As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 25
Dizem por aí, mas não tenho certeza.




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#Narrado por Daniel#

Diana terminou o que parecia ser a história mais incrível que já ouvira até hoje. No inicio eu jurava pra mim mesmo que seria mais um romance clichê, cheio de extravagância e irrealidade. Não era nada disso.

- Nossa! Ual! Isso é... Incrível! – exclamei.

Ela abaixou a cabeça e sorriu para o chão. Depois me mostrou no notebook os capítulos que já havia escrito.

- Você tem grandes chances de ganhar. Acho que nenhuma história vai ultrapassar Isso. – disse a ela.

- Não exagere. – disse ela que trocou o sorriso por uma expressão vazia.

- O que foi?

- Nada...

- Você deveria começar a responder diretamente as perguntas que as pessoas fazem a você. Fica cansativo tentar te convencer o tempo todo. – falei em um tom de desabafo.

- Desculpe. – pediu ela.

- Tudo bem, mas me fale o que há. Sei lá. Você deveria confiar em mim...

- Eu não consigo confiar nem em mim mesma.

Eu a encarei de forma que não a assustasse. Levantei da cadeira e fui até o quarto onde peguei meu velho violão. Não o usava há algum tempo, mas ele resolveria a situação.

- Ok, você não demonstra muita confiança por mim, e eu até entendo. Sou um grande marginal, não é mesmo?

- Você não é isso, eu... – eu a interrompi e comecei a tocar.

- Tem gente que está do mesmo lado que você, mas deveria estar do lado de lá. Tem gente que machuca os outros, tem gente que não sabe amar. Tem gente enganando a gente, veja a nossa vida como está. Mas eu sei que um dia a gente aprende. Se você quiser alguém em quem confiar... Confie em si mesmo!

- Quem acredita sempre alcança! – continuou ela.

Então rimos um do outro e de toda aquela palhaçada. Da nossa voz feia. A minha rouca e a dela falhada.

Deixei o violão de lado e voltei à atenção para ela que agora parecia estar mais confiante.

- Nunca me contou que você tocava violão. – disse ela.

- Meu avô me ensinou quando ele estava vivo. Eu sei tocar apenas essa música e outras duas. Preciso voltar a tocar antes de esquecer como se faz isso.

- Você toca bem. Canta mal, mas toca bem. – ela riu e então eu sorri.

- ótimo, mas voltando ao ponto inicial, deve parar de duvidar de si mesma. A garota que eu conheci há um tempo atrás me disse que eu era mais que um marginalzinho que pichava muros e bebia vodca até tarde. E então eu decidi mudar. Por mim mesmo. Eu não quero terminar como um fardo pra ninguém, e eu estava me tornando isso.

- Isso é bom, Daniel. Muito bom. – concordou. – Mas comigo é diferente. Eu não consigo acreditar em mim mesma porque passo parte do meu tempo pensando no que as pessoas vão achar se eu fizer tal coisa de tal forma.

- Você tenta agradar as pessoas. Isso não é bom. Apenas uma pessoa no mundo deve acreditar em você... E essa pessoa é você mesma. E eu acredito que você consegue ganhar esse concurso. Acredito de verdade.

- E o que eu faço com o resto do mundo? As pessoas vão questionar, vão botar defeito em qualquer coisa, porque elas são assim!

- Manda o resto do mundo ir à merda. – disse a ela que depois riu. – você tem seu sonho aqui nessa pasta do computador. Isso pode te abrir portas, e eu não duvidaria muito de te ver na televisão daqui a algum tempo falando sobre esse momento, sobre agora! – insisti e a fiz sorrir novamente, e eu gostava disso.

- Tudo bem, eu vou enviar a história ao concurso. Eu vou terminá-la, mesmo que isso não me leve a nada.

- Mas, se quer um conselho de alguém que não costuma ser legal, você deveria mostrar isso a sua mãe. Ela tem que participar disso tanto quanto eu.

Diana ficou parada refletindo sobre o que eu acabara de falar.

- Você tem razão. Eu estou sendo egoísta demais com ela e com meu irmão. Eu menti pra eles. – ela passou as mãos na cabeça e então respirou fundo. – Mas eu acerto tudo.

Minha avó chega em casa e então cumprimenta Diana de forma eufórica, como se não a visse a muito tempo.

- Você quer comer querida? Eu posso fazer café e bolinhos. Você quer? – perguntou ela.

- Não dona Amélia, muito obrigada. Eu já estava indo. – respondeu Diana.

- Já? Tão cedo! – ela voltou a atenção para mim e gritou. – Daniel! Porque não me falou que ela viria aqui? Eu teria ficado e preparado alguma coisa.

- Dona Amélia, isso realmente é desnecessário. Não se preocupe. Eu só vim deixar uns trabalhos para ele. – afirmou Diana. – Agora eu preciso ir.

Ela recolheu as coisas sobre a mesa e eu a acompanhei até a porta.

***

Algumas horas depois, Catharina veio até a minha casa para uma espécie de DR (discussão de relacionamento), mesmo que não tivéssemos nenhum:

- Está ficando com aquela garota? – perguntou ela furiosa.

