eram muito bonitas, algumas mais extravagantes que as outras.

– Vocês serão as primeiras a desfilar. – dizia ela as garotas.

– Vó! – gritou Daniel para chamar a atenção dela. Em um súbito susto, ela virou-se na nossa direção e pareceu não acreditar quando me viu.

– Filho! Diana! – exclamou ela vindo em minha direção para um abraço meigo.

– Oi, dona Amélia. Vim ver o desfile. – disse a ela.

– Ah, querida. Espero que goste das roupas. Foram meses para produzir tudo isso. – afirmou ela. – Cadê a sua mãe?

– Ela não pode vir. – respondi.

– Poxa, que pena. Eu adoraria revê-la. – ela virou-se para Daniel e o abraçou. – E você querido, porque não leva a Di pra conhecer as outras tendas daqui? Pode ser que ela queira comprar algo, não é mesmo querida?

Eu apenas assenti ainda tímida em meio aquela situação.

– Ok, eu vou levá-la. – concordou ele sorrindo.

– Não a perca de vista! – exclamou ela enquanto nos afastávamos para conhecer o restante dos stands de venda.

– Não vou perdê-la. – afirmou ele baixinho me fazendo sorrir novamente.

***

Há alguns metros de onde estávamos, havia uma barraca vendendo acessórios artesanais. Eu adorava esse tipo de coisa e logo que nos aproximamos, observei um par de brincos de “apanhador de sonhos”. Já li alguns livros sobre esse objeto e sempre tive vontade de ter um. Logo, vê-lo na minha frente significou comprá-lo o quanto antes.

– É o único. – avisou a senhora que estava vendendo. Ela tinha traços indígenas e usava roupas coloridas. Uma grande trança enfeitava os cabelos negros e lisos dela.

Daniel apenas encarava a mim e ao par de brincos.

– O que é isso afinal? – perguntou ele a vendedora.

– Um apanhador de sonhos. – respondeu ela enquanto pegava os brincos com as mãos e nos mostrava mais de perto. – É uma mandala de etnias da América do sul. Usado como símbolo de proteção para afastar os sonhos e espíritos ruins. Eles ficam presos na teia, e então apenas os sonhos bons conseguem alcançar quem os usa.

– Quanto custa? – pergunto desesperadamente antes que alguém apareça e queira leva-lo.

– Custam seis reais, querida. – responde ela.

Eu abro a bolsa imediatamente e antes de conseguir tirar o dinheiro da bolsa, Daniel está pagamento pelos brincos por mim.

– Não precisa Dan. – aviso a ele.

– Precisa sim. – replica ele.

A vendedora entrega os brincos dentro de um pequeno embrulho. Eu retiro os brincos que estou usando e logo coloco os novos.

– Eu simplesmente adorei eles. – afirmo.

– Falta só o meu colar pra completar, não é mesmo? – indagou ele com a expressão chateada ao olhar para o meu pescoço e não encontrar o presente.

Eu fico em silêncio por um tempo até ter coragem de explicar:

– Acontece que ainda não contei pra minha mãe sobre nada do que aconteceu, e se eu usasse seu colar, provavelmente ela iria questionar sobre quem havia me dado. E você não foi a minha festa. – respondi.

– Eu sei, te entendo. Ainda não contei a ninguém sobre nada também. Você tá perdoada. – afirmou ele enquanto se aproximava e me beijava.

Eu abaixei a cabeça e perguntei a ele:

– Aonde isso vai chegar, Daniel?

– Eu não sei, mas juro que ainda não acredito que isso tá acontecendo. – respondeu ele de forma serena.

– É, eu também não acredito ainda, mas a gente precisa esclarecer o que quer um do outro antes de alguém se magoar nessa história.

– Eu quero você. Isso é o suficiente? – indagou ele sério.

As palavras dele me acertaram novamente e eu não sabia o que responder.

– Daniel, as coisas não funcionam dessa forma. Eu gosto de você, mas preciso saber se isso vale apena ou não. – continuei.

– Ei, deixa as coisas acontecerem naturalmente. E depois a gente vai ter certeza de onde isso vai chegar, tudo bem?

– tudo bem. – assenti.

Fomos em direção ao palco onde um apresentador engraçado falava sobre o evento e o desfile. Ficamos bem no meio do público e Daniel continuava segurando a minha mão. Logo as luzes diminuíram e então a música começou. Era um remix de “garota de Ipanema”. As modelos entraram no palco, desfilando graciosamente.

Vestidos, sais, shorts, blusas e camisetas além de lindos e coloridos biquínis.

– São incríveis! Você sabe quais são os da sua avó? – perguntei curiosa.

– Os vestidos. São do clube dela. – respondeu ele.

Dona Amélia e as amigas do clube desfilaram no final para encerrar a apresentação. Todos aplaudiram e assobiaram. Elogiaram a apresentação e as roupas.

– Vamos ali falar com ela. – disse ele.

Dona Amélia comemorava o sucesso das roupas e do desfile do clube.

– foi incrível! Você gostou querida? – perguntou ela a mim.

– Sim, foi muito lindo! – respondi.

Ela olhou para os brincos que eu estava usando e sorriu.

– Que brincos lindos Diana! Você comprou aqui? – perguntou ela.

– Eu dei pra ela. – respondeu Daniel rapidamente.

– Hum... Muito bem, tem que presentear essa garota mesmo! – afirmou ela.

De repente a expressão de dona Amélia mudou. Ela havia avistado Leandro. Daniel virou o rosto para trás e o viu também. Ambos pareciam surpresos, e eu senti um frio no estômago, pois não o conhecia ainda. Ele se aproximou e então me cumprimentou.

