Não Chore Esta Noite escrita por AnaMM


Capítulo 38
Perdidos


Notas iniciais do capítulo

OPA!!! Ia postar ontem, com 2000 palavras, mas resolvi adiantar logo as cenas seguintes ainda nesse capítulo, e aqui está. Tudo por um cliffhanger(irônico....) ;)

Trilha:
https://www.youtube.com/watch?v=EaluTQVktQc - acordando, segunda parte da música
https://www.youtube.com/watch?v=GHChUQJ2BUw - discussões ju/lia/dinho
https://www.youtube.com/watch?v=Jv5nzHmi96Y
https://www.youtube.com/watch?v=zDdFf_GYi7A
http://www.vagalume.com.br/ashlee-simpson/smart-in-a-stupid-way-traducao.html
https://www.youtube.com/watch?v=LlefHgF0kPA - mata
http://letras.mus.br/aquilo/you-there/traducao.html



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/352146/chapter/38

A luz do dia banhou as barracas, acordando os adolescentes. Lia estranhou ao acordar sobre uma superfície inesperada. Não poderia dizer desconhecida, já havia sentido aqueles batimentos sob seus ouvidos, ainda que não conseguisse se lembrar de quando. Abriu os olhos lentamente, encontrando-se sobre o que parecia ser uma camiseta branca. Não demorou a ver o braço que a segurava, a mão de dedos longos segurando seu corpo em um semiabraço. Subiu o olhar, hesitante. Aquele queixo, de barba ainda por nascer, e ar sereno, os longos cílios, os cachos... Os cachos! Levantou-se bruscamente, levando a mão à cabeça.

– Merda, merda, merda... – Murmurava agoniada.

Traía sua melhor amiga inconscientemente, não podia se descuidar sequer ao dormir. Por que seus corpos sempre acabavam juntos? Era a segunda vez que acordava com a cabeça deitada sobre o peito de Dinho, e sentia uma tranquilidade condenável de estar em paz consigo mesma, tranquila, feliz. Dormia melhor quando estava com ele, sem pesadelos, apenas a respiração de Adriano marcando o compasso calmo de seus sonhos. Por que, então, acordava tão agitada? E como conseguia dormir de forma tão despreocupada sobre o peito do namorado de sua melhor amiga? A realidade pesava sobre sua consciência. Era uma péssima amiga, uma traíra, não merecia a confiança de Ju. E se, algum dia, ficasse bêbada na presença de Dinho? Por quantos milésimos de segundo resistiria? Brigar com Dinho, mais que um hábito, mais que uma consequência natural do encontro de personalidades conflitantes, era uma necessidade. Precisava afastá-lo sempre, como fosse. Alguns minutos de paz, e os astros os juntavam de novo. Próximos demais, sempre próximos demais.

– Lia? – Perguntou sonolento, recém abrindo os olhos. – Que foi? – Perguntou ao notar o pavor na expressão da roqueira.

– Nada, Dinho, é esse seu bafo matinal.

– Tava prestando muita atenção à minha boca, marrentinha? – Cobrou com um sorriso debochado, ainda que cansado.

– Não, é que o cheiro tomou conta, mesmo.

– Talvez você estivesse próxima demais...

– Nem cheguei perto. – Respondeu rapidamente.

– Se você diz. Deve ter sido um espírito, então, que me agarrou à noite. – Concluiu com um virar de ombros.

– Que te agarrou? Você que me segurou a noite toda!

Dinho sorriu com a confissão. Havia percebido que Lia o agarrara durante um pesadelo. Pelo resto da noite, não ouviu mais nada, apenas a respiração tranquila da garota. Como seu braço havia chegado a ela, não sabia, ou não admitiria. Instinto de proteção, diria.

– Opa! Eu ouvi “agarração”? – Fatinha exclamou de fora da barraca.

– Cala a boca, Fatinha! – Responderam em uníssono, ainda de dentro de seu “quarto”.

Dinho tirou a camiseta rapidamente, procurando por outra, e em seguida a bermuda.

– Que isso?! Tá maluco?! – Lia exclamou em choque.

– Iiiiiih... – Exclamaram do lado de fora, sem entender nada, apenas desconfiando.

– Lia, foi mal, mas eu não vou passar o dia de pijama.

– E precisa ficar nu na minha frente?? – Perguntou um tanto alto demais.

– Que que é isso?! Tá quente aí, hein! – Fatinha gritou.

– Aaaah, moleque! Esse aí não perde tempo! – Pilha comemorou.

