As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor. escrita por Yang


Capítulo 10
Um show de vizinha.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, fiquei sem internet.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/352699/chapter/10

#Narrado por Daniel#

Estou cansado e com muita dor de cabeça. De repente sinto um mal estar. Nem Leandro e nem a minha avó estão em casa. Ele saiu para o trabalho e ela foi para o clube de costura. Talvez o motivo dessa dor de cabeça seja a quantidade de bebidas que tomei noite passada. Ou então a discussão sem cabimento com aquela garota irritante. Ou talvez sejam os dois.

É a segunda vez seguida que essa garota me tira do sério. Pensei que tivesse deixado bem claro que não quero me “enturmar” com ela. A parte engraçada de toda a história foi Catharina me pedindo para contar detalhe por detalhe das coisas que disse a ela. Tenho certeza que ela não gosta da Diana, e ainda não entendi bem o porquê, afinal elas nunca trocaram uma palavra.

Mas, isso não importa. Eu só quero fechar os olhos e tentar dormir. Ainda tenho que procurar a droga do livro de matemática. Amanhã tem aula com aquela professora e eu não quero fazer dupla com Diana novamente.

Meu celular toca. Salomão começa a latir pensando ser alguém chamando no portão.

– Calado Salomão! – Grito pra ele que continua a latir, querendo sair do quarto.

Ele arranha a porta. Me levanto sem saber o que fazer primeiro: atender o celular ou abrir a porta para ele. Escolho a segunda opção porque, em certo momento, minha cabeça parecia que ia explodir de tanta dor.

Ele corre para a porta de entrada e eu procuro meu celular na cama. Quando consigo encontrá-lo ele para de tocar.

– Que merda! – Grito.

– Epa! Que boca suja é essa Daniel? – Diz minha avó na porta do quarto.

– Nada, só não consegui atender ao telefone a tempo.

– Hum. – Diz ela enquanto estende o braço segurando uma sacola de compras. – Guarde as compras para mim, por favor. Vou tomar banho e então preparo nosso almoço.

Sigo para a cozinha e começo a guardar as coisas nos armários e na geladeira. Assim que ela sai do banheiro, percebe que eu não estou bem.

– Daniel, aconteceu alguma coisa? – Pergunta.

Estou tentando ao máximo não rir, mas é meio difícil quando sua avó está usando um macacão de banho com estampa de oncinha e uma pantufa que parece dois coelhos mortos. E ainda com bobs na cabeça. Não acredito que não estou rindo disso.

– Só estou com muita, muita dor de cabeça. – Respondo a ela.

– Não vai ficar zangado, mas eu acredito que tem menina nessa história. – diz ela.

Eu a encaro sem expressão porque a minha avó, por mais estranha e inconveniente que seja, sempre tem razão.

– Tem sim, mas não no sentido que a senhora espera.

– E em que sentido eu espero?

– Como namorada ou coisa parecida. – Respondo enquanto me sento à mesa. Coloco as mãos na cabeça. Ela não para de doer.

– Hum, e em que sentido essa garota está na sua dor de cabeça? – Pergunta.

Minha avó era uma das poucas pessoas em quem eu podia confiar. Minha melhor amiga. Sabia que o que ela falasse pra mim seria o certo a ser feito. Então, contei a ela toda a história, parte por parte, e ela indagou.

– Essa garota está certa, Daniel! Você foi um idiota mesmo.

Eu mal acredito no que ela está me dizendo. Minha própria avó concorda com uma estranha que eu sou um idiota.

– Obrigado dona Amélia. – digo a ela ironicamente.

– Daniel, preste atenção! A garota só tentou ser sua amiga, e veja como você a tratou! Sabia que seu pai tratava as namoradas dele desse mesmo jeito? E veja hoje... – Ela fez uma pausa, parecia se lembrar de algo. – hoje, está sozinho.

– Mas a diferença é que meu pai é um alcoólatra... – fiz uma pausa porque lembrei a noite anterior. Engoli a seco as palavras porque minha avó me olhou repreendendo. Ela sabia que eu bebia. – e essa garota não é minha namorada.

