Não Chore Esta Noite escrita por AnaMM


Capítulo 37
Dividindo a Mesma Barraca


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo em que quase tudo do acampamento foi alterado, espero que gostem. Temos muita tensão entre Lidinho e um castigo inusitado dado a eles por Robson e Cezar.



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– Vamos, eu estou esperando! Que história é essa de você imitar a Lia? – Cobrou irritado.

– Quer saber? Foi isso, mesmo! Eu tava feito uma idiota encantada por você, não sabia como agir, e a Lia começou a me dizer o que tinha que falar e a me instruir sobre como eu teria que agir pra te conquistar, foi isso, Dinho.

– A Lia o que? – Reagiu chocado. – Eu vou falar com ela, e vai ser agora!

– Dinho, espera! Dinho! - Chamou em vão. Adriano já corria em direção ao mar.

– LIA! – Gritou da praia.

A loira se ergueu em alerta e avistou Adriano correndo em sua direção. Todos à sua volta pararam diante da expressão furiosa de Dinho, que já atravessava as pequenas ondas da beira em busca da melhor amiga de sua namorada.

– Sujou. – Orelha comentou assistindo à cena em transe.

– É muito amor esses dois, hein? – Fatinha debochou.

– Quem você pensa que é? – Indagou com voz elevada, agarrando o braço de Lia com força.

– Do que você ta falando? – Perguntou confusa e levemente amedrontada pelo olhar fixo de Adriano.

Dinho riu ironicamente, debochando da falsa inocência da loira.

– A máscara caiu, Lia Martins! O que você pretendia, hein? Usar a sua melhor amiga pra me conquistar, e depois o que? Me enlouquecer com as semelhanças? Fazer com que eu me sentisse um merda por te ver cada vez que beijasse a Juliana? Por que você me odeia tanto, Lia Martins? Por que você insiste em me torturar assim?

– Dinho, eu... – Buscou por palavras enquanto tentava digerir o que Adriano havia dito. – Eu não sei do que você tá falando. – Respondeu assustada.

– Não sabe? Você é muito santa, não é? Você não se cansa?

– Que?

– DE MENTIR, LIA, você não se cansa? – Gritou, ainda imobilizando a roqueira.

– Eu não... Dinho, eu não fiz nada...

Ainda não tinha entendido o que Dinho estava querendo dizer, mal conseguia filtrar as palavras, anestesiadas por seus fortes batimentos cardíacos. A adrenalina a consumia, conforme o medo da expressão desfigurada de Adriano aumentava. Tremia. Talvez algumas lágrimas tivessem escapado, mas não conseguia pensar em escondê-las, não sob aquelas circunstâncias.

– Vocês dois! CHEGA! – Cezar gritou.

Corria em direção ao casal, pronto para separá-los. Robson o seguia acionando seu apito insistentemente, enquanto Juliana mal conseguia se mover, paralisada pela cena. Cezar afastou bruscamente Adriano de Lia, imobilizando o garoto. Gil, Fera, Morgana e Robson, por sua vez, foram ao encontro de Lia, que aparentava ainda estar em choque.

– Eu ia recomendar um banho de água fria, nos dois, mas vocês já tomaram banho suficiente por hoje. Ou vocês param com esse comportamento infantil, ou voltam os dois para casa! Adriano? Lia?

– Eu fico. – Por mais que odiasse Dinho, ver a mãe seria ainda maior castigo.

– Eu também. – Não deixaria que as baixarias de Lia estragassem aqueles dias de acampamento.

– Ótimo, então já podem recolher suas malas.

– O QUE? – Exclamaram em uníssono.

– Vocês não vão embora, se foi isso que pensaram. Vocês dois vão dividir uma barraca.

– Professor, o senhor pirou? – Juliana cobrou insegura. E se rolasse uma recaída??

–Iiiiiiiih... –Fera ironizou.

–Aí, professor, eu também quero dividir barraca com mulher! – Pilha anunciou.

– Silêncio! O Dinho e a Lia vão dividir barraca sim, e vão cooperar por toda a duração do acampamento, um dependendo do outro, até que parem de brigar sempre que se encontram. Está insuportável! Voltem para o acampamento e escolham a barraca.

– Cezar, isso é muito injusto! – Lia protestou.

– AGORA!

Ambos correram ao comando de Cezar, assustados. Ao chegar ao acampamento, outro impasse.

– Na minha ou na sua? – Dinho perguntou.

– Na sua. A Ju fica na minha.

Dinho sorriu.

– Se você não fosse tão filha da puta, até seria uma boa amiga.

– Você pode não citar a Raquel, por favor?

– Desculpa. – Riu discretamente. – Você odeia mesmo ela, né?

– E como seria diferente?

– Você tem razão. Me dá isso aqui, deve estar pesado. – Ofereceu.

– Adriano Costa me dando razão...

– Aproveita. – Sorriu.

– É um milagre! – Cezar exclamou. – Gostei de ver!

