Não Chore Esta Noite escrita por AnaMM


Capítulo 43
Um dia após o outro, culpa em todos.


Notas iniciais do capítulo

VOLTEI BRASIL!!!!! Ufa!!! Essa vida de universitária e de não conseguir focar em uma só coisa.... Os atrasos são sempre bons pra uma coisa: descobrir música nova.

https://www.youtube.com/watch?v=duaGQRtESyU Um Dia Após O Outro, Tiago Iorc.

Afinal, as peças vão voltar pra mesma caixa no final do jogo....



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Os dias seguintes se passaram com certa lentidão. Ainda em conflito com Juliana, não era raro que Lia acabasse buscando consolo no quarto de Dinho, no hospital. Não haviam se beijado desde aquele dia. A culpa era um dos assuntos de seus encontros. A culpa e a verdade. Uma única verdade que Lia se permitia dividir com Adriano, embora o tanto que passava com ele diariamente fosse veementemente omitido do resto do mundo. Não tinha pretendido dividir tanta informação com Dinho, simplesmente acontecera. Fora por conta própria que Adriano concluíra que tudo aquilo que Ju lhe dizia tinha as palavras de Lia por trás. Que era com Lia que ele tanto combinara, que era ela que sonhava em conhecer tantos lugares quanto ele, que era a loira, e não a morena, que sabia quando e como Juliana deveria se aproximar para conquistá-lo, sobre o que conversar. A verdade simplesmente fluíra em algumas tentativas do garoto de acalmá-la em relação a Raquel, cuja história, agora, conhecia em detalhes. Também foi sozinho que percebera que Lia escondia os braços, e que estes estavam recebendo toda sua raiva em relação a Raquel. Fora seu novo hábito de segurar a mão calejada pela guitarra que lhe permitira desvelar o que o casaco em excesso temia esconder. A garota hesitara, a princípio, porém, por algum motivo irônico, aquele quarto de hotel lhe parecia seguro, como se os protegesse do resto do mundo. De tal forma que, tão logo Dinho recebera alta, não a encontrou mais. Via Lorenzo algumas vezes por semana, para pequenos check-ups em casa. Estava de cama e de cadeira de rodas, tampouco podendo visitá-la. Ju lhe havia visitado mais que Lia. Embora estivessem praticamente terminados, a melhor amiga de Lia insistia em trazer-lhe os deveres e as lições, para alegria de Alice. Passou-se uma semana com Lia, uma sem, e o silêncio de seu quarto gritava pela roqueira.

Lia e Ju haviam se entendido, embora a amizade estivesse fragilizada. A versão contada a Juliana era que Lia não via Dinho desde a volta do acampamento, e que só sabia dele porque o pai comentava eventualmente. Isso a tranquilizava, embora não tivesse certeza de que podia confiar na palavra da melhor amiga. Estava na casa dos Martins mais uma vez, em volta do computador da roqueira, com Tatá em volta, tentando maquiá-las.

— Lia, volta aqui! Eu não acabei! – A caçula demandou, tentando recuperar a atenção da irmã mais velha, que escapara de seus blushes e batons para checar as redes sociais.

— Me erra, pirralha! – Respondeu rispidamente. – Era só o que me faltava... – Bufou para o computador.

— Não é pra tanto, vai, Lia, você tava se divertindo! – Juliana debochou.

— Não é isso, Ju, é o Orelha com vídeo novo... Aí tem... – Respondeu preocupada.

— Ih... Ele voltou, é?

— Sim, depois de uma semana sem postar nada. Esse vídeo não vai prestar...

— Ah, Lia, vai ver ele tava muito preocupado com o Dinho e não tava no clima de postar... Deixa eu ver isso aqui. – Juliana fez as honras de abrir o vídeo novo, sem desconfiar que pudesse não gostar do que viria.

Se soubesse que o vídeo ressuscitaria os fantasmas do acampamento, jamais teria tido coragem de assisti-lo, mas tinham voltado há tanto tempo do acampamento, e Orelha já tinha feito um vídeo sobre a saúde do melhor amigo, talvez aquele já fosse o vídeo sobre o acampamento. Aparentemente, a alta do melhor amigo enfim permitira que Orelha postasse seu tão bem guardado vídeo de melhores momentos do acampamento... Como deveria ser de se esperar, Lia e Dinho eram o grande destaque do vídeo. Isso, claro, sem que o showzinho de Lia de biquíni fosse ignorado pela edição. O pior, no entanto, estava guardado para o fim da montagem: uma enquete, uma maldita enquete que infernizaria as amigas por um bom tempo. Orelha estava na metade das opções quando um aviso vibrou na tela. Uma chamada de vídeo que Lia fez questão de responder sem nem ler de quem era, só para fugir de saber qual era a opção “d”.