– Mas você não deve tratar as pessoas bem só porque elas significam algo pra você. Eu sou sua avó, certo? – eu assenti com a cabeça. – e eu sou idosa também. Se eu lhe perguntar as horas agora, você vai me responder, não é?

– É. – Disse a ela.

– E se uma senhora idosa na rua lhe perguntar as horas ou lhe cumprimentar. Você vai mandá-la ir a merda ou vai lhe dizer as horas?

– Assim é diferente...

– Não meu querido, não é. E a coisa mais certa que você pode fazer agora é pedir desculpas a essa garota. As pessoas tem sentimentos e eu creio que ela deva ter ficado muito magoada pela forma como você a tratou.

– Mas ela me tratou mal também.

– As pessoas estão acostumadas a jogar as pedras de volta em quem lhes atira. E esquecem que com essas pedras podem construir um forte e evitar serem machucadas novamente.

Eu compreendia exatamente o que ela havia falado, mas se pedisse desculpa a Diana, ela iria ficar achando que tem moral sobre mim.

– Não sei se devo pedir desculpas...

– Mais é claro! E se não pedir, eu mesma falo com essa garota. Você tem que começar a aprender como tratar as garotas, ou vai acabar um velho sozinho.

Decidi mudar de assunto. Não queria mais comentar sobre isso.

– Como foi no clube de costura hoje? – Perguntei.

E então ela desandou a falar. Falou sobre como fazer vestidos, e como se conserta o feixe da calça. Prometeu que iria consertar as minhas quando tivesse tempo. O pior é que ela conta “falta de tempo” quando precisa dormir e assistir televisão.

Almoçamos e ela ainda não parava de falar da aula de costura. E de como já havia aprendido muito mais coisa.

Pensei que ela tivesse esquecido o assunto sobre pedir desculpas a Diana. Mas enquanto eu estava lavando as louças, ela tocou no meu ombro e disse:

– Não se esqueça de se redimir com a garota. Não sabemos quando vamos precisar perdoar ou quando vamos precisar de perdão.

– Mas, perdoar é um dom. – Disse sem olhar pra ela.

– É um dom que todos nós temos. – Ela saiu da cozinha e se dirigiu ao quarto. Eu fiquei ali, parado. Precisava decidir o que fazer e o que falar para Diana. Não sei se devo pedir desculpa. Eu nunca pedi perdão de ninguém! Só da minha avó mesmo.

Guardo as louças nos armários e sigo para a sala. Procuro algum programa na televisão que me tire do tédio. Vejo séries de investigação, documentários, novelas, um comercial de comida pra cachorro, um canal de músicas, um comercial sobre sapatos femininos e estou tentando entender como uma mulher consegue andar com um troço desses, jornal da tarde, desenhos, mais desenhos, outro comercial que fala sobre um novo detergente. Acabo de perceber que ligar a televisão me deixou com mais tédio ainda.

Lembro-me da noite anterior e de como me surpreendi com Diana naquele beco. Penso que talvez ela more ali próximo. E talvez eu possa pedir desculpas a ela, estando somente eu e ela. Sem mais ninguém, porque sinceramente, não quero que me vejam pedir desculpas a uma garota.

Pensando bem, se eu for até lá e encontrá-la apenas para pedir desculpa, ela vai acreditar que tem algum tipo de moral sobre mim. Então não. Vou ficar na minha, e amanhã eu encontro uma oportunidade de fazer isso ou não.

Meu celular toca, é uma mensagem. Catharina.

Boa noite rapaz, tudo bom?

No final da mensagem tem um coraçãozinho muito gay, feito com o sinal de maio/menor, e o número três. Não sei quem foi o grande gênio que inventou essa merda.

Boa noite, Cathy. Eu vou bem, e você?”