– Dinho e Lia sorrindo um para o outro é realmente novidade! – Robson acrescentou.

Todos haviam voltado ao acampamento, alguns já obedecendo à ordem de acender a fogueira. De onde estava, Ju observou o casal. Estavam sorrindo, levemente vermelhos pelos comentários de Cezar e de Robson. Pensou ter visto uma troca de olhares, mas talvez estivesse alucinando. Lia e Dinho tinham acabado de quase se matar na praia, era exagero achar que estivesse rolando qualquer clima romântico entre ambos. Sentaram-se em volta da fogueira. Alguns puxaram violões, outros cantarolaram alguns ritmos até encontrarem uma música que todos soubessem. Dinho observou a expressão de Lia ficar mais tranqüila ao som dos instrumentos. Devia odiá-la pelo que havia escutado de Ju, mas era só encontrar o olhar castanho-esverdeado úmido da roqueira que amolecia. Como pôde atacá-la daquela maneira? Lia o tirava do sério. Não seguia lógica nenhuma quando estava perto dela. Sentia-se observado, ainda que não tivesse percebido ainda que o olhar investigativo vinha de Juliana, que tentava entender se Dinho realmente estava olhando para Lia, ou se era mera impressão.

Lia se afastou da roda por um momento. Talvez tivesse notado os olhares de Dinho, talvez estivesse apenas cansada. O garoto observou cada passo fixamente. Sua boca retorceu quando a encontrou se sentando ao lado de Gil, em troncos afastados da roda de música. Conversavam com ares íntimos. Gil lhe mostrou alguma coisa que Adriano não soube identificar, ela sorriu. Deram-se as mãos. Foi demais para o aventureiro. Dinho se levantou bruscamente, seguindo em direção a Lia e Gil.

– Faz parte do seu plano? – Perguntou friamente.

– Dinho? – Lia se surpreendeu.

– Você jogou a Ju pra mim pra poder ficar com o Gil?

– Que? Dinho, isso não faz sentido. – Respondeu olhando para os lados. Teria Juliana escutado?

– Você me odeia tanto assim? Ou você só tem medo?

– Do que você ta falando, Dinho? - Cobrou abismada.

– Que você instruiu a Ju pra me conquistar e agora está aí de climinha com o grafiteiro.

– Sim, Dinho, eu instruí a Ju! – Ergueu-se para encará-lo. - Eu queria ver a minha amiga feliz, apesar de você ser um idiota, e, como era de você que ela gostava, eu dei umas coordenadas, umas dicas de como falar e algumas aulas de geografia. Satisfeito?

Todos haviam parado para assistir a mais um capítulo da novela do triângulo. Rita e Morgana estavam de olho em Juliana, atentas para consolá-la conforme a briga se tornasse mais passional.

– Satisfeito. Você ama dizer que eu sou narcisista, metido, mas a primeira coisa que você fez pra ajudar a Juliana a me conquistar foi ensiná-la a ser você. Parabéns, Lia, você realmente é um poço de humildade! – Bateu palmas sarcasticamente. – Quem disse? Hein? Quem disse que eu só ia gostar da Ju se ela fingisse ser você? Quem disse que é só em você que eu penso? Você realmente acha que eu fico sonhando por uma Lia? Você não é tão especial assim!

– Eu não fiz a Ju fingir ser eu, eu só indiquei como ela podia chamar a sua atenção pelas coisas que você gosta, te deixando mais livre, conversando sobre assuntos que te interessassem e apoiando a sua viagem. Eu não tenho culpa se você me projeta em toda garota que te interessa. – Respondeu com voz falha.

– E por que você não falou a verdade?

– Que verdade? Que você é tão egoísta que só namoraria com ela se ela te bajulasse, que foi o que aconteceu?

– Que eu já gosto de alguém há anos, e que só me entregaria de verdade a um relacionamento sério com alguém se ela remotamente me lembrasse essa pessoa. Ao invés de incentivá-la a seguir o que eu mais valorizo, que é a honestidade, você a influenciou no que eu mais odeio em você. Nessa sua mania compulsiva de mentir, de esconder quem é ou o que sente.

– Se você fosse tão sincero quanto diz, não estaria me acusando de narcisista, e admitiria saber muito bem por quê você acha que a Ju estava tentando ser eu.

– Eu sou sincero até o ponto em que pode ferir alguém.

– Ah, é? Que amor! Mas você tampouco se preocupou em ser sincero para não ferir ainda mais alguém. Você é realmente igual a mim.

– Você sabe que eu teria me aberto com a Ju muito antes.

– Teria sido melhor do que ficar admitindo tudo isso na frente do Quadrante inteiro. Você sabe muito bem por quê eu te pedi aquilo.

– Medo. Sempre medo. Você não dá um passo sem temer alguma coisa.

– E você não dá um passo sem ferir o quarteirão inteiro.

