Não Chore Esta Noite escrita por AnaMM


Capítulo 33
Grafite


Notas iniciais do capítulo

OPA! O que eu andava prometendo há semanas(foi mal pela demora, gente) está aqui! Espero que tenha valido a pena a espera ;)

http://www.youtube.com/watch?v=S9Krub_tY_M música clássica pras cenas dos três grafitando e correndo

http://www.youtube.com/watch?v=jUOiYKwnFO0
http://musica.com.br/artistas/one-night-only/m/long-time-coming/traducao.html
correria lidinho e cenas de lidinho em geral (em homenagem à demora hahaha bjs)



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As horas se passaram e a festa acabou. Dinho observou-a voltar para casa com pesar. Não queria saber o que havia acontecido entre ela e Gil, tinha pânico de imaginar. Entendeu o aceno da roqueira ao vê-lo na rua e subiu para o apartamento, onde arrumou sua mochila. Averiguou que os pais já dormiam e desceu novamente. Lia reapareceu um pouco depois, com outra roupa e uma mochila nas costas.

– Pegou tudo? - Lia perguntou ao se aproximar.

– Oi pra você também, Lia. - Dinho respondeu zombando. - Como foi com o Gil?

– Me erra. - Respondeu irritada, tranquilizando Dinho sem perceber.

– Melhor a gente sair daqui antes que a Ju resolva olhar pela janela.

– Verdade. Depois do show de hoje, o que ela menos precisa é nos ver juntos e sozinhos no meio da rua.

Saíram da área de visão das janelas, aproximando-se do Misturama fechado, à espera de Gil.

– A gente terminou.

– Que?

– Eu e a Ju, a gente terminou.

– Como assim? Não, vocês não podem ter terminado!

– Calma, Lia, agora que a Ju te viu com o Gil ela não vai desconfiar de você.

– Você diz que eu devo fingir que tô com ele, então?

– Você não tá?

– Não, eu já falei. Eu só beijei o Gil pra tranquilizar a Ju.

Dinho se sentiu aliviado, com vontade de saltar como uma criança, mas se conteve. Lia não sabia se ficava feliz, aliviada, ou triste pela amiga pelo término. Provavelmente os três. A amiga em primeiro lugar, claro, afinal, a roqueira era uma boa amiga. Uma ótima amiga. Lia Martins podia ser várias coisas, menos traíra. Não por enquanto, não enquanto dependesse dela.

– E então, vamos? - Gil chamou.

– Vamos! - Lia e Dinho responderam ao mesmo tempo, como normalmente acontecia.

Como gostavam de ver a expressão envergonhada no rosto um do outro... Era quase um mantra. Gil olhou de um para o outro, confuso. Ainda precisava se acostumar ao comportamento dos dois em dupla. Partiram os três para os muros próximos, cada um com um objetivo. Lia queria esquecer seus problemas familiares, a vergonhosa felicidade ao saber do término do namoro de sua amiga com Dinho e a situação constrangedora no quarto de Gil. Precisava canalizar toda a raiva que sentia por Dinho e todos os sentimentos que não deveria, mas que tomavam conta de Lia sempre que o via. Adriano, por sua vez, queria ignorar as imagens que o torturavam da roqueira ficando com Gil e vencer seus sentimentos pela melhor amiga de sua agora ex. Gil repetiria o ritual de outras noites, dessa vez com o foco na irritação que a presença de Dinho lhe causava.

Agiram em turnos: um segurava o molde, o outro pintava e o terceiro vigiava, depois alternavam. Gil e Dinho eram atacados pelo ciúme cada vez que o outro ficava sozinho com Lia no muro. Era uma competição velada, quase. Apesar disso, a madrugada grafitando havia vindo a calhar, principalmente após a situação na casa de Marcela. Lia via no grafite uma válvula de escape, Dinho estava adorando fazer algo novo e tão libertador e Gil, por mais que amasse o que fazia, se sentia desconfortável com a presença do outro garoto. Não com a de Lia, ele gostava de vê-la feliz com aquilo, com ele. Talvez pudesse rolar alguma coisa, assim que se livrassem de Adriano... Agora entendia, no entanto, que a zoação com os dois não era sem sentido. Realmente combinavam, tinham sintonia. Lia e Dinho eram apenas amigos como ele era apenas um mal humorado. Ainda assim, Lia era a melhor amiga de Ju e não parecia fazer o tipo traíra. Que era certo, contudo, que o passado não havia sido esquecido pelos dois, era.

– Sua vez. - Dinho entregou a lata de spray agressivamente para o grafiteiro e se postou no local de guarda.

Observou a rua por um instante, irritado, tentando não olhar para a dupla às suas costas. O ciúme o corroía, tirando sua atenção.

– Foco... - Falou para si, tentando se concentrar. - Ferrou! Tem uns guardas vindo pra cá!

Correu até a dupla e puxou Lia para si.

– Vem! Corre, corre! - Dinho chamou agoniado.

– Vamos nos dispersar! Um pra cada lado! - Gil sugeriu.

– Acho melhor, mas a Lia vem comigo.

– Que?

– Vem, marrentinha, não é hora pra brigar. - Puxou-a correndo.

Lia não teve tempo para se desvencilhar. Avistou os guardas correndo na direção dos três e disparou com Dinho, vendo Gil sumir pelo lado oposto da rua. Correram o máximo que conseguiram, entrando em rua atrás de rua para despistar os guardas. Assim que avistou um contêiner, Dinho puxou Lia para trás da gigantesca lata, onde os guardas não os avistariam. Viram-nos passar correndo, ignorando a presença de ambos nas sombras. Estavam a salvo.

– Eu podia me virar sozinha! - A roqueira protestou.

Dinho fez sinal com o dedo para que se silenciasse.