Cathy é o apelido dela desde que eu a conheço. Nós estudamos juntos em outra escola por quatro anos. Ela é muito amiga do Renan, e sinto que Felipe tem uma queda por ela. Eu saí da outra escola depois de “caluniar” a professora de história. Vim pra essa outra escola e conheci Felipe e Renan que já conheciam a Catharina. Daí você percebe que esse mundo é um ovo. Meses depois ela e a família mudaram-se para a minha rua. Eu não costumo conversar com ela por mensagem. E admito que ultimamente ela tem andado estranha comigo. Não do tipo de garota que quer a minha morte, como a Diana. Pelo contrário, ela anda se preocupando demais com a minha vida.

estou ótima, melhor agora. Tem falado com os garotos?”

“eu me encontrei com eles ontem.”

“poxa, nem convidam né?”

“desculpa, era uma coisa só para garotos...”

“tudo bem relaxa. E hoje, podemos fazer alguma coisa entre dois melhores amigos?”

De onde ela tirou essa ideia de que somos melhores amigos?

não sei, eu não tenho dinheiro.”

A outra mensagem dela foram umas mil gargalhadas.

o que tem de engraçado nisso?

eu só quero conversar com você, não creio que precise de dinheiro pra isso.”

tudo bem então, quer que eu passe aí na sua casa?

seria ótimo!

Toco a campainha. Ela abre a porta. Ela está usando uma blusa branca de alça curta e um short mais curto que a alça. E eu não sei por que estou reparando nisso, mas o sutiã dela é de bolinha coloridas. E estou com medo dela perceber que estou olhando para os seios dela.

– Entra Daniel! – diz ela.

Eu nunca tinha ido a casa dela. É grande e muito bonita. Não sei se a família dela é rica ou coisa parecida, mas... ual! Uma televisão de LCD 46’.

– Nossa! Tevê grande. – Digo a ela.

– É sim. Quer assistir alguma coisa? – pergunta.

– Não, obrigada. – respondo. – E então, sobre o que quer conversar?

Ela solta um leve riso e depois revira os olhos. Deve estar me achando um babaca total.

– Nós não conversamos há um bom tempo. Vamos por o assunto em dia. Senta aí. – diz ela apontando para o sofá.

Eu me sento no sofá que é mais confortável que a minha cama. Ela me olha de um jeito muito meigo, como se quisesse alguma coisa. E admito que com aqueles olhos ela deve sempre conseguir o que quer.

– então, como foi ontem com os garotos? – pergunta.

– foi muito legal. Pichamos muros, bebemos e os garotos fumaram perto de mim o tempo todo, então posso dizer que fumei também.

Ela sorri. Eu olho em volta e percebo que os pais dela ainda não apareceram enquanto estou ali. Ela percebe meu ar de preocupação.

– meus pais não estão em casa, Daniel. – Diz ela. – e não vão voltar tão cedo, te garanto. Agora, continue.

– continue o que? – pergunto.

Ela se curva e faz o inacreditável: me beija. Um beijo de verdade! Com direito a língua e tudo mais que você pode imaginar. Mas não foi um beijo daqueles grudentos e sem graça. Foi ótimo. O melhor até agora. Nos olhamos e ela começa a sorrir. É como se tivesse conseguido o que queria. E eu ainda não sabia o que fazer.

– Algum problema? – pergunta ela.

– Não, nenhum.

Continuamos nos beijando até que eu parei. Precisava ir embora e não estava seguro de que os pais dela não fossem chegar logo.

– até amanhã, Daniel!

Por mais estranho que pareça, foram apenas beijos e eu não queria levar isso a outro nível. Foram apenas beijos, e em nenhum deles senti alguma coisa realmente boa além de atração. Ela é linda. Mas eu não consigo gostar dela de outra forma além de uma amiga ou vizinha. E eu espero que isso não aconteça de novo. Felipe vai me matar.

São dez horas da noite. Estou sem sono e ainda pensando no que está acontecendo, mas por incrível que pareça estou mais concentrado no meu pedido de desculpas a Diana. Essa garota virou um peso na minha consciência.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Nem Um Pouco Felizes Histórias De Amor." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.