— Lia? Você tá... diferente. – Adriano se surpreendeu do outro lado da tela. Mil adjetivos haviam passado por sua cabeça, mas, felizmente, estava em controle suficiente para escolher o menos comprometedor.

— É, a Tatá, ela... Bom, ela e a Ju meio que me fizeram de cobaia aqui... Dá oi, Ju. – Lia incentivou, na esperança de que Dinho não falasse nada que entregasse a proximidade recente de ambos, ou o que havia passado no acampamento. – Você tá melhor? – Perguntou controlando o tom da voz.

— Até que tô... Tá meio entediante ficar trancado no quarto, mas tô vivo. – Dinho deixou escapar um riso desanimado. – E você?

— Melhor que você. – Provocou.

— Então não tem desculpa pra não vir me visitar! Você me abandonou, Lia!

— Engraçadinho. Eu estive ocupada, só isso.

— Aham, sei. Se o problema é a Ju, ela vai entender, não é, Ju? Ela me contou que vocês fizeram as pazes.

— Ela vai, sim, Dinho, nem que eu vá junto pra garantir! – Tatá se intrometeu. – Lia, ele tá lá agonizando, é falta de educação não visitar!

— Deixa de ser dramática, pirralha, ele nem tá tão mal assim.

Em resposta, Dinho fingiu perder a respiração.

— Tá bom, moleque, eu vou te visitar! Tudo bem com você, Ju?

— Quem tem que estar bem com isso são vocês, Lia. Eu não tenho nada que ver com isso. – Ju respondeu com certo pesar.

— Então fechou! Você não tem escolha, marrentinha, vai ter que vir aqui cuidar do manco.

— Eu queria deixar bem claro que isso é assédio moral, e que eu só vou por educação.

— Valeu, eu pensei que a gente fosse amigo...

— Vai sonhando, garoto.

Apesar da tentativa de parecer incomodada, Lia não conseguiu segurar o riso, que não passou despercebido por Tatá. Por sorte, uma vez na vida, a caçula se absteve de comentar.

— O Dinho liga com frequência? – Ju perguntou, falhando em parecer despreocupada.

— Ju, qual é? A gente se perdeu junto, é normal ele ligar de vez em quando pra saber como eu tô. Até porque eu salvei a vida dele, né...

— Sei...

— Ju, relaxa, vai. Quantas vezes eu vou ter que repetir que nada aconteceu entre a gente?

— Quantas forem necessárias pra você mentir melhor.

— Ju... – Lia revirou os olhos, apesar da preocupação.

— Bom, já tá tarde, amanhã a gente se fala.

— Lia, pra mim você pode falar. Não rolou nada, mesmo? – Tatá perguntou receosa assim que escutou a porta da frente do apartamento se fechar.

— Até você, Tatá? – Lia bufou frustrada.

—x-

Como esperado, o dia no Quadrante começou em polvorosa. Todos cercavam Orelha, opinando sobre a enquete.

— Chegou quem faltava! Aí, Ju, todo mundo já votou! Qual vai ser? Bitoquinhas na selva, loucuras de amor à luz da lua, campeonato de par ou ímpar, festa na floresta com direito ao que não presta ou todas as anteriores?

— Vai à merda, Orelha!

— Ah, eu vou, mas não sem você me responder o que rolou naquele matinho, dona Lia! Eu tava pensando em fazer um bolão com a enquete, daí você me diz o que rolou e a gente divide a grana com os vencedores.

Lia fez o possível para ignorá-lo. Seria um longo dia. De longe, ainda ouviu algumas opções sendo respondidas. Loucuras de amor à luz da lua parecia ser um favorito dos estudantes. Cada vez que o assunto começava a morrer, Fatinha parecia fazer questão de ressuscitá-lo.

— Fala sério, Lia, vocês tavam sozinhos, no meio do nada, me engana que eu gosto!

— Aí, quer saber? Cansei! Eu quase morri naquela mata e vocês ficam botando pilha errada!

Por sorte, Leandro liberou sua saída da sala. Não aguentaria mais um segundo como atriz central daquele circo. Infelizmente, não estava a sós com sua consciência. Juliana, logo quem menos queria ver naquele momento, a seguira, como a velha melhor amiga que era, de volta ao posto.