– Esse é o meu garoto! Marca esse gol, pegador! – Orelha se juntou ao coro.

– Aproveita, Lia!!! – Fatinha continuou. – Se joga!! Uhuul!!

– Hoje tem, hein!! – Pepê se pronunciou.

Juliana tentou acordar novamente, talvez ainda estivesse dormindo, tendo um pesadelo. Respirou aliviada ao ver Adriano sair da barraca vestido, ainda arrumando a camiseta, e com os tênis na mão.

– Rapidinhos, hein? – Orelha comentou por detrás de sua câmera.

– Não enche, Orelha, eu só estava me vestindo.

– Com a Lia do lado... Sei... Aliás, por que você não ficou lá, panacão? Tá perdendo a Lia só de calcinha e sutiã, e todos sabemos que é uma delicinha... – O nerd completou.

– Olha o respeito com a Lia. – Dinho repreendeu o amigo.

– Iiih... Já tá apaixonado, é? Já tá assim?

– Cala a boca, Orelha, por favor.

Com a cabeça doendo pelo peso de sua consciência, Lia deixou a barraca. Já vestida, com a roupa levemente amassada pelo pouco espaço que havia tido para se trocar, levou a mão à cabeça, bagunçando seus fios loiros. Expirou.

– Tão olhando o que? – Cobrou irritada, caminhando enfurecida em direção ao resto do grupo.

– Dormiu bem? – Juliana perguntou sarcástica.

A roqueira bufou.

– E aí, Lia, como é o Dinho na cama? – Fatinha perguntou às suas costas.

Ignorou. Tentou se concentrar em Ju, em vão. Podia perceber que a amiga não estava disposta a conversar, nem a entendê-la, não por enquanto, mas precisava falar. Não aguentaria mais um segundo daquele circo sem o apoio de Juliana.

– Você não vai acreditar no que esses idiotas dizem, né? – Lia ironizou hesitante.

– E no que vocês dizem? – Ju perguntou depois de um tempo, com medo de ouvir a resposta.

– Ju, qual é, você sabe que é tudo provocação entre eu e o Dinho... O que a gente falou ontem foi só... Foi só a nossa implicância de sempre, você não ouviu o que ele disse? Ele está gostando de você. – Tentou sorrir, o gosto amargo em sua boca a impedindo. Não queria entender o motivo pelo qual, de tudo o que gritaram um para o outro, o que Dinho falara sobre gostar de verdade de Juliana havia permanecido com maior força em sua mente, ferindo-a aos poucos, com pequenas punhaladas a cada letra da confissão.

– Eu ouvi, e você?

– Eu o que? – Perguntou confusa. Perguntava-se se sua fragilidade frente à situação já estava aparente.

– Você aceita que ele goste de mim? Ou você realmente gosta do Dinho, e tem ciúme do que a gente tem?

– Ju, de onde você tirou isso? – Seu riso saiu falho.

– E ele gosta de outra... E você sabe quem é.

– Ele gosta de você, não ouviu?

– Ouvi, sim, ouvi bem. Sendo mais específica, se não me engano, ele quis dizer que está gostando de mim, apesar de ser apaixonado por outra pessoa. Quem é essa outra pessoa? É você, não é? Claro... Se eu estava virando você pra conquistar o Dinho, e você sabe por quem ele é realmente apaixonado, então... – Riu sarcasticamente. – Como eu pude ser tão idiota? E você sempre soube...

– Ju, me escuta, a gente não tava falando coisa com coisa, a gente só tava se implicando, só isso! – Tentou explicar com a voz falha.

– Vocês sabem muito bem como provocar o outro... Parecia que iam se matar.

– Ju, por favor, não é bem assim... Não tem nenhum motivo pra você ficar buscando conclusões, ele gosta de você! – Outro golpe. As palavras apunhalavam sua garganta.

– Lia, chega. – Dinho interrompeu. Seus braços, cruzados.

Ju encarou o garoto, entre Adriano e a roqueira.

– Você está certa, Ju, eu gosto de outra, sempre gostei.

Assustada, Lia fez sinal para que se calasse, em vão.

– Sabia!

– Eu não fui completamente sincero com você desde o começo, deveria. A verdade é que eu gosto de verdade de alguém de quem eu não deveria gostar, por isso escondi.

Lia traçou uma linha reta contra seu pescoço, para que Adriano interrompesse sua confissão. Implorou em silêncio, levando as mãos à cabeça, preparando-se para o baque.

– É a Lia, não é? – Ju questionou hesitante.