- Não, não estou. E mesmo que estivesse isso não é problema seu! – respondi.

- Daniel! Eu sei que disse que não iria forçar nada, mas eu ainda gosto de você! E não me agrada te ver perto dela, bem debaixo do meu nariz.

Eu segurei o rosto dela e pronunciei lentamente:

- Não temos nada e não teremos nada, Cathy!

Ela me empurrou e antes que eu pudesse continuar, ela começou a chorar.

- Não precisa me tratar assim! Eu fui sua melhor amiga, e agora não sou mais nada? Dan! Eu praticamente cresci com você! Eu conheço você! – exaltou ela.

- Mas as coisas mudam. E eu não sei se posso contar com você como uma amiga minha.

Ela se aproximou e segurou a minha mão.

- Mas eu só consigo confiar em você, Dan. Eu gosto de você. E eu percebo que algo está acontecendo com você e aquela sem sal. Teus olhos brilham por ela. Você sorri constantemente perto dela. Age de forma diferente perto dela. Comigo você é rude!

Eu me afastei e continuei em silêncio esperando que ela fosse embora porque Leandro estava prestes a chegar e iria questionar a presença dela ali.

- Dan, de verdade, eu não consigo sentir por ninguém o que eu sinto por você. E tá foda isso! Eu não quero sentir mais nada! Por mim, de verdade, eu espero que você e sua amiguinha se explodam! – ela saiu e bateu a porta com tanta força que até mesmo Salomão assustou-se.

Minha avó apareceu com uma xícara na mão, calçando pantufas e de macacão rosa. Eu sorri porque aquilo fez a tensão do momento passar.

- Tome, isso te acalmará. – disse ela enquanto me entregava a xícara de chá.

- Não, obrigado. Eu vou tomar banho e ir dormir. Isso basta.

**

No dia seguinte na escola, Catharina sentou-se no mesmo lugar de sempre, mas estava rodeada de amigas e fingiu não se importar comigo. Fui para o meu lugar e depois Diana chegou com Flávia, e ambas sentaram-se perto de mim.

Flávia me deu um simpático “bom-dia”, mas Diana apenas sorriu de onde estava.

- Bom dia, vamos começar logo a atividade de hoje. – disse a nossa professora de português, cujo nome eu esqueci. – Quero que vocês peguem algum trecho do livro que leram, os meninos tirem um trecho de “Dom Casmurro” e as meninas de “Brás Cubas”. Quero que interpretem. Vou chamar alguns alunos para defender aqui na frente

Eu abri o livro e busquei o trecho que mais gostei durante a leitura. Espero que ele não pareça estúpido demais, mesmo assim é o único que vou conseguir interpretar de forma correta.

- Vou começar a chamar... Aline? – chamou a professora, uma garota sentada bem na frente da sala.

A garota leu um trecho hediondo do livro. Não prestei muita atenção a interpretação dela, mas foi algo como “a morte serviu de inspiração para o escritor”, e isso foi muito, muito errado.

Depois de umas duas garotas, ela chamou Diana. Ela levantou-se e mal conseguia encarar as pessoas na sala. Ela era tão tímida e frágil. Como uma criança.

- Esse é o trecho que considerei mais interessante no livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas.” – ela fez uma pausa, olhou pra professora e então continuou. – “Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.”.

A professora a encarou:

- O que você interpreta desse trecho, Diana?

Diana refletiu por um tempo e então falou:

- Que estamos o tempo todo aprendendo algo novo nessa vida. Que nossos erros do passado servem como lições para os erros do presente. E um dia, quando morrermos, a única correção que teremos é a de não termos vivido aquilo que desejávamos viver. – ela respondeu e então todos na sala pareciam encarar um ser de outro planeta.

A professora sorriu orgulhosa e pediu que ela se sentasse. Fez algumas anotações do caderno e partiu para outras garotas.

Por fim, vieram os homens e eu fui o terceiro a ser chamado. Levei o livro e fui encarado por Catharina que depois desviou o olhar.

- Eu vou ler um trecho de “Dom casmurro”. – eu olhei para o resto da sala e então para Diana. Depois voltei para o livro. – “Dizem por ai, mas não tenho certeza, que meu sorriso fica mais feliz quando te vejo, dizem também que meus olhos brilham, dizem também que é amor, mas isso sim é certeza.”.

Quando finalmente terminei de ler, a primeira pessoa pra quem consegui olhar foi Diana, mas desviei porque aquilo estava se tornando vicioso.

- Então, Daniel. O que você entende desse trecho? – perguntou a professora.

- Que Bento amava Capitu, e isso era visível aos olhos das outras pessoas, e inegável a ele. – respondi.

- Muito bem, pode se sentar.

A aula continuou e eu procurei refletir o que havia falado.

Evitei qualquer tipo de olhar e contato com qualquer pessoa o resto da aula. Eu só queria ir pra casa e dormir um pouco. Esquecer o que eu poderia estar sentindo por ela... Não posso. Não devo. 


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