— Ju, acredita em mim, cara, não aconteceu nada no acampamento. – Implorou assim que alcançada pela amiga.

— Eu acredito em você, Lia.

Um misto de culpa e alívio confundia a roqueira.

— Se depender de mim, eu não vou fazer nada pra te magoar, nunca.

— Eu sei... Só que as coisas às vezes acontecem independente do que a gente queira, sabe...

Juliana não admitiria, mas notara a reação de Lia à ligação de Dinho. Notara que a melhor amiga andava nervosa demais, mesmo depois de retomada a amizade. Notara, também, a forma como Dinho a olhara na vídeo-chamada e como Lia ficava mais nervosa que o normal ao falar sobre o acampamento. Que sua voz titubeava cada vez que a amiga tentava se defender de acusações acerca daquela noite. Que, se fossem mesmo só amigos, Lia não recearia visitar Adriano. A reação da loira naquele exato momento tampouco parecia contradizer as conclusões de Juliana.

— Que que cê tá dizendo?

As mãos trêmulas, grudadas uma na outra, as mangas compridas demais para o comprimento de seus braços quase encostando nas unhas de esmalte descascado, o olhar sem vida... Juliana conhecia essa reação de Lia como ninguém. Não queria vê-la assim, mas precisava continuar. Precisava arrancar de Lia uma faísca de verdade que fosse.

— Tô falando de sentimento, Lia. – Explicou com calma, aproximando-se da amiga e apontando para seu coração. – Tem coisas que a gente não pode controlar.

Afastou-se para dentro do banheiro. Sabia que precisava deixar a loira sozinha com o questionamento. Lia nunca fora especialista em sentimentos e precisava aceitá-los de alguma forma, nem que fosse acreditando estar sozinha naquele corredor. Talvez, se não tivesse testemunhas, a roqueira se sentiria segura o suficiente para cogitar o que Juliana havia deixado subentendido. Sua melhor amiga, no entanto, ainda era Lia Martins, e Lia Martins nunca ficava quieta diante da acusação de que tinha sentimentos, principalmente românticos, acima de tudo quando por um certo Adriano Costa que ela dizia odiar. Não, Lia não ficaria calada. Adentrou o banheiro feminino como um furacão.

— Ju, presta bem atenção no que eu vou te falar. Eu não posso falar pelos outros, mas se tem uma coisa que eu sei fazer muito bem é controlar meus sentimentos.

Juliana riu. Seria possível? Lia Martins, ainda que indiretamente, finalmente admitindo que sentia algo por Dinho. Se bem conhecia Lia, no entanto, a roqueira estava tão imersa em culpa que sequer percebera admitir o que sentia.

— Tá vendo, Lia? Até você tá concordando comigo... Você tá afim do Dinho, cê só não fica com ele por minha causa!

Touché. Silêncio.

— Quer saber? Se é isso que te impede, eu nem sei se nós ainda estamos juntos, nem se eu quero continuar isso quando claramente tem algo rolando entre vocês. Se é por minha causa que você não quer aceitar o que sente pelo Dinho, Lia, eu saio do caminho de vocês.

— Ju, não é isso! Eu não sinto nada pelo Dinho, pelo amor de deus, você tem que entender isso! Eu não quero, nunca quis, nem vou querer nada com ele, é você que gosta dele e não eu! Ju! Ju, por favor!

— Ou talvez, Lia, você tenha tanto medo de viver isso que tá sentindo que acaba me usando como álibi, pra não precisar se abrir com mais alguém, pra não precisar temer rejeição.

— Ju, é sério. Eu me expressei errado, ok? Eu quis dizer que, caso eu sentisse algo, não seria um problema, que eu sei me controlar. Eu não gosto do Dinho, a gente é amigo.

— Então me prova, Lia. Se vocês são amigos, mesmo, por que você tem tanto medo de visitar o Dinho?

— Não é óbvio? Se com uma enquete você fica assim, suspeitando da gente, imagina se souber que nós vamos ficar sozinhos no quarto dele?

— Com motivo?

— Claro que não!

— Então vai lá, Lia. Eu estou confiando na nossa amizade e nessa tal amizade de vocês. Assim que a gente sair do Quadrante, a gente vai até o apartamento dele e você vai visitar o Dinho. – Juliana a desafiou. Se Lia ia continuar negando o que sentia, que soubesse realmente conviver com isso.


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Notas finais do capítulo

Menos comprido não seria justo. E vamos que vamos, que não posso deixar cair no limbo de novo.