Dinho preparou as palavras certas. Um simples “sim” não seria suficiente. De fato, sequer tinha certeza se sua coragem e sua sinceridade eram suficientes para admitir em voz alta o que sentia, mas não aguentava mais ver a garota mentir para a melhor amiga. Detestava isso em Lia. Mais ainda, desprezava-se por ser o motivo.

– A verdade é que eu...

Um apito. Robson. Lia respirou aliviada, Dinho segurou as palavras.

– Mas será possível? Outra briga? Ai, ai, ai, meus amores! Pode isso, professor Cezar?

– Pode, Robson! – Orelha respondeu de onde estava. – Pode continuar que é sempre bom ter eles suprindo a falta de televisão daqui! Ah, se eu tivesse gravado...

– Vocês podem repetir, por favor? O professor Cezar tava nos orientando sobre a comida do acampamento e a gente perdeu... – Fatinha provocou.

– Chega! Vamos começar as atividades! Dinho, Lia, vocês seguem de dupla, não pensem que vão escapar. Vai ser assim ate vocês dois se entenderem! – Cezar ordenou.

– Se entenderem em que sentido, professor? – Fatinha perguntou inocentemente.

– Sem brigas! – O biólogo completou, ignorando a provocação da funkeira.

Ao som de assobios e de reclamações quanto às tarefas, Cezar organizou o grupo em duplas, direcionando metade para a praia, metade para a mata. Acompanhou os da praia, deixando as instruções com Robson. Lia e Dinho, pela primeira vez em consenso, haviam optado pela mata. Robson observou a dupla, como parte importantíssima de seu dever. Tentando se evitar, cada um estava de um lado da clareira. Lia ao seu lado, Adriano andando na corda bamba.

– Menina Lia, por que você não está com os meninos se divertindo?

– E tem como, Robson? – Perguntou irritada.

– Ai, ai, vocês dois... Quando a implicância é muita, o santo desconfia!

– A gente não tem nada, Robson. Até você, agora? – Respondeu irritada, afastando-se do inspetor em direção ao slackline.

Qualquer coisa era melhor que ter que ouvir sobre como havia deixado na cara que havia algo entre ela e Dinho. Até o ângulo com que o sol batia nos cachos do garoto a irritava. Sua risada, sua pretensão sobre a corda. Seus admiradores aplaudindo cada bobagem que falava... Empurrou-o antes que pudesse perceber.

– Qual foi, marrentinha? – Cobrou irritado.

– Você pode parar de agir como um palhaço, como se nada tivesse acontecido?

– Assim você me confunde! Pensei que você quisesse me ignorar. – Respondeu debochado.

– Cala a boca! – Retrucou irritada. – Anda, você vai me ajudar a fazer as pazes com a Juliana.

– Hein?

– Isso mesmo que você ouviu. Você fez a gente brigar, você me ajuda a consertar o que você fez.

– O que eu fiz? Lia, a única culpada aqui é você! Qual foi, que mania é essa de sempre querer intervir na vida dos outros? Nem eu sou seu marionete, nem a Ju!

– O que você quer dizer com isso? – Cobrou irritada.

– Lia, você quer nos controlar, você se mete em tudo que ela faz! Primeiro, você mandou ela mentir pra mim. Depois você queria que ela desistisse. Depois você me ordenou que voltasse com ela. Por último, você ditou os meus sentimentos e, não satisfeita, tá me mandando consertar a merda que você fez? Deve ser algum complexo... É a falta da figura materna que faz você querer controlar os outros? – Perguntou irônico. – Vem cá, por que você não vai cuidar da sua vida, que pelo que eu saiba tá uma zona?

Furiosa, Lia lutava internamente entre tentar esconder sua dor com a lembrança da mãe e tentar responder à altura, sem resultados. Palavras passavam correndo, ignorando suas tentativas de capturá-las. Sequer tinha voz para responder, engolida pelo nó em sua garganta, mas não podia deixar assim.

– Do que você tá falando, garoto? – Cobrou com a voz falha, porém forte. – Você é a última pessoa do mundo que pode falar da minha vida!

– Mas você pode falar da vida de todo mundo, né?! – Respondeu sarcástico. – Eu acho muito estranho você estar aqui, enquanto a sua mãe, que você não vê há séculos, está voltando de viagem!

– Cala a boca! – Respondeu com a força que conseguia, temendo que sua voz entregasse as lágrimas que surgiam no canto de seus olhos. – CALA A BOCA! – Tentou se controlar. – Aí, Dinho, vou te falar. Eu nunca fui com a sua cara, e agora eu vejo que tava certa. Você é um idiota, metido!