– Olá, tudo bom? – perguntou ele estendendo as mãos para mim.

Eu o cumprimentei.

– Sim, tudo sim. O senhor deve ser o Leandro.

– Isso mesmo. – afirmou ele.

Daniel me puxou para mais perto de dona Amélia, como se estivesse me protegendo de alguém perigoso.

– O que você tá fazendo aqui, filho? – perguntou dona Amélia.

– Eu vim ver o desfile, mas acho que cheguei tarde. – disse ele.

– É, um pouco tarde. – concordou ela.

Daniel esboçava seriedade. Não encarava Leandro e também não o cumprimentou.

– Já conhece a amiga de Daniel, filho?

– Não. Qual o nome da mocinha? – perguntou ele para mim.

– Diana. – respondi tímida.

– Muito prazer em conhecê-la. – ele olhou para Daniel e ambos pareciam querer socar a cara um do outro.

– Eu vou levar Diana pra casa, vó. – disse Daniel.

– Ah, poxa. Tudo bem. Foi um prazer revê-la. – despediu-se dona Amélia.

– Até outro dia, Leandro. – disse a ele.

Daniel virou o rosto para Leandro e seguimos para fora do clube. Continuamos em silêncio até chegarmos perto de um parque.

– Você precisa ir pra casa agora? – perguntou ele.

Eu olhei para o relógio e ainda eram 15:00 horas da tarde. Achei cedo e respondi que não. Então Daniel e eu fomos para dentro do parque onde muitas pessoas estavam conversando ou brincando. Crianças e adolescentes. Casais e amigos.

Sentamos na grama, perto de uma árvore alta, em um lugar de pouco movimento.

– Você tem os olhos do Leandro. – comentei sem graça. Ele riu.

– Você parece muito com a sua mãe. Muito mesmo. O cabelo, os olhos... – disse ele me encarando gentilmente.

– Jura? Eu não acho! – exclamei duvidosa. – O Lucas é quem mais se parece com meu pai. Exceto os olhos que são da mãe.

– Sua mãe te teve bem cedo, não é? – perguntou ele.

– Sim... Aos dezessete. – respondi.

– Eu a acho uma mulher “exemplo”. Se eu tivesse uma mãe, queria que fosse como ela, sabe? Ela foi traída por um cara e hoje cuida do fruto dessa traição como se fosse filho dela. Eu vejo como ela trata o Lucas e é sem exclusão alguma. – continuou ele.

– Ela é incrível! A melhor mãe do mundo, mas eu sou suspeita de falar isso. – assenti.

– Gosto dela. Pensei que ela fosse me expulsar da sua casa quando me viu lá fazendo aquele convite. – disse ele rindo.

– Não, ela nunca faria isso.

– Mas... E o livro? Como está indo? – perguntou ele indiscretamente.

– Estou quase concluindo. Quase...

– A garota do livro vai ter um “príncipe encantado”? – perguntou ele aos risos.

– Oh, Daniel! Ela não é nenhuma princesa. Não precisa de um príncipe. – respondi.

Ele aproximou o rosto do meu e sussurrou:

– Mas todo mundo precisa de alguém.

No fundo ele tinha razão. A minha personagem gostava de um garoto, mas eu não havia entrado em detalhes nessa parte da história, mas eu não queria tornar clichê demais e encher de romantismo furado algo que passava outro tipo de mensagem. Ela ensinava sobre sonhos. Ensina sobre perseguir aquilo que queremos e não esperar as coisas caírem do céu feito chuva.

A prioridade da minha personagem era “sonhar”. Amar alguém se tornava desconhecido.

– Ela é uma garota de sonhos maiores do que “encontrar alguém pra viver feliz pra sempre”. – disse a ele.

– Ela não precisa encontrar alguém pra viver feliz pra sempre. Ela só precisa encontrar alguém que a faça feliz. Ora, seja mais romântica! – repreendeu ele ironicamente.

– Desde quando você entende de romantismo, Daniel? – indaguei furiosa.

– Olha, Bento amava Capitu. Amava de verdade. E ele foi o maior casmurro que alguém poderia conhecer na vida. Veja bem, os casmurros também amam, porque os sonhadores não podem amar?

– Capitu traiu Bento. – afirmei friamente.

– Hum... Você não tem provas sobre isso.

– Daniel, os sonhadores também amam. Amam os sonhos deles. É isso. – continuei com o discurso sobre a furada que seria colocar alguém no topo de prioridades antes dos sonhos.

– Mas, siga o meu conselho: arranje uma segunda prioridade pra sua “sonhadora”. Às vezes, sonhar sozinho custa caro. – disse ele.

– Por quê? – perguntei curiosa.

– Se os sonhos não derem certo, pelo menos você tem alguém do lado pra te ajudar a procurar um novo sonho. Essa é a melhor parte.

Aquilo soou como música em um silêncio de mil anos. Me deu ideias para continuar a história. Me deu ideias para continuar tudo aquilo.

– Você é incrível, sabe disso? – perguntei a ele enquanto segurava o rosto machucado daquele idiota metido a esperto.

– Sabia. Você me disse isso uma vez. – respondeu ele.

Nos beijamos novamente, e a cada momento ao lado dele tornava-se a certeza de que estávamos no caminho certo. Era uma trilha tortuosa e cheia de pedras no caminho, mas tínhamos um ao outro para atravessar qualquer curva, pular qualquer pedra. A gente não sabia ainda se aquilo era amor. Talvez fosse cedo demais pra ter certeza. Mesmo assim, cada nova descoberta estava valendo apena. Ele não era mais aquele Daniel. Eu também não era mais a mesma Diana.


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