– Quem disse que dois bicudos não se beijam não conhecia vocês dois! – Orelha se intrometeu.- Continuem, ta ótimo assim!

– Cala a boca, Orelha! – Censuraram em uníssono.

Juliana observava em choque, ainda sem entender metade do que Dinho e Lia haviam falado.

–Você quer saber? – Dinho quebrou o silêncio, rindo. – Nada disso funcionou. Eu realmente me interessei pela Ju, eu gosto dela, e você vai ter que lidar com isso. Chega. Chega de você se meter no nosso relacionamento, de manipular a Ju até contra mim e, Deus, eu espero não ter que pensar em você operando a Ju como uma marionete até na cama!

– Ih, Dinho ta recusando ir pra cama com as duas? Cadê o Dinho que eu conheço? – Orelha estranhou.

– Sim, estou, Orelha, porque eu não consigo mais nem olhar na cara dessa idiota. Você é maluca, Lia Martins. Você é maluca e me dá nojo. – Finalizou, retirando-se para a barraca.

Furiosa, Lia conteve a vontade de matá-lo até perceber que havia sumido de seu campo de vista. Sentiu os braços de Gilberto a abraçarem por trás e descansou a cabeça em seu peito. Precisava de apoio, e sabia que Ju seria a pessoa menos indicada naquele momento.

– Você tem certeza que precisa dormir com ele essa noite? –Gil perguntou.

– E eu tenho escolha? O Robson e o Cezar só não escutaram isso porque foram catar mais lenha, mas já devem estar chegando.

– E a Ju?

– Ela deve estar me odiando agora, melhor tentar fazer as pazes amanhã, quando nós duas estivermos mais calmas. – Explicou com voz triste. – Valeu, Gil. Se não fosse você, essa noite seria a pior da minha vida. – Confessou, abraçando-o em seguida. – Eu vou tentar dormir, que é o melhor que eu faço agora.

– Boa sorte.

– Valeu.

Aproximou-se temerosa da barraca. Dinho tinha razão, cada passo a amedrontava. Seria forte. Seria forte para provar que Dinho estava errado, era seu hobby. Abriu a barraca silenciosamente, e se deitou ao lado do garoto. Adriano abriu os olhos de forma quase imperceptível. Era tão linda... Calada, parecia quase inocente. Mal sabia que a garota pensava o mesmo. Mudo e cansado, observando-a sem maldade nenhuma no olhar, era o garoto pelo qual já nutria sentimentos há anos. Afastando gentilmente uma mecha colorida de seu rosto, era aquele Dinho que a havia consolado no aniversário de Ju novamente. E ainda era o namorado de Ju.

– O que você ta fazendo? – Afastou bruscamente a mão de Dinho.

– Nada.

– Vai pra lá, que eu não quero você perto de mim! – Empurrou-o com o pé.

–Você que vá! Você não é a incomodada? – Empurrou-a de volta com a mão.

– Dinho, é sério, eu preciso de espaço. Eu ainda não confio nesses seus hormônios.

– Não falei que você insiste em achar que eu te amo e que vou te agarrar a qualquer momento?

– E é mentira?

– Não.

– Então. Pra lá! – Empurrou-o novamente, tentando ignorar as três palavras que haviam escapado furtivamente da boca de Dinho ao provocá-la.

De fora, os colegas de Quadrante ouviam grunhidos e viam duas sombras agitadas dentro da barraca. Alguns gritos leves de dor, sons de corpos se encontrando. As conclusões eram inevitáveis.

– Tá animado ali dentro, hein? – Fatinha provocou.

– Ih, rapaz, o pegador não perde tempo! – Pilha concordou.

– Eles só estão brigando por espaço, Ju, confia em mim. – Rita tentou despreocupá-la.

– É, é a cara deles. – Morgana concordou rindo.

– Você vai dormir sozinha? – Rita perguntou.

– É, eu acho que vou.

– Que nada, Ju, você vem com a gente. – Morgana chamou.

– Três em uma barraca? – Questionou indecisa.

– Melhor que dormir sozinha, né?

– Sei lá, Rita, eu acho melhor ficar sozinha, mesmo. Eu preciso de tempo pra pensar no que aconteceu, no que eu ouvi.

– Bobagem, Ju! Você quer dormir com o Orelha, por acaso? Porque era ele que ia dormir com o Dinho, então eu acho que ele vai acabar dormindo com você.

– Iiih, melhor não. Por hoje eu durmo com vocês, então, mas só por essa noite.

As três riram. Os outros alunos se retiraram para dormir, sendo imitados pelas três meninas. Ju deu uma última olhada para a barraca de Dinho e de Lia. Pareciam enfim ter ficado quietos. Seria surreal imaginá-los dormindo lado a lado, pacificamente, se já não tivesse testemunhado a cena. Por que tudo tinha que envolver aqueles dois? Sala de robótica, suspensão, e agora até a mesma barraca... E se fosse destino? Teria alguma chance contra os caminhos cruzados de Dinho e de Lia?


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