– Eu que sou metaido? Ah, Lia, pelo amor de deus, se enxerga, você que é marrenta! Você tá louca! – Gritou.

– Eu que sou marrenta?! – Respondeu aos berros, incrédula. – Ai, meu deus, eu vou chorar, agora, eu vou chorar! – Ironizou, seu rosto vermelho de raiva.

Apito. Robson. Todos assistiam aos dois em silêncio, silêncio que também predominava entre a dupla.

– Ô, meus amores, a gente não veio acampar pra ficar brigando! – Repreendeu. – Onde já se viu? Não dão um minuto de sossego! Ai, ai, ai, parecem duas criancinhas! Vamos lá, circulando, circulando! E sorrindo!

Lia e Dinho se encararam, raiva exalando de ambos. A roqueira foi a primeira a se mover, atravessando o espaço contra Dinho, seus braços se encontrando no caminho. A estática era suficiente para arrepiar ambos ao se encostarem. Como conseguiriam permanecer em dupla pelo resto do dia, ainda não sabiam. Se poderia piorar? Temiam a resposta.

– Estão todos aqui? – Cezar perguntou a Robson ao chegar.

– Todo mundo pronto, professor Cezar. – Confirmou o inspetor.

– Perfeito. – Respondeu, observando Lia e Dinho de canto de olho.

Explicou a tarefa para cada dupla em particular, indicando o que buscariam na mata, e as melhores rotas para o trabalho. Quando se aproximou de Dinho e de Lia, estavam sentados afastados, ignorando a presença do outro, enquanto olhavam para o nada.

– Vocês dois.

Voltaram-se para o professor curiosos, ainda que desconfortáveis. Cezar explicou a tarefa, ignorando as expressões frias da dupla. Pelo menos na mata poderiam gritar o quanto quisessem um com o outro, que não atrapalhariam ninguém. Se tudo desse certo, pensou o professor, Dinho e Lia voltariam mais calmos, talvez até amigos. Um tempo longe de plateia faria bem aos adolescentes.

Olharam-se conformados. Cezar já havia se afastado, agora era com eles. Só eles. Tentaram ignorar a presença do outro pela primeira meia hora, focando na busca pelas plantas indicadas pelo biólogo.

– E essa aqui? – Lia perguntou insegura, franzindo a testa.

– É, pode ser... – Dinho analisou a flor que Lia segurava, seus dedos involuntariamente tocando a pele da roqueira.

Entreolharam-se, envolvidos pelo choque gerado entre suas mãos. Respiração agitada, olhos bem abertos, mirando-se fixamente.

– Eu... É... O que você acha dessa? – A loira desconversou.

Macia como a pele de Lia, misteriosa como a roqueira, de cor levemente agressiva... Por que tudo lhe lembrava Lia? Por mais que repetisse a si mesmo que a odiava, não conseguia combater o desejo de abraçá-la naquele momento, longe de tudo e de todos. Se fosse tão fácil quanto parecia... Se pudesse beijá-la sem consequências, sem peso na consciência, nem briga na manhã seguinte...

– Que tal essa? – Tentou se concentrar.

– Boa. Você bem que podia virar biólogo, fugir pra Amazônia e me deixar em paz. – A roqueira sorriu sugestiva.

Mas Lia era Lia. Claramente o odiava, principalmente depois do que havia dito sobre sua mãe. Era um imbecil... Como pôde falar de Raquel para Lia? Como pôde tocar naquele assunto de forma tão descuidada?

– Lia... – Chamou hesitante.

– Eu te dei permissão de pronunciar meu nome, garoto? – Cobrou irritada. Só queria esquecê-lo, esquecer o que havia dito... Era castigo demais ter que lidar com o desprezo de Ju, com a volta da mãe e com Dinho ao mesmo tempo.

– Você tem quantos anos, cinco? – Perguntou sarcástico.

– Seis, e você? – Retrucou.

– Cinco. – Riu. Lia... Como era possível alguém irritá-lo tanto e, minutos depois, fazê-lo rir de si, de sua própria imaturidade em provocá-la? – Olha, eu só queria... Eu só queria me desculpar... Pelo que eu falei, digo...

– Ok. – Deu de ombros.

– Ok? Como assim “ok”?

Percebeu que a garota se afastava.

– Eu não devia ter falado assim da sua mãe, nem aquilo de você. – Falou mais alto em direção à garota.