– Eles não se afastaram há muito tempo, se você falar mais alto talvez eles ainda possam ouvir e voltar pra cá.

– EngraçaDinho. - Zombou.

– Você é mulher, ok? Eu não ia te deixar fugir sozinha desprotegida.

– Eu sei me virar, seu machista! - Lia protestou com a voz inaudível.

– Eles estão voltando! - Dinho anunciou ao apertar a roqueira contra si em um abraço protetor.

Viram os policiais olharem ao redor e sumirem decepcionados.

–x-

Gil contornou o colégio e se escondeu em um bar. O tempo que levou para notarem que era menor de idade e expulsá-lo foi o suficiente para que os guardas fossem despistados e sumissem. Voltou para sua casa. Se Lia estivesse sozinha, estaria mais preocupado. Dinho parecia ser uma péssima companhia, mas tinha certeza de que o garoto a protegeria. Pelo menos pelo jeito que Adriano olhava para Lia...

–x-

Atrás do contêiner, Lia e Adriano estavam mais próximos do que gostariam em plena consciência.

– Foi uma noite e tanto, não foi? - Dinho apontou.

– Foi... - Lia respondeu cansada. - A gente pode fazer isso mais vezes. - Zombou.

– É, foi... Libertador. - Respondeu ofegante. - Você tá bem?

Ao perguntar, abaixou um pouco mais a cabeça em direção a Lia. Perigosamente próximo. A roqueira prestou atenção na respiração do garoto, tentando seguir o ritmo para recuperar o próprio ar. Confuso, Dinho olhou fixamente em seus olhos, tentando entender se os olhos de Lia realmente focavam em sua boca, ou se estava alucinando. Inclinou o rosto para ter certeza, ao que Lia ergueu os olhos por um instante. Confuso, Dinho voltou a erguer a cabeça ocasionando o inevitável encontro de suas bocas.

Todos os problemas pareceram abandoná-los por um momento. A espera pelo beijo havia durado meses intermináveis e, agora que seus lábios se encontravam novamente, aproveitariam por quanto tempo fosse possível antes de a culpa os despertar. Beijaram-se como da primeira vez, de surpresa e lentamente sentindo cada célula de seus corpos entrelaçados. Nenhum dos dois queria que o momento acabasse, que a razão voltasse. Afogaram-se nos lábios que tanto os haviam atormentado em sonhos. Eram nômades reencontrando o oásis em meio ao deserto. Os dedos de Lia se enrolavam nos cachos de Dinho, cujas mãos encaixavam perfeitamente na cintura da loira. O encontro de suas línguas lhes causou arrepios como há muito não sentiam. Era irônico: Dinho podia ficar com todas as meninas do colégio e todas juntas não lhe causariam o mesmo que Lia. Orelha havia perguntado como era ficar com Lia em vão. Era indescritível.

No momento em que seus lábios foram tocados pelos de Dinho, Lia não conseguia pensar em mais nada. Havia ansiado mais do que gostaria por aquele momento. O tanto que tentara se controlar de nada mais adiantava, o que chamava de traição estava acontecendo, estava sendo beijada por Dinho e retribuindo. Não podia voltar no tempo e evitar, podia apenas aproveitar o que tanto esperara. Depois pensaria em uma desculpa.

Foram separados bruscamente pelo barulho de uma buzina, retornando-os à realidade de que estavam atrás de um contâiner em uma rua quase deserta durante a madrugada carioca.

– Vamos sair daqui. - Dinho sugeriu, puxando-a pela mão.

De mãos dadas, correram de volta para a rua onde moravam. Bastou que a roqueira olhasse para seu prédio, onde também morava a melhor amiga, para que soltasse a mão de Dinho.

– Por que você me beijou?

– A gente se beijou, Lia.

– Você acabou de terminar com a Ju, tá errado.

– Eu não senti como se estivesse fazendo algo errado, nem um pouco.

– Mas estava, e ela não pode saber disso de jeito nenhum. Agora, se você me der licença, eu tenho que voltar pra casa.

– Lia, espera! - Dinho a segurou pelo braço. - Ela não precisa saber, vem cá. - Puxou-a para si. - Você não sabe a tortura que foi te ver com o Gil hoje.

– Deve ser o mesmo que a Ju me ver com você, não é? - Lia respondeu de expressão fechada.

– Por favor, só mais um beijinho! - Dinho implorou. - Você não sabe a falta que me fez.

Aproximou a boca do rosto de Lia, tentando beijá-la. A roqueira inclinou a cabeça tentando fugir, sem sucesso. Dinho conseguiu beijá-la rapidamente, mas a loira desviou o rosto em seguida.

– Me solta, Dinho.

– Fica comigo, por favor? Só pelo resto dessa noite, ela não precisa saber.

– É traição igual.

– A gente nem tá mais namorando!

–Há algumas horas, Dinho! Você é muito canalha, mesmo!

– Um beijo e eu te deixo ir.

Lia sorriu e deu um selinho em Adriano, que riu.

– Sempre marrentinha. - Zombou, puxando-a novamente para si e a beijando de verdade.

Derrotada e envolta nos lábios que tanto amava sentir nos seus, a roqueira se deixou levar. Suas línguas voltaram a se encontrar, bloqueando a consciência de ambos. Gil observava da janela. Agora entendia o que Dinho havia sentido em seu quarto. Viu-os se afastar e Lia empurrá-lo rindo. Adriano levou a mão aos cachos sorrindo triunfante e Lia balançou a cabeça com um sorriso que o grafiteiro ainda não havia presenciado desde que a conhecera. Viu cada um seguir seu rumo meio aéreo. O dia seguinte prometia ser longo e confuso para os três.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, comentários aqui embaixo :) muito obrigada pelo apoio de sempre