Silêncio.

– Lia, você tá se afastando da trilha!

– Lia! – Gritou em vão.

Correu para alcançá-la. Afastavam-se cada vez mais, e começava a ouvir trovões. Nada bom.

– Lia! – Segurou em seu braço, girando-a de frente para si.

Quando a alcançou, estava parada. Alguns pingos de água molhavam sua face. Talvez lágrimas... Ou apenas chuva?

– É melhor a gente voltar antes que o tempo piore. – Respondeu enfática, ignorando-o ao seguir rumo ao que pensava ser o caminho.

– A gente veio pelo outro lado.

– Claro que não, garoto, foi por esse aqui, não tá vendo? Olha aquela flor estranha ali naquela árvore.

– Lia, aqui deve ter umas sete daquelas. – Respondeu preocupado.

Trovoadas. Pingos maiores e mais frequentes.

– Dinho, é por aqui, eu sei! Para de implicar e vamos logo, que daqui a pouco não vai dar nem pra ver onde a gente tá!

– E de que adianta pegar o caminho errado? É por lá, Lia!

– Eu tenho certeza que é por aqui!

– E desde quando mulher tem bom senso de direção? Vem comigo! – Segurou-a pelo braço.

– Me solta, garoto! – Exclamou irritada, balançando o braço em protesto contra a mão firme de Adriano.

– Ah, não! Você vem comigo antes que a gente se perca mais ainda!

– Como você consegue ser tão metido até numa hora dessas?! Dinho? Dinho! – Chamou ao perceber que o garoto havia se afastado. Correu em direção a ele, a chuva dificultando seu caminho.

– Você consegue ouvir o mar? – Perguntou distraído.

– Claro, Dinho! Se duvidar, até as baleias! – Debochou. – Com essa chuva? Você é o que, idiota? Com esses trovões e essa sua voz irritante não dá pra ouvir é nada!

– Se você ficar quieta por alguns segundos, talvez a gente consiga! Vem, aqui parece que é mais alto, talvez até dê pra ver alguma coisa.

Estava começando a escurecer e a chuva forte embaçava a vista da roqueira. Tentava entender para onde Dinho apontava, mas não via nada. As árvores pareciam terminar, a terra, deixando apenas um vazio esbranquiçado pelo temporal. Tentava entender o que seria. Não podia estar vendo tão pouco...

– Dinho!

Tarde demais. Enfim reconheceu o local. A terra e as árvores, de fato, terminavam. O elevado de Dinho se encerrava subitamente em um barranco, a chuva impedindo que pudessem medir a distância para o chão. O garoto se equilibrava em um tronco de árvore caído em direção a um pouco além da beira para tentar enxergar sinais de praia.

– Dinho, sai daí, pelo amor de deus! – Implorou preocupada.

– Qual foi, marrentinha, tá com medo por mim, é?

– Sem brincadeira, Dinho, é perigoso, sai daí! A gente vai encontrar outro caminho, por favor?!

– Lia, você não sabe nem onde a gente tá! – Debochou de cima do tronco, se equilibrando sobre o tronco mais alguns centímetros para longe da beira, em direção ao vão.

– VOCÊ QUER FAZER O FAVOR DE SAIR DAÍ? – Gritou contra a chuva.

Dinho a olhou por uns segundos e desistiu. Não dava para ver nada dali, e a aflição de Lia apenas o atrapalharia. Arrastou o corpo de ré, equilibrando-se sobre o tronco para sair dali. Pisou em algo escorregadio, sentiu o vertigo do vento o empurrando rumo ao nada. Tudo branco. Seu corpo acelerava, seu coração parecia saltar, um braço.

– DINHO!! – Lia correra até o barranco.

Apenas seu braço o impedia de cair para o desconhecido. O tronco estava distante, não conseguiria alcançá-lo. O corpo de Dinho pendulava contra o vento, a água em seu braço como um empecilho à firmeza da mão de Lia. Olharam-se apavorados. Outra trovoada. O que não morresse da queda, poderia ser atingido por um raio. Estavam conscientes disso. O braço de Dinho escorregou alguns centímetros.

– LIA!!! – Implorou.

– Eu to segurando, Dinho, eu juro! – Chorou em resposta.

Outra trovoada. Assustada pelo barulho tão próximo, Lia soltou o braço por um breve segundo.

– LIAAA!! – Gritou apavorado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da nova versão, e aguardem o próximo, que emoções virão... E certa situação inesperada, UI. Vejo vcs nos